Padre Antonio Tomás
Fonte: FREITAS, Vicente.
Almanaque poético de uma cidade do interior.
Bela Cruz: Tanoa Editora, 2004.
Casa onde nasceu em Acaraú |
Casa onde viveu em Acaraú |
Orátório de seus pais-Fonte: Memorial Santana de Acaraú |
Fonte: Memorial de Santana do Acaraú |
Lápide na Igreja de Santana do Acaraú |
CONTRASTE¹
Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando, céleres e ufanos,
Vamos marchando descuidosamente...
Eis que chega a velhice de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.
Então nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede exatamente
O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente
E as esperanças vão ficando atrás.
_____________________________________
1.Op.cit., p. 61.
ACARAÚ¹
Revejo em sonho a terra estremecida
Do Acaraú... seus vastos tabuleiros,
A minha casa, os belos companheiros
Que lá deixei na hora da partida.
Vejo o mercado, as Pontes, a Avenida,
O Rio, o Porto, os Mangues altaneiros,
Ouço o rugir dos ventos nos coqueiros,
E, além, do mar queixoso a voz sentida.
Do velho sino os graves tons escuto,
E lá do torreão no cocuruto,
De andorinhas avisto inquieto bando...
Entro na igreja, – minha igreja outrora, –
E vejo em seu altar Nossa Senhora,
Com seu olhar piedoso me fitando...
_____________________________________
1. Op. cit., p. 111.
O PALHAÇO¹
Ontem viu-se-lhe em casa a esposa morta
E a filhinha mais nova tão doente!
Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,
Que a platéia o reclama impaciente.
Ao palco em breve surge... Pouco importa
O seu pesar àquela estranha gente...
E ao som das ovações que os ares corta,
Trejeita, e canta, e ri nervosamente.
Aos aplausos da turba ele trabalha
Para esconder no manto em que se embuça
A cruciante angústia que o retalha,
No entanto a dor cruel mais se lhe aguça
E enquanto o lábio trêmulo gargalha,
Dentro do peito o coração soluça.
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1. Op. cit., p. 112.
NOITE DE NÚPCIAS¹
Noite de gozo, noite de delícias,
Aquela em que a noiva carinhosa,
Vai do seu noivo receber carícias
No leito sobre a colcha cor-de-rosa.
Sonha acordada coisas fictícias,
Volvendo-se sobre o leito, voluptuosa,
E o anjo de amor e de carícias
Fecha a cortina tênue e vaporosa.
Ouvem-se beijos tímidos, ardentes,
Por baixo da cortina assim velada,
Em suspiros tristes e dolentes.
Se fitássemos a noiva agora exangue,
Vê-la-íamos bem triste e descorada
E o leito nupcial banhado em sangue.
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1.Diz Dinorá Tomaz Ramos que esse soneto, e bem assim Vira a Manga,
antes transcrito, não pertencem ao Padre Antônio Thomaz, apesar de
figurarem com o seu nome em revistas e jornais (op. cit., p.58).
DESENCANTO¹
Muitas vezes cantei nos tempos idos
Acalentando sonhos de ventura:
Então da lira a voz suave e pura
Era-me um gozo d’alma e dos sentidos.
Hoje vejo esses sonhos convertidos
Num acervo de penas e amargura,
E percorro da vida a estrada escura
Recalcando no peito os meus gemidos.
E se tento cantar como remédio
Às minhas mágoas, ao sombrio tédio
Que lentamente as forças me quebranta,
Os sons que arranco à pobre lira agora
Mais parecem soluços de quem chora
Do que a doce toada de quem canta.
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1.Último soneto do poeta, escrito na Santa Casa de Sobral, a 3 de fevereiro
de 1941,em retribuição a uns versos do seminarista Osvaldo Chaves.
Quando partimos no verdor dos anos,
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando, céleres e ufanos,
Vamos marchando descuidosamente...
Eis que chega a velhice de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.
Então nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede exatamente
O contrário dos tempos de rapaz:
– Os desenganos vão conosco à frente
E as esperanças vão ficando atrás.
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1.Op.cit., p. 61.
ACARAÚ¹
Revejo em sonho a terra estremecida
Do Acaraú... seus vastos tabuleiros,
A minha casa, os belos companheiros
Que lá deixei na hora da partida.
Vejo o mercado, as Pontes, a Avenida,
O Rio, o Porto, os Mangues altaneiros,
Ouço o rugir dos ventos nos coqueiros,
E, além, do mar queixoso a voz sentida.
Do velho sino os graves tons escuto,
E lá do torreão no cocuruto,
De andorinhas avisto inquieto bando...
Entro na igreja, – minha igreja outrora, –
E vejo em seu altar Nossa Senhora,
Com seu olhar piedoso me fitando...
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1. Op. cit., p. 111.
O PALHAÇO¹
Ontem viu-se-lhe em casa a esposa morta
E a filhinha mais nova tão doente!
Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta,
Que a platéia o reclama impaciente.
Ao palco em breve surge... Pouco importa
O seu pesar àquela estranha gente...
E ao som das ovações que os ares corta,
Trejeita, e canta, e ri nervosamente.
Aos aplausos da turba ele trabalha
Para esconder no manto em que se embuça
A cruciante angústia que o retalha,
No entanto a dor cruel mais se lhe aguça
E enquanto o lábio trêmulo gargalha,
Dentro do peito o coração soluça.
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1. Op. cit., p. 112.
NOITE DE NÚPCIAS¹
Noite de gozo, noite de delícias,
Aquela em que a noiva carinhosa,
Vai do seu noivo receber carícias
No leito sobre a colcha cor-de-rosa.
Sonha acordada coisas fictícias,
Volvendo-se sobre o leito, voluptuosa,
E o anjo de amor e de carícias
Fecha a cortina tênue e vaporosa.
Ouvem-se beijos tímidos, ardentes,
Por baixo da cortina assim velada,
Em suspiros tristes e dolentes.
Se fitássemos a noiva agora exangue,
Vê-la-íamos bem triste e descorada
E o leito nupcial banhado em sangue.
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1.Diz Dinorá Tomaz Ramos que esse soneto, e bem assim Vira a Manga,
antes transcrito, não pertencem ao Padre Antônio Thomaz, apesar de
figurarem com o seu nome em revistas e jornais (op. cit., p.58).
DESENCANTO¹
Muitas vezes cantei nos tempos idos
Acalentando sonhos de ventura:
Então da lira a voz suave e pura
Era-me um gozo d’alma e dos sentidos.
Hoje vejo esses sonhos convertidos
Num acervo de penas e amargura,
E percorro da vida a estrada escura
Recalcando no peito os meus gemidos.
E se tento cantar como remédio
Às minhas mágoas, ao sombrio tédio
Que lentamente as forças me quebranta,
Os sons que arranco à pobre lira agora
Mais parecem soluços de quem chora
Do que a doce toada de quem canta.
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1.Último soneto do poeta, escrito na Santa Casa de Sobral, a 3 de fevereiro
de 1941,em retribuição a uns versos do seminarista Osvaldo Chaves.
Padre Antônio Thomaz
Biografia
(*) - l868 / (+) – 1941
Demócrito Rocha, através de sua revista Ceará Ilustrado, em 1924, lançou concurso para saber quem era o Príncipe dos Poetas Cearenses. O padre Antônio Thomaz, sem livro de poesia publicado — colaboração esparsa em jornais e revistas —, foi o ganhador. Consta mesmo que, numa das cláusulas de seu testamento, pedia que seus poemas nunca fossem reunidos. Parece que até hoje os cearenses cumprem tal determinação, o que não tem impedido o poeta de aparecer em várias antologias nacionais.
Mais de cem sonetos espalhados por várias publicações, o padre Antônio Thomaz começa mesmo a estampar a sua obra dispersa em 1901, através do jornal A República, não tendo mais parado. Não que se empenhasse para publicar, mas porque os admiradores e amigos iam atrás dele em busca de seus sonetos. Romantismo, eivado de simbolismo, às voltas com a forma parnasiana, o poeta não fugiu ao emblemático poético de seu tempo.
O padre Antônio Thomaz nasceu no dia 14 de setembro de 1868, em Acaraú. Raimundo de Menezes registra Antônio Thomaz de Sales, filho do professor Gil Thomaz Lourenço e Francisca Laurinda da Frota. Em Sobral estudou as primeiras letras, latim e francês, entrando para o Seminário de Fortaleza, onde se ordena em 1891.
Tendo feito voto de pobreza, Antônio Thomaz passou praticamente toda a sua vida em paróquias do interior, levando vida modesta e apagada, dedicado à missão, escrevendo versos e cuidando dos passarinhos, como lembra Raimundo Girão. Após o apostolado, não tanto anônimo por causa do ser poeta, Antônio Thomaz vai morar em Santana. A saúde anda precária e se muda para Sobral e, no fim da vida, para Fortaleza, onde morre no dia 16 de julho de 1941.
Foi sepultado na Matriz de Santana. Atendendo os amigos ao seu pedido foi sepultado sem caixão ou lápide para marcar-lhe a sepultura. "Quero ainda que meu corpo seja enterrado sem esquife, e que a pedra da sepultura seja reposta no mesmo plano ficando debaixo do chão, e que não se ponha em tempo algum, sobre ela, nome, data, inscrição ou qualquer sinal exterior que a faça lembrada". Esqueceu-se o poeta, no entanto, de queimar os seus versos, e vive, lembrado e imortal, por causa deles.
Fonte: Soares Feitosa - Jornal de Poesia
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