quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

MEMÓRIA: Exposições de fotos antigas retratam história de Aracati




Jornal "o sol" está na exposição fotográfica realizada pelo Museu Jaguaribano, em Aracati. O periódico resgata os aspectos históricos da época por intermédio de notícias antigas

Aracati A fotografia é, mais que um recorte do tempo, uma representação da história. No século XX, fotógrafos responsáveis pela reprodução oficial de imagens de eventos da sociedade foram, também, reprodutores da memória do Aracati Antigo. Na viagem iconográfica pelo tempo, um século de imagens.


Até o fim do mês, exposição de fotografias privilegia aspectos históricos da cidade de Aracati
Os fatos, um dia enquadrados nas câmeras de exímios retratistas, estão expostos no Museu Jaguaribano de Aracati até o final do mês. Também acontece exposição de jornais antigos produzidos na cidade, que já foi o local mais importante no Ceará na época do período colonial.

No ano de 1940, enquanto o mundo iniciava um processo de tensão, pela aproximação do que se reconheceu na Segunda Guerra Mundial, a União Operária Santa Tereza, formada por empregados da fábrica de tecidos Santa Tereza, em Aracati, conduzia seu estandarte pelas ruas da cidade e parava na frente do sobrado do Coronel Alexandre Matos Costa Lima, o "Coronel Alexanzito", que hoje dá o nome oficial ao que se popularizou Rua Grande, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (Iphan), em 2000.


O momento era sonorizado pela Banda de Música Euterpe Operária, regida pelo maestro João Gomes que, por vários anos, ensinou jovens e adultos aracatienses a lerem partituras musicais e tocarem afinadamente os instrumentos.

O salão de eventos do Museu Jaguaribano abriga três exposições distintas: a XXVI Exposição de Fotografias de Aracati Antigo (com destaque para o patrimônio arquitetônico), a XXV Exposição de Jornais Antigos de Aracati e outras e regiões, e a XXII Exposição de Livros raros, papéis e documentos antigos. A curadoria do salão é de José Correia, com assessoria do artista plástico Hélio Santos.


Fotografia
Na Exposição Fotográfica do Aracati Antigo, a distância entre um momento e outro da história é medida em apenas um passo de qualquer atento curioso do tempo, acompanhando com os olhos os painéis em que estão distribuídas 56 fotos de pelo menos nove décadas do século que passou.

Nos olhares entre o ontem e o hoje, as mudanças na arquitetura local, e as diversas funcionalidades de cada estrutura predial, muitas delas divididas em mais pavimentos, originando casas, pontos comerciais ou instituições públicas.

Uma das fotografias mais antigas data de 1901, do prédio em que funcionava a União Industrial Têxtil do Ceará, fundada em 1893. Atualmente, está dividida em diversos pavimentos com distintas finalidades.
Há 26 anos o Museu Jaguaribano realiza a exposição fotográfica. Em cada ano, a possibilidade de incrementar o arquivo iconográfico, mediante a cortesia de memorialistas e familiares de retratistas que, durante anos, faziam um recorte dos principais eventos sociais - sejam as marchas cívicas, casamentos, orações nas residências, visitas de pessoas ilustres ou mesmo um retrato da vida cotidiana, protagonizada pelas pessoas simples, sem títulos de nobreza mas com várias histórias para contar.


E ainda que não tenham podido tocar, os garotos aparentando 12 ou 13 anos, têm o que dizer, apenas porque brincavam livremente pelo Jardim Dr. Leite, reformado em 1932 na gestão do prefeito Perilo Teixeira, retirando-se as grades que "protegiam" o local, ou melhor, indiretamente representavam uma cerca social.

Produção
A maior parte das fotografias em exposição foi produzida pelo fotógrafo Abílio Monteiro, um dos mais conhecidos do Interior do Ceará, na época.
Por mais de meio século, registrou os momentos sociais da cidade de Aracati, dinâmica comercialmente com o seu porto, por onde entravam e saiam os insumos consumidos em todo o Estado, representado pelo período das charqueadas.
A exposição acontece sempre no mês de julho, e pode ser conferida por turistas e pelos cidadãos jaguaribanos afins de regressão histórica. E para melhorar a qualidade do material exposto, todo ele está em cuidadoso processo de digitalização e reprodução, pelo fotógrafo Gentil Barreira, material a ser conferido nos próximos anos.

PATRIMÔNIO 

Local preserva acervo cearense
Prédio tombado serve para exposição de fotografias e jornais. História começa na preservação
Aracati O prédio que guarda a história é, ele próprio, um símbolo vivo de mais de um século de memória de uma das cidades mais importantes do Ceará. O sobrado onde se instalou o Museu Jaguaribano é uma das mais importantes construções da Rua Cel. Alexanzito, antiga Rua do Comércio, mas, ainda hoje, chamada de Rua Grande. A casa tem mais de 200 anos.

Para o professor José Liberal de Castro, em publicação da UFC de 1977, seria "talvez a de mais imponente implantação urbana do Ceará". O local foi residência, colégio, clube e hotel até ser museu, em 15 de novembro de 1968, há 41 anos. O tombamento pelo Iphan deu-se em 2000. A reforma, com restauração das pinturas mais antigas das paredes internas do prédio, foi concluída no ano passado.
Foi o prédio do Museu Jaguaribano, antes de tudo, a casa do José Pereira da Graça, conhecido como Barão de Aracati (1812-1889), um aristocrata que foi juiz, desembargador, deputado três vezes pela província do Ceará, ministro do Supremo Tribunal de Justiça e vice-governador da província do Maranhão. O prédio conta com quatro pavimentos.

Sua fachada principal é composta por azulejos portugueses estampilhados e as paredes de seus salões decoradas com pinturas artísticas. A alvenaria original foi recuperada e mantida, revelando o requinte artesanal de peças como a escada-caracol logo no primeiro pavimento.

Dentro do projeto de restauração do museu, e seguindo a temática de cada andar, o primeiro piso tem instrumentos referenciais dos ciclos econômicos, com máquina de tear e o carro de boi; no segundo piso ficam os móveis da Era Colonial; o terceiro piso abriga obras sacras, como imagens de santos, telas de pintura; e o quarto piso serve de ateliê, espaço para oficinas de artes variadas.

O dinamismo não era somente econômico na Aracati dos séculos XIX e XX. O meio cultural era efervescente, como revelam os jornais da época, que se difundiam como uma voz poderosa.

O Museu Jaguaribano ainda abriga a XXV Exposição de Jornais Antigos de Aracati e outras e regiões. Em tempo: Aracati possuiu um dos primeiros jornais do Interior, o Clarim da Liberdade, fundado em 1831.
Na edição 23, do jornal Tribuna do Povo, de 5 de novembro de 1870, redigido por Júlio César da Fonseca Filho, tendo Francisco Soares Monteiro como editor, clamava em sua primeira página: "arroje os canhões da imprensa suas lavas de luz contra as instituições oligárquicas plantadas no solo virgem de Colombo! Seja cada jornal uma cidadella, cada typo um projectil; E que retombando no largo espaço americano os echos de suas espantosas detonações, dilate-se até proporções horríveis e desperte os seus dilectos filhos que jazem sob a loucura de um sonho algido e pesado".
Era momento da dissidência instrumentada em páginas de jornal, em plena Aracati dos barões e de seus sobrados.

No periódico "O Sol", de 1910, e que leva o mesmo nome de outro histórico jornal do Rio de Janeiro, o talento jaguaribano estava nos versos do poeta popular Herculano Moura, sócio fundador do Museu Jaguaribano e que faleceu dois anos atrás, aos 88 anos. Curiosamente, os jornais da época não encontraram substitutos nos dias atuais, em que as publicações jornalísticas de Aracati estão em blogs, rádio e televisão.

Mas enquanto era aquela a atualidade, poesia está sobre a mesa nas antigas páginas de jornal, e Seu Herculano até lembra uma curiosa influência de João Cabral de Melo Neto: "já possuí um mulo castanho/não era grande nem pequeno/ era um mulo de bom tamanho/conhecido por sereno. Era um mulo de quatro pés/que não mordia nem atirava coices/era pacífico e ordeiro (...) Meu mulo manso de quatro pés/meu mulo manso e baixeiro/morreste como tuido que é mortal/ porem ainda vives nestes versos/ porque eras mais polido e sensato/de que certos letrados burros, que zurram nas cidades e trotam pelas ruas", lembrou.
Todas as exposições seguem abertas de 8 as 15 horas, de segunda a sexta, até o final do mês de julho.

Imagens da exposição

Sociedade de Aracati fotografada em vários momentos. 1. Manifestação cívica da União Operária Santa Tereza, formada pelos empregados da fábrica de tecidos Santa Tereza, em 1940. 2. Casarões antigos também são retratados pela exposição, como uma forma de fazer a sociedade reconhecer o passado de Aracati. 3. Solenidade de entronização do Sagrado Coração de Jesus, pavimento térreo do solar "Barão de Mecejana", em 1928. 4. Jardim Dr. Leite, em 14 de abril de 1933. Na época, em reforma, foram retiradas as grades de ferro

Fique por dentro
História

A História de Aracati começa no século XVII. O primeiro núcleo habitacional denominou-se São José do Porto dos Barcos, posteriormente Cruz das Almas e Santa Cruz do Aracati. Antigo centro comercial e exportador de charque, Aracati é um dos maiores sítios históricos do período colonial da capitania do Siará-Grande. A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, a Casa-da-câmara e cadeia, os imponentes sobrados como o do Barão do Aracati (hoje Museu Jaguaribano), as capelas, igrejas e as ruínas de uma antiga oficina de charque (feitoria ou casa de beneficiar carne) com o aspecto de uma casa-grande-fazendeira (logradouro conhecido popularmente como "castelo"), dão o testemunho histórico da vila onde nasceu a "carne-de-sol".

MAIS INFORMAÇÕES
Instituto Museu Jaguaribano - Rua Coronel Alexanzito, 740
Aracati - José Correa, curador
(88) 9902.5275
regional@diariodonordeste.com.brEste endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
Melquíades Júnior
Colaborador

Fonte: Rádio Canoa FM

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