quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Vamos ler Ronaldo Correia de Brito

Textos do escritor cearense estão reunidos no último lançamento da coleção Crônicas Para Ler na Escola, da editora Objetiva
Ronaldo Correia de Brito escreve quinzenalmente aos domingos no Vida & Arte Cultura, no O POVO (DIVULGAÇÃO)


Em meio a escritores como João Ubaldo Ribeiro, Ignácio Loyola Brandão, Ruy Castro e Carlos Heitor Cony, o cearense radicado em Recife Ronaldo Correia de Brito, 60, é o mais novo autor da coleção Crônicas para Ler na Escola, da editora Objetiva. Cronista desde a fundação da revista recifense Continente Multicultural (hoje apenas Continente), na qual assinou por sete anos uma longa crônica mensal, Ronaldo reúne no volume textos dessa primeira produção e crônicas mais recentes publicadas na revista online Terra Magazine e aos domingos no Vida & Arte Cultura, no qual publica quinzenalmente.


“Eu tô escrevendo seis crônicas por mês. Não é muito se você pensar que o Luís Fernando Veríssimo escreveu por boa parte da vida uma por dia. Mas pra mim, que sou um escritor mais lento, isso representa muito”, contabiliza ele ao telefone, falando do Crato, onde visita os pais estes dias. 
Residente no Recife desde os 17 anos, o também médico Ronaldo Correia de Brito faz das lembranças de sua infância na região do Cariri – ou antes, em Saboeiro, no Sertão dos Inhamuns, onde nasceu – tema recorrente em sua produção ficcional e, como não poderia deixar de ser, nas crônicas periódicas. No entanto, nestes textos ao rés-do-chão, a predisposição do gênero para a confusão entre narrador e autor acaba por desaguar a apreciada aproximação por Ronaldo entre crônica e conto na narrativa memorialista do escritor.
“A interferência da voz do autor no narrador é muito frequente na crônica. Você vai ver isso nas pessoas que tem mais renome na crônica no Brasil, o próprio Manuel Bandeira, Luís Fernando Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, Zuenir Ventura...”, considera o autor.
Ao lado disso, outra temática recorrente na coletânea, ou melhor, preponderante, pela própria proposta da coleção, são os textos que tratam da matéria imediata da literatura. “Quase metade deles falam de livros, falam das minhas experiências com os livros, das minhas experiências com as bibliotecas, com as bibliotecárias, da revolução que acontece na minha vida através dos livros, do meu amor por eles”, enumera Ronaldo.
O escritor conta que, ao saber da receptividade do livro, ligou para seu editor a fim de informar que a partir dali não escreveria nem um conto sequer a mais, muito menos outro romance. Segundo o próprio Ronaldo, os gêneros que lhe notabilizaram em obras como O livro dos homens (2005, Cosac Naif) e Galileia (2009, Alfaguara) estafam o escritor, exigem sobremaneira do labor técnico, bagunçam as emoções, e ao final da tarefa não apresentam satisfatória relação custo benefício. Caso diametralmente oposto ao da crônica, que na sua leveza despretensiosa, por assim dizer, deixa a escrita fluir com maior naturalidade e rapidez, encurtando a distância entre autor e leitor. 
“Os leitores adoram essas crônicas, que não me dão muito trabalho, pelo contrário, só me dão prazer”, brinca. Não obstante, ele adianta que trabalha atualmente na publicação dos dois volumes restantes da Trilogia das Festas Brasileiras, projeto de literatura infantil em parceiro com Assis Brasil que reúne também música e teatro, e diz esperar que seu segundo romance (estreou no gênero com Galileia, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura de 2009) chegue às livrarias próximo ano. “Eu estou morrendo de trabalhar para ver se sai”, confessa. A coletânea Crônicas para Ler na Escola sucede na biblioteca do autor o livro de contos Retratos Imorais (Alfaguara), lançado ano passado.

SERVIÇO

CRÔNICAS PARA LER NA ESCOLA
O que: mais novo item da coleção da Editora Objetiva com foco na obra do cearense Ronaldo Correia de Brito. 172 páginas.
Quanto: R$ 28,90.

Pedro Rocha
pedrorocha@opovo.com.br

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Redes de arte e de pesquisa

Pesquisadores se reúnem para debater os desdobramentos da história da arte a partir do Ceará: acontece hoje, na Vila das Artes, o 1º Colóquio Laphista

O laboratório de Pesquisa em História da Arte é uma ação vinculada à Galeria Antônio Bandeira, localizada no Centro de Referência do Professor, um espaço expositivo com quase 50 anos de história FOTO: KID JÚNIOR
Há um ano, pesquisadores de diversos campos se reuniam para instituir um espaço de pesquisa importante para o Estado, cujas bases estão fincadas em uma demanda local: pensar sobre a história da arte a partir do Ceará, estimulando o estudo acerca dos espaços de exposição, da formação do historiador de arte e da memória do fazer artístico. A esse grupo deu-se o nome de Laboratório de Pesquisa em História da Arte - Laphista, organizado pela Galeria Antônio Bandeira, equipamento da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor).

Em comemoração ao primeiro ano de funcionamento do laboratório, participantes organizaram o 1º Colóquio Laphista, uma programação com o objetivo de promover intercâmbios entre estudos dessa área. O evento, que inicia às 9h de hoje e se estende até as 18h, tem como tema o desdobrar.

Intercâmbio
Segundo Carolina Ruoso, coordenadora do Laphista, os debates devem refletir uma proposta central do grupo que é perceber a trajetória da arte a partir de uma perspectiva dinâmica. "Antes, em geral, se pensava o artista enquadrado em uma única escola. Se dizia que ele era influenciado por nomes específicos. Queremos pensar, na verdade, que esses artistas trocam influências e experiências, que isso é muito mais flexível e simultâneo", explica a pesquisadora.

Com debates baseados nessa lógica de circulação de saberes, os pesquisadores deverão desenvolver seus estudos e trocar informações acerca de como se formam as redes de relações entre os artistas. "Quando os artistas se deslocam, por exemplo, eles formam uma importante rede de trocas e de influências. Ocorre aí uma releitura de elementos e até de técnicas que precisam ser pensadas, como cada lugar reinterpreta o seu fazer artístico", elabora Carolina.

Para o laboratório, é importante pensar nos intercâmbios culturais dos sujeitos tanto quanto nas articulações promovidas pelos sistemas de políticas públicas regidos pelos governos. Segundo Carolina, a conjuntura atual é favorável às artes quando se pensa sobre os editais lançados, as políticas de incentivo à construção de museus em pequenas cidades e os fóruns promovidos para fazer com que os museus dialoguem. "O laboratório também surge nesse contexto, pensando no espaço das galerias voltado para a comunidade, com produção de pesquisa e construção do conhecimento", acrescenta a coordenadora.

Debate
Partindo de uma proposta inteligente de pensar não só a escrita de uma história da arte cearense, mas uma história da arte a partir do Ceará (percebendo o estado não como lugar isolado, mas situado em um contexto nacional), o colóquio pretende dar visibilidade aos trabalhos que vem sendo desenvolvidos ao longo desse primeiro ano de existência.

Na ocasião, algumas palestras discutem espaços locais, como o Museu de Artes da Universidade Federal do Ceará, primeiro museu de artes de Fortaleza, inaugurado em 1961; o Museu Firmeza, mantido pelos artistas plásticos Nice e Estrigas desde a década de 70; e o Salão de Abril, uma das ações artísticas mais antigas de Fortaleza, caminhando para sua 63ª edição.

Além disso, a mestranda em Comunicação da UFC, Fernanda Meireles, e a mestre em comunicação Nila Bandeira, coordenadora da pós-graduação em Design Gráfico na Faculdade 7 de Setembro, deverão deitar um olhar crítico sobre o fluxo e a produção da arte em papel. Fernanda elabora sobre um tema há muito por ela explorado: os fanzines; e Nila estuda a arte postal. Ambos os projetos observam a dinâmica dos processos, a arte em rede através da troca de correspondências.

Museus
Dentro da programação, o trabalho de Graciele Siqueira, mestre em Museologia e Patrimônio pela Unirio e museóloga do Mauc, chama a atenção pela urgência do tema. Intitulado "A Formação Profissional do Museólogo no Brasil", o projeto traz à tona uma importante demanda cearense. "Temos no Ceará excelentes profissionais, mas ainda que as faculdades de história contemplem o tema, nos faltam cursos de museologia ou mesmo uma linha de pesquisa de pós-graduação voltada para esse campo", comenta Carolina.

Segundo a coordenadora, o Museu do Ceará e o Sistema Nacional de Museus vem, há muito, discutindo a constituição de uma formação efetiva em museologia no Estado. O 1º Colóquio Laphista é aberto ao público, mas, para além do evento, os interessados em participar do laboratório podem ir aos encontros quinzenais, promovidos às segundas-feiras, das 9h ao meio dia, na Vila das Artes.

INTERCÂMBIO CULTURAL
HOJE
9h- Abertura com: Maíra Ortins, Coordenadora de Artes Visuais da Secultfor; Mariana Ratts, Diretora da Galeria Antônio Bandeira e Carolina Ruoso, Coordenadora do Laphista.

9h30- “Um currículo fora das grades: limites, desafios e possibilidades para a formação do historiador da arte na era da web 2.0”, com Natália Barros, doutoranda em História.

10h30 -“O discurso e o objeto na arte contemporânea brasileira”, com Jacqueline Medeiros: Gerente de Artes do Centro Cultural BNB Fortaleza.

11h - “Reconfigurações do alegórico no contemporâneo - por uma leitura anacrônica da obra de arte”, com Milena Travassos, doutoranda em Comunicação na UFRJ.

11h30- “O Cubo Branco em Fortaleza: análise do planejamento nos espaços expográficos”, com Francisco Galber Rocha Santiago, Técnico em Design Ambiental pelo IFCE.

14h - “Zines: Cartas de Trajetórias Urbanas”, com Fernanda Meireles, mestranda em Comunicação da UFC

14h30 - “Arte Postal, uma arte em rede”, com Fernanda Meireles e Nila Bandeira, coordenadora da pós-graduação em Design Gráfico na Fa7.

16h - “Crise da Contemporaneidade e o Problema da Função Social da Arte: O Museu Firmeza com o espaço de resistência”, com Milton Ferreira, historiador pela UECE e aluno de especialização em Psicopedagogia Clínica.

16h30 - “O salão de Abril e sua trajetória como lugar legitimador da arte cearense (1953 – 1964)” com Anderson de Sousa, bolsista da FUNCAP, atuando no Núcleo de Conservação e Documentação do Acervo do Memorial da Cultura Cearense.

17h - “Antropofagias museais: dos projetos imaginados para o MAUC” com Carolina Ruoso, coordenadora do Laphista.

17h30 -“A formação profissional do museólogo no Brasil”, com Graciele Siqueira, mestre em Museologia e Patrimônio (UNIRIO-MAST)

MAIS INFORMAÇÕES
1º Colóquio Laphista ("Desdobrar histórias da arte: redes, narrativas e monumentos"), hoje, das 9h às 18h, na Vila das Artes (R. 24 de Maio, 1221). Contato: (85) 3252.1444

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER

Sobral à francesa

Em livro lançado hoje, na Biblioteca Municipal de Sobral, a pesquisadora Elza Marinho Lustosa da Costa analisa reflexos da Bella Époque no cotidiano das famílias sobralenses

O Teatro São João, erguido há 130 anos, é um dos signos da época de prosperidade econômica de Sobral
FOTO: SECRETARIA DA CULTURA E TURISMO DE SOBRAL
Ir ao teatro, frequentar gabinetes literários, corridas de cavalos, tocar piano e se portar como um verdadeiro "gentleman", enquanto acompanha sua encantadora esposa à missa dominical. Essas praticas sociais, que até hoje permeiam o imaginário global como referências de refinamento, da elevada cultura do século XIX, são objetos do estudo da pesquisadora Elza Marinho Lustosa da Costa. Com um detalhe no recorte: o município de Sobral.

De família tradicional da Cidade, ela se desgarra do sentimento elitista que até hoje ratifica essas práticas como mostras de grande civilidade. A historiadora traça uma análise do período em que tais referências culturais viveram seu apogeu.

Em "Sociabilidade e Cultura das Elites Sobralenses", Elza reconstitui os esforços e os conflitos da elite sobralense da época em afirmar a proeminência cultural da Cidade aos moldes franceses, em histórias que relembram tempos áureos, de quando Sobral despontava como principal economia do Estado, a despeito da capital, Fortaleza. O livro será lançado hoje, às 19h30, na Biblioteca Municipal de Sobral.

A obra é uma adaptação de sua tese de doutorado em História Social, defendida em 2002, junto ao Instituto de Filosofia e Ciência Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A obra integra a série Panorama Nacional, da coleção Nossa Cultura, projeto da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult).

Belle Époque
O estudo concentra-se no período de 1880 a 1930, quando a França ainda exercia grande influência econômica e cultural no mundo, exportando seu modelo de "civilização" para diversos países (Brasil incluso). Um dos objetivos da autora é desmistificar a ideia defendida por muitos sobralenses "fervorosos", entre eles historiadores locais, que destacam essas práticas como um diferencial da Cidade e símbolo de sua vocação cultural.

Símbolos dessa Sobral afrancesada não faltam. Como o belo Teatro São João, primeiro grande teatro do Estado, erguido há 130 anos; o Derby Club Sobralense (fundado em 1893), onde se costumava assistir às corridas de cavalo, e até uma réplica do Arco do Triunfo, construída na principal avenida da Cidade.

"(Quando jovem) eu achava que Sobral era um caso à parte. Era isso que a historiografia local dizia", lembra Elza. Para fugir de textos que reproduziam esse pensamento, ela se debruçou sobre coleções de jornais da época (do acervo da Universidade do Vale do Acaraú). "Busquei estudar as práticas de lazer, de consumo, analisando propagandas da época, os trajes, a política, as brigas entre famílias, as práticas religiosas", explica.

O período estudado é limitado por dois fatos importantes na história do município: a inauguração da estrada de ferro ligando Sobral a Camocim, em 1881, funcionando como escoamento de produtos para o atlântico, em uma demonstração do prestígio das classes dominantes locais; e a construção da rodovia Sobral-Fortaleza (1932), época em que a cidade entra em declínio econômico, quando perde seu status de principal entreposto comercial do Estado. Para ambientar o estudo, autora analisa as condições em que se formaram as famílias que compõem as elites sobralenses.

Sofisticação
Ocupada durante a colonização, a região seguia os moldes que favoreciam, por exemplo, a prática do coronelismo, como a doação de sesmarias. O clima e a economia local também contribuíam para moldar as práticas sociais, culturais, de alimentares, como a carne seca, a quase ausência de legumes.

"Foi imposta uma sofisticação, quando eles já tinham hábitos mais ´grosseiros´. Não era em cima de uma folha em branco. Já tinha uma cultura engendrada", argumenta Elza. Movidas pelo prestígio mundial do modelo francês de "civilização", essas elites passam a agregar elementos que as aproximassem da realidade europeia.

"As elites tinham o domínio econômico. Mas tinha que ter uma sofisticação que as afirmasse como essa elite econômica e social. Como quando um jogador tem sucesso no futebol, a primeira coisa que faz é aprender a jogar golfe, que é algo identificado como prática de elite", ilustra a autora.

O livro é dividido em cinco capítulos, abordando desde o povoamento da região e o nascimento de Sobral, passando pela imprensa local, as práticas de lazer, de consumo, de etiqueta, até os conflitos políticos e a influência da igreja Católica e das irmandades religiosas.

"Quando eu era criança, diziam: ´Ah, Sobral tinha um gabinete literário já naquela época´. Pesquisei e vi que a maioria das leituras eram de revistas. Não encontrei nenhum título clássico da época. Era muito frequentado por mulheres, na época de férias, e existiu por pouco tempo. É a coisa da memória coletiva", diz Elza que, ademais às contribuições no plano sociológico do estudo, espera desmistificar a forma como o sobralense até hoje vê a cidade.

Cultura Sociabilidade e Cultura das Elites Sobralenses - 1880 - 1930  
Elza Marinho Lustosa da Costa
SECULT
2011
256 PÁGINAS

Lançamento às 19h30, na Biblioteca Municipal de Sobral (Travessa Adriano Dias, 140 - Centro). Contato: (88) 3611.8007

FÁBIO MARQUES
REPÓRTER

Escavação paleontológica é a maior do NE

Os fósseis de maior relevância que forem encontrados vão ficar no Museu de Paleontologia de Santana do Cariri

Nesse primeiro momento das pesquisas, as escavações no Araripe permanecem até o próximo sábado. Esse é o começo de um estudo que irá durar três anos
ELIZÂNGELA SANTOS

Araripe Pesquisadores de várias universidades brasileiras e do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) se encontram no Cariri para realizar a maior escavação paleontológica controlada do Nordeste. A pesquisa está sendo coordenada pela Universidade Regional do Cariri (Urca). O trabalho foi iniciado no Riacho Grande, localidade do Município de Araripe. Esse é o começo de um estudo que irá durar três anos, por meio de projeto financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Nacional (CNPq), com apoio do Geopark Araripe. As áreas pouco exploradas da região são o foco da pesquisa e há possibilidades de achados de fósseis de dinossauros, como os pterossauros.

São 20 pesquisadores, entre estudantes de graduação, pós-graduação e professores. Nessa primeira etapa dos trabalhos, os integrantes da equipe permanecem na região até o próximo sábado. Deverão ser coletados na área da Baixa Grande cerca de 4 mil fósseis, que serão direcionados, segundo o coordenador das pesquisas, o professor doutor Álamo Feitosa, também coordenador executivo do Geopark Araripe, às escolas públicas do Município, para auxiliar na didática das atividades escolares. Ele classifica esse momento como um marco na pesquisa paleontológica da região.

Também está acompanhando os trabalhos um dos maiores pesquisadores da área, que fez descobertas importantes relacionadas aos pterossauros do Araripe e apresentou o resultado do trabalho para a comunidade científica mundial. O professor e cientista, Alex Kellner, do Museu Nacional, destaca a importância do desenvolvimento científico na região e que os fósseis de maior relevância nas pesquisas que forem encontrados vão permanecer na região e serão expostos no Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, e não como ocorria em outros momentos, já que o material antes era levado para outras instituições, a exemplo do próprio Museu Nacional, que hoje contém diversos achados paleontológicos do Araripe.

Alex Kellner explica que a escavação controlada significa procura dos fósseis de acordo com os níveis das rochas, em que se consegue documentar em qual delas foi encontrado o tipo de fóssil. "Isso nos dá condições de correlacionar os diferentes níveis fossilíferos", frisa o professor. Ele afirma que o objetivo é encontrar no local um grande número de fósseis e dizer de qual coluna estratigráfica é, das diferentes camadas.

Distribuição

Segundo o professor Álamo, as peças que serão distribuídas nas escolas são aquelas mais comuns e que já foram estudadas. Normalmente, as chamadas pedras de peixes. O material também será direcionado a órgãos como o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). O trabalho está sendo documento pela cineasta Lara Velho, que vem acompanhando o cientista Kellner há vários anos, e também pela revista internacional National Geographic. Lara já chegou a produzir documentários sobre paleontologia na Antártida, nos Estados do Mato Grosso, Minas Gerais e outras regiões do Brasil.

De acordo com Álamo, o projeto junto com o CNPq foi firmado entre a Urca e o Museu Nacional. A coordenação é da Urca, com apoio da UFRJ e depois entrou como parceira a Universidade Federal do Pernambuco (UFPE). Especialistas de várias áreas da paleontologia compõem a equipe, desde a reconstituição paleoambiental, que é a sua especialidade, até áreas de dinossauros e crocodilos.

Exploração

Ele destaca que a parte leste da Bacia do Araripe, incluindo Municípios como Crato, Barbalha e Jardim, sempre foi muito explorada em termos de paleontologia, desde 1800, com a primeira citação de João da Silva Feijó. No século XX, também houve muitos trabalhos, mas como há uma subdivisão em sub-bacia leste, conforme Álamo, fica o questionamento se é a mesma coisa em termos de composição faunística. "Então, estamos tentando verificar de onde vinha o contato do lago Araripe com águas marinhas. Hoje, vemos que a grande possibilidade seja pela Bacia Piauí/Maranhão, ou seja, pela parte oeste", explica o coordenador.

Ele acrescenta que isso só será possível por meio de escavações planejadas que vão acontecer em Araripe, depois uma parte de Campos Sales, perto da Chapada, em Salitre e Potengi, até chegar ao Piauí, na parte mais oeste, na área de Caldeirão Grande.

Uma das propriedades importantes que pode facilitar as novas descobertas é que os pesquisadores estão atuando na borda do lago, ou seja, segundo Álamo, os fósseis estão em cima do embasamento cristalino, da rocha do assoalho, o chão do lago. "Isso aumenta muito a possibilidade de encontrar animais que não habitavam o lago, mas estavam nas proximidades como dinossauros, da espécie pterossauros, crocodilos e outros seres que eventualmente pudessem se encontrar por perto", diz o professor. A pesquisa, então, inicia na parte leste e vai até o final da parte oeste, como forma de traçar um comparativo dos perfis. Em uma primeira prospecção na área, já foram encontradas tartarugas. O mais raro, de acordo com os estudiosos, seriam as criaturas voadoras, no caso dos pterossauros.

MAIS INFORMAÇÕES
Escritório Geopark Araripe/Urca - Rua Teófilo Siqueira, 754, Centro
Município do Crato (CE)
Telefone: (88) 3102.1237

Elizângela Santos
Repórter

EDUCAÇÃO
Fósseis servirão como fontes didáticas

Araripe Um dos grandes resultados da escavação paleontológica controlada, realiza no Cariri, será o ganho para a pesquisa científica e o turismo da região. É que as peças fósseis encontradas para estudos ao longo das pesquisas permanecerão na região, e até servirão como fontes didáticas para estudantes de escolas públicas, nos Municípios onde ocorrem as escavações. Somente esta semana, devem ser encontrados cerca de 4 mil peças fossilizadas, principalmente de peixes, que serão repassados para várias instituições.

Segundo o chefe da equipe de pesquisadores, Álamo Feitosa, como será um grande volume de material, desde fezes de peixes até peixes completos, muita coisa repetida e que já foi bem estudada, haverá doação para Araripe, o laboratório do Museu de Paleontologia, DNPM, e parte do que já foi estudados para o Museu Nacional. Caso tenha algo raro, fica no Museu de Paleontologia, em Santana do Cariri.

Álamo afirma que, neste momento, se está montando uma equipe, inclusive com alunos, que ele vem orientando, e pesquisadores. Esse esforço poderá resultar em uma equipe de pelo menos 10 doutores na área para os próximos 10 anos. Serão estudiosos nas mais diversas áreas. Ele é o primeiro doutor da paleontologia da região. "Vi nos últimos três anos que a gente tem que formar pesquisadores do Cariri, para que ele se intitule e tenha conhecimento e isso irá garantir a pesquisa na região, em uma das bacias paleontológicas sedimentares mais importantes do mundo", ressalta. E para isso, segundo ele, se requer investimentos e pessoas qualificadas.

O projeto a ser desenvolvido nos próximos anos é no valor de R$ 130 mil. Já é um grande apoio, já que antes não se podia desenvolver grandes escavações, em virtude da falta de recursos. Para Álamo, esse é um passo significativo.

Centro de pesquisa

Agora, com a disponibilidade de um trator, isso facilita mais os trabalhos, e pela primeira vez, a Urca está à frente de uma equipe de pesquisadores. "Isso transforma a região em importante centro de pesquisa", diz. Recentemente foi realizado curso de preparação de fósseis da região, incluindo alunos da UFPE. Ele acrescenta que hoje a região está em um patamar respeitado em termos de pesquisa em paleontologia, com boa produção científica e cursos.

Alex Kellner, que iniciou sua pesquisa na área do Araripe em 1984, afirma que essa é uma das principais e mais ricas áreas fossilíferas do Brasil. "Infelizmente, é uma área que sofre devido à escavação desordenada, o comércio". O grande diferencial, segundo ele, são as escavações controladas. "Acredito que essas escavações vão render muito mais informações do que as antes realizadas".

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Academia de Letras de Crateús-Posse de novos membros

A Academia de Letras de Crateús abriu suas portas para receber uma nova leva de acadêmicos. Tomaram posse no sodalício crateuense Ana Cristina do Vale Gomes, Cheyla Mota, José Maria Bonfim de Morais, José Rodrigues Neto, Juarez Leitão, Karla Gomes, Paulo Nazareno e Silas Falcão. O evento, aberto à população de modo geral, ocorreu  sábado, dia 30 de julho, às 19:00 hs, no Teatro Rosa Morais.



Crateús-Academia ganha integrantes

Em apenas dois anos de atuação, a Academia de Letras de Crateús comemora seus novos membros e projetos






Membros DA ACADEMIA de Letras de Crateús em momento de reunião. Em pouco mais de dois anos, passa de 22 membros fundadores para 30
FOTO: SILVANIA CLAUDINO
Em solenidade realizada ontem à noite no Teatro Rosa Moraes, a Academia de Letras de Crateús (ALC) empossou e diplomou mais oito novos membros, eleitos em assembleia, em junho. Ana Cristina do Vale Gomes, Karla Gomes, Cheila Mota, Silas Falcão, Juarez Leitão, José Maria Bonfim, Paulo Nazareno Soares e José Rodrigues Neto agora fazem parte do seleto grupo de intelectuais deste Município.

Em pouco mais de dois anos, a Academia passa de 22 membros fundadores para 30, estando agora bem próximo da sua composição: 40 membros efetivos. Além desses, o seu estatuto prevê também membros correspondentes e membros honorários. Tem como finalidade propagar a cultura e a literatura na esfera erudita e popular no Município e região. Para cada uma das 40 cadeiras, os ocupantes escolhem os respectivos patronos, homenageando personalidades que marcaram as letras e a cultura brasileira. As reuniões ocorrem bimestralmente na sede da instituição.

A nova leva de acadêmicos anima a diretoria da arcádia. "Essas novas pessoas que estão chegando são todas experimentadas, boa parte possui livros publicados e nos levam a acreditar em um futuro promissor para a Academia. Acolhemos a todos com alegria", destaca Elias de França, presidente da ALC. Ele enfatiza a pluralidade do grupo originário e dos novos. "Temos poetas, cordelistas, jornalistas, contistas, enfim, um grupo bem plural e isso acaba impondo um desafio e ao mesmo tempo uma grande riqueza, advinda dessa diversidade".

Instalação
A ALC foi instalada, oficialmente, em 13 de junho de 2009 em cerimônia também no Teatro Rosa Moraes, por um grupo de amantes das letras vinculados ao Município. Antes, porém, houveram várias reuniões preparatórias permeadas por discussões sobre os objetivos e atuação da instituição. Segundo França, uma delas girou em torno do papel da ALC e composição. "Queríamos reunir e unir pessoas que escrevem e que de alguma forma incentivam as atividades de leitura e escrita. A atividade de escrever é muito solitária, mas refletimos que o fato de nos reunirmos motivaria a partilha e até a publicação de nossos trabalhos", lembra.

Ao avaliar esses dois anos de atuação da instituição, ele diz que esse pensamento tornou-se realidade. "Apesar de termos voltado nossas ações para a parte burocrática da ALC, bem como obtenção de uma sede, o que consome um pouco os nossos esforços, comemoramos a publicação de mais de dez livros nesse período", relata.

Para ele, o livro é a grande testemunha da história. "O que somos devemos aos livros, que desde o tempo dos pergaminhos registram a nossa história. Sem o livro não seríamos o que somos, não teríamos registros efetivos da nossa história", defende Elias de França.

Comprometimento
Outra preocupação dos fundadores, destacada por França, reside na ação da Academia no Município. Os "imortais" não podem ficar isolados da sociedade. "As palavras ´elite´, ´intelectual´ e ´imortal´ para nós são vazias em si mesmas, o que vale na verdade é a ação. Essas palavras somente têm significado se envolvermos as massas e a cultura do povo do nosso Município, por isso não nos isolamos e nem cultivamos vaidades", revela.

De acordo com ele, essa discussão é perene na ALC. "Não almejamos ser uma instituição que objetive cultivar vaidades, elites e cuja existência se encerre em fornecer títulos", enfatiza. Daí, o crescimento da Academia, que, segundo ele, circula nas esferas escolares e da sociedade com muita frequência. "A Academia se tornou maior do que imaginávamos, hoje recebemos inúmeros convites para eventos na cidade e região e percebemos claramente a lacuna que existia na área da propagação da cultura", destaca.

Centenário
Nos últimos seis meses, a instituição tem dedicado boa parte de seu tempo, discussões e ações envolvida com a programação do centenário de Crateús, que ocorrerá em 15 de novembro. A luta priorizada é no sentido de resgatar a história da cidade. "Temos um déficit histórico antropológico imenso, pertencíamos ao Piauí e depois ao Ceará. Perdemos o contato com as nossas raízes e isso precisa ser resgatado", conta. A instituição prepara o lançamento de um livro que resgata essa história e se desdobra na pesquisa. Um grupo visitou, recentemente, os Municípios de Oeiras e Teresina, no Piauí, em busca de documentos que contem as origens da Vila Príncipe Imperial, primeira denominação de Crateús. A busca, agora, é por parceiros para efetivar o projeto.

MAIS INFORMAÇÕES
ALC - Rua do Instituto Santa Inês, 231 - Centro - Crateús
http://academiadeletrasdecrateus.blogspot.com/

Silvania Claudino
Repórter

Museu de Santana do Cariri-Acervo do museu é reavaliado

O local tem importante acervo de vegetais, invertebrados e vertebrados, e coleção de fósseis do Cretáceo

MUSEU DE PALEONTOLOGIA de Santana do Cariri foi reformado. Entre o seu acervo, peixes fossilizados com 110 milhões de anos. Ao todo, são cerca de 10 mil fósseis
FOTO: ANTONIO VICELMO
No momento, está sendo feito um recadastramento do museu. Antes, falava-se em mais de 7 mil peças catalogadas. A direção do Museu explica que muitas dessas peças são repetidas. Daí a necessidade de uma reavaliação do acervo. São cerca de 10 mil fósseis, incluindo os não catalogados. O Museu conta com um importante acervo de vegetais, invertebrados e vertebrados e a melhor coleção de fósseis do período Cretáceo.

Em sua maioria, estes fósseis foram doados por moradores locais ou obtidos por meio de coletas e trabalhos e/ou aulas de campo. Atualmente, as peças abrangem uma enorme variedade de espécies que contam parte da história da evolução da vida do planeta Terra. São microfósseis e macrofósseis dos antigos ambientes terrestres e aquáticos, como vegetais, moluscos, equinóides, aracnídeos, insetos, peixes, anfíbios, tartarugas, crocodilianos, dinossauros e pterossauros.

Santana do Cariri, que foi denominada por Lei Estadual, em 2005, como Capital Cearense da Paleontologia, é o maior centro de informações sobre paleontologia do Ceará. Os fósseis são extraídos das entranhas da Chapada do Araripe que emoldura a cidade.

Combinação
A riqueza da Chapada do Araripe é resultado de uma combinação rara de fatores. "Há milhões de anos, a região era repleta de lagos de água doce e salgada com baixa oxigenação", explica o fundador do museu, Plácido Cidade Nuvens. O pouco oxigênio existente naquele ambiente foi insuficiente para oxidar preciosidades para os cientistas como ossos de animais, escamas de peixes e corpos inteiros de insetos, que permaneceram conservados. O professor de química, José Demontier Ferreira, que veio de Fortaleza para conhecer o lugar, afirma que o Museu de Santana do Cariri coloca a população em contato com sua própria história, suas tradições e valores. Com essas atividades, o museu contribui para que a comunidade tome consciência de sua própria identidade que geralmente tenha sido escamoteada por razões de ordem histórica, social e racial.

O museu, como um espaço democrático, tem como uma de suas responsabilidades contribuir para a inclusão social. Nesse sentido, a função social dos museus é apresentar à coletividade a sua história e sua cultura. "Cada uma dessas peças é um livro aberto que fala sobre a origem do homem e da terra", diz a professora Leda Vasconcelos, que esteve no Museu, acompanhando um grupo de estudantes da cidade de Brejo Santo.

A educadora pretende implantar em sua cidade um núcleo de estudos sobre fósseis com o objetivo de divulgar os sítios fossilíferos do Município de Brejo Santo, onde foram encontradas árvores fossilizadas com cerca de 140 milhões de anos. Este tesouro, segundo Leda, não está sendo explorado. "A maioria das pessoas não tem conhecimento da riqueza", lamenta. Com as reformas realizadas, aumentou o espaço para exposição, redistribuição do acervo e estrutura mais didática para que os visitantes possam conhecer melhor a importância da Bacia do Araripe para a ciência mundial. Com área de 400 metros quadrados distribuída em dois andares, o equipamento agora pode receber excursões com até 40 pessoas - o dobro da capacidade anterior.

Geopark
Localizado em Santana do Cariri, o museu é um dos principais instrumentos de divulgação do Geopark Araripe, reconhecido pela Unesco em 2006 como o primeiro geoparque das Américas e que possui mais de um terço de todos os registros de pterossauros descritos no mundo e mais de 20 ordens diferentes de insetos. De acordo com a direção do museu, uma das principais mudanças proporcionadas pela reforma é que agora os visitantes poderão ter informações mais completas sobre o universo da Paleontologia. No primeiro andar, informa ele, será possível conhecer o processo de formação geológica da Chapada do Araripe, além das etapas que envolvem uma exploração científica em busca de fósseis.

Já no piso superior, o acervo foi todo distribuído de acordo com o tipo de fóssil: plantas, insetos, moluscos, peixes, anfíbios, lagartos, tartarugas, pterossauros e dinossauros. Uma característica interessante da exposição é que o tamanho dos fósseis peixes varia de alguns centímetros até 2,5 metros.

Os ambientes onde alguns animais viviam são mostrados com mais fidelidade, inclusive com a vegetação existente na época. (A.V).

Fique por dentro
Criação
O Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (Urca), sediado no Município de Santana do Cariri, foi criado em 18 de abril de 1985 (Lei nº 197/85) pelo então prefeito, Plácido Cidade Nuvens, e foi inaugurado em 26 de julho de 1988. Foi doado à Universidade, efetivamente, no ano de 1991, na gestão do reitor Manuel Edmilson do Nascimento, passando a integrar a estrutura da Universidade, como núcleo de pesquisa e extensão. Ampliações no local ocorreram na gestão da reitora Violeta Arraes, entre os anos de 1997 e 1998, com instalações condizentes com a importância desempenhada como centro de pesquisas e referências no circuito turístico nordestino. O lugar é um dos destaques da região.

Museu de Santana do Cariri-Incentivo à paleontologia

O Museu de Santana do Cariri criou espaços voltados para estudantes e pesquisadores de paleontologia

O Museu de Santana do Cariri criou espaços voltados para estudantes e pesquisadores de paleontologia

Santana do Cariri O Cariri é referência quando o assunto é paleontologia. Levando em consideração a importância desta área para o crescimento da região, algumas ações estão sendo adotadas para promover o incentivo à pesquisa paleontológica e ao turismo rural. Um dos pioneiros nessa ideia é o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri.

A nova direção do local, que tem como diretor o professor Titus Riedl, instalou três pontos de apoio com capacidade para atender 13 pessoas e uma lanchonete, com o objetivo de atender a demanda de pesquisadores e estudantes que visitam o Museu, que só este ano já recebeu cerca de 130 mil pessoas. Além de ser uma fonte de pesquisa para a ciência, o museu é o carro chefe do turismo científico da região do Cariri.

Tanto o dormitório quanto a lanchonete estão localizados nas dependências técnicas do prédio. Atualmente, a cidade de Santana do Cariri não possui rede de hotelaria para receber os visitantes. O único restaurante está localizado no Pontal da Serra, a cerca de 3 quilômetros da cidade. A lanchonete e o dormitório, de acordo com o diretor técnico do Museu, João Kerensky, visam suprir a carência da cidade em termos de hospedagem. "Os pesquisadores antes tinham que se hospedar em Nova Olinda, Juazeiro do Norte ou no Crato, o que dificultava o trabalho. Lá, os pesquisadores dispõem de biblioteca especializada", ressalta Kerensky.

O técnico explica ainda que os interessados em ir até o local devem entrar em contato com antecedência pelos telefones: (88) 3545. 1206, (85) 8708. 1736 ou (85) 8860. 9276, falar com Roberta Távora ou João Kerensky. O preço das diárias variam. Para estudantes de graduação é de R$ 10,00, de Mestrado ou Doutorado R$ 15,00 e R$20,00 para pesquisadores.

No museu foi criado biblioteca para oferecer aos estudantes e pesquisadores um acervo diversificado
FOTO: ANTONIO VICELMO

Nova concepção
O Museu da Paleontologia de Santana do Cariri, que foi restaurado, está funcionando com uma nova concepção. O geólogo Idalécio Freitas, gerente do Geopark Cariri, informou que o objetivo não é somente mostrar coisas velhas. A finalidade, segundo afirmou, é aprimorar o ensino das ciências para estudantes de diversas idades, bem como contribuir para o estímulo à curiosidade, à criatividade, à resolução de problemas e ao raciocínio lógico.

A proposta é que uma visita ao museu seja tão agradável quanto ir a um parque de diversões. Para isso, foi instalada uma sala de vídeos para exibição de documentários e filmes de interesse dos jovens. Brevemente, será disponibilizada uma sala para deficientes.

O objetivo, conforme Idalécio, é fazer girar emoções, ideias, sentimentos. Mostrar aos jovens um caminho que pode ser seguido no futuro em aspectos profissionais.

Para ele, um museu moderno como esse, "com características que permitem aos jovens não só ver, mas interagir com as formas de conhecimento representadas nos diferentes objetos e nas diferentes situações de conhecimento" funciona, entre outras coisas, como uma motivação simpática para que os jovens se interessem pelas questões da cultura científica.

Despertar
Para a comunidade de Santana do Cariri, em específico, o museu oferece bolsas de trabalho para estudantes, treinamento de guias e emprega funcionários, visando à ação social e o despertar da consciência, no que se refere à proteção do patrimônio paleontológico. Ao todo, 13 guias mirins fazem relatos interessantes, cheios de referências históricas. Com apenas 12 anos de idade, o guia mirim Enzo Lima de Melo fala, com desenvoltura, sobre a origem dos fósseis e o que eles representam para a ciência.


Pesquisa
"A finalidade é aprimorar o ensino das ciências para estudantes de várias idades"
Idalécio Freitas
Gerente do Geopark Araripe


"O museu contribui para que a comunidade tome consciência de sua identidade"
José Demontier FerreiraProfessor de Química


MAIS INFORMAÇÕES
Museu de Paleontologia de Santana do Cariri
Rua Dr. José Augusto Araújo, 326
Telefone: (88) 3545.1206


PREPARAÇÃO DE FÓSSEIS
Estudantes e professores participam de curso na área
Com o objetivo de aperfeiçoamento na pesquisa, são abordadas técnicas de preparação química e mecânica
Santana do Cariri. Dentro dessa concepção, alunos e professores que trabalham com paleontologia na região do Cariri estão participando de um curso de Preparação de Fósseis, ministrado por um dos maiores especialistas na área: o professor de Preparação de Fósseis, Hélder de Paula Silva, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O curso é promovido pela Universidade Regional do Cariri (Urca) e Geopark Araripe. O professor Álamo Feitosa destaca que é uma nova frente na pesquisa paleontológica da Bacia do Araripe. Estão sendo abordadas técnicas de preparação química e mecânica.

Para o ex-reitor da Urca, Plácido Cidade Nuvens, o museu é uma porta aberta na linha da extensão e da pesquisa. Somente no mês de julho, mais de três mil pessoas visitaram o museu o que, segundo Plácido, é um número expressivo para uma cidade pequena como Santana do Cariri, que conta com pouco mais de 17 mil habitantes.

Plácido destaca que o museu tem uma função básica de pesquisa, no apoio logístico aos pesquisadores que se dirigem à região, no sentido de conhecer a riqueza fóssil da Chapada do Araripe.

O museu, de acordo com Plácido, é uma instituição permanente, aberta ao público, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, que adquire, conserva pesquisa, expõe e divulga as evidências materiais e os bens representativos do homem e da natureza, com a finalidade de promover o conhecimento, a educação e o lazer.

Antônio Vicelmo
Repórter

A persistência da palavra impressa

Valorizadas pelos escritores, as revistas literárias cearenses enfrentam a histórica dificuldade de distribuição

O inquieto Mardônio França: poeta, agitador cultural e um dos cabeças do movimentado selo editorial Corsário
FOTO: MARÍLIA CAMELO


Longe de representar grandes mudanças no mercado editorial, as "facilidades" na publicação revelam um mercado "independente" (à margem das grandes editoras) ainda bastante informal e áspero. Parte do corpo de editores da revista Pindaíba, André Dias toma a experiência da revista como mostra da dificuldade em atuar de forma mais contundente e profissional no mercado local.

Com raízes na experiência de impressão de fanzines literários, a Pindaíba teve o seu primeiro número lançado em 2003. O segundo número veio seis anos mais tarde e o terceiro está por ser lançado. "Tínhamos a pretensão de fazer semestralmente. Então, lançamos a número 1. A segunda saiu em 2009, com o nº 11 (que seria o correspondente caso a revista estivesse seguindo sua periodicidade). A terceira vai ser a número 21", ilustra, com o humor ácido que caracteriza a revista. Entre os entraves mais latentes à publicação impressa, ele cita a distribuição. Apesar de impresso em 2009, 75 exemplares do número 11 da revista ainda estão no estoque dos editores.

Experiência semelhante tem a revista e selo editorial Corsário. Idealizada por Mardônio França e Katiusha de Moraes, a publicação parte do fanzine para a internet, onde, a partir de 2005, começam a publicar suas revistas eletrônicas.

"Gostamos de trabalhar literatura em outras mídias. Não tem só poemas em forma de texto. Publicamos foto-poemas, vídeo-poemas, áudio. A revista eletrônica já surgiu com essa veia de trabalhar literatura em diálogo", destaca Mardônio sobre as possibilidades da internet. A partir da revista eletrônica, eles deram sequência ao trabalho de editoração lançando o selo para publicação de livros impressos. O papel surge então no caminho da Corsário como uma necessidade.

Papel
Apesar de ter quase todos seus livros publicados on-line, disponibilizados na íntegra pelos autores, é no papel que estes livros se realizam. "Eu acredito na materialização. Papel é um suporte muito importante e que não pode ser esquecido. Esse negocio de botar fogo em papel é uma discussão gratuita", defende Mardônio.

Atualmente, o selo contabiliza 11 livros editados e publicados, um revista impressa, outras duas no prelo e mais de 100 colaboradores de vários Estados e até outros países. "Papel não é como disco de cera que ficou para colecionador", diz Mardônio, que já programa para setembro o lançamento do segundo número da revista Corsário.

Eu, escritor

Único cearense presente na coletânea "Geração Zero Zero: fricções em rede", Sidney Rocha chamou a atenção da crítica nacional em 2009, como seu livro de contos "Matriuska". Nascido em Juazeiro do Norte e radicado em Recife (PE), o escritor falou ao Caderno 3 a respeito de sua trajetória, sobre a euforia (dos outros) em torno da internet e do desafio de escrever, cada dia, melhor

Sidney Rocha: "É inegável a força dos blogs para os novos autores, há gente que teve seu trabalho reconhecido a partir daí, mas as exceções são tão poucas que não se prestam a nenhuma regra"
Primeiro, gostaria que contasse resumidamente de sua trajetória, desde a saída de Juazeiro do Norte, ao início na literatura.
Destes escritores que o Nelson de Oliveira pinçou para a coletânea ("Geração Zero Zero - fricções em rede"), certamente sou eu o que publicou mais cedo. Publiquei pela primeira vez em 1976, ainda em Juazeiro do Norte. Ganhei o Prêmio Osman Lins de Melhor Romance, com a minha novela "Sofia, uma ventania para dentro", em 1985, já em Pernambuco. Este romance já está na terceira edição, a última pela Iluminuras, editora a quem devo tudo quanto à projeção mais ampla do meu trabalho de escritor. Neste caminho, são 35 anos de aprendizado e de trabalho, de trabalho silencioso. Saí do Ceará na década de 1980. Construí a minha carreira sempre ligada ao mundo editorial. O amor ao livros me fez editor, e fui seguindo. Quando publicado pela Iluminuras, em 2009, com "Matriuska (contos)" é que o trabalho chegou de fato aos críticos mais atuantes. Entre eles, o Nelson de Oliveira. Então me considero sim, dessa "geração", mesmo que não concorde em tudo com o termo.

Hoje em dia há uma infinidade de blogs, é possível editar livros de forma independente, publicar em revistas literárias. Como você utiliza esses espaços? Qual a avaliação do alcance e utilidade das mídias alternativas?
Há muita gente escrevendo. É preciso escrever menos. Cada vez menos. Não estranhe o paradoxo que isto possa parecer. Mas detesto certa histeria e frigidez dos blogs. Não escrevo em blogs. Eles são ferramentas de marketing, vá lá, não mais que isso. Talvez, desses 21 autores da Geração Zero Zero eu seja o mais apocalíptico, ou o menos integrado, para usar mais ou menos os termos de Umberto Eco. Mas é inegável a força dos blogs para os novos autores, há gente que teve seu trabalho reconhecido a partir daí, etc, etc, mas as exceções são tão poucas que não se prestam a nenhuma regra. Já eu, "filho do carbono e do amoníaco", que fui da geração mimeografo, que passei por todas as etapas do cordel, dos fanzines, do livro, enfim, da produção independente, vejo que essas "facilidades" são também as responsáveis por certo descaso com a produção contemporânea, mesmo reconhecendo que há publicações sérias no meio digital. Mas a grande maioria do que se produz para ou na internet (e em papel também, ok) é uma perda de tempo.

A internet substitui o livro?
Você deve estar se referindo ao e-books, não? Tenho o tempo todo comigo um tablet e até leio, a partir dele, livros inteiros. Mas quando chego em casa, olho pras estantes e digo: ainda não inventaram nada tecnologicamente mais evoluído que o livro em papel. Agora, no ponto de vista de conteúdo - não falo de literatura somente - a internet de fato é uma ferramenta inquestionável. Não é à toa que vemos o jornalismo, entendido como era no século XX, ser incapaz de viver sem ela, basta ver a crise dos grandes grupos hoje no mundo. Mas, no Brasil, não seria adequado dizer que ela "substituiu" o livro. Ora, nunca fomos um país de leitores. De livros. Vamos enganar a quem? Então, o jovem leitor brasileiro sequer conheceu o livro propriamente. Agora, o que é preciso é formar leitores. Para mim, é assim: bons leitores reconhecem livros bons. E se chegam ao mercado produtos medíocres, um leitor experiente o reprova. Isto estimula a formação de críticos mais eficientes. Que publicam resenhas em jornais que circulam mais, e aí tudo segue. Então não é internet que substitui livro, como naquele joguinho de pedra, papel, tesoura. É o que nós colocamos na cabeça, que senso crítico temos, para "substituir" (aí, sim) tanta bobagem que a cultura de massa coloca nas nossas cabeças.

Qual o desafio de um jovem escritor atualmente? É publicar, distribuir, é ser lido? Como você se articula para difundir sua literatura?
Acredito que o grande dever de um escritor, de qualquer geração, é escrever bem. Aliás, é escrever melhor. Quantos autores você conhece que são bons? Dezenas? Centenas? Ora, os bons escritores passam dos milhares. Um escritor não pode querer menos senão superá-los. Este é o desafio. Ser lido é uma consequência. Lógico que há muita areia entre isto e aquilo, há o mercado, o marketing, etc, etc, não quero ser tão simplista quanto aos meios, mas um escritor não tem que se preocupar com isto. Tem que escrever hoje melhor que ontem. Para difundir a minha literatura, eu escrevo.

O que você achou da coletânea Geração 00? Você se sente parte real dessa geração?
O Nelson diz bem sobre ela: "é uma antologia dos melhores ficcionistas brasileiros surgidos no início do século 21". Não quer dizer que seja a melhor produção destes autores. Os caras estão vivos, em pleno "work in progress", como diria Joyce. É uma mostra, um tubo de ensaio. Não vão querer que ali estejam paridos os destinos da literatura contemporânea brasileira, né? Li a coletânea recentemente. Há textos de autores dos quais li livros anteriores à antologia, e que gostei, e que não me agradaram na antologia. Claro. E outros de quem jamais abri um livro e de quem corri à livraria pra comprar uma obra, porque gostei do que li na seleção. Alguns guardam alguma afinidade estética comigo. Outros, não. Aliás, outros acho que nunca. Mas estamos em fricções.

Você tem contato com novos escritores cearenses? Quem? Pode comentar algum aspecto, ou autores dessa literatura que surge de 2000 para cá?
Há escritores no Ceará que já há muito vem merecendo uma atenção especial. Marco Leonel, em Juazeiro do Norte, é para mim um dos melhores poetas contemporâneos. Ele publicou "Depois da capela tem um abismo", livro impressionante. Anchieta Mendes, com o romance "Círculo de giz", Lupeu Lacerda, com "Entre o alho e o sal"... Isto só pra ficar nos mais de perto. Tem o Pedro Salgueiro, que li primeiro noutra antologia, acho que na do Rinaldo de Fernandes, ele tem um livro chamado "Dos valores do Inimigos". Agora, eles são "novos´ escritores"? São geração zero-zero, zero-um, zero-mil? São escritores. Ponto. É só perguntar a um leitor maduro que ele dirá.

SIDNEY ROCHA, Escritor 

Literatura-Zeros à direita

Escritores de um novo tempo, os autores que despontaram na confusa primeira década do século XXI se veem confrontados por uma série de desafios. Ora é o papel que vacila, ameaçando sair de cena para dar espaço a novos suportes de leitura, ora é a verborrágica internet, incubadora de novos literatos, que exige a reinvenção diária e, por que não dizer, a maledicência de antecessores. Tema de uma polêmica antologia, organizada por Nelson de Oliveira, os escritores da geração 00 são tema da edição de hoje do Caderno 3, que navega por uma escrita em busca de identidade e disposta a levar a literatura por mares nunca dantes explorados

Inspirado pela coletânea "Geração Zero Zero", organizada por Nelson de Oliveira, com contos de autores brasileiros que ingressaram na literatura a partir do ano 2000, o Caderno 3 lançou-se ao desafio de responder a instigante questão: quem faz a nossa Geração 00?


Assumindo os riscos e as ciladas que assombraram Nelson de Oliveira - questionado sobre os nomes que ficaram de fora e acusado de falacioso e interessado em fazer "marketing literário" - e nos eximindo, de antemão, da intenção de chegar a uma lista definitiva da nova geração cearense, rastreamos algumas dessas mentes literárias que se destacam e começaram a publicar seus textos com o ingresso do novo milênio.

Seguindo a cartilha do bom jornalismo, procuramos alguns escritores cearenses já consagrados, que acompanham a produção literária do Estado para nos ajudar a desvelar essa geração. A primeira conversa é com Pedro Salgueiro, escritor iniciado na década de 1990, autor de livros como "O Peso Morto" (1995) e "Inimigo" (2007), e editor das revistas literárias Caos Portátil (um conhecido celeiro de novos talentos das letras cearenses) e, mais recentemente, Para Mamíferos.

Urik Paiva, apontado pelo escritor e antologista Pedro Salgueiro, como um dos bons nomes da literatura surgida na primeira década deste século
FOTO: MARÍLIA CAMELO
Pego de surpresa e assustado com a dimensão e responsabilidade da tarefa, Pedro adverte que o início da década foi uma época de intensa produção literária no Estado, com muitos e bons autores. Como referência, ele utiliza os textos publicados nas duas revistas que edita. "Nessas revistas têm surgido muitos autores bons. Tem muito mais gente boa escrevendo por aí, mas você acaba esquecendo", diz.

Entre os novos contistas, ele cita Carmélia Aragão, premiada pela Secretaria da Cultura do Estado, por seu livro "Vou esquecer você em Paris" (2007). "É uma boa contista, que começou publicando no Caos Portátil. Ganhou um prêmio e está escrevendo outro livro", revela.

Outro bom nome é o jornalista Alan Santiago, autor da coletânea de contos "A Lua de Ur Num Prato de Terra", vencedor do edital da Secult, em 2009, editado pela coleção Rocinante, da conceituada 7 Letras. "Agora, o Alan ganhou uma bolsa da Funarte para escrever um romance", adianta Pedro Salgueiro, que acompanha os passos desta promessas literárias. Ele destaca a inventividade e a pesquisa como traços importantes na obra destes dois jovens autores. "Eles conseguem fugir do somente contar história, têm um estilo bem arrojado", afirma.

Pedro cita ainda Renato Barros de Castro, que também se sai bem escrevendo contos e publicou biografia do jornalista Lustosa da Costa e, recentemente, um livro de crônicas. Outro destaque é Raymundo Netto, que apesar de ter nascido em 1967, bem antes da maioria dos escritores citados como sendo da geração 00, teve seu primeiro livro, o romance "Um Conto no Passado: cadeiras na calçada", outro vencedor de edital estadual, em 2004. "Como a geração é baseada em quando começou a publicar (ele se encaixa)", justifica. O trabalho de Raymundo Netto se destaca pelas referências históricas que utiliza em suas ficções. "É uma novidade em termos de ficção", declara.

Bastante aclamado por Pedro, Dércio Braúna entra na lista dos poetas, destacando-se também por trabalhos acadêmicos sobre literatura. "Ele publicou um livro sobre Mia Couto e a cultura moçambicana. É um estudioso sobre cultura africana em língua portuguesa", descreve. E, ainda entre os poetas, ele cita diversos, como Webson Moura, Ayla Andrade, Mardônio França, proprietário da revista virtual e selo editorial Corsário. Também entre os poetas, Ylo Barroso, Manuel da Fonseca, editor da revista Pindaíba, e o Poeta de Meia Tigela. Este último, destacado por Salgueiro como, indubitavelmente, "um dos melhores dessa geração".

Por fim, ele cita Urik Paiva, "que não tem livros publicados, mas é um bom escritor, muito jovem", e Carlos Roberto Vazconcelos, que escreveu o livro de contos "Mundo dos Vivos".

Mariana Marques: autora do elogiado "Transatlântico" e conhecida por sua atuação na internet
FOTO: RODRIGO CARVALHO
Geração virtual
Professora do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal do Ceará, Tércia Montenegro bateu na trave da Geração 00. Ela publicou o seu primeiro livro de contos "O Vendedor de Judas", em 1998. Tércia não arrisca muitos palpites, certa de que Pedro Salgueiro já teria citado quem também considera importante. Ela complementa, no entanto, a lista com os nomes de Tárcio Pinheiro, autor de "Janela Para o Caos", e Kelson Oliveira.

Tércia reforça a importância da popularização da internet como marco diferencial dessa geração. "Eles têm essa facilidade do suporte da internet, dos blogs, das redes sociais, a descoberta do nanoconto, através do Twitter", aponta. Para ela, apesar de ser utilizada por escritores de todas as gerações, a internet é assimilada com mais naturalidade pelos mais jovens. "Esses autores já nasceram com essa convivência. Coisa que, para nós, requer adaptação, conhecimento", avalia.

Ela destaca ainda que essa relação intima com a internet interfere na própria linguagem do grupo, tornando-a mais sincrética com as características da web. "A maioria já nasce impregnada disso. Mesmo que muitos não usem com frequência (a internet), mas são afetadas pela atmosfera da época", avalia. Tércia adverte, entretanto, que uma conclusão mais contundente sobre o assunto só poderia ser tomada com um estudo acadêmico. Esta é a constatação em primeira impressão.

O terceiro a nos guiar pelas letras do início do século é o escritor Jorge Pieiro. Ele participou das duas coletâneas Geração 90, de Nelson de Oliveira, e também coedita as revistas Caos Portátil. Apesar de considerar forçado o recorte proposto por Nelson, Pieiro dá dicas.

Anna K., Joyce Nunes, Mariana Marques e Natércia Pontes são os nomes que primeiro lhe vêm a mente, como destaques no conto. As quatro lançam em breve um livro coletivo com outros autores, entre os quais, o próprio Jorge, com narrativas sobre Fortaleza.

Ainda que compartilhe com Tércia a opinião de que esses novos escritores são marcados pela internet, Jorge alerta que isso não dá propriamente uma unidade, não cria um movimento para essa geração. "É apenas um condicionamento", ressalta. E como exemplo, ele cita ainda Airton Uchoa. "Estou lendo um romance que ele vai lançar, que é completamente diferente (do que é condicionado pela internet). Ele é verborrágico diante de uma situação que é concisa", revela.

A relação de novos talentos é extensa e este espaço curto. Como não poderia ficar de fora, completando nossa relação de 21 autores (à exemplo do livro de Nelson de Oliveira), citamos Sidney Rocha. Natural de Juazeiro do Norte e residente no Recife, Sidney é o único autor cearense que participa da coletânea dos Zero Zero. Ele publicou, em 2009, o livro de contos "Matriuska", pela editora Iluminuras. E que mais autores, outros bons escritores dessa geração, venham a nos contestar e ampliar este quadro.


A geração que faz o caminho inverso
Porta de entrada de dez entre dez novos escritores, a internet não tem quebrado o encanto das novas gerações como os velhos formatos do livro e das revistas
Se já da geração de 1990, Nelson de Oliveira compilou o livro "Geração 90: Manuscritos de Computador", na década seguinte, dos 00, à depender da tecnologia, os manuscritos estariam definitivamente digitalizados e o papel seria um mero capricho. O surgimento de inúmeros espaços virtuais para a literatura (que segue se multiplicando em sites, redes sociais, blogs, microblogs) facilitou a propagação de textos literários e o surgimento de inúmeros autores, dispersos em um amálgama confuso e volátil, onde muitas vezes não se sabe quem é o que, nem o que é de quem.

Diante desse caldo ciberespacial, percorrendo caminho inverso aos de 1990 (que migraram do impresso para a internet) os jovens escritores recorrem às mídias mais tradicionais em papel como jornais e revistas literárias, além do livro, como forma de se destacar e fixar seus nomes enquanto autores. Para Jorge Pieiro, que edita a revista Caos Portátil ao lado de Pedro Salgueiro, a tendência é que esses veículos ganhem novamente força após a euforia inicial da internet. "Estamos em uma fase de transição. Todos vão pensar ´esquece o livro, é tudo virtual´, mas acho que lá na frente volta. É o eterno retorno", defende.

Pedro Salgueiro calcula que entre 60% e 70% dos textos publicados na revista são de autoria de escritores que surgiram a partir do ano 2000. Apesar dos sites estarem em alta, os periódicos ainda mantêm sua função histórica de agrupar gerações escritores, a exemplo do jornal O Pão, jornal do grupo Padaria Espiritual, que marcou a virada do século XIX para o XX, a Revista Clã, editada nos anos 40 pelo grupo Clã, O saco, nos anos 70 e, à partir de 2005, a Caos Portátil. Pedro edita ainda a revista Para Mamíferos, ao lado de Glauco Sobreira, Nerilson Moreira, Tércia Montenegro e Jesus Iracy. Muitos jovens autores cearenses também recorrem ainda a publicações em veículos não especializados, no exemplo recente da extinta Revista Aldeota, de cunho jornalístico, além de editoras locais, no caso dos livros, como a La Barca e a recém criada Dedo de Moça.

Para Jorge, os textos publicados em revistas eletrônicas não suprem o desejo dos autores de ter seu texto impresso. A revista é, nesse sentido, uma maneira de amplificar o que antes era personalista, publicado em um blog ou site pessoal. A revista serviria como forma de reconhecimento junto ao meio literário. "Se fulano escreve na revista A, B ou C, então ele já tem um grau de importância. No livro ele diz ´Ah, agora estou imortalizado´", brinca, justificando que o mesmo sentimento não acontece com a publicação na web.

Outro ponto que ajuda a justificar o número crescente de publicações em papel é o barateamento do processo, fruto também do avanço tecnológico, e iniciativas públicas e privadas de custeio das publicações. "Os editais propiciam que todo mundo publique. Coisa que, nos anos 90, nós não tínhamos".

FÁBIO MARQUES
ESPECIAL PARA O CADERNO 3