O TT só não foi cabrito por falta de tempo, mas externava sempre o desejo de pertencer à já famosa confraria
A Cultura cearense sofreu, nestes últimos tempos, a perda de três figuras emblemáticas. Primeiro, o inquieto Cláudio Pereira, eterno Secretário Municipal que, mesmo preso à sua afamada cadeira voadora, estava presente a tudo que fosse evento ou manifestação no âmbito das artes, literatura, política e, principalmente, a boemia, quando varava a noite fortalezense, batendo ponto nos oito selecionados botequins, roteiro ora refeito pelos amigos saudosos. Depois (ou foi antes?) viajou o Augusto Pontes, este, mais na dele, figura calada e circunspecta, de pouca badalação. Também foi Secretário de Cultura (Municipal e Estadual) e considerado guru de toda uma geração, mentor de um segmento da nossa música (anos 1970) que se convencionou chamar de Pessoal do Ceará. Agora nos deixa o agitadíssimo TT, publicitário pioneiro Tarcísio Tavares. Ultimamente ligado ao setor cultural da Oboé (atendia a conta e era mestre de cerimônias), incansável promotor do teatro, do rádio e da televisão. As folhas da cidade, blogueiros e tuiteiros, deram a essas personalidades imensos espaços e isto aqui é apenas um nostálgico registro, amigo que éramos desta trindade singularíssima.
Outros mais já haviam nos deixado na saudade como José Alcides Pinto, Blanchard Girão, os Lucianos, Barreira e Miranda, Marcus Belmino; tantas perdas que ameaçam este cantinho tornar-se o sarcófago da cultura, por ora parecendo uma coletânea de biografias inconclusas, mais chegada a um álbum de família. Mas são perfis interessantíssimos e pena que seus donos tenham resolvido partir mais cedo do que se esperava. Ademais, a certa altura do campeonato os amigos vão se tornando nome de rua e a gente tem mesmo é a obrigação de, se não homenageá-los, dar conhecimento ao público de sua profícua passagem por estes verdes gramados. E vieram juntos os tais ritos fúnebres que, decerto, agradariam ao Girãozinho, pois acaso ainda cá embaixo residindo estaria prestigiando esta malfadada etiqueta com seu modelito já de todos conhecido: paletó preto com botões dourados e cravo na lapela; arrematando o cerimonial da derradeira e refugada viagem de quem ele, muitas vezes, sequer conhecia.
E saibam os que esta lerem ou dela tiverem notícia que os notáveis vultos aqui citados, afora o Tarcísio, pertenciam ao Clube do Bode, agravante a deixar supersticiosos com as barbas de molho porquanto no mês passado houve a despedida do Coronel Evaldo, da vizinha patota do Flórida Bar. O TT só não foi cabrito por falta de tempo, era jurado de televisão no horário das reuniões do grupo, mas externava sempre o desejo de pertencer à já famosa confraria caprina, uma pena! No entanto é como se fosse, no livro organizado pelo jornalista Lustosa da Costa, TT das madrugadas, nada menos de sete cabritos, é verdade, contribuíram com textos alusivos à sua participação na vida cultural da cidade: Juarez Leitão, Inácio de Almeida, Gervásio de Paula, Dimas Macedo, o próprio Lustosa da Costa e este locutor que vos fala. Todos, ressalvamos, firmes no propósito de encompridar os janeiros neste mundão velho besta, com o intuito de coadjuvar melhor no esplêndido espetáculo da vida.
E tomara já pôr fim a este texto, assunto do qual não nos sentimos confortáveis (e imagine se) em abordar. Não obstante, só conhecemos duas pessoas que tratavam o tema com frieza, encarando a indesejada das gentes como um mero e inevitável desfecho do ciclo vital: Luciano Barreira e José Domingos, os quais, aliás, já não tocam mais no assunto. Outros companheiros se pelam de medo só em pensar na misteriosa dama. Nem a funerais comparecem, respaldados no dito popular: “Quem não é visto não é lembrado”. A propósito, você foi à missa de sétimo dia do TT?
Audifax Rios
Fonte: O Povo