sábado, 12 de novembro de 2011

Para Mamíferos Alimento da alma

Em sua terceira edição, a revista "Para Mamíferos" comprova sua vocação para fazer descobrir a literatura e as artes feitas no Ceará

Obra do artista plástico Leonilson na Praia de Iracema: desenhos em preto e branco lembram ilustração da contra-capa da revista. Justa homenagem ao legado do cearense FOTO: PATRÍCIA ARAÚJO (05/02/2009)

Para guardar. Hoje, qualquer publicação digna de tal veredicto merece respeito. Assim foi com as duas primeiras edições da "Para Mamíferos", revista de literatura e artes publicada de maneira independente em Fortaleza. O terceiro número não é diferente, e chega com lugar reservado às estantes dos leitores. Lançada no começo deste mês, traz como destaques uma entrevista com o jornalista, publicitário, pesquisador e ficcionista Gilmar de Carvalho, e longa matéria com grande conhecedor do rádio cearense, o radialista Narcélio Limaverde.

A revista é editada por um time de escritores - Tércia Montenegro, Jesus Irajacy Costa, Pedro Salgueiro, Glauco Sobreira e Raymundo Netto, ao lado do jornalista e professor Nerilson Moreira. Um time forte e, acima de tudo, movido pela paixão.

E é isso que torna a "Para Mamíferos" uma das publicações mais interessantes dos últimos anos no Ceará. "Os apoios pagam 70% dos custos da revista, são dois anunciantes diferentes a cada edição. O resto financiamos do nosso próprio bolso, além de preparar o material em horários fora do expediente de trabalho", explica Nerilson.

"É difícil. Fazemos por amor, por essa vontade de possibilitar um momento de reflexão sobre arte e literatura cearenses e de lançar novos poetas e escritores", complementa o jornalista.

Lançada no começo deste mês, a revista está à venda por R$ 10 em bancas de jornais (especialmente das avenidas Washington Soares, Borges de Melo e Praça do Carmo, no Centro) e em livrarias próximas à Reitoria da UFC. Ela também circula no meio acadêmico brasileiro (principalmente os cursos de Letras) e em países como Venezuela, Peru, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Portugal, Espanha, Itália, França e Holanda.

Nesta edição, a capa é ilustrada com uma obra inédita do artista plástico cearense Leonildo (falecido em 1993), seguida do sensível texto de apresentação de Dodora Guimarães. Por meio da família do artista, os editores tiveram acesso a um de seus cadernos de desenhos e resolveram fazer a homenagem.

Ainda na lista de colaboradores, o poeta, radialista e compositor, Henrique Beltrão participada coluna "Literatrilhas", junto com a psicóloga e pesquisadora Karla Martins. Dessa vez o destino foi Nantes, na França.

Em "Numa Outra Língua", sessão dedicada à tradução inédita, o conto "El Barranco" de José Maria Arguedas (escritor e antropólogo peruano que estaria completando 100 anos em 2011) é passado a limpo por Everardo Norões, e os poemas da irlandesa Eiléan Ní Chilleanáin nos chegam pela voz da curitibana Luci Collin.

A matéria "Interiores" ocupa o espaço "Dossiê cearense" da nova edição. Sabido que muitos dos escritores do Estado, mesmo os residentes na Capital, vêm do Interior, a "Para Mamíferos" voltou os olhos para algumas das regiões do Ceará, e encontrou: Dimas Carvalho (Acaraú), Joan Edesson (Cedro), Luciano Bonfim (Crateús), Társio Pinheiro, Dércio Braúna, Kelson Oliveira (os três de Limoeiro do Norte) e Webston Moura (Morada Nova).

Já Nerilson Moreira pinta, ao longo de oito páginas, um retrato envolvente não apenas do colega jornalista e radialista Narcélio Limaverde, mas da própria história do rádio cearense.

Mas a verdadeira pérola é a seção "Resgate de Arquivo", na qual o pesquisador e escritor Gilmar de Carvalho deixa de lado sua característica discrição para entregar aos leitores não apenas uma bela entrevista, mas fotos inéditas de seu arquivo pessoal. As imagens revelam desde o jovem estudante ainda farto de cabelos até registros recentes.

Há ainda espaço para as esculturas do metalista Lúcio Cleto (Mostra Reciclarte, Espaço Cultural dos Correios, Mostra 8 de maio - Unifor, dentre outros), acompanhadas dos versos do Poeta de Meia-Tigela (Alves de Aquino); para a produção poética e de contos de autores como Raymundo Netto, Ceronha Pontes, entre outros; para uma reflexão sobre teatro, por Thiago Arrais; entre outras colaborações.

"A revista atende a todas as classes e idades, desde jovens até idosos, todo mundo. Já soube de professores que adotaram a revista em sala, para seus alunos discutirem", comemora Nerilson. "O objetivo era bem esse, criar um lugar onde pudéssemos colocar novas ideias. Não recebemos artigos, convidamos colaboradores de acordo com as pautas acertadas".

Revista Para Mamíferos
Expressão Gráfica e editora
2011
94 páginas
R$ 10

ADRIANA MARTINS
REPÓRTER

Professora de Cruz, Ceará é autora de livro sobre História do Ceará


Professora Gleiciane Freitas, autora do livro "Ceará nossa História", Editora Moderna. A EEM São Francisco da Cruz fica feliz com seu sucesso, reconhece sua competência e orgulha-se de tê-la em seu quadro de professores!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Voo de um Pai Poeta. (in memoriam)


Homenagem de Goretti a seu pai Zeca Muniz

Vôo de um Pai Poeta.(in memoriam) Venho hoje buscar no abraço O calor de um ombro e um colo de amor. Quando escrevo compondo eu disfarço E o escuro ilumina sarando essa dor. Quanto tempo calada e falando eu estava Quando o peito dizia em batidas freqüentes Foi a forma encontrada por eu desejada Com os elos das horas montei às mais duras correntes. Quais correntes das bravas nascentes Eu olhava meu rio a correr, a passar Fui a gota de outras sementes Pranteando e olhando um poeta voar. Quando à espessa camada surgia e cobria Todo o brilho de um olhar, que nasceu e viveu entre versos prosas Minha mente montava mosaicos de alguém que partia Deixando-nos um legado de amor e atitudes honrosas. Do poeta de falas e frases pensadas, Sou um galho, pequena vertente. Vou crescer pra de um Pai eu poder mais dizer Que o cometa era um homem franzino de mãos calejadas Tinha à luz do saber, tinha um muito de Deus em seu Ser! Por uma filha. 

Goretti Albuquerque

Criação da Diocese no Baixo Acaraú

A criação de uma Diocese no Baixo Acaraú, compreendendo as Paróquias de Santana do Acaraú, Morrinhos, Marco, Bela Cruz, São Francisco da Cruz, Itarema, e Acaraú, há muitos anos constitui um dos grandes sonhos da catolicidade dessa vasta e populosa região litorânea.

E, como é natural, o município de Acaraú tem pleiteado que, uma vez criada, seja mesma Diocese sediada nesta cidade.

Em artigo editorial do jornal O ACARAÚ, edição de 15.1O-55, já dizíamos: - "Há longos anos vem-se falando na criação de um nôvo Bispado no Ceará, a ser sediado nesta cidade que, pela sua posição geográfica no Estado, atenderá perfeitamente  aos interêsses religiosos desta região".

O tempo, que não espera por ninguém, foi transcorrendo, em data de 25 de agôsto de 1956, uma Comissão composta drs. Nélson Andrade Sales, Expedito Albano da Silveira e José Teúnas Ferreira de Andrade, em nome do Centro Acarauense, entendeu-se, em Fortaleza, com os Exmos. Srs. Dom Antônio de Almeida Lustosa, então Arcebispo do Ceará, e Dom José Tupinambá da Frota, então Bispo de Sobral, sôbre a criação da Diocese de Acaraú, mostrando-se, então, o saudoso Dom José francamente favorável à pretensão dos acarauenses

E, encorajados pelas palavras de esperança que ouviram, logo dois dias após, aquêles ilustres conterrâneos promoveram, entre a Colônia acarauense domiciliada naquela Capital, uma arrecadação de contribuições, para ocorrer as despesas com a futura Diocese do Baixo Acaraú, conseguindo angariar a importância, de Cr$ 20.000,00, que então representava quantia relevante.

A 2 de setembro do mesmo mês e ano, o dr. Nélson Sales, Prefeito Geraldo Benoni Silveira e numerosos outros elementos da sociedade acarauense, realizaram, no Recreio Dramático Familiar, uma reunião, também com o objetivo de conseguir donativos para igual fim, arrecadando, então, mais Cr$ 30.000,00, perfazendo, assim, um total de Cr$ 50.000,oo. Essa importância, no dia imediato, isto é, a 3-9.56, foi entregue, em Sobral ao Exmo. Sr. Dom José Tupinambá da Frota, pelos srs. dr. Geraldo Benoni Silveira, dr. Nélson Sales e sr. Manoel Damião da Silveira. Destinava-se, aquela quantia, a satisfazer as despesas iniciais. E a documentação foi preparada. De modo que, a 6-11-57, o jornal UNITARIO. de Fortaleza estampava esta alviçareira notícia: - "Por intermédio da Nunciatura, acabam de ser remetidas à Roma, propostas para a criação das Dioceses de Tauá, Iguatu, Itapipoca e Acaraú. E adiantava, o conceituado vespertino: - "Pelo que conseguimos saber junto à Secretaria do Arcebispado, o resultado da criação das 4 Dioceses poderá chegar a qualquer momento". E O ACARAÚ, de 15-11-57, assim afirmava: - "Os acarauenses, fiéis aos seus ideais cristãos e progressistas, nem um só instante abandonaram o objetivo colimado, que era, e é, conseguir a elevação desta Paróquia à categoria de Bispado". E adiantava: - "Acaraú não deixa de reunir grandes possibilidades, sobressaindo, entre outras, o Patrimônio de nossa Padroeira, que é mais rica do Estado, se não de todo o Nordeste. E é preciso notar que, provavelmente, não será desprezado êste aspecto, por isto que um Bispo bem que carece de recursos financeiros suficientes, para criar e manter obras de assistência social, religiosas e educacionais, dentro do território da sua Diocese e entre o rebanho confiado ao seu zêlo apostólico",

Entretanto. o tempo passou, e não mais se falou no assunto.

Hoje, decorridos 13 anos depois dêsses movimentos, criadas já foram as Dioceses de Iguatu e Itapipoca, Crateús e Quixadá. E o Baixo Acaraú ainda continua confiando e esperando a sua Diocese, como é de justiça, mesmo porque é possível que somente os rendimentos dos Patrimônios paroquiais de Acaraú, Bela Cruz e Marco sejam suficientes para a manutenção da Cúria Episcopal.

Fonte: Município de Acaraú - Nicodemos Araújo

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os piores e melhores municípios do Ceará segundo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal - IFDM

Com um desempenho classificado moderado, o Ceará, juntamente com o Piauí, foi o Estado da Região Nordeste com mais desenvolvimento na última década


O Ceará tem apenas um município, Eusébio, na classificação de alto desenvolvimento e a pior renda média (R$ 1.052,51) do País em 2009. Mesmo assim, na edição 2011 do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), dados de 2009 comparados com os de 2008, o Estado apresenta crescimento acima da média nacional que recuou em relação a 2008 em razão da crise econômica mundial. De 2000 a 2009, o índice geral cearense cresceu 33%, representando o maior desenvolvimento da Região Nordeste, juntamente com o Piauí (30,1%). No País, o desempenho cearense fica atrás apenas de Tocantins que alcançou 36,7%.

Os resultados de 2009 também mostram que o avanço do índice geral do Ceará deveu-se à melhora em todos os indicadores. A alta foi de 10,5%, em emprego e renda, alcançando patamar de desenvolvimento moderado; 4,6% em educação e 2,1% em saúde.

Dos 184 municípios cearenses, 89 (48,4%) apresentaram crescimento do IFDM nas três áreas de desenvolvimento em 2009. A melhora em educação e saúde no Estado foi expressiva e generalizada entre os municípios: 160 avançaram em educação (87,0%) e 150 em saúde (81,5%), diz o estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

Emprego e renda mostrou crescimento em dois terços (121 cidades do Ceará). Com os resultados o Ceará manteve a classificação de desenvolvimento moderado, ganhou uma posição entre os estados brasileiros, ficando na 12ª colocação em 2009. Para completar se tornou líder do ranking da Região Nordeste, ao ultrapassar Pernambuco.

Na análise dos indicadores socioeconômicos do Ceará, fica claro que houve melhorias significativas nos últimos dez anos, mas o Estado ainda está longe do desenvolvimento ideal. Entre 2000 e 2009, o Estado avançou 30,2% na área de emprego e renda, 41,7% na de educação e 28,0% em Saúde. Se continuar no ritmo atual, o Ceará pode levar mais uma década para chegar ao nível dos estados do Sudeste que têm a maioria dos municípios na condição de alto desenvolvimento.

Artumira Dutra
artumira@opovo.com

Fonte: O Povo

Confira Indice do seu Município: aqui

Memória da comunidade Mucuripe em exposição

Imagem: Marina Cavalcante
A exposição Mucuripe no Mar das Memórias foi aberta sexta-feira 4, na sede da ONG Enxame.

Pensada e elaborada por estudantes do Projeto Museu e Cidadania Cultural, promovido pelo Memorial da Cultura Cearense, a exposição traz imagens, objetos pessoais e depoimentos dos moradores da comunidade Mucuripe.

Depoimentos

A coleta do material da exposição foi realizada pelos próprios alunos entre os meses de agosto e setembro deste ano e busca valorizar o patrimônio material e imaterial das comunidades próximas ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Para isso, os estudantes entrevistaram moradores da comunidade Mucuripe e coletaram idéias, percepções e histórias.

Os depoimentos trazem memórias de uma cidade que aos poucos foi sendo esquecida, mas que ainda continua viva nas palavras daqueles que viveram as mudanças do bairro. As fotografias retiradas pelos alunos trazem um olhar mais próximo da realidade da comunidade, apresentando a perspectiva daqueles que querem construir a sua própria história

A mostra permite uma reflexão sobre as vidas desses jovens e os cotidianos de sua comunidade nos aspectos político, econômico, cultural, socioambiental, religioso e estético dissipados em múltiplos espaços eleitos no recorte da pesquisa: alguns morros do bairro, o riacho Maceió e a Av. Beira-Mar.

Por que lembrar Rachel?


Trabalhamos demais. Atropelamos as relações e deixamos de cuidar dos sentimentos. Excedemos o limite do consumismo e embriagados pelo desejo do mais, ignoramos as tantas coisas boas da vida, como tomar um café com a grande amiga, no meio do dia. E assim, nesta vida louca, de poucas horas, de correria exagerada, de pressa e pressão, cobrança e prazo, penso que nos acorrentamos ao mundo do trabalho. 

Por isso, ultimamente, venho me dedicando mais às coisas boas da vida, que são subjetivas, sim, mas na essência são sempre traduzidas no fazer o que gostamos com quem amamos. 

Gosto das palavras, do seu poder e das suas múltiplas formas de expressão: escrita, interpretada, discursada, cantada ou encenada. Esse gostar me fez lembrar Rachel de Queiroz no ensaio aberto de Élida Marques interpretando sua obra, num delicioso café, cheio de arte, no meio do dia. Aliás, não posso deixar de dizer que a arte nos humaniza; por isso é essencial, ela abre a mente e nos permite emoção. 

Rachel não queria escrever sua autobiografia, mas, seduzida pela afetividade da irmã, quase filha, de certo alma gêmea, escreveu sua história de forma encantadora... Tantos Anos esteve comigo e como um milagre ou coincidência, como prefiram, no mesmo dia em que fechei a última página do livro, a autora fechou os olhos para a vida, em 04 de novembro de 2003.    

E morreu silenciosamente, feito a revolução que travou na literatura brasileira. Ela, a primeira mulher a conquistar a imortalidade na Academia Brasileira de Letras, escreveu a história do nosso país. E abriu caminhos: com fibra, coragem, e determinação - talvez, como ela própria tenha dito, características não suas, mas inerentes à juventude – enfrentou políticos, sistemas e cartéis. Sempre em nome da ética e da cidadania. E não foi em vão, sua obra revela a legitimidade da consciência política, cultural e intelectual com que se dedicou ao mundo das letras. Assim é seu livro de memórias: mais do que sua história, Tantos Anos conta a história do nosso Brasil e da nossa gente. Uma interpretação genuína do sertão seco do Ceará, num jeito leve e sedutor de invadir lembranças, suscitar sentimentos e marcar história. 

Preocupada com o papel da mulher na sociedade moderna, Rachel rasgou preconceitos e cavou seu espaço (...) e de todas as que vieram depois dela. Hoje, quando gozamos dos diretos adquiridos, profissional ou maternalmente, bem pouco nos lembramos do caminho trilhado: uma longa história escrita, a punho, por bravas mulheres.     

Mas, o motivo gerador destas poucas palavras não se encontra na tentativa estúpida de mais uma homenagem pós-morte - gesto hipócrita de lavar a consciência e pedir desculpas pelas faltas em vida – e sim, no intenso significado da sua obra, que conserva o poder histórico nas palavras escritas, que eterniza a possibilidade do aprender sempre e que conforta a alma dos brasileiros que choram o descaso cultural do seu país.  

Um país que não aprendeu a valorizar seus escritores e intelectuais e que, por isso, não registra nas memórias do seu povo a lembrança de ter lido seus livros nos bancos escolares. Desde muito tempo, os livros didáticos trazem os resumos das obras dos nossos escritores, como se isso bastasse. São poucas as escolas que possibilitam o contato com a obra: os resumos são mais rápidos e fáceis. O trabalho diminui e o aprendizado também.   

Afinal, num país com pressa, de ações imediatistas, por que perder tempo com leituras? Por que lembrar Rachel, Drummond ou Machado de Assis?

por Mércia Falcini
Psicopedagoga com Especialização em Formação de Professores e Sistema de Gestão. Atualmente é Diretora da Consultoria e Assessoria Saberes, Consultora da Fundação Pitágoras e colunista do site Itu.com.br.