sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Patrimônio coletivo-Tesouros Vivos da Cultura - Mestres da Cultura 2011

Três novos porta-vozes da tradição cearense serão selecionados pelo Edital dos "Tesouros Vivos da Cultura/ Mestres da Cultura 2011

Grupo de Reisado Discípulos do Mestre Pedro, da Região do Cariri, foi diplomado Tesouro Vivo da Cultura em 2008

Grupos ou comunidades que expressam ofícios, artes ou técnicas herdadas de gerações anteriores são verdadeiros "Tesouros Vivos da Cultura". O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, lança edital que visa reconhecer a importância dessas pessoas para a memória local abrindo três vagas para registro de dois grupos e de uma coletividade no Livro de Registro dos "Tesouros Vivos da Cultura".

As inscrições seguem até o dia 26 de outubro e podem se candidatar grupos e comunidades que tenham conhecimentos ou técnicas que expressam a tradição cultural popular e mereçam ser preservadas. As coletividades tratam-se de comunidades que trazem vivas a tradição de fazeres e saberes populares.

Os requisitos formais para a inscrição dos grupos e coletividades são: comprovar a existência e a relevância do saber ou do fazer, ter reconhecimento público, deter a memória indispensável à transmissão do saber ou do fazer, propiciar a efetiva transmissão dos conhecimentos e possuir residência, domicílio e atuação no Estado do Ceará, há pelo menos 20 anos.

Para efetuar a inscrição é necessário preencher o formulário padrão de maneira legível. O documento deve estar assinado pelos responsáveis e ser entregue junto do currículo do candidato na sede da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, aos cuidados da Coordenação de Patrimônio Histórico e Cultural, das 8h às 17h.

Os selecionados e registrados no Livro "Tesouros Vivos da Cultura/Mestres da Cultura" repassarão as técnicas e conhecimentos a aprendizes por meio de programas educativos da Secult. Os grupos receberão auxílio financeiro manter as atividades e a coletividade terá prioridade na tramitação de projetos estaduais a partir de 2012.

Tesouros e Mestres
O título de Mestres da Cultura foi instituído pelo Governo do Estado em 2003, como uma forma de preservar a memória imaterial cearense expressada pelo ofício de homens e mulheres que, muitas vezes, aprenderam técnicas e saberes com pais e avós e os mantêm vivos há anos.

Esse reconhecimento simbólico vem acompanhado de recompensa financeira para a sobrevivência desses artesãos e artistas populares e também de iniciativas, por parte do próprio poder público, para repassar os conhecimentos e práticas às novas gerações e manter atualizada a cultura local.

Por conta disso, o artesão da região do Cariri, Espedito Celeiro, recebeu o diploma de Mestre da Cultura, em 2008, pela confecção de calçados e acessórios de couro. Contudo, o projeto Mestres da Cultura estava direcionado apenas a sujeitos individuais, deixando de fora as ações realizadas por grupos ou mesmo comunidades inteiras de caráter popular que têm uma significativa contribuição para o patrimônio cultural da região em que estão situadas e para o Estado de um modo geral. Essa lacuna foi preenchida com a instituição do registro dos Talentos Vivos da Cultura, em vigor desde o ano de 2006 e fez com que o grupo de reisado Discípulos do Mestre Pedro, por exemplo, tivesse sua trajetória valorizada oficialmente pelo poder público, pois a academia e os festivais de cultura já o faziam estudando e convidado o grupo para apresentações.

LEGISLAÇÃO
Cultura imaterial
Em 27 de novembro de 2006 foi instituída a lei estadual de nº 13.842 que visa à manutenção de grupos e coletividades que são expressões reconhecidas da tradição popular. A legislação complementa a Lei estadual de nº 13.351, de 27 de agosto de 2003, que cria o título de mestres da cultura, outorgado a sujeitos que possuem saberes e técnicas artesanais e culturais que compõem a memória coletiva do Ceará e, portanto, precisam ser preservados e mantidos por meio do ensino para as novas gerações.

MAIS INFORMAÇÕES:
Edital de seleção dos "Tesouros Vivos da Cultura/Mestres da Cultura" com inscrições abertas até o próximo dia 26, na sede da Secult (Av. General Afonso Albuquerque Lima s/n - Edifício Sead, Cambeba, Fortaleza).
Contato: (85) 3101-6787


Artesãs contam em cordel história do trançado na palha

Oficinas da UFC capacitam artesãs da Colina do Horto em design e comunicação comunitária

Mãos fazem o trançado na palha de carnaúba e também aprendem a escrever o cordel com os versos sobre o cotidiano do grupo
ELIZÂNGELA SANTOS

Juazeiro do Norte. A história do artesanato em palha de carnaúba das mulheres da Rua do Horto, neste Município do Cariri, começa a mudar de rumo. É que valores estão sendo agregados e dando um novo rumo ao trabalho das mulheres. O aperfeiçoamento da forma de comunicação do grupo de mulheres e o aspecto visual do produto estão sendo redimensionados, com o projeto de extensão "Mulheres da Palha: Empreendedorismo Social no Grupo de Artesãs da Palha da Carnaúba em Juazeiro do Norte".

E as mulheres começam a aperfeiçoar a comunicação do grupo, contando a própria trajetória em forma de cordel. Intitulado "A História das Artesãs de Palha da Rua do Horto", o trabalho foi feito na parceria das mulheres, integrantes do projeto de extensão, com o cordelista Hamurábi Batista. O trabalho tem um caráter educativo.

Maria Luiza Nunes é uma das artesãs integrantes do grupo que recebe capacitação com os acadêmicos da UFC

Uma festa moveu o grupo para o lançamento do cordel, na última semana. O grande passo foi formar uma sede para o encontro das mulheres, na própria Rua do Horto. Coisa que há muito tempo não acontece, segundo as protagonistas da história, que ganhou fama. Nos últimos anos, a falta de estímulo dos próprios filhos das mulheres artesãs acabou desmotivando algumas delas em continuar as atividades. Antes, eram bem mais mulheres participando.

Atualmente, segundo a professora de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rosane Nunes, são 23 mulheres reunidas como parte das atividades. O cordel foi resultado de uma oficina e a primeira ação do projeto. Ela afirma que o objetivo das atividades inicialmente é fortalecer o grupo. Isso envolve o resgate da identidade coletiva das mulheres, além de melhorar a comunicação interna da comunidade local. O segundo projeto a ser desenvolvido será um portfólio com os produtos.

Artesã Maria José Gonzaga é uma artista que explora a criatividade
DIVULGAÇÃO

A educação ambiental está sendo focada no trabalho, envolvendo o Geopark Araripe, já que a área faz parte do Geossítio do Horto. A meta é inserir o material como geoproduto. A coordenadora do trabalho de design, professora Janine Geannal, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atua na área de design. O principal nesse momento, conforme ela, é possibilitar uma melhoria no trabalho já existente, com a variedade de produtos, que inclui desde chapéus e leques até bolsas. E o trançado ganha formas mais aperfeiçoadas e um colorido especial. "Temos levado elas a um processo de reflexão, para uma nova concepção do produto", afirma. E tem dado certo. As artesãs têm assimilado a nova forma de encarar o mercado, com mais empolgação.

A professora do curso de Design de Produtos, da UFC, Juliana Loss, diz que um dos aspectos do trabalho tem sido voltado para um acabamento mais preciso e as mulheres têm percebido essa mudança. A artesã Francinete da Silva diz que os artigos em palha têm adquirido uma nova visibilidade. Ela acredita que a qualidade dos seus produtos obteve uma melhora de 50% desde a implantação do projeto. "Agora estou mais cuidadosa, e o grupo mais forte", diz.


Trabalho em grupo
Para Maria Luiza Nunes, que há vários anos trabalha no trançado da palha, essa tem sido a primeira vez que participa de um trabalho em grupo. Antes a artesãs sequer se encontravam. "Esse projeto veio para engrandecer o trabalho da gente, dar um novo acabamento às nossas peças e possibilitar uma produção de qualidade", diz ela.

O cordel feito pelas artesãs traduz o que é compartilhado pelo grupo, abordando a importância cultural, histórica e ambiental do artesanato em palha de carnaúba. O folheto foi feito na oficina de Comunicação Comunitária que os bolsistas de Comunicação Social da UFC ofereceram às artesãs. Os trabalhos se deram no mês de maio, quando os estudantes trabalharam com o grupo princípios de comunicação e imagem.

MAIS INFORMAÇÕES
Campus da UFC - Cariri
Av. Tenente Raimundo Rocha, S/N
Cidade Universitária, Juazeiro do Norte Telefone: (88) 3572.7200


EXPOSIÇÃO
Quadros em bordado destacam o Cariri
As cores da Chapada do Araripe e a cultura do Cariri são destacadas nos quadros em bordados da artista Maria José (Zeza)

Juazeiro. Um bordado diferente. Em telas, a harmonia de cores para resgatar a cultura da região do Cariri e os seus principais personagens. Maria José Gonzaga, conhecida por Zeza, é uma artista que não poupa criatividade e conhecimento da arte do Cariri, quando o assunto é produzir quadros com um colorido especial. Um trabalho minucioso, que passou a fazer parte da exposição "Cariri entre linhas e pontos", aberta na noite de ontem, no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Juazeiro do Norte.

Zeza diz que está apenas iniciando um trabalho. É mais de uma década da técnica que aprendeu com a família Dummond, em Ubajara. Na exposição, estarão 25 telas de uma coleção que ela iniciou, com a intenção da falar do Cariri. A artista já expôs na região em locais como o Sesc. Os trabalhos estarão expostos, mas Zeza afirma que também estará recebendo encomendas.

Para os mais trabalhados, com temas que envolvem um número maior de personagens, a exigência da artista é maior. Ela afirma que pode demorar até dois meses para produzir. Em cada um deles, a linha sobre a tela de lona muda de tonalidade, a exemplo do pau-da-bandeira de Santo Antônio, em Barbalha. Para cada personagem são roupas diferentes, cabelos, cor da pele. E as linhas utilizadas são variadas. O tamanho de cada tela também pode variar.

Personagens
Personagens com o Padre Cícero, Patativa do Assaré, a natureza da Chapada do Araripe, sua fauna com o raro Soldadinho-do-Araripe. A flora, como a flor do pequizeiro, que aponta com sua florada na Chapada, além do pau-de-arara com os romeiros do Padre Cícero estão entre os quadros expostos no CCBNB.

Exclusivas
As peças da exposição são todas exclusivas. Pela primeira vez, segundo ela, o seu trabalho ganha mais visibilidade. Desde o ano passado que se inscreveu para realizar a mostra do seu trabalho. "É um espaço que venho tentando conquistar com a divulgação desse trabalho, que é único em nossa região", diz. A técnica, de acordo com Zeza, se une à cultura regional. É o Cariri no tom alegre do bordado.

MIAS INFORMAÇÕES:
Centro Cultural Banco do Nordeste, em Juazeiro
Exposição de bordados "Cariri em linhas e pontos" - (88) 3512.2855

Elizângela Santos 

Repórter

Patrimônio Cultural, mas desvalorizado

Igrejas do Ceará apesar de centenárias e  imensa beleza arquitetônica são desvalorizadas

Igreja Matriz do Município de Bela Cruz - Ceará - Setembro de 2011 (Foto: Valdecy Alves)
Em uma importante postagem no blog Valecy Alves, advogado, turista e grande admirador dos costumes de nosso povo, fora evidenciado a beleza arquitetônica das centenárias igrejas do Ceará, tidas segundo o mesmo como o prédio mais importante, de maior porte e beleza arquitetônica de qualquer cidade, estando estrategicamente construída, com sua vistosa torre, geralmente com um relógio, que não foi ainda substituído nem pelo rádio, nem pela TV, graças aos toques dos seus sinos marcando o tempo no dia-a-dia e a história, com o tique-taque do seu pêndulo.
Particularmente concordo com as palavras de nosso ilustre blogueiro, que tomou a iniciativa de criar em seu blog o quadro: Igrejas do Ceará, buscando valorizar O PATRIMÔNIO MATERIAL, representado pela beleza e formas arquitetônicas do prédio, como também o PATRIMÔNIO IMATERIAL, toda a história que teve a igreja como palco e sua praça em volta, além da religiosidade, que muito tem a ver com a cultura nordestina.

Entretanto ao mesmo tempo em que faço as palavras de Valdecy as minhas, me inquieto e entristeço em  ver que apesar destes templos serem vistos ao nossos olhos e até de orgão federativos como um "patrimônio" estando até mesmo confirgurados como bem partimonial conforme a CF que diz em seu artigo Art. 216. que Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira...

Estes mesmos templos estão sendo extintos, e a memoria de nosso povo apagada ao tranforma-se em pó, como em Alcântaras-CE onde em 03 de novembro de 2010 foi demolida a centenaria igreja de N.S. do Perpetuo Socorro e, recentemente Pacujá, também situado na Zona Norte do Estado, que teve a matriz tranformada em pó para da origem a um novo templo. Comportamentos contrários quando afirmamos: "toda a história de uma cidade teve a igreja como palco e sua praça em volta, além da religiosidade, que muito tem a ver com a cultura nordestina".

Mas que cultura e religiosidade seria essa que faria nosso pacato povo esquecer  o cenário de uma longa história para dar espaço a um projeto baseado em altos moldes de arquitetura moderna, esquecendo os traços original de uma civilização, como vivenciados em Alcântaras onde a nova matriz não encaixa-se ao cenário pacato e simbolico de nossa terra, onde uma obra de mais de 5.000  mil reais tornou-se o simbolo ou cartão postal do municipio, retratanto o que? uma história que começa a ser escrita agora?

Me pergunto, até que ponto nossa admiração e  "posse" de nossas matrizes estariam sendo respeitadas e levada em consideração?

Muitas justificativas são apresentadas como a rachadura de paredes, prédio condenado, risco de desabamento...  o que poderia por em risco a segurança de nossos fieis. Mas diante destas afirmações, que critérios fariam os paises, ou até mesmo estados brasileiros deixarem de pé casarões e catedrais seculares, como a estação da Luz em São Paulo, famosas igrejas de Minas Gerais e Recife e porque não lembar de enormes templos franceses, gregos dentre outros espalhados pelo mundo? Nosso povo estaria sendo manipulado por interesses adversos, ou a demolição de nossos templos seria mesmo uma iniciativa e decisão puramente popular?

Igrejas do Ceará - Patrimônio Histórico Material - Beleza Arquitetônica e Vitrine dos Municípios

Viajo muito a trabalho pelo Estado do Ceará. Não existe a menor dúvida, que para maioria das cidades o prédio mais importante, de maior porte e beleza arquitetônica é a igreja local. De longe, de qualquer estrada, chegando-se, seja do alto, seja de uma reta, seja de uma baixada, a quilômetros de distância o que primeiro de avista numa cidade, que se distribui como uma linha reta no horizonte é o prédio da igreja matriz local, estrategicamente construída, com sua vistosa torre, geralmente com um relógio, que não foi ainda substituído nem pelo rádio, nem pela TV, graças aos toques dos seus sinos marcando o tempo no dia-a-dia e a história, com o tique-taque do seu pêndulo.

Adentrando qualquer cidade, o que vale para cidades de porte médio, a capital Fortaleza ou mesmo a grande São Paulo, percebe-se que as cidades formaram-se, foram construídas e expandiram-se em torno da igreja, onde grande parte dos casamentos e batizados foram realizados há décadas, festas da padroeira... ou há séculos e assim continua... Fora o que representa como símbolo da fé de um povo. O QUE VALORIZO AQUI É O PATRIMÔNIO MATERIAL, representado pela beleza e formas arquitetônicas do prédio, como também o PATRIMÔNIO IMATERIAL, toda a história que teve a igreja como palco e sua praça em volta, além da religiosidade, que muito tem a ver com a cultura nordestina.
Não nos esqueçamos do que diz a Constituiçao Federal:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira...

É com essa visão, que início a série: IGREJAS DO CEARÁ! Que de quando em quando receberá novas fotos. Favor quem copiar foto citar a fonte. Tenho certeza que é uma forma de valorização do patrimônio cultural do povo cearense e de dividir história e beleza com os leitores o meu blog. SE VOCÊS NÃO PODEM IR ATÉ AS IGREJAS FOTOGRAFADAS, TRAGO AS IGREJAS ATÉ VOCÊS. Tirei as fotos nos últimos 30 dias. Espero que goste das fotos abaixo:

Igreja Matriz do Município de Bela Cruz - Ceará - Setembro de 2011 (Foto: Valdecy Alves)

Igreja Matriz do Município de Marco - Ceará - Setembro de 2011 (Foto: Valdecy Alves)

Igreja Matriz do Município de Ocara - Ceará - Setembro de 2011 (Foto: Valdecy Alves)

Igreja Matriz do Município de Redenção - Ceará - Setembro de 2011 (Foto: Valdecy Alves)

Igreja Matriz do Município de Trairi - Ceará - Outubro de 2011 (Foto: Valdecy Alves)

 Fonte: Blog Valdecy Alves


Do Blog Acaraú pra recordar: Ilustração da Igreja Matriz de Acaraú

Igreja Matriz de Acaraú    Foto: Arquivo Acaraú pra recordar

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pão com recheio original

Será lançado hoje, na Livraria Cultura, o livro Uma breve história da Padaria Espiritual, do crítico literário Sânzio de Azevedo. A obra traz novas informações a partir das atas de integrantes do movimento literário em documento inédito encontrado no Instituto Histórico do Ceará

No livro, Sânzio transcreve o texto Retrospecto dos feitos da Padaria Espiritual, publicado em 1894 pelo padeiro Moacir Jurema (NATALIA KATAOKA, EM 17/01/2007)

O historiador da literatura, professor Sânzio de Azevedo, achou que estivesse sonhando. Depois procurar, por 40 anos as atas da Padaria Espiritual, um dia recebeu um telefonema com a informação de que as atas, até então completamente desconhecidas, estavam no arquivo do Barão de Studart, no Instituto Histórico do Ceará. Mesmo com a nova edição no livro Uma Breve História da Padaria Espiritual quase pronta, Sânzio de Azevedo recuperou informações e as transpôs para a obra que ele lança hoje, às 19 horas, na Livraria Cultura, com direito a bate-papo sobre o livro e participação da escritora Socorro Acioli, autora de É pra ler ou pra comer, livro infantil inspirado no movimento literário do fim do século XVIII.

Uma das principais novidades que o livro traz é a informação de que Antônio Sales, que atendia pelo nome de Moacir Jurema, ocupara por mais tempo do que o imaginado a função de padeiro-mor. Outra, é que alguns textos dos padeiros foram parar no jornal A República no ano de 1893, quando não foi publicada nenhuma edição de O Pão. Neste livro, há também a transcrição do texto Retrospecto dos feitos da Padaria Espiritual, publicado em 1894 pelo padeiro Moacir Jurema.

Para o pesquisador e crítico literário, o movimento ruidoso “dos rapazes das letras e artes do Ceará” é único e permanece inédita a repercussão que causou no Ceará e no País, repercussão esta que nem as desavenças internas conseguiram nublar. “É difícil um grupo, seja de homens de letras ou não, conseguir viver sem dissidências. Mas acredito que a saída de Álvaro Martins, Temístocles Machado, Adolfo Caminha e outros não chegou a prejudicar a trajetória dos ‘padeiros´”, afirma o professor Sânzio de Azevedo, que nesta entrevista fala sobre o novo livro.

O POVO – Uma das grandes novidades do livro foi o acesso que o senhor teve às atas dos padeiros. Como se deu esse encontro?
Sânzio de Azevedo - Há mais de 40 anos eu procurava esse Livro de Atas, que esteve nas mãos do Leonardo Mota. Tentei achá-lo com os filhos do folclorista (Orlando, Moacir e Murilo Mota). Nada. No Rio de Janeiro, quando fazia Doutorado na UFRJ, pesquisei nos arquivos de Antônio Sales que estavam com o Pedro Nava, que me arranjou cópia de cartas, etc., mas ele também nada sabia das atas. A Breve História da Padaria Espiritual já estava sendo impressa quando Marines Alves, funcionária do Instituto do Ceará, encontrou o livro, na Sala Barão de Studart. Imaginando sua importância, passou-o às mãos do Presidente da entidade, historiador José Augusto Bezerra. Conhecedor de velhos manuscritos e textos raros, esse amigo concluiu que se tratava do Livro de Atas da Padaria Espiritual e me telefonou. Completamente atônito com a descoberta, percorri aquelas páginas como se estivesse sonhando. Brevemente o historiador vai tratar de uma edição fac-similar, mas adiantei alguma coisa nesse meu livro que, graças a Deus, ainda não estava terminado.

OP - Pelas atas o que veio à tona?
Sânzio - Transcrevo, nesse livro, uns poucos trechos desconhecidos, por não estarem nem no livro de Leonardo Mota sobre o grêmio. E fiz questão de registrar, com base nas atas, que, ao contrário do que muitos pensavam, Antônio Sales (o Moacir Jurema do grêmio) ocupou o lugar de Padeiro-mor interino por muito mais tempo: volta e meia, em 1892 e até em 1894 e 95, estava ele à frente do grupo. Outra coisa que eu não sabia é que em 1893, ano em que não circulou o jornal O Pão, e os “padeiros” publicavam seus textos no jornal A República, não houve uma só “fornada”(sessão).

OP - O movimento da Padaria Espiritual foi e continua sendo um dos maiores movimentos literários do País. Por que o senhor diz que ele foi um precursor do movimento modernista de 20?
Sânzio - Na verdade, desde 1970, quando publiquei, a conselho do professor Martins Filho, um opúsculo sobre a Padaria Espiritual, chamo a atenção para o artigo 21 do Programa de Instalação (redigido por Sales), que julga “indigna de publicidade qualquer peça literária em que se falar de animais ou plantas estranhas à Fauna e à Flora Brasileira, como – cotovia, olmeiro, rouxinol, carvalho, etc.” Lembro que esse espírito nacionalista seria uma das preocupações de Monteiro Lobato e, 30 anos depois da fundação da “Padaria”, uma das bandeiras da Semana de Arte Moderna de São Paulo. Não diria que todo o programa estaria no mesmo caso.

OP - Outro ponto importante do livro são as evidências da tensão entre os padeiros. Você considera que as discordâncias entre eles prejudicou o movimento?
Sânzio - É difícil um grupo, seja de homens de letras ou não, conseguir viver sem dissidências. Mas acredito que a saída de Álvaro Martins, Temístocles Machado, Adolfo Caminha e outros não chegou a prejudicar a trajetória dos “padeiros”. O grupo publicou 36 números do jornal O Pão, nas duas fases do grêmio e inúmeros livros. Isso é que é importante, a meu ver.

OP - Você corrige algumas afirmações que são repetidas anos a fio, como o fato do Oliveira Paiva ter sido da Padaria. Ficou alguma correção de fora?
Sânzio - Suponho que não. A inclusão de Pápi Júnior no grêmio não tem o menor sentido, uma vez que ele nem mesmo colaborou no jornal dos “padeiros”. Ainda no século XIX, Rodrigues de Carvalho incluiu no grêmio Alfredo Peixoto, falecido antes da sua fundação.Várias pessoas me perguntam se houve maçons na Padaria Espiritual. Penso que se alguém disse isso confundiu o grêmio com a Academia Francesa, de 1873, essa sim, com pelo menos dois maçons, fundadores do jornal Fraternidade.

OP - Qual o legado da Padaria Espiritual para as Letras do Ceará?
Sânzio – Só sei dizer que a Padaria Espiritual marcou época, chegando seu humor a influenciar um grupo do tempo, o Centro Literário Era “uma sociedade de rapazes de Letras e Artes”, como diz o programa, porque tinha escritores, como Antônio Sales, Lívio Barreto, Adolfo Caminha; músicos, como Henrique Jorge e seu irmão Carlos Vítor e um pintor, Luís Sá, o que nunca mais se repetiu em grupo nenhum. O grêmio do Café Java, com Lopes Filho e Lívio Barreto, foi, com os nomes de sua primeira fase e mais os de Rodolfo Teófilo, José Carlos Jr., Artur Teófilo, Antônio Bezerra, o mais importante acontecimento cultural do Ceará no século XIXl.

SERVIÇO

UMA BREVE HISTÓRIA DA PADARIA ESPIRITUAL
Autor: Sânzio de Azevedo
Quando: Lançamento hoje (3)
Horário: A partir das 19 horas
Onde: Livraria Cultura (Avenida Senador Virgílio Távora, esquina com avenida Dom Luís)
Quanto: R$ 30 (o exemplar)

Regina Ribeiro
reginaribeiro@opovo.com.br 

Fonte: O Povo

Quem quer pão?

O pesquisador Sânzio de Azevedo lança mais uma obra sobre a Padaria Espiritual, com novas descobertas acerca de uma das mais criativas agremiações cearenses

Sânzio de Azevedo revela novidades sobre a Padaria Espiritual após descoberta das Atas de Reunião do grupo
FOTO: FRANCISCO VIANA

As reuniões aconteciam religiosamente ali nos rumos da praça do Ferreira, no Café Java e em outros endereços, mas de religiosas não tinham nada. Distintos rapazes das letras e das artes bebiam, discutiam, pontuavam suas regras e publicavam seus jornais.

Essa seria a descrição de uma simples agremiação artística, se não contasse com o bom humor e a molecagem cearense, através da qual se resolvera apelidar os encontros de Fornadas, o presidente de Padeiro-mor, os secretários de Forneiros, o jornal de "O Pão", os membros de Padeiros e o movimento de Padaria Espiritual. A famosa.

Particularidades
Fundada em 1892 e reorganizada em 1894, a Padaria Espiritual reuniu uma importante geração de escritores cearenses, advindos de várias estéticas literárias, entre românticos, realistas e simbolistas. Adolfo Caminha, Antônio Sales, Antônio Bezerra, Rodolfo Teófilo, Henrique Jorge e outros tantos nomes (que se não conhecemos pela vida e obra, sabemos bem por avenidas e bairros).

Os cerca de 34 padeiros estiveram juntos até 1898, reunindo-se periodicamente, guiados por um hilário Programa de Instalação, redigido por Antônio Sales. O programa prescrevia, por exemplo, que era proibido o tom oratório nas palestras, sob ameaça de vaias; que às mulheres, cabiam todo o respeito dos padeiros, exceto a freiras e professoras ignorantes; que estava impedida nos textos a citação de animais e plantas que não pertencessem à fauna e à flora brasileiras, e outras tantas.

Antiga fotografia preservada no Museu do Ceará registra um encontro da Padaria Espiritual, movimento artístico que se reunia nas imediações da Praça do Ferreira entre 1892 e 1898
FOTO: SILVANA TARELHO

Descobertas
A padaria é o tema de mais uma obra do pesquisador Sânzio de Azevedo, reconhecido por ter lançado diversos trabalhos sobre o movimento. "Em 1970 fiz um opúsculo sobre a Padaria e, em 1983, publiquei minha tese de doutorado que defendi na UFRJ. O primeiro livro nasceu justamente da minha tese. Reeditei ele depois, mas continuou havendo muitos pedidos, então as Edições UFC deram a ideia de que eu publicasse algo novamente", explica.

"Breve História da Padaria Espiritual" teve um outro excelente motivo para ser elaborado: a recente descoberta do Livro de Atas da Padaria Espiritual. "Há mais de 40 anos procuro, sem muita esperança, essa preciosidade. E já nem sei quantas vezes, em livros, artigos ou entrevistas, declarei perdido esse tesouro que Leonardo Mota teve nas mãos", escreveu Sânzio em artigo para o Anuário Literário do Ceará 2010-2011. Segundo ele, chegou a procurar pelas atas até mesmo no Rio de Janeiro, nos arquivos do escritor Pedro Nava, e nunca imaginou que estivessem tão perto, aqui no Instituto do Ceará.

As atas trouxeram novos detalhes à história da agremiação e todos eles constam no livro. Entre as novidades, Sânzio destaca o fato de ter afirmado muitas vezes que Antônio Sales só havia sido Padeiro-mor em 1892 e 1894. No entanto, ele o fora em muitos outros anos, quando era necessário assumir as sessões. A observação mais importante, no entanto, talvez seja a comprovação de que o grupo não era composto apenas por escritores, mas músicos (Henrique Jorge e Carlos Vitor), um pintor, Luís Sá, e, como diria Sânzio, um valente.

"Joaquim Vitoriano não era escritor, pintor, músico, não era nada. Só era valente! Ele era uma espécie de guarda-costas da padaria. Um homem que arrumava tanta confusão que acabou morto, em uma dessas, na Praça do Ferreira", revela Sânzio.

Para não ferir o regimento e não se usar de oratória no lançamento do novo livro, Sânzio de Azevedo resolveu fazer da cerimônia um bate-papo com a jornalista Socorro Acioli, também conhecedora da Padaria Espiritual, autora do livro "É pra ler ou pra comer", que aborda a história da padaria para crianças. O lançamento de "Breve História da Padaria Espiritual" acontece hoje, às 19h, na Livraria Cultura.

MAIS INFORMAÇÕES
"Breve História da Padaria Espiritual", de Sânzio de Azevedo. Bate-papo com a jornalista Socorro Acioli seguido de autógrafos. Hoje, às 19h, na Livraria Cultura (Av. Dom Luís, 1010). Contato: (85) 4008.0800

MAYARA DE ARAÚJO 
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

Livro Breve História da Padaria Espiritual


RESUMO
Fortaleza, final do Século XIX. Durante seis anos, uma sociedade de "rapazes de Letras e Artes" daria o que falar. Bem-humorados, ousados, sobretudo talentosos, os membros da Padaria Espiritual protagonizaram, na acanhada província, um movimento literário modernista que antecedeu em muitos anos a Semana de Arte Moderna. Fariam história. E hoje continuam despertando interesse dos que estudam a Literatura Brasileira.
Poucas, porém, são as fontes disponíveis para pesquisas. Escasseiam os relatos sobre o que foi a Padaria, como atuavam os padeiros, quais eram seus postulados e como os traduziam no O Pão, jornalzinho de oito páginas, que circularia até o nº 36, deixando um rastro de irreverência demolidora.
Quem mais profundamente avançou no exame das provas deixadas pela Padaria Espiritual foi Sânzio de Azevedo, professor da Universidade Federal do Ceará e membro da Academia Cearense de Letras – ACL. Poeta e ensaísta, Sânzio dedicou-se à analise e pesquisa da Literatura Cearense, que inspirou a maioria de seus livros e inúmeros trabalhos esparsos. Data de 1983 a primeira edição de A Padaria Espiritual e o Simbolismo no Ceará, livro que derivou de sua tese de doutorado e que, mesmo republicado em 1996, de há muito desapareceu das livrarias. Anteriormente, em 1982, o autor referendara, com brilhante ensaio introdutório (Os Padeiros e Seu Periódico), a edição fac-similar do O Pão, publicada em coedição pelas Edições UFC e ACL.
O olhar do ensaísta se volta, em especial, para Adolfo Caminha, padeiro que patroneia sua honrosa cadeira na ACL (a de nº 1). Em 1979, Sânzio se responsabiliza pela organização e introdução crítica de Tentação / No país dos ianques (ACL/José Olympio). Mais tarde, ele enriquece com prefácios antológicos as edições de A Normalista (Ática, 1998); Cartas literárias (1999) e Contos (2001), estas últimas lançadas pelas Edições UFC, através da Coleção Nordestina, reunindo páginas diversas, muitas delas desconhecidas, até então, do grande público.
Agora, Sânzio de Azevedo resgata uma dívida e entrega ao editor esta Breve História da Padaria Espiritual, que vem a ser uma versão concisa daquela tese de 1983. Resumida, mas ao mesmo tempo enriquecida com novas informações que o ensaísta coletou nos últimos anos, a Breve História enfeixa o essencial sobre os padeiros, suas fornadas literárias, sua estética e ousadias. O livro responde a uma demanda que se tornara premente. Era o pão que faltava no balaio da fortuna crítica que consagra o sodalício de Antônio Sales, Adolfo Caminha, Lívio Barreto, Rodolfo Teófilo, José Carlos Júnior... .

AUTORA: Sânzio de Azevedo
PÁGINAS: 115
ISBN: 978-85-7282-405-7
ANO: 2011
VALOR: R$ 25,00

Fonte: Editora UFC

Padaria Espiritual é tema de livro de Sânzio de Azevedo


Será lançado nesta segunda-feia, às 19 horas, o livro “Breve História da Padaria Espiritual”. O lançamento desse trabalho do poeta e pesquisador Sânzio de Azevedo, ocorrerá na Livraria Cultura. Na ocasião, Sânzio baterá um papo com a também escritora Socorro Acioli, mais uma publicação de Edições UFC.
A OBRA
Agora, Sânzio de Azevedo resgata uma dívida e entrega ao editor esta Breve História da Padaria Espiritual, que vem a ser uma versão concisa daquela tese de 1983. Resumida, mas ao mesmo tempo enriquecida com novas informações que o ensaísta coletou nos últimos anos, a Breve História enfeixa o essencial sobre os padeiros, suas fornadas literárias, sua estética e ousadias. O livro responde a uma demanda que se tornara premente. Era o pão que faltava no balaio da fortuna crítica que consagra o sodalício de Antônio Sales, Adolfo Caminha, Lívio Barreto, Rodolfo Teófilo, José Carlos Júnior…”
Ítalo Gurgel
SOBRE O AUTOR
Sânzio de Azevedo nasceu em Fortaleza em 1938. Iniciou-se em jornais cearenses, mas publicou seus primeiros livros em São Paulo, onde residiu por seis anos e foi revisor d’O Estado de S. Paulo. Licenciado em Letras pela UFC, nela exerceu magistério durante 30 anos. Em 1973, ingressou na Academia Cearense de Letras, em sua cadeira nº 1, cujo Patrono é Adolfo Caminha. Doutor em Letras pela UFRJ, teve como orientador Afrânio Coutinho. Seguramente, o maior pesquisador da Literatura Cearense, Sânzio de Azevedo publicou em diversas antologias, escreveu artigos e estudos para destacadas revistas e edições locais, nacionais e no exterior, além de apresentar vasta e diversa bibliografia, referência obrigatória para quem pesquisa na área. Citamos: Cantos da Longa Ausência (1966), A Padaria Espiritual (1970), A Academia Francesa do Ceará (1971), O Centro Literário (1973), Literatura Cearense (1976), Aspectos da Literatura Cearense (1982), O Modernismo na Poesia Cearense (1995), Para uma Teoria do Verso (1997), Cantos da Antevéspera (1999), O Parnasianismo na Poesia Brasileira (2004), Lanternas Cor de Aurora (2006), dentre outros.

SERVIÇO

Livraria Cultura – Avenida Dom Luís, 1010, shopping Varanda Mall.

Fonte: Blog do Eliomar

domingo, 2 de outubro de 2011

Professora preserva memória de Cariús

Diva Targino é procurada, até hoje, por moradores e estudantes que querem conhecer a história da cidade

Diva Targino Cavalcante, professora aposentada que nasceu em Capistrano de Abreu (antigo Riachão), traz lembranças da infância e da adolescência que ficaram marcantes
FOTO: HONÓRIO BARBOSA

Cariús. Aos 98 anos, a professora primária, Diva Targino Cavalcante, preserva a memória viva dos principais acontecimentos que marcaram a história desta cidade, na região Centro-Sul. É fonte permanente de pesquisa para os moradores e estudantes, que sempre lhe visitam em uma casa simples, ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora Auxiliadora. O projeto de construção do Açude Poço dos Paus, que nunca saiu do papel, o trem e as secas são alguns dos temas mais abordados pela docente aposentada.

Diva Targino, que nasceu em Capistrano de Abreu (antigo Riachão), traz lembranças da infância e da adolescência que ficaram indeléveis. Em 1925, ela chegou a Cariús, na companhia do pai, Joaquim Targino, que foi atraído pelas notícias da construção de um grande açude no sertão cearense e instalou uma loja de tecidos. "Tinha um bom comércio e logo o lugar cresceu", contou. "Vieram muitas pessoas atraídas pela promessa de trabalho e foram construídos prédios, casas e aos sábados havia uma feira intensa".

Após a morte do pai, Diva Targino, aos 12 anos, viveu em casa de parentes e de amigos da família, estudou e logo passou a ensinar particular e mais tarde ingressou como professora diplomada, lecionando por décadas. Vários de seus ex-alunos são formados, profissionais liberais e empresários. Um deles, Siqueira Campos, tornou-se governador de Tocantins, e quase todos os anos faz questão de visitar a ex-professora. Na parede da sala, há diversas fotos com ex-alunos que lhe visitam com regularidade.

A professora aposentada é simpática e costuma receber as visitas em uma área alpendrada, onde está instalada a cozinha da casa, na parte detrás. É o espaço mais agradável. O pequeno quintal, com alguns frutos e roseiras, dá à residência um aspecto peculiar das cidades interioranas. O espaço é convidativo para uma boa conversa sobre o passado e a vida de uma educadora dedicada, respeitada e admirada pelos moradores. Diva, ao receber amigos e visitantes, logo se apressa em passar um café novo e servir bolo ou tapioca, que ela ainda prepara com carinho e tem gosto especial da culinária sertaneja. A merenda, como costuma chamar o sertanejo, está posta à mesa à espera de um comensal.

Sentada em uma cadeira de balanço, ela puxa pela memória e aos poucos vai contando a história da formação do centro urbano, os seus principais acontecimentos e detalhe da infância e da adolescência em uma cidade que tinha a expectativa de um futuro de desenvolvimento, mas que ficou esquecida, após o Governo Federal abandonar o projeto de construção do açude que teria a função de combater a seca, reduzir a fome e a mortalidade do sertanejo no início do século passado.

O crescimento do antigo Distrito de Cariús está associado ao projeto do então presidente Epitácio Pessoa em construir o Açude Poço dos Paus. Essa era a antiga denominação do lugar. Para que o açude fosse construído, Diva lembra que foi instalado um ramal da ferrovia que havia chegado à Iguatu e partia em direção ao Sul do Ceará (Cariri). A estrada de ferro, inicialmente, impulsionou o progresso. Facilitou o transporte de material, máquinas, importadas da Inglaterra e dos Estados Unidos, e de operários, que chegaram de várias cidades do Ceará e até de outros Estados. Em 1915, houve intensa estiagem, que resultou na morte de milhares de agricultores. "Meus pais contavam que foram anos difíceis e de muito sofrimento para os flagelados", recorda ela.

O açude não saiu do papel. O governo mudou. Assumiu a presidência Artur Bernardes. "O orçamento ficou superior ao estipulado e em 1923 as obras foram suspensas". Em 1932, Cariús foi sede de um dos campos de concentração que barrou a ida de flagelados, retirantes da seca, para Fortaleza. "Eram tempos de muita fome, de muitas dificuldades. As pessoas queriam partir em busca de trabalho e comida e muitos morreram no caminho", contou.

Crescimento
A cidade cresceu com instalação de usinas de beneficiamento de algodão e foi favorecida pela permanência do ramal ferroviário que continuava transportando carga e pessoas até a cidade de Iguatu. A professora recorda que um hospital, uma fábrica de gelo, uma casa de força e seis caldeiras que forneciam energia até para a cidade de Jucás e uma ponte pênsil sobre o Rio Cariús permaneceram por mais algum tempo. A ferrovia foi desativada em 1976. "Depois tudo mudou. A cidade diminuiu o ritmo de crescimento e parece que parou no tempo".

MAIS INFORMAÇÕES
Secretaria de Cultura do Município de Cariús
Rua Raul Nogueira, S/N, Centro
Telefone: (88) 3514. 1219

HONÓRIO BARBOSA 
REPÓRTER