Entre linhas, agulhas e tecidos, mulheres artesãs ressignificam as próprias vidas e são referência em pesquisa
Crato Bonecas fabricadas neste Município são apresentadas no Congresso Ibero Americano de Psicodrama, realizado em Cuba. A iniciativa foi da psicóloga Elisete Leite Garcia, uma cratense residente em São Paulo, que transformou as bonecas, um brinquedo de infância, numa fonte de pesquisa científica de Psicodrama e Sociodrama, originando o Tatadrama.
Esta metodologia tem como fundamento, segundo Elizete, o pensamento atribuído a Platão, segundo o qual "a pessoa pode descobrir mais sobre os outros em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa".
As mulheres cubanas, segundo Elizete, ficaram encantadas com o trabalho das cratenses, o que é traduzido em cartas afetivas que recebeu das cubanas e também das bonecas que ganhou, feitas após o encontro por elas. Uma delas, a cara da própria psicóloga.
A outra boneca, uma linda negra de cabelos louros, será levada para as mulheres do Crato, as mesmas que enviaram seus personagens de panos coloridos para Havana, junto com bilhetinhos carinhosos. "A história das bonequeiras do Crato que iniciaram seu trabalho artesanal na sombra de um frondoso pé de manga no quintal da casa de uma delas emocionou as cubanas", afirma Elizete.
A interação foi maior quando a psicóloga apresentou a técnica a um grupo de psicodramatistas formados por psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e educadores, que fizeram questão de acompanhar o seu trabalho e participar de sua oficina com as bonecas, durante a programação do congresso em Cuba. Eles entenderam que a psicóloga usou as bonecas do Crato como objeto intermediário, um termo criado pelo psicodramatista Jaime Rojas Bermúdez. Foi o mesmo que introduziu este conceito e o utilizou, especialmente trabalhando com fantoches, ainda na década de 60, em hospitais psiquiátricos de sua época.
Ponte
O objeto intermediário, de acordo com Elizete, é a "ponte" entre o personagem e o ser, no caso, as bonecas. Rojas Bermúdez estabeleceu as características que um objeto intermediário deve possuir como existência, maleabilidade, adaptabilidade, identificabilidade, entre outros.
Neste projeto, Elizete teve a ajuda de duas outras psicodramatistas, que trabalharam como auxiliares: Rafaella Calentano e Carolina Cintra. Elas interpretaram bonecas cratenses, intervindo com as mulheres cubanas. Mais do que uma experiência enriquecedora profissionalmente, a psicóloga ficou encantada mesmo com a troca afetiva entre as mulheres da região do Cariri e de Cuba.
"No plano real, elas não se encontraram. Mas por meio de bilhetes, cartas e até presentes que umas enviaram às outras, digo que foi um encontro de almas. O que mais me deixa feliz e enriquecida é saber que dois mundos tão parecidos e tão diversos se juntaram em seus amores, dores, sabores, risos e dramas", afirma a psicodramatista. Tão perto e tão longe. Em Cuba, são mulheres vivendo sob o julgo do duro regime ainda comandado pela família Castro. Um dos poucos lugares onde as mesmas têm liberdade de expressão é no local em que foi realizado o congresso, na Casa de Orientação da Mulher e da Família, localizado na Praça da Revolução, um patrimônio cultural do povo cubano
Já as mulheres cratenses realizam seu trabalho, no sertão nordestino, com sua simplicidade e sabedoria da roça, tecendo suas tramas e dramas debaixo de uma mangueira.
Trata-se de um grupo com potencialidades adormecidas, que foram despertadas. "Elas resgataram a identidade, o papel profissional e o valor como mulher bonequeira e artesã", destaca Elizete, complementando: "E ainda ganharam uma nova fonte de renda familiar".
Antônio Vicelmo
Repórter
MAIS INFORMAÇÕES Mulheres Bonequeiras do Crato, Av. Perimetral, 235c, bairro São Miguel, Região do Cariri
Telefones: (88) 9911.6617/ 8809.6838
À SOMBRA DA MANGUEIRA, as bonequeiras costuram personagens de pano que contam as próprias histórias das mulheres. A experiência foi destaque em congresso internacional |
Esta metodologia tem como fundamento, segundo Elizete, o pensamento atribuído a Platão, segundo o qual "a pessoa pode descobrir mais sobre os outros em uma hora de brincadeira do que em um ano de conversa".
As mulheres cubanas, segundo Elizete, ficaram encantadas com o trabalho das cratenses, o que é traduzido em cartas afetivas que recebeu das cubanas e também das bonecas que ganhou, feitas após o encontro por elas. Uma delas, a cara da própria psicóloga.
A outra boneca, uma linda negra de cabelos louros, será levada para as mulheres do Crato, as mesmas que enviaram seus personagens de panos coloridos para Havana, junto com bilhetinhos carinhosos. "A história das bonequeiras do Crato que iniciaram seu trabalho artesanal na sombra de um frondoso pé de manga no quintal da casa de uma delas emocionou as cubanas", afirma Elizete.
A interação foi maior quando a psicóloga apresentou a técnica a um grupo de psicodramatistas formados por psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e educadores, que fizeram questão de acompanhar o seu trabalho e participar de sua oficina com as bonecas, durante a programação do congresso em Cuba. Eles entenderam que a psicóloga usou as bonecas do Crato como objeto intermediário, um termo criado pelo psicodramatista Jaime Rojas Bermúdez. Foi o mesmo que introduziu este conceito e o utilizou, especialmente trabalhando com fantoches, ainda na década de 60, em hospitais psiquiátricos de sua época.
Mais que brinquedos de criança, as bonecas feitas pelas artesãs do Crato são instrumentos de terapia de grupo por meio do Psicodrama FOTOS: ANTÔNIO VICELMO |
O objeto intermediário, de acordo com Elizete, é a "ponte" entre o personagem e o ser, no caso, as bonecas. Rojas Bermúdez estabeleceu as características que um objeto intermediário deve possuir como existência, maleabilidade, adaptabilidade, identificabilidade, entre outros.
Neste projeto, Elizete teve a ajuda de duas outras psicodramatistas, que trabalharam como auxiliares: Rafaella Calentano e Carolina Cintra. Elas interpretaram bonecas cratenses, intervindo com as mulheres cubanas. Mais do que uma experiência enriquecedora profissionalmente, a psicóloga ficou encantada mesmo com a troca afetiva entre as mulheres da região do Cariri e de Cuba.
"No plano real, elas não se encontraram. Mas por meio de bilhetes, cartas e até presentes que umas enviaram às outras, digo que foi um encontro de almas. O que mais me deixa feliz e enriquecida é saber que dois mundos tão parecidos e tão diversos se juntaram em seus amores, dores, sabores, risos e dramas", afirma a psicodramatista. Tão perto e tão longe. Em Cuba, são mulheres vivendo sob o julgo do duro regime ainda comandado pela família Castro. Um dos poucos lugares onde as mesmas têm liberdade de expressão é no local em que foi realizado o congresso, na Casa de Orientação da Mulher e da Família, localizado na Praça da Revolução, um patrimônio cultural do povo cubano
Já as mulheres cratenses realizam seu trabalho, no sertão nordestino, com sua simplicidade e sabedoria da roça, tecendo suas tramas e dramas debaixo de uma mangueira.
Trata-se de um grupo com potencialidades adormecidas, que foram despertadas. "Elas resgataram a identidade, o papel profissional e o valor como mulher bonequeira e artesã", destaca Elizete, complementando: "E ainda ganharam uma nova fonte de renda familiar".
Antônio Vicelmo
Repórter
MAIS INFORMAÇÕES Mulheres Bonequeiras do Crato, Av. Perimetral, 235c, bairro São Miguel, Região do Cariri
Telefones: (88) 9911.6617/ 8809.6838