quinta-feira, 9 de junho de 2011

Moda e música em Jericoacoara

Céu, Eddie e Mundo Livre S/A se apresentam na paradisíaca praia do litoral oeste cearense, na 4ª edição do Jeri Eco Cultural

Em sentido horário, Céu (foto), Mundo Livre S/A e Eddie, atrações do festival de moda sustentável (DIVULGAÇÃO)

Na quarta edição do evento que combina música e moda regional sustentável, a programação chama a atenção e deve atrair um grande público à paradisíaca praia do litoral oeste cearense neste fim de semana. A paulista Céu e os pernambucanos Eddie e Mundo Livre S/A sobem no próximo sábado à noite ao palco do 4º Jeri Eco Cultural, que ocorre nesta sexta e sábado em Jericoacoara (300 km de Fortaleza).

Na sexta, abre o evento o Jeri Brasil Fashion, desfile de peças confeccionadas pela Associação das Crocheteiras de Jericoacoara, além das peças de lojas locais. Uma feirinha com produtos de artistas da região é outra das atrações do evento, que ainda inclui atividades ecológicas em sua programação, tais como a distribuição de eco bags. O primeiro dia do evento será encerrado com show da Banda Tow In.

Sábado, a noite será aberta, a partir das 20 horas, pela cantora Céu, que deve apresentar músicas de seu último CD, Vagarosa (2009), como Bubuia, Cangote, Comadi e Sonâmbulo, além das canções de seu primeiro CD, Céu (2005). A banda Eddie sobe logo em seguida. A noite será encerrada com show do Mundo Livre S/A, embalando Jeri ao som de sua irreverente e crítica mistura de samba e rock.

Fábio Trummer, 40, líder da banda Eddie, diz que o repertório do show vai depender do clima da noite e das sugestões do público em redes sociais como o Twitter, Facebook e Orkut. “Como é uma banda independente e tem muita gente que tá chegando agora nas nossas músicas, a ordem cronológica dos CDs não importa”, explica. Prestes a entrar em estúdio novamente para gravar seu quinto CD, a banda deve tocar os grandes sucessos de seus mais de 20 anos de carreira, desde o debutante Sonic Mambo (1998) até o mais recente Carnaval no Inferno (2008).

A banda, surgida em Olinda, no começo da década de 1990, foi um dos grupos que ganharam projeção com o Manguebit pernambucano, ao lado de Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. Único remanescente da formação original da banda, formada ainda no colégio e que atravessou a faculdade até se profissionalizar, Fábio afirma que nunca esta geração esteve tão afiada musicalmente.

“Na minha visão, mais do que nunca, as bandas que faziam parte lá no início do Manguebit até hoje continuam evoluindo sua musicalidade, dominam melhor o processo de criação. E no mercado também, porque hoje nós temos uma credibilidade por conta da coerência da obra que foi feita desde o início”.

Envolvido em projetos paralelos como a Orquestra Santa Massa, o Punk Reggae Park e o Original Olinda Style, ao lado da Orquestra Contemporânea de Olinda, Fábio não descarta a possibilidade da viagem à Jericoacoara inspirar alguma parceria com Céu. “Eu sou bem próximo dessa família musical dela”, fala, referindo ao grupo que inclui músicos como Dengue e Pupillo, integrantes do Nação Zumbi, e Rica Amabis, do Instituto e irmão de Gui Amabis, marido da cantora. Céu inclusive já gravou em 2008 CD com eles do projeto Sonantes. A noite promete. (Pedro Rocha)

SERVIÇO

4º JERI ECO CULTURAL, COM SHOWS DE CÉU, MUNDO LIVRE S/A E EDDIE
Onde: Praia de Jericoacoara
Quando: sexta (10) e sábado (11)

Quanto: Entrada franca.
Outras info.: 85 3261 0665


Um verso entre o linotipo

Em homenagem a "Fortalezaamada", a escritora Lucíola Limaverde lança hoje "Ciro Colares: a crônica paixão por Fortaleza", que rememora a obra de um jornalista-cronista-amante

O jornalista Ciro Colares atuou no Ceará por 60 anos, sendo testemunha da história da imprensa local
FOTO: NEYSLA ROCHA (04/1984)

O bom e velho Ciro era pessoa calada, mas querido por todos. Não estava nas palavras faladas o seu forte, mas na escrita. Fora dos poucos, daquele tipo de jornalista por sina, que não vê jeito em ser outra coisa na vida. E justamente por ter sido forjado escritor a partir dos jornais, sua crônica nascia da cidade, da rua, "de coisas sutis que lemos no jornal, mas não damos tanta importância", como explica a escritora e jornalista Lucíola Limaverde, que decidiu lhe rememorar.

Após 17 livros reunindo suas crônicas, fadadas ao esquecimento nos jornais, Ciro finalmente ganha um livro sobre si, sobre jornalismo e literatura, sobre a cidade e o tempo. Sobre a poesia, ainda que escrita em prosa. "Ciro Colares: a crônica paixão por Fortaleza", publicação do Trabalho de Conclusão de Curso de Lucíola será lançado hoje, às 19h, na sede da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Ceará, a Adufc.

Trajeto
A leitura, o menino Ciro aprendeu nos jornais. Ali, no chão da sala de casa, o moleque chegava a se cobrir com os papeis já amarelados, sujava-se da tinta da prensa no esforço de juntar as letras e delas via palavras e delas frases e delas a completude do jornal. Que coisa importante tinha entre as mãos.

Antes de tudo, aquelas páginas enormes eram o trabalho do pai, jornalista do Correio do Ceará, que como as outras redações se situava no Centro. Ao Seu Domingos Colares, visitava todos os dias, levando-lhe a marmita do almoço. E ainda que o velho fosse um tanto ranzinza, Ciro conseguia pôr-se na máquina e lá satisfazia o gosto de escrever suas próprias linhas, entre uma ou outra colherada do pai.

Aos 18 anos estava seguindo a sina do pai, trabalhando também no Correio do Ceará, mas como revisor. A produção escrita, no entanto, só passou a ser exercida em 1946, quando ingressou no jornal "O Povo". Em 60 anos de jornalismo, Ciro passou por diversas redações cearenses, sendo testemunho da história da imprensa de nosso Estado. Também essas páginas do Caderno 3, por sinal, foram palco da escrita cotidiana de Ciro, que atuou como articulista no Diário do Nordeste, em fins dos anos 90, publicando sempre aos domingos.

A palavra conquistou-lhe não apenas o ofício, mas também os amores. Não haveria melhor modo. Foi pela troca de cartas que Ciro apaixonou-se pela eterna esposa, Neuza. O endereço precioso fora anotado em 1943, quando sob o pseudônimo "Bety Selma" o publicou na revista Carioca. Mas conheceram-se apenas em 1948, cinco anos depois, quando já era ofensa que a distância física atrapalhasse amor tão sincero. Casaram-se em 1950.

Neuza fora, de fato, a amante a moda antiga. Das cartas e da permanência até os últimos dias da vida. Ciro despediu-se da "Fortalezamada" (termo por ele cunhado) nos braços da esposa, acometido por um infarto.

A escritora e jornalista Lucíola Limaverde saiu à caça das poucos livros ainda existentes de Ciro Colares para a produção de sua monografia, que culminou na obra

Musa
À beira mar, Ciro costumava se banhar de inspiração para falar de um dos maiores amores: Fortaleza. O jornalista-cronista-amante era morador do Jardim América, ou do Beco do Segundo, como era conhecido. Seu texto tinha um pé na rua e outro na areia da praia. Mas não só de mar e sol viveu o repórter.

Ciro fazia denúncia com a mesma sensibilidade com que beijava as faces da "Fortalezamada". Na obra de Lucíola, destaca-se o poema-crônica escrito por Ciro que ilustrou a capa do caderno de cultura da Tribuna do Ceará, em agosto de 1973.

Tendo a prefeitura demolido sem aviso prévio treze casebres no então bairro Verdes Mares, Ciro buscou sentido nos detalhes: "As lágrimas das mulheres/ e o choro das crianças/ serão cobertos pelo asfalto... E sobre a sua mudez rodarão automóveis do ano; ou cairão restos de uísque/ das futuras residências infamiliares". E mais na frente, arrematou: "Amanhã pode ser domingo pra todo mundo / menos para as famílias da ex-favela do bairro Verdes Mares / só porque elas não estarão reunidas em casa".

Registro
Em 2008, Ciro já tinha nos deixado quando a ainda estudante Lucíola procurou pelo jornalista e professor Ronaldo Salgado. A ele confessou seu desejo por estudar crônica e jornalismo, e Ronaldo apresentou-lhe a obra de Ciro. A estudante, já utilizando das ferramentas jornalísticas, saiu à caça, já que os livros de Ciro se haviam caído no esquecimento, como infelizmente ele mesmo sentenciara nos últimos dias de vida. Encontrou alguns exemplares de seus 17 livros na Biblioteca Pública e revirando em sebos.

"O que me encantou na obra do Ciro foi a capacidade dele de pegar coisas simples, do cotidiano, cenas das ruas, e relatar isso, traduzir, com substância. Isso não se aprende", comenta Lucíola. Para ela, as pessoas nascem com esse olhar para a beleza escondida das coisas. E, por isso mesmo, independentemente de os jornais atuais concederem ou não espaço para poesias em prosa como as Ciro, nada garante que haveriam hoje tantos jornalistas produzindo semelhante.

A oportunidade de produção do livro surgiu através do Edital Prêmio Literário Para Autores Cearenses 2010, da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Quanto a isto, destaca-se o fato de que Lucíola não precisou fazer modificações para adequar a monografia de fim de curso para um formato, digamos, ensaístico. Já estava feito. A então estudante não viu modo de se falar de Ciro Colares sem pôr os dois pés na literatura. Assim, mesclou teoria, análise e poesia, retirando o livro da categoria de escritos para públicos selecionados.

Ainda que se apresente, de fato, como uma importante referência bibliográfica aos que queiram estudar as nuances entre jornalismo e literatura, "Ciro Colares: a crônica paixão por Fortaleza" é, acima de tudo, um registro merecido da vida e da obra "de um dos maiores cronistas nacionais, sem medo. Ao nível de Rubem Braga ou João do Rio", como assegurou a autora.

Nas entrevistas finais, reproduzidas por Lucíola, Ciro se mostra e tal qual a poesia que escreve, nele não há prolixidade. Ciro é a leveza impressa pelo chumbo do linotipo, é a beleza de um passeio despretensioso com a neta pelo Jardim América.

"Acho que a gente já nasce enxergando a poesia, depois é que se passa tudo para o papel. Minha neta Andréa dizia ao chegar comigo à pracinha do Jardim América, depois de uma chuva ligeira: ´Vovô, o sol tá enxugando a pracinha!´. Poesia é justamente a beleza que se vê ou a beleza que se cria".

E essa sua escrita, apesar de simples, tinha a força de gritar: Parem as máquinas! Falta um verso ao jornal.

JORNALISMO E POESIA 
Jornalismo e poesia Ciro Colares: a crônica paixão por Fortaleza Lucíola Limaverde
Expressão gráfica, 2011, 151 páginas, R$ 10
O lançamento acontece hoje, às 19h, na sede da Adufc (Av. da Universidade, 2346).
Contato: (85) 8764.0904

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Projeto reúne literatura e teatro

Esta é a segunda edição do projeto, que beneficia atores sociais, de 9 a 17 anos, no Município de Tauá

O II ciclo de Leituras Cínicas envolve crianças e adolescentes com a apresentação de vários textos
FOTO: DIVULGAÇÃO
Tauá Hoje, a Cia. Artes Cínicas de Teatro apresenta a obra dramatúrgica "As Bondosas", em sessão única no pavilhão da Escola Estadual de Educação Profissional Monsenhor Odorico de Andrade, neste Município, tendo como público os alunos da Escola e a comunidade em geral. A apresentação do texto inicia às 20h e faz parte do II Ciclo de Leituras Cínicas, apoiado pela Secretaria Municipal de Cultura. Esta é a segunda edição do projeto, que beneficia atores sociais, de 9 a 17 anos, participantes de atividades em espaços culturais e educacionais em Tauá.

"O Ciclo de Leituras envolve as crianças e adolescentes que apreciam a arte e que já fazem parte das atividades mantidas pela esfera pública aqui na cidade", diz o produtor, Gilmar Costa. Segundo ele, o I Ciclo de Leituras Cínicas surgiu como uma possibilidade de articular literatura e teatro, uma vez que em seu interior são trabalhadas leituras dramáticas de textos teatrais da dramaturgia cearense e nordestina que tem como marca a comicidade. "As leituras dramáticas são eficazes instrumentos para se formar público leitor e apreciador do fazer teatral", garante o produtor. Acrescenta, ainda, que o público aumenta a cada apresentação, alcançando assim outra meta do projeto, que é a formação de plateia. "As apresentações, inclusive, são sempre gratuitas, para facilitar esse objetivo", diz.

As Leituras Dramáticas se traduzem como o limiar entre a literatura e o teatro. Daí, ao realizar o evento este ano, a Companhia se propõe a trabalhar com diversificados textos teatrais integrantes da dramaturgia cearense e nordestina. Depois das leituras dramáticas são realizadas conversas formativas entre os atores e o público, com o intuito de favorecer ao último a narratividade de suas impressões sobre as leituras dramáticas e o fazer teatral como um todo, sob a mediação de Gilmar Costa. "É uma oportunidade de interação com o público", salienta Gilmar.

Selecionados

Para esta edição, foram selecionados três textos: "A Farsa de Romeu e Julieta", de José Mapurunga, "As Bondosas", de Ueliton Rocon e "As artimanhas de Simão ou O Causo dos Dotes", de Márcia Oliveira. Trabalhadas em sequência, as leituras dramáticas são previamente ensaiadas, envolvendo no elenco 11 atores e três músicos. O grupo já concluiu os trabalhos com o texto "A Farsa de Romeu e Julieta". A cenografia será montada em todo o pavilhão.

MAIS INFORMAÇÕES

Artes Cínicas
www.artescinicasdeteatro.com
Município de Tauá
Telefone: (88) 9915.8406

terça-feira, 7 de junho de 2011

Arte - Aberto ao público

Fora de cena por meses para restauro, a escultura "Femme Bateau", do artista cearense Sérvulo Esmeraldo, foi devolvida às longarinas da Ponte Metálica. Outras obras de nomes locais, novas e antigas, estão previstas para compor a paisagem urbana de Fortaleza nos próximos meses

 O artista Francisco de Almeida: obra embebida em religiosidade adquirida pelo Estado 

O verde esmeralda da Femme Bateau está de volta ao horizonte da Praia de Iracema. Instalada na década de 1970 nas longarinas da Ponte Metálica, a escultura de Sérvulo Esmeraldo, que estava recolhida para restauro, ganha uma nova estrutura. Volta mais resistente, cingida em aço inoxidável e revestida por fibra de vidro e estrutura em metalon - e está de volta ao mar.

Com cinco metros de altura e pouco mais que isso de comprimento, a obra "é uma coisa feita no Ceará, para o Ceará" nas palavras de seu criador. Sérvulo diz ter pensado e organizado a escultura para transparecer a maneira de ser do nordestino, reluzindo ao balanço dos ventos sobre as águas da Praia de Iracema. "Aqui onde estou, não posso vê-la, mas estou sentindo-a" diz Sérvulo, contente com o resultado do restauro, durante visita a outra obra sua, a escultura "Jangadas", instalada na Avenida Beira-Mar.

A "Femme Bateau" foi uma das agraciadas com o programa de restauro de obras de arte da Secretaria da Cultura do Ceará. O artista plástico e assessor técnico de artes visuais da Secult, Carlos Macedo, explica que a primeira versão da escultura não resistiu às intempéries da beira do mar, tendo que ser reestruturada.


Walter Monte e o projeto de sua escultura. Acima, a obra recém-restaurada de Sérvulo Esmeraldo
FOTOS: MIGUEL PORTELA/ FRANCISCO VIANA

"Nós também restauramos, de Sérvulo, a escultura Cones Cinéticos , que em breve será colocada onde era o antigo fórum da cidade, na Praça da Sé", adianta Macedo. Ele destaca a importância do artista para a Cidade, pela identificação que suas obras provocam e a projeção internacional que podem dar. "Quando a gente fala dele (Sérvulo), fala com certa convivência e isso parece não dar a importância exata da dimensão dele" diz, lembrando que até a prefeitura de Paris tem obras do artista cearense.

Cinco pirâmides de Sérvulo Esmeraldo, instaladas no Parque Ecológico do Cocó, também foram restauradas. Além das obras do artista, foram recuperadas cinco esculturas de Zenon Barreto - a "Louceira", a "Rendeira", a "Mulher com pote", a "Mulher no pilão" e a "Mulher com menino" - que estão no Palácio da Abolição e na residência oficial do Governador; 11 obras em papel, tela e colagem. "Entre elas, temos obras de Antônio Bandeira, Vicente Leite (exposta na galeria do Palácio da Abolição), Renina Catz, Bené Fonteles, Barrica" diz, adiantando que elas serão colocadas em espaços diversos da Cidade.


Aquisições
Outra boa notícia para a paisagem urbana de Fortaleza foi a aquisição pelo Estado de uma gravura de 1,5m de altura por 20m de comprimento do artista Francisco de Almeida. "Se não é a maior do mundo, é a segunda" diz Macedo, embora o valor das obras do gravurista estejam além de seu tamanho.

Ainda não se sabe onde será exposta a gravura, mas a intenção, segundo Almeida, é que fique no Aeroporto Pinto Martins. Ele foi contemplado no Prêmio Antônio Bandeira de aquisição de obras de arte do VII Edital Prêmio de Incentivo às Artes da Secult. "Ela fala da religiosidade do sertão nordestino, fala da crendice popular, dos deuses, da sequidão, da resistência do homem do campo. E o discurso dela também está voltado para os elementos da natureza, ar, fogo e terra" explica Francisco de Almeida.

Carlos Macêdo destaca a importância dessas iniciativas para a harmonização e o engrandecimento do espaço urbano. "Essa importância é reconhecida na lei municipal 7503/94 de 1994, que determinava a obrigação da existência de obras de arte nos espaços públicos e de uso publico", argumenta. Apesar de não ser cumprida, a lei vale como um alerta para se refletir essa necessidade. "Nós estamos sempre interferindo, criando avenidas, com calados postes, fiação. Tratamos muitas vezes de enfear a Cidade", diz.

Impasse
Sete metros de altura por 1,2 m de diâmetro, com base em aço industrial vermelho e corpo branco em poliuretano rígido e fibra de carbono. Dessa forma deve ser construída a escultura que o artista Walter Monte deseja instalar no novo centro de feiras e negócios do Estado, o Expo Ceará. A escultura abstrata estava prevista pelo autor para ser inaugurada junto com o centro de negócios. Um desentendimento burocrático, entretanto, está travando o início do trabalho, que tem tempo de execução estimado em 140 dias.

O projeto foi contemplado no último edital Incentivo às Artes da Secult na categoria de aquisição de acervo. O assessor técnico de artes plásticas da Secult, Carlos Macedo, explica que houve um desentendimento entre o propósito do edital e o do artista. "O Estado não pode entregar o prêmio sem que ele tenha a obra para adquirirmos. Ele não tem o produto para entregar" explica Macedo.

Walter argumenta, que essa condição (de receber o prêmio para só então confeccionar a obra) estava explícita no projeto aprovado pela Secult. "Mas a questão já está para avaliação da Procuradoria Geral do Estado e acredito que isso vai ser resolvido", minimiza. Ele acredita que logo poderá dar início à construção da escultura.

O local escolhido, segundo Walter Monte, foi uma estratégia para dar destaque à obra, ao passo que garantisse a sua conservação. "A ideia era de que ela ficasse em frente ao aeroporto, mas avaliei que em frente ao Expo Ceará ela deve ser mais cuidada", explica. O artista conta com uma equipe de ex-alunos seus, especializados em trabalhos com esse tipo de material para a feitura da obra.

FÁBIO MARQUES
ESPECIAL PARA O CADERNO 3

Literatura-Era uma vez... um edital

Os autores cearenses têm até o dia 18 de junho para inscrever textos inéditos de literatura infantil no edital da Secretaria da Educação do Ceará para publicação na "Coleção Paic Prosa e Poesia"

 Ilustração do livro Tempo de Caju, da escritora Socorro Acioli, que já foi premiada com o edital da Secretaria da Cultura: o retorno é impressionante!, afirma ela  

Os pequenos leitores cearenses e educadores da rede pública só têm a comemorar com a segunda edição do edital para publicação e distribuição de textos inéditos de literatura infantil promovido pelo Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic) da Secretaria da Educação do Ceará (Seduc). O edital é específico para autores cearenses e selecionará 24 textos publicação e distribuição em todas as salas de aula do ensino infantil e do 1º e 2º ano do ensino fundamental da rede pública estadual. As inscrições estão abertas até o dia 18 de junho. Os textos em prosa ou poesia podem ser inscritos em duas categorias, de acordo com a idade da criança à que o livro é destinado, com faixa etária de quatro a cinco anos e de seis a sete anos. Para participar, o autor deve residir há pelo menos dois anos no Ceará e enviar textos ainda não publicados ou divulgados ao público, contendo o máximo de 3.390 caracteres distribuídos em dez parágrafos ou estrofes.

"O principal objetivo é formar indivíduos letrados mas que sejam também leitores e que conheçam a cultura do Ceará", explica Fabiana Skeff, coordenadora do eixo de literatura infantil do Paic. Os livros serão editados, ilustrados e publicados pelo projeto, sendo distribuídos em coleções com os 24 títulos premiados. Ao todo serão impressas cerca de 30 mil coleções. Os autores contemplados recebem, ainda, uma premiação em dinheiro no valor de R$4,5 mil, cada.

Os livros ficam disponíveis em cada sala de aula no espaço batizado de cantinho da leitura, tendo livre acesso dos alunos. "Os professores participam de oficinas onde recebem técnicas de contação de historias, musicalização, recreação literária, para que saibam passar as histórias e incentivar os alunos à leitura", diz Fabiana.

Tempo de caju
Esse é o segundo edital parar publicação dos textos da coleção que já chega à sexta edição, atualmente com 48 títulos inéditos de autores cearenses publicados. A escritora cearense Socorro Acioli foi premiada no primeiro edital com o livro Tempo de Caju. "O retorno é impressionante! Saber que o livro estará em todas as escolas estaduais do Ceará é um impacto que eu venho sentindo a cada cidade que visito", diz a escritora, que a partir da premiação teve uma outra edição do livro publicada em 2010 pela editora Positivo, de Curitiba.

Em seu livro, Socorro Acioli conta a história do curumim Porã, escrita a partir da tradição dos índios cearenses de contar os anos de vida pelas safras de caju que vivenciam. "Eu criei especialmente para a seleção do edital. Eles queriam um texto para pré-leitores e leitores iniciantes com temática regional" explica Socorro. Ela destaca como êxitos do Paic "identificar novos autores que muitas vezes tem talento mas não conseguem publicar pela falta de mercado editorial no Ceará e democratizar o acesso à literatura de qualidade, com livros bem ilustrados e bem impressos".

Entre os critérios de seleção das propostas, está a adequação à faixa etária a qual se propõe o texto, o repertório linguístico, fruição estética, capacidade para motivar à leitura e a possibilidade para promover o conhecimento acerca da cultura cearense. O edital está disponível no site da Seduc (www.seduc.ce.gov.br). As inscrições devem ser feitas no prédio da Secretaria da Educação do Estado do Ceará - Centro Administrativo Governador Virgílio Távora (Avenida General Afonso Albuquerque Lima, s/n Cambeba, Fortaleza). Mais informações pelo telefone (85) 31013944.

domingo, 5 de junho de 2011

Riqueza de detalhes em réplicas artesanais

Filho de pai artesão, Messias Souza continuou o ofício do pai inserindo ao seu estilo, novos detalhes e delicadeza

O cotidiano da vida sertaneja ganha vida em réplicas miniaturizadas. A riqueza de detalhes encanta visitantes
FOTO: WILSON GOMES
Massapê Quem visita o Ceará não consegue resistir ao apelo das compras de produtos artesanais e da animada vida artístico-cultural cearense. E quem visita o Município de Massapê, na região Norte do Estado, tem interesse em conhecer o trabalho das mulheres do vilarejo de Ipaguassu Mirim, que fabricam produtos artesanais oriundos da palha de carnaúba e da palmeira e já ganharam o Brasil. Mas é na sede do Município onde mora um dos tradicionais artesãos da cidade, Manoel Messias Souza. Juntando o que encontra na natureza, Messias Souza consegue fabricar pequenas réplicas de encher os olhos: cabeças de cavalo, chaveiros, pavão, araras e o temido gavião, entre outras.

Com o barro, o artesão consegue fazer peças bastante interessantes. A que mais chama atenção é a miniatura da cozinha de uma casa de reboco que o artesão jura que é uma "maquete" do cômodo onde morava com os pais e os 12 irmãos. Ali cresceu vendo o pai fabricar canoas, ofício que aprendeu do avô, mas que não quis que os filhos aprendessem. "A delicadeza com meu avô tratava a madeira e construía as canoas, chamava a minha atenção. Talvez seja esse o motivo de ter se tornado artesão", destaca Messias Souza.

Com uma semente de jatobá, espécie típica da caatinga, e com alguns gravetos de marmeleiro, em poucas horas nas mãos habilidosas desse artesão o material se transforma num jumento. Está pronta mais uma peça decorativa. A cabeça do animal, típico do sertão nordestino, é feita da semente do mucunã. E bastam alguns detalhes; o que era apenas um jumento, com dois furinhos a mais ganha uma cangalha e passa a ser um animal de carga. "É dessa forma que ganho o sustento da minha família. Entre um trabalho e outro consigo fazer com mais perfeição", disse. Ele assegura que tudo é feito com a garantia para durar por muito tempo.

Ateliê
É no fundo da casa de número 60, da Rua Major Filinto Aguiar, no bairro Marambaia, que Messias Souza passa a maior parte do tempo. É debaixo de uma tenda onde está montado sua oficina. Lá ele fabrica as suas peças que ajudam a preservar um dos costumes do sertão cearense. Com dificuldades de se locomover por conta de uma doença rara, artrose, que o deixou paralítico das pernas, seu Messias Souza não ver nos filhos o interesse pela arte. A doença lhe atacou a cerca de 10 anos, mas não tirou sua habilidade, nem o interesse pela arte. "Tenho três filhos, mas vejo que nenhum deles tem interesse pelo artesanato. Também não cobro muito a presença deles aqui". A conversa com o artesão é sempre acompanhada de perto pela esposa, a dona de casa Luzanira Souza, que o auxilia no trabalho artesanal.

Messias Souza, lembra que as primeiras peças ganharam repercussão pelos detalhes, um talento que o artista não esquece. Por conta dos detalhes, Messias garante que a confecção de uma peça, como exemplo, a casa de reboco pode levar até dois dias. Peça que lhe garantiu um convite a Central de Artesanato do Ceará (Ceart).

O artista massapeense é sempre chamado para participar de feiras e eventos regionais. O seu talento também já lhe rendeu convite para conferir palestras em escolas do Município. "Foi numa dessas feiras que veio reconhecimento pelo trabalho. As pessoas ficavam admiradas com o meu trabalho e sempre aparecia alguém interessada em comprá-las", disse o artesão. Os preços das peças variam entre R$ 10,00 e R$ 150,00.

Outro ponto forte do artesanato local é o trabalho desenvolvido pelas mulheres da Cooperativa de Artesanato de Ipaguassu Mirim (Cooparmil). Com mais de 900 associadas, elas chegam a produzir mensalmente cerca de cinco mil bolsas, de diversos tamanhos, modelos e cores. Antes da criação da cooperativa as mulheres viviam da atividade de produção de chapéu de palha. Com o estímulo elas passaram a confeccionar bolsas. As associadas se dividem em 16 comunidades do Município, com a maioria delas concentradas em Ipaguassu Mirim. Os produtos são comercializados em vários Estados.

Wilson Gomes
 Colaborador

MAIS INFORMAÇÕES
Manoel Messias Souza - Artesão - Rua Major Filinto Aguiar, 60
Bairro Marambaia - Massapê (CE)
Telefone: (88) 3643.1247

Mestre das palavras

O escritor é um artista e as palavras são sua obra de arte. Mas ele também é um profissional como qualquer outro e merece reconhecimento

Escritores dizem que nem todos vivem só de literatura (IANA SOARES)
Aprendemos o alfabeto. Aprendemos a ler e a escrever. Mas o dom das palavras é para poucos. Escrever por prazer ou como profissão. Crônicas, contos, romances. O escritor é um artista e o livro é sua arte. Não existe curso de graduação ou formação para escritores, mas os cursos de Humanas, principalmente Letras e Jornalismo são os principais celeiros para esses profissionais.

Pedro Salgueiro, Airton Monte, Jorge Piero, Socorro Acioli, Tércia Montenegro e Carmélia Aragão são alguns escritores cearenses dos nossos dias. A fortalezense Socorro Acioli tem 36 anos e escreveu seu primeiro livro com 8: O pipoqueiro João. Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, é mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e doutoranda em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói.

Carmélia Aragão é formada em Letras com mestrado em Literatura ambos pela UFC. Hoje, trabalha na Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio. Ela explica que é possível viver de literatura, mas são poucos. No Ceará um dos problemas é a distribuição, pois muito se produz, mas fica apenas no local. No Rio, a dificuldade é para se chegar a uma grande editora e o artista pode ter dificuldades para se adequar ao mercado.

Carmélia diz que ser escritor requer certa vocação. Em Fortaleza, os profissionais das palavras podem contar com a Associação Cearense de Escritores, ACE. A associação foi criada para resguardar o patrimônio cultural do Ceará. Informações: (85) 3214 2539

SAIBA MAIS

Mercado
Entre os maiores desafios, está a distribuição, pois muitos livros cearenses não saem do estado. Outra é a dificuldade para chegar a uma editora e equilibrar o gênero literário escolhido com o mercado editorial.

BATE-PAPO COM O LEITOR

O POVO - O que é essencial para o escritor?

Socorro - É essencial ter o dom. A aptidão natural. De se sensibilizar um tema, enxergar uma história que ninguém vê. Mas essa é só uma parte. O resto é estudo, dedicação. Sou defensora dessa profissionalização.

OP - É possível viver de literatura?
Socorro - É possível, com todas as atividades: traduções, aulas e palestras. Não só de direitos autorais. Noventa por cento do meu trabalho é fora do Ceará, pois o estado não tem mercado. Não existe reconhecimento da profissão.

OP - E o que você indica para quem quer começar a carreira?
Socorro - Inscrever a obra em concursos, pois as portas se abrem. É mais fácil de publicar numa editora com premiação.
  Foto: Divulgação
Socorro Acioli é escritora. Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, é mestre em Literatura Brasileira pela UFC e doutoranda pela UFF

Dom
“É essencial ter o dom. A aptidão natural. De se sensibilizar um tema, enxergar uma história que ninguém vê”.

EM BAIXA

FALTA GRADUAÇÃO
Ainda não existe curso de graduação para formação de escritores. A maioria dos profissionais é formada em Letras ou Comunicação Social.

EM ALTA

AGENTE LITERÁRIO
O agente literário ajuda o trabalho do escritor. Cuida dos contratos, faz contatos com editoras e eventos. É um companheiro importante.

Ingrid Baquit
ingridbaquit@opovo.com.br