sábado, 31 de dezembro de 2011

ACUNHA, QUINTINO!



Recebi esse texto por e-mail, é daqueles que circulam por aí sem paternidade. Eu, pelo menos, desconheço o autor e a fonte. Como já disse, chegou-me por e-mail encaminhado para uma penca de mais de 50 pessoas. No final da década de 1980, inicio dos anos 90, fiz amizade com Plautus Cunha, filho e biógrafo do Quintino e passei a conhecer melhor a obra e as peripécias desse cabra da peste. Plautus foi jurado do III Salão de Humor Canindeense, evento coordenado por mim e pelo saudoso professor Laurismundo Marreiro... Renato Sóldon, sobrinho do poeta, também coligiu uma série de anedotas atribuídas ao Quintino no seu impagável "Verve Cearense".

Quanto ao texto a seguir, talvez seja coisa do meu compadre Tarcísio Matos, ou quem sabe, uma publicação do site Nordeste Web, do meu amigo Ivan Maurício. A imagem abaixo sim, veio do site do jornal Diário do Nordeste... Achei interessante e resolvi publicá-lo:

Quintino Cunha, o Pai do Canelau
José Quintino da Cunha
* Itapajé, 24 de julho de 1875 ;
+ Fortaleza, 1º de junho de 1943

Foi advogado, escritor e poeta cearense. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Ceará em 1909, e a partir de então começou a exercer a profissão de advogado criminalista.
Foi deputado estadual na década de 1910, mas logo desistiu da carreira de político e encabeçou a campanha do Bode Ioiô para Vereador de Fortaleza, fazendo o animal tirar votos suficientes para ser eleito, caso possível fosse.

Ficou bastante conhecido por seu estilo irreverente e carismático, também lembrado pelas anedotas que contava. É tido como o mais lendário de nossos humoristas literários, o maior de nossos poetas cults. Excêntrico sem ser snob. Feio mas cativante. Eternamente esquecido, sempre resgatado, figura ao lado dos grandes mestres do improviso literário ferino, como Bernard Shaw, Quevedo e Swift, sendo considerado pelo crítico Agripino Grieco "o maior humorista brasileiro de todos os tempos”.

Menino ainda, Quintino Cunha foi convidado a passar uns dias das suas férias na casa de dois coleguinhas de colégio. Convite aceito, viajou até a casa combinada onde deveria hospedar-se por alguns dias, com os convidantes anfitriões. Lá chegando, não encontrou os colegas que haviam viajado para outro destino, sem deixar recado. As tias idosas dos meninos, donas da casa, convidaram-no a ficar e aguardar a chegada dos seus sobrinhos. Quintino não se fez de rogado e ficou, aceitando o convite!

À noite não lhe ofereceram jantar e nem café, ou almoço no dia seguinte. Ele matou a fome com as fruteiras do quintal. Resolveu ir embora dali e o fez, deixando um bilhete sobre a mesa:


“Adeus casinha da fome,
Nunca mais me verás tu
Criei ferrugem nos dentes
E teia de aranha no cu.”

Já célebre advogado, a fama de Quintino Cunha era grande no Nordeste. Tinha havido um crime no interior da Paraíba, onde pai e filho assassinaram um adversário político. Para defendê-los, convidaram o célebre causídico. Este fez a defesa com muita propriedade conseguindo a absolvição dos réus. A cidade fez festa de comemoração pela semana, hospedando Dr. Quintino no melhor hotel. Sua fama correu rápida por todo o município e o feito atingiu proporções.

Eis que surge no hotel um humilde casal dos sítios afastados. O marido dirigiu-se ao advogado expondo-lhe o desejo de um desquite, em face dos desentendimentos do casal. Dr Quintino então pergunta-lhe se este possui algum bem, alguma propriedade.
- Não doutor, eu nada “pissuo” e trabalho alugado, em sítios alheios.
Vira-se para a esposa e faz-lhe idêntica pergunta, vindo a resposta:
- Doutor, pra que a verdade lhe seja dita eu ainda tenho menos que ele.
Dr. Quintino respondeu-lhes em versos:

"A questão é muito tola!
Aqui mesmo, eu os desquito.
Fique ele com sua rola
E ela com o seu priquito."


Conhecido e até hoje contado pelos frequentadores da Praça do Ferreira, o causo da defesa do deficiente físico conhecido apenas como Francisco, apelidado de “Chico Mêi Cu”, foi uma das mais famosas proezas de Quintino Cunha.
Conta-se que nos idos anos 20, um pobre deficiente físico, sem pai nem mãe, sem eira nem beira, mancava pelas ruas do Centro da pequena Fortaleza, onde fazia os biscates que lhe davam o pouco para o sustento. Encabulado, quieto e calado, aparentava não dar importância ao canelau que mangava à sua passagem: “Chico Mêi Cu!”, “Chico Mêi Cu!”, “Chico Mêi Cu!”. Foram anos de chacotas.
Certa feita, num ato de cólera, Francisco fez uso de uma peça perfuro-cortante que transportava, e ceifou a vida de um de seus mais ferrenhos mangadores. Foi detido e de imediato levado à cadeia pública, onde ficou por um tempo aguardando julgamento.

No dia do juízo, atendendo às súplicas dos que rogavam pela libertação de Francisco, em defesa deste, fez-se presente diante do Júri o renomado advogado Quintino Cunha. Após as interlocuções vigorosas da promotoria, que pedia condenação com pena máxima para o réu, o Juiz deu a vez da defesa, à qual Quintino deu início:

- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu tenho a dizer que... (Pausa).
Após alguns segundos de pausa, ele repete:
- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu tenho a declarar que... (Nova pausa).
Após os novos segundos de pausa, ele torna:
- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu poderia falar que...
De imediato o Juiz esbraveja:
- MAS QUANTA DEMORA! O SENHOR IRÁ OU NÃO DAR INÍCIO À DEFESA?
Ao que Quintino replica:
- Repare só, Meritíssimo: Não faz sequer um minuto que eu só me dirijo a vós de forma respeitosa, e já provoquei vossa inquietação. Agora imagine Vossa Excelência, o que deve ter passado pelas idéias do pobre Francisco, após todos esses anos de achincalhamento e mangoça pública.

Seguindo, Quintino Cunha deu continuidade ao discurso de defesa. E com toda a eloquência e poder de convencimento que lhes eram peculiares, conseguiu a absorvição do réu. Saiu do tribunal carregado nos braços por seus amigos, rumo ao botequim mais próximo.

Hoje, a maioria dos cearenses não sabe que foi Quintino Cunha. Nem mesmo os moradores do bairro que leva o seu nome o conhecem. Por isso é importante divulgá-lo, para que a memória do precursor da molecagem cearense não caia no esquecimento.
Viva a irreverência cearense! Viva Quintino Cunha!

Fonte: Acorda Cordel

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Padre Ibiapina o Apóstolo do Nordeste

José Antônio Pereira Ibiapina, nasceu em 1806, no povoado de São Pedro de Ibiapina, região de Sobral, filho de Miguel Ibiapina, um dos participantes da Confederação do Equador, fuzilados no Passeio Público. Após os acontecimentos de 1825, Ibiapina, órfão, recebeu ajuda de José Martiniano de Alencar e se dirigiu a Pernambuco, onde se bacharelou em direito. 

 Cidade de Sobral, região onde em 1806 nasceu o Padre Ibiapina (foto IBGE) 

Na década de 1830, foi eleito pelo Ceará deputado geral do Império (1834-37) e juiz de direito em Quixeramobim (1834-35). Sofreu, contudo, uma grande desilusão amorosa: a noiva, Carolina Clarence (filha de Tristão Gonçalves), com que planejava casar-se, o abandonou e fugiu com um primo.

Ibiapina começou a se desentender com o então presidente cearense, senador José Martiniano de Alencar, ao recusar-se a promover, como juiz, as perseguições políticas e pessoais pretendidas pelos liberais. Posteriormente, Antônio Ibiapina abandonou a magistratura e a política, decepcionado com as injustiças que presenciava.

Em 1938 passou a residir em Recife, dedicando-se à advocacia. Em pouco tempo se notabilizou na profissão, ganhando fama de defensor dos pobres. Levava uma vida reservada, profundamente católica.

Em 1853, aos 47 anos de idade, o sobralense decidiu dar novo rumo à sua vida e ordenou-se padre pelo Seminário de Olinda, trocando o sobrenome Pereira pelo nome de Maria, em homenagem à Virgem Mãe de Deus. Sensibilizado com o sofrimento dos humildes, passou a percorrer os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí, como missionário e realizando obras em mutirão – açudes, poços, cacimbas, capelas, igrejas, cemitérios – para atenuar o sofrimento e o abandono do povo do sertão nordestino.

Multidões escutavam e seguiam o pregador, os sertanejos consideravam Ibiapina um homem santo, atribuindo-lhe milagres e curas.

Uma das Casas de Caridade criadas pelo Padre Ibiapina, localizada no Crato, ao lado da Rádio Educadora do Cariri. Uma estátua homenageia e lembra o seu fundador (foto do Diário do Nordeste)

O padre construiu as famosas Casas de Caridade, que se destinavam a servir de escolas para as filhas de famílias ricas, de orfanato para as crianças mais pobres,   e ainda de centro profissional e hospital.  Criou também a Irmandade da Caridade, composta por mulheres leigas, beatas vestidas com hábitos e que faziam votos de castidade e pobreza, renunciando aos prazeres do mundo. Essas beatas trabalhavam nas casas de Caridade. Ibiapina acabaria entrando em rota de colisão com a alta cúpula da Igreja Católica.

 Casa de Caridade de Santana do Acaraú Foto http://memorialdasenhorasantana.blogspot.com

As mudanças operadas na organização eclesiástica em decorrência da romanização afetaram o relacionamento entre os padres e os paroquianos no Nordeste. A igreja aumentou o número de dioceses, colocando-as sob a administração de sacerdotes paulistas, mineiros ou estrangeiros, elementos estranhos ao universo cultural e social dos sertões. 

O Ceará foi uma área marcada profundamente pela romanização. A criação da diocese local em 1854 coincidiu com o período inicial de tal processo.  No ano de 1861 foi nomeado o primeiro bispo da província, Dom Luís Antônio dos Santos.  Este se voltou totalmente para a doutrinação romântica dos novos clérigos. Em 1864 fundou o Seminário da Prainha, em Fortaleza, chefiado pelos padres lazaristas franceses, uma ordem confiável e obediente ao Vaticano,  que tinha entre outras funções, o controle do misticismo popular, que tinha então como figura máxima o padre Ibiapina.

 Seminário da Prainha em 1905 (arquivo Nirez)

Este acabou advertido pelo bispo D. Luís, sendo obrigado a entregar as Casas de Caridade e as Irmandades da Caridade ao controle episcopal,  e a deixar o Ceará. Ibiapina foi para a Paraíba, onde continuou seus trabalhos missionários pelo Nordeste, até falecer naquela província, em 19 de fevereiro de 1883.

Suas práticas marcaram profundamente os corações sertanejos e influenciaram outras importantes lideranças religiosas, como Padre Cícero e Antônio Conselheiro.

Fonte:

História do Ceará, de Aírton de Farias

Fonte: Blog Ceará em Fotos

Fósseis milenares e rastros da era jurássica esperam turistas no Ceará

Cidades do Cariri compartilham geoparque reconhecido pela Unesco.
Estátua do Padre Cícero é famoso ponto de turismo religioso.

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No topo da serra do Araripe, em Santana do Cariri, o Pontal de Santa Cruz revela um dos mais belos cenários da região; área faz parte de um dos sítios de estudo paleontológicos.  (Foto: Geopark Araripe/Divulgação)

Roteiro de fé e caldeirão de manifestações culturais, a região do Cariri, no Sul do Ceará, é também um dos principais polos de estudos paleontológicos do país. Em uma programação de dois dias, o visitante pode conhecer parte das escavações e fósseis espalhados em seis das 11 cidades da região e ainda vai ter tempo para apreciar um museu paleontológico, pontos de peregrinação religiosa e a arte local.

Em meio ao verde da Floresta Nacional do Araripe, são nove sítios de estudo que formam o Geopark Araripe, integrante da rede mundial de geoparques criada pela Unesco. A viagem por registros da história da Terra pode começar pela Colina do Horto, a 3 km da cidade de Juazeiro do Norte, na porção norte da bacia sedimentar do Araripe. Na área da colina, onde fica a estátua do santo popular Padre Cícero, estão as pedras mais antigas do Geopark Araripe, com cerca de 650 milhões de anos.

A cerca de 550 m de altitude, na colina, é possível encontrar rochas de granito com manchas em pequenos cristais de cores preta, branca e rosa. Para fazer visitações dentro do Geopark é necessário agendar no site oficial. Os turistas têm de ser acompanhados por guias do parque, geólogos e biólogos.

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No alto, o soldadinho-do-Araripe e embaixo, uma
libélula ''impressa''  na pedra há milhões de anos
(Foto: Geopark Araripe/Divulgação)

Depois da Colina do Horto, o roteiro segue para a cidade de Missão Velha. No geossítio Cachoeira, a 4 km da cidade, as águas do Rio Salgado deixaram desenhos em arenitos e há rastros de animais, os icnofósseis, preservados na rocha há quase 450 milhões de anos.

Na área, estão registros do aldeamento dos índios Kariri, do século XVIII, e é possível também percorrer um antigo caminho usado pelos primeiros colonizadores até a Fonte do Pinga. Local onde florescem espécies da caatinga como jatobá, aroeira, cedro e catingueira. Casas de pedra construídas pelos primeiros habitantes da região rodeiam o lugar. A área do geossítio tem ainda uma pequena barragem e as ruínas de um engenho de cana-de-açúcar.

Ainda em Missão Velha, o passeio segue até o sítio da Floresta Petrificada, uma grota com cerca de oito metros de rochas avermelhadas e arenito. Entre os seixos das rochas, ficaram pedaços de madeira petrificada. As pedras guardam fósseis de pinheiros de 145 milhões de anos, revelando que, na região, existiam colinas, florestas e rios. O visitante está, na verdade, no fundo de rios jurássicos.
O primeiro dia de viagem termina no Riacho do Meio. Uma área de vegetação densa, com belas trilhas que passam por duas fontes de águas cristalinas. Ponto para apreciar a fauna e a flora nativas do Araripe, com raras espécies, como o pássaro soldadinho-do-araripe. O bando de Lampião se escondia no local, na famosa ''pedra do morcego''.
O segundo dia reserva uma ida a uma passagem natural preservada na rocha sobre um estreito e profundo vale, produto da erosão da água e do vento nos últimos 50 milhões de anos em Nova Olinda, no geossítio Ponte de Pedra. Seguindo a trilha, é possível chegar até a "pedra do coruja" e a "pedra do castelo", indicadas para esportes de aventura como o rapel.

O roteiro termina em uma escavação parada que mostra fósseis como eles aparecem na natureza, no Parque dos Piterossauros. O preço das visitas depende do roteiro. Hospedagem, e transporte ficam por conta do visitante. O Cariri cearense ocupa uma área de 6.342,3km² correspondente aos municípios de Abaiara, Barbalha, Brejo Santo, Crato, Jardim, Juazeiro do Norte, Mauriti, Milagres, Missão Velha, Porteiras e Santana do Cariri.

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Sítios que podem ser vistos em dois dias no Cariri, no sentido horário: Floresta Petrificada, Ponte de Pedra, Parque dos Pteurossauros, as águas e a flora de Cachoeira e o Riacho do Meio (Foto: Geopark/Divulgação)

Museu
De acordo com o professor e paleontólogo Álamo Feitosa, o “apego” aos estudos paleontológicos no Cariri começou há 23 anos, quando o então prefeito da cidade de Santana do Cariri, Plácido Nuvem, decidiu fazer o Museu de Paleontologia, administrado pela Universidade do Vale do Acaraú (Urca). Segundo o professor, o prefeito acreditava que o estudo dos fósseis tinha potencial turístico.

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Entrada no Museu de Paleontologia é gratuita
(Foto: Elisângela Santos/Agência Diário)

“Esta é uma terra rica para se estudar paleontologia, agora mesmo acabo de concluir uma escavação em Brejo Santo onde recolhemos 200 peças do período jurássico”, disse Feitosa, ansioso para encaminhar a nova coleção ao museu. As primeiras peças do museu foram doações de moradores que encontravam os fósseis em terrenos e plantações. Com entrada gratuita, somente em 2011, o museu recebeu 14 mil visitantes.

Réplicas de bichos e fósseis de plantas, moluscos, peixes, anfíbios, crocodilos, tartarugas e insetos podem ser apreciados entre as 10 mil peças no museu. Todos com idade entre 100 milhões e 140 milhões de anos.

Couro e moda
O chamado “Oásis do Sertão” cearense também é famoso pela riqueza dos artigos em couro. O produtor Espedito Seleiro, 72 anos, confecciona peças em couro desde os oito anos de idade. “Comecei com meu pai, ele me ensinou e eu melhorei o serviço, porque naquela época se fazia artigo para vaqueiro, com material grosseiro feito de couro cru”, conta Seleiro, que herdou apenas uma máquina de costura do bisavô e faz todo o trabalho final à mão.

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Couro vira bolsas, gibões e sapatos nas mãos de
Seleiro. (Foto: Espedito Seleiro/Arquivo Pessoal)

Atualmente, o produtor emprega seis filhos e cinco irmãos. Mais do que garantir a sobrevivência da família, a produção de peças em couro é um estilo de vida. Sapatos, bolsas, chaveiros, gibões, sandálias, tudo no dia a dia da família. “Estou repassando isso para meus filhos, não tenho herança, deixo o meu trabalho”, afirma. Quem vai a Nova Olinda não tem dificuldades em encontrar a conhecida oficina.

Famosos como Luciano Huck e Dominguinhos já passaram pela oficina de Espedito Seleiro, tiraram fotos e usaram as peças, segundo Seleiro. A produção da família já foi exportadas para o exterior e para outros estados brasileiros, como Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo o artesão, os preços dos artigos em couro variam de R$ 1,00 (chaveiro) a R$ 1.300,00 (gibão ao estilo de Luíz Gonzaga).

Mestre Noza
Quem quer conhecer a riqueza da produção artesanal do Cariri encontra diversas amostras em um só lugar, a Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte Mestre Noza. Com 28 anos de existência, o nome da associação homenageia um dos mais antigos Inocêncio Medeiros da Costa, o Mestre Noza. Pernambucano, o escultor e xilogravurista foi a Juazeiro do Norte em 1912 como romeiro e acabou ficando na cidade.

Segundo o tesoureiro da instituição, Aparecido Gonzaga Alves, cerca de 900 peças estão expostas no local. Peças antigas feitas de madeira, argila, couro e até metal fazem parte do acervo fixo da instituição. “São peças dos artesões mais antigos e dos que já morreram. Estas são apenas para expor, não estão à venda. Mas temos artesãos de todo o Cariri produzindo e vendendo peças aqui”, afirma Costa, explicando que a associação já exporta peças para Estados Unidos, Portugal e Alemanha.

Associação conta, atualmente, com 142 artesãos com idades que variam entre 12 e 82 anos. As esculturas em madeira são as mais populares, principalmente, as de referência religiosa. O centro de artesanato abre todos os dias das 8h as 18h. A entrada é franca.

Irmão Aniceto e grupos folclóricos
O visitante do Cariri também não pode deixar de conhecer os grupos folclóricos. Entre eles, os Irmãos Aniceto. Segundo o presidente da Fundação Mestre Elói, Catulo Teles, o forró pé de serra é a especialidade do grupo, formado por cinco parentes e um sexto mestre na posição de reserva: Raimundo, Antônio, Ciço, Jeová, Adriano e Ugui.

De acordo com Teles, os Irmãos Aniceto se apresentam cerca de três vezes por mês na cidade do Crato, a 506 km de Fortaleza. E, com exceção de Roraima e Acre, já se apresentaram em todos os estados brasileiros, além dos países França e Portugal. Fundado no século XIX por um descendente de índios, o grupo está na terceira geração.

Teles explica que o trabalho da família é autoral, só abrem exceções no repertório para hinos e Luís Gonzaga. Longe do glamour que cerca os grandes astros da música, os irmãos são trabalhadores da roça. Sons de animais e pássaros são inspirações para tirar o som da zabumba, pifes, caixa e pratos. Já as letras tratam do cotidiano no sertão.

Aproveitando a passagem pelo Crato, os visitantes podem ainda conhecer o trabalho da Fundação Mestre Elói, que reúno 39 grupos folclóricos e organiza um calendário especial de apresentações anuais.

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Fonte: G1-Ceará

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sol, ventos e agito atraem visitantes do mundo todo a Jericoacoara (CE)

Ruas de areia e sotaques dão charme ao local, que fica a 284 km da capital.
Praia é um dos pontos mais badalados para prática de windsurfe e kitesurfe.

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Velejador Levi Lenz começou a frequentar a praia ainda criança. (Foto: Richard Ström/Divulgação)

Ventos fortes e águas mornas em um dos lugares mais encantadores do mundo. Assim velejadores que já descobriram Jericoacoara descrevem a praia, na cidade de Jijoca, a 284 quilômetros de Fortaleza. A antiga vila de pescadores é um dos principais destinos de praticantes de windsurfe e kitesurfe, mas em meio a sotaques de toda parte, esportista ou não, o visitante pode relaxar em paisagens paradisíacas ou cair no agito noturno da praia.

Entre julho e janeiro, época dos ventos mais fortes no Ceará, o mar de Jericoacoara fica tomado por velas, pipas e pranchas. É só passear pela praia para encontrar grandes velejadores do mundo. Depois do Circuito Mundial de Windsurfe, em outubro, a maioria dos atletas da disputa passa uma temporada obrigatória em Jeri, seja para rever a família e amigos, renovar as energias ou treinar.
“Além das condições para a prática do esporte, Jericoacoara tem um charme especial”, diz o velejador cearense Teka Lenz, um dos primeiros a descobrir esse verdadeiro “paraíso dos ventos”.

Quem conhece o mar de Jeri conta que é quase impossível ficar um dia sem conseguir velejar no local. “Os ventos são muitos estáveis durante todo o ano. Os picos de vento ficam entre 20 e 30 nós e, no segundo semestre do ano, podem chegar a 40 nós. Poucos lugares no mundo são assim”, explica Lenz, presidente da Associação Brasileira de Windsurfe.

Na alta temporada, um dos clubes de esportes aquáticos da praia, o Club Ventos, chega a receber 200 velejadores, de acordo com o gerente de marketing Nuno Martins. O local funciona há 25 anos oferecendo aulas e alugando equipamentos para a prática de windsurfe, kitesurfe, surfe e stand-up paddle (esporte praticado em uma espécie de prancha de surfe em que a pessoa rema em pé).

“A única preocupação em Jeri é não esquecer de sair da água pelo menos duas vezes durante o dia para passar protetor solar e se hidratar. Os ventos são tão bons que quem veleja fica o dia todo no mar”, conta Levi Lenz, que é cearense e começou a velejar aos seis anos de idade com o pai Teka Lenz.

Hoje, aos 24 anos, o jovem está entre os 20 melhores do mundo na categoria freestyle de windsurfe e revela sua preferência por Jericoacoara para treinar e se divertir. “Vou umas 15 vezes por ano. O legal de Jericoacoara é que você acaba reencontrando amigos do mundo todo, além de conhecer novas pessoas. Em outros lugares também bons para velejar, as pessoas geralmente ficam isoladas nas casas e não se encontram no fim do dia”, afirma.

Amor à primeira velejada
A fama de Jeri corre o mundo. O italiano Maurizio Gusella soube no Havaí dos bons ventos e da tranquilidade da praia. Em 2000, ele chegou ao local para uma temporada de velejo decidiu voltar para ficar em 2002. “Jericoacoara é o segundo melhor lugar do mundo para velejar, atrás somente do Havaí. Em estilo de vida, é o melhor”, diz o italiano.

Gusella resolveu ensinar o esporte aos meninos nativos, casou com uma brasileira e é proprietário da pousada onde ficou hospedado na primeira vez que foi a Jeri. A cerca de 100 metros da praia, a Pousada do Maurício é uma das principais opções de hospedagem dos velejadores e um dos ''points'' depois que eles saem do mar. O “happy hour” na pousada mostra que Jeri não ferve somente durante o dia. A vila tem encantos e atrações para todos os gostos e todas as horas.
Ex-aluno de Gusella, Edvan Souza, 24 anos, não esquece do mar e do vento de onde nasceu e que fizeram dele um dos destaques internacionais do esportes. “Não falo só em termos de velejar, mas Jericoacoara é um local especial. Você aproveita todas as coisas da cidade durante o dia e a noite. É um lugar completo”, diz Edvan que aprendeu o esporte ainda menino.

Pôr do sol
Para quem não quer velejar ou fazer programas de aventuras, Jeri oferece muitos encantos. Além das belezas naturais, há uma programação diversa. Por isso, o indicado é ficar, no mínimo, quatro dias. A caminhada pela vila pode ser a pé, com chinelo de dedo, e outros passeios podem ser feitos a cavalo ou de bugues para paisagens mais distantes.

Todos os dias, por volta das 5h30, faz parte da rotina de quem está em Jericoacoara admirar o pôr do sol da duna mais conhecida, a oeste da vila. Depois de descer da Duna do Pôr do Sol, ainda dá para tomar um banho no mar e acompanhar as rodas de capoeira que se formam na praia.

Pedra furada, em Jericoacoara (Foto: Kelvia Alves/Arquivo pessoal)

Depois de uma caminhada de 30 minutos, o visitante chega à Pedra Furada, portal formado na rocha pelos ventos e pelo mar. (Foto: Kelvia Alves/Arquivo pessoal)

Para ir até a Pedra Furada, pode se fazer uma caminhada de 30 minutos quando a maré está baixa. A formação rochosa tem um imenso portal feito pela erosão do mar e do vento. Outra opção para chegar até a Pedra Furada é ir de charrete ou a cavalo, o aluguel custa R$ 20. Em maré alta ou mesmo na volta, um caminho alternativo é pelo Serrote com uma vista superior da pedra e da praia. Como a caminhada pode durar mais de uma hora, ida e volta, o indicado é levar água e proteção para o sol.
De bugue pelas dunas e lagoas
Todos os dias, cerca de 200 bugueiros credenciados realizam passeios para lagoas e dunas ao redor do Parque Nacional de Jericoacoara. A maioria se concentra na Rua Principal e busca cliente na pousada ou hotel. Quem tiver sorte, ainda pode conhecer esses lugares com a única bugueira mulher de Jericoacoara, a maranhense Simone Silva Sousa. Ela mora em Jeri desde 1997. “Amo dirigir e conheço todas as dunas e lagoas da região ”, garante.

Simone conta que o passeio de bugue mais procurado é o de Tatajuba e custa R$ 180 (dividido entre quatro pessoas). Saindo às 9h da manhã, o passeio dura em média seis horas. O roteiro segue a vontade dos visitantes, mas geralmente começa no Rio Camboa e pode passar por uma região de mangues preservados.

Contadora de historia dona Delmira (Foto: Kélvia Alves/Arquivo Pessoal)

Delmira, moradora e bugueira de Tatajuba
(Foto: Dieggo Melo/Arquivo Pessoal)

Depois de uma travessia de balsa, do Mangue Seco para o Guriú, se chega na Velha Tatajuba, vilarejo soterrado pela areia. Dona Delmira, umas das moradoras e testemunhas do fenômeno, recebe os visitantes, contando histórias e mistérios do local. De lá, o destino são as dunas do Coqueiro Solitário e do Funil, onde muitos esquiam em uma pequena prancha de madeira, e, por fim, a Lagoa Torta. Os custos com as travessias de balsa (R$ 10) não estão inclusos no valor do passeio de bugue.

Quem prefere relaxar pode aproveitar a sensação deliciosa de ficar deitado em uma rede dentro da água morna da Lagoa do Paraíso, localizada em Jijoca de Jericoacoara. Essa atração faz parte do roteiro que ainda inclui a Lagoa Azul e a Lagoa do Coração. O passeio custa R$ 150 e também pode ser dividido entre quatro pessoas.

Sabores de todo mundo
Na vila, são encontradas dezenas de restaurantes. Tem do prato feito, com opções de peixe frito e de moqueca de arraia por R$ 6, até cardápio internacional em restaurantes mais refinados. Quem vai ao local não pode deixar de provar o tempero caseiro do Restaurante Dona Amélia, na Rua do Forró. Os pratos custam cerca de R$ 50 para duas pessoas.

Restaurante Naturalmente (Foto: Rodrigo West/Jeri360.com)

Restaurantes à beira mar fazem do jantar um
momento especial. (Foto: Rodrigo West/Jeri360.com)

Outra boa opção são os crepes e o açaí do Naturalmente, servidos em um ambiente agradável, de frente para praia. A proprietária Carla Arruda mora há 15 anos na vila se dividindo entre pranchas e fogões e resolveu ficar depois de passar um réveillon no local.

A torta de banana da Dona Rosa é um dos sabores irresistíveis de Jericoacoara, além de guardar uma boa história. Há 30 anos, a mulher circula de domingo a domingo pelas ruas vendendo pedaços da torta por R$ 3 cada. Com a produção desses doces, Rosa ajudou a sustentar os quatro filhos e até montou uma pousada. “Fico triste no dia em que eu não saio para vender minha torta de banana”, conta.

A receita leva ovos, açúcar, margarina, farinha de trigo, banana, canela e mel. “O segredo está na mão e na prática de 30 anos”, revela. Rosa oferece os doces em restaurantes e nas ruas das 15h às 18h.

Noite
Apesar de ter energia elétrica, a vila continua sem iluminação pública. A noite tem um céu estrelado e a lua que ilumina as ruas com ajuda das velas e luzes dos restaurantes, hotéis e casas. Se engana quem pensa que o movimento na praia se diminui com o cair do sol. Diversos locais e ritmos animam a madrugada de Jericoacoara.
Na Rua Principal, banquinhas vendem bebidas e coquetéis para quem quer circular, conversar e paquerar. O Sky e o Planeta Jeri são os points mais próximos da praia. Mais para dentro da vila, na Rua da Duna, o visitante pode se divertir com reggae no Mamma África. Na Rua do Forró, a pedida é curtir o ritmo tipicamente cearense no antigo forró do Seu Raimundo, hoje batizado de Recanto do Momento.

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Fonte: TV Verdes Mares

Roteiro na serra cearense une natureza, sabores e esportes radicais

Parque Nacional de Ubajara tem trilhas, grutas e passeio de bondinho.
Cidade da serra abriga um casarão de doces e licores.

imageRegião serrana na divisa com o Piauí abriga nove cidades, entre elas, Ipu, terra da índia Iracema do romance de José de Alencar, e Ubajara, que tem um parque ecológico cheio de cavernas e cachoeiras. (Fotos: Ardilhes Moreira/G1 e Setur/Divulgação)

Além do litoral invejável e da riqueza cultural do Sertão, o Ceará guarda cidades serranas. A chapada da Ibiapaba, a noroeste do estado, encanta pelo clima agradável, histórias e paisagens naturais. A cidade de Viçosa do Ceará, a 348 km de Fortaleza, pode ser a porta de entrada para um roteiro surpreendente na região, que inclui as trilhas e grutas do  Parque Nacional de Ubajara.

Viçosa do Ceará foi o primeiro município criado na Serra da Ibiapaba, em 1882, e um dos mais antigos do Ceará. Com uma temperatura média de 22°, a cidade é simples e acolhedora. A arquitetura e cultura de Viçosa unem elementos da colonização francesa e portuguesa e da forte presença indígena. No século XVII, o local recebeu um aldeamento indígena de padres jesuítas e foi moradia do Padre Antônio Vieira por seis anos.

Casarão de sabores
A visita à Casa dos Licores, no Centro de Viçosa do Ceará, é memorável. Na bodega de Alfredo Miranda, de 96 anos, são vendidos licores e cachaças artesanais. Mas se engana quem pensa que o lugar merece apenas uma passagem rápida. Os visitantes são convidados a entrar no casarão de um quarteirão, degustar 72 sabores de licor e ter a sorte de ainda ouvir os causos e sons do pífano de mais de 80 anos do Seu Alfredo.

Do fogão à lenha e do forno de barro de Dona Terezinha, casada há 60 anos com Seu Alfredo, também saem doces, geleias e irresistíveis sequilhos, bulins (biscoitos de nata) e petinhas (biscoitos salgados de goma). Com a idade avançada do casal, a filha Tereza Cristina administra a casa e ajuda a dar continuidade à tradição da família. “O segredo é que ainda fazemos a receita da forma tradicional quando ainda não tinha a facilidade dos ingredientes de hoje”, conta Tereza.

Teresa e Alfredo Mapurunga produzem licores e doces (Foto: Silvana Tarelho / Agência Diário)Na casa de Teresa e Alfredo, as paredes estão
cobertas por estantes tomadas de garrafas de licor.
(Foto: Silvana Tarelho/Agência Diário)

As geleias também acompanham a variedade dos licores. Ao todo, são 46 sabores e entre as favoritas estão as de pétalas de rosa e a de cachaça mineira. Os doces preferidos da clientela são de jaca e buruti. Os preços dos produtos vão de R$ 2 a R$ 20. Na Casa dos Licores, também pode ser encontrado um CD e um DVD com a história e as canções que Seu Alfredo.

Patrimônio histórico
Para conhecer e se apaixonar pela cidade, o passeio pode começar na Igreja Nossa Senhora da Assunção. A igreja é a primeira do Estado do Ceará, foi fundada em 1700 e construída por índios e jesuítas. Em 2002, a igreja foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e exibe as características originais. No interior do templo de estilo barroco, há detalhes do teto ao chão, como os painéis pintados no período colonial no forro em madeira na capela-mor e os degraus de madeira e piso com antigas tijoleiras.

Vale andar pelas ruas, conversar com os moradores, sentar em bancos de praças e parar para admirar a história de um pequeno lugar que tem parte da história do Brasil. No Centro Histórico da cidade, estão os casarões tombados pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Nacional (Iphan) como o Sobrado da Marcela, construído em 1890 com recursos enviados por Dom Pedro II, e o Casarão dos Pinhos, com 186 portas e janelas, do tempo em que a cidade ainda era a Vila Viçosa Real da América. Uma das praças é batizada com o nome de um ilustre filho do lugar, Clóvis Beviláqua. A casa onde o jurista morou hoje é um memorial.

Cidade de Viçosa do Ceará (Foto: Prefeitura de Viçosa/Divulgação)Casario de Viçosa do Ceará, uma das mais antigas cidades do Ceará, e a Igreja do Céu, no fim de 334 degraus. (Foto: Prefeitura de Viçosa/Divulgação)

Não há quem resista a não ir e não levar um utensílio doméstico ou uma peça de decoração do Sítio Tope, a 3 km da sede de Viçosa do Ceará. A arte de moldar o barro e passar para as outras gerações deu a Dona Francisca, artesã há mais de 50 anos, o título de mestre da cultura popular, concedido pelo governo estadual.

No fim de uma escadaria de 334 degraus, o visitante encontra a Igreja do Céu, ponto mais alto da cidade com 990 m de altitude. No caminho a via sacra esculpida pelo artista plástico cearense João Frutuoso rende ótimos registros fotográficos.

Grutas
Ubajara, a 212 km de Fortaleza, é um lugar imperdível para ecoturismo. O Parque Nacional de Ubajara, a 3 km do centro da cidade, com 563 hectares, abriga grutas, trilhas, cachoeiras e o famoso bondinho que transporta os visitantes a belezas subterrâneas. Onze cavernas estão catalogadas. A Gruta de Ubajara é a única aberta ao público e revela galerias e salas com formações de estalactites e estalagmites, como a Pedra do Sino, a Sala das Rosas e a Sala das Sete Maravilhas.
“A maioria dos nomes das pedras e salas tem relação com o desenho das formações rochosas”, explica o guia Ricardo Menezes, que trabalha no parque há 11 anos. Atualmente, o Parque Nacional de Ubajara conta com 15 guias credenciados que acompanham os passeios. “Temos roteiros para todos os perfis de visitante”, diz. Para chegar até a gruta, o caminho pode ser feito por trilhas, teleférico e até de bicicleta, se o turista tiver experiência. A viagem de bondinho custa R$ 8 (ida e volta) e o serviço de guia é R$ 4.

O guia Ricardo indica o roteiro a pé 7 km pelas trilhas até a gruta. “É para quem gosta de turismo de aventura. Exige preparo físico porque toda a trilha é de pedra”, conta. Com a duração de três horas e meia, o visitante passa pelo mirante da Gameleira, onde há uma das vistas panorâmicas mais lindas de Ubajara, e segue para um banho relaxante na cachoeira do Cafundó com quedas d'água com mais de 70 m de altura. A volta pode ser feita de teleférico.
O Parque Nacional de Ubajara é aberto de terça-feira a domingo, das 8 h às 17 h. O teleférico começa a funcionar a partir das 9 h. A viagem de bondinho custa R$ 8 (ida e volta) e o serviço de guia é R$ 4. Para chegar de Fortaleza, o visitante deve seguir pela BR-222 até a cidade de Tianguá e depois percorre 17 km pela CE-075. De Ubajara até o Parque, dá para ir a pé numa caminhada de 30 minutos.

Ipu, cenário de José de Alencar
No pé da Serra da Ibiapaba, a 294 km de Fortaleza, está a Bica do Ipu, eternizada pelo escritor José de Alencar. No romance Iracema, o autor cearense conta que a “índia dos lábios de mel” saía todos os dias de Fortaleza para se banhar nas águas da bica.
Em tupi, Ipu significa água que cai do alto. A queda d'água de 180 metros de altura é um dos locais mais privilegiados para a prática de rapel. Atualmente, a área está interditada para obras, mas, segundo a prefeitura, o local deve voltar a receber visitantes no carnaval de 2012.

Quem chega a Ipu, não pode deixar de conhecer a Igreja Nossa Senhora do Desterro. A Igrejinha do Quadro, como é conhecida, foi construída em 1765. Outro monumento conservado é a Estação Ferroviária de 1894 que fazia parte do conjunto arquitetônico da Estrada de Ferro do município de Sobral. O local foi restaurado e, atualmente, é a sede da Secretaria de Cultura de Ipu, aberta à visitação.

Bica do Ipu, na serra da ibiapaba (Foto: Kiko Silva/ Agência Diário)Bica do Ipu, queda d'água de 180 m de altura
(Foto: Kiko Silva / Agência Diário)

Boa estrutura
Na divisa com o estado do Piauí, Tianguá tem boa infra estrutura para receber visitantes . Por isso, a cidade, a 335 km de Fortaleza, é a melhor opção de hospedagem da região e está a uma distância pequena de Viçosa do Ceará e Ubajara. Além de receber bem quem passa, Tianguá também conta com atrativos para quem quer ficar.

O município é rico em cachoeiras, trilhas e mirantes. No Parque Ecológico da Floresta, boas opções são a Bica do Pinga, a 5 km da sede do município, e a Cachoeira de Sete Quedas, a 3 km da sede, um encontro de cachoeiras devido à formação em degraus. Em Tianguá, há ainda uma pista de decolagem de voo livre com uma altura de 600 metros no Sítio do Bosco, a 8 km do Centro da cidade. O local é aberto durante todo o dia, conta com uma piscina natural e restaurante, além de área para camping e chalés. A visitação custa R$ 5,00 e a diária do camping é R$ 20,00.

Por ser uma cidade polo, Tianguá também reúne produtos artesanais vindo de toda a região. Entre as iguarias mais procuradas, estão rapadura, batidas e doces de frutas. Artesanatos de renda e palha também são muitos vendidos como lembranças da Serra da Ibiapaba e do Ceará. O Centro de Artesanato do Terminal Rodoviário Governador Virgílio Távora fica no km 310 da BR-222, e no Sítio Córrego, no km 309 do BR-222, próximo ao posto Ibiapaba.

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Fonte: G1-Ceará

Itarema no mundo colorido de seu Murilo

Em cartaz no Sobrado Dr. José Lourenço com a mostra Praias do Ceará e Outras Vistas, Murilo Teixeira, ex-integrante da importante Sociedade Cearense de Artes Plásticas, contou de pinceladas, viagens e de hábitos amanhados em 82 anos de vida

image Embora goste das máquinas fotográficas, Seu Murilo Teixeira não larga os pincéis por nada na vida (SARA MAIA)

Seu Murilo Teixeira não costuma fazer caso. Aos 82 anos, completos no final de setembro, perseverou em práticas suas mesmo com as dificuldades a lhe bater à porta: manteve-se firme no apreço a paisagens bucólicas e praieiras e continua atendendo clientes na bodega que mantém dentro de casa. Das pinceladas de barcos e sol, Seu Murilo tem muito gosto, como contou na manhã do último sábado, quando muitas famílias se preparavam para as festas natalinas.

“Durmo bem, almoço bem. Já me disseram que eu não entregasse os 82, pareço muito menos!”, sorriu Seu Murilo, quando contou sobre o dia da abertura da exposição Praias do Ceará e Outras Vistas, em cartaz no Sobrado Dr. José Lourenço. A mostra é mais uma de suas individuais, de tantas perdidas na memória. “Uma das primeiras foi quando Parsifal Barroso era governador. A mulher dele, Olga, veio aqui e pegou 30 quadros. Vendeu tudo”. O “aqui” é a casa em que mora com a mulher e onde criou o casal de filhos (a menina faleceu há cerca de 10 anos).

“Essa casa era da Maria Luisa (Fontenele), que foi prefeita de Fortaleza, você me acredita?”. A prestação de 92 cruzeiros não foi esquecida, mas a estrutura mudou pouco. No quintal, um pé de limão oferece agrados para as visitas, e vez por outra ele serve de cenário. “Às vezes, aparecem umas meninas para bater fotos de biquíni. Chegam aqui e dizem: ‘Seu Murilo, eu comprei um biquíni novo...’”. Isso porque a bodega oferece o serviço de retrato 3x4 e uma impressora que prescinde de computador.

A pintura começou quando Seu Murilo foi trabalhar numa empresa na qual a maioria dos colegas eram integrantes da Sociedade Cearense de Artes Plásticos, a Scap. Ele logo depois integrava o grupo. “A Scap era uma coisa de amizade”. Eles viajavam juntos, muitas vezes, para pintar. O estímulo era como uma flecha de fogo. “Hoje eu ainda viajo. Até ano passado ia de carro, sozinho. Mas é muito diferente”. O sol ajudava o desenho, já as cores eram resguardadas na retina, apenas. “De noite que eu pinto, de noite que eu coloco as cores”.

Pacatuba, Itarema, Barra do Ceará, Itapebuçu, Quixadá foram algumas das cidades da rota da pintura. Em Itapebuçu a estadia era mais demorada, coisa de um mês, por conta de uns amigos. Quando as cidades e as gentes começaram a mudar, foi até sugerida uma mudança de estratégia: “O Aldemir Martins, há muitos anos, falou que eu adotasse o sistema da Europa, que era tirar uma foto da paisagem e só depois pintar”. Não funcionou, que hábito é coisa entranhada na pele.

Da arte feita hoje, seu Murilo não é lá apreciador. “Como as pinturas mudaram... Tem cada coisa! A abstrata é até aceitável. Salão de Abril eu participei até cinco anos atrás, depois apareceu umas...”, lamenta. E não completa a frase em palavras, mas um jeito de corpo que não demonstra satisfação. Do tipo que ele gosta está pendurado em suas paredes, em cores fortes e paisagens sinceras. “Gosto muito de barcos, tem um jeito de pintar diferente”, aponta Seu Murilo.

O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A Sociedade Cearense de Artes Plásticas foi criada em 1944 e confluía pensamento e prática de artes. A partir dela, o Salão de Abril se consolidou. Dela surgiu, também, o grupo Clã, que reunia escritores e artistas plásticos. Dentre eles, nomes como Estrigas, Sérvulo Esmeraldo e Murilo Teixeira.

SERVIÇO
Praias do Ceará e Outras Vistas

O quê: Mostra de pinturas de Murilo Teixeira
Quando: até 4 de janeiro de 2012
Visitação: terça a sexta-feira de 9 às 19h, sábado de 10 às 19h e domingo de 10 às 14h
Onde: Sobrado Dr. José Lourenço (rua Major Facundo, 154 – Centro)
Outras info.: (85) 3101 8826

Júlia Lopes
julialopes@opovo.com.br

Fonte: O Povo

domingo, 25 de dezembro de 2011

Feliz Natal e Próspero Ano Novo

A verdade de Graça Martins

Artista das mais conhecidas da dança cearense, Graça Martins dedicou 2011 à ousadia. Em parceria com Andrea Bardawil, ela deixou seu corpo guiar-se por pensamentos contemporâneos, questionando conceitos e limites

Foto: Divulgação

Poucas pessoas são tão queridas na dança cearense quanto Graça Martins. Graça Martins é, sobretudo, uma artista popular. Ela é tão popular que não chama suas montagens de espetáculo, mas, sim, de show. Graça gosta de gente, gosta de festa, gosta de ritmo, gosta de movimento, gosta de palmas, gosta de brilho e gosta de cor. Nascida em Barbalha, aos 19 anos veio morar em Fortaleza e o amor a levou ao Grupo de Tradições Cearenses. Do folclore tido como nosso, sua cabeça inquieta foi parar na Espanha e, desde 1993, ela comanda o Grupo Tablado, especializado em dança flamenca.

Ali, parece ter encontrado sua felicidade e sua vocação. Nesses últimos 18 anos, embora continue ainda dedicada às tradições populares do Ceará e do Nordeste, Graça Martins se assumiu e se exibiu como uma artista do flamenco. Isso é evidente. É algo dado. Não há como negar. No entanto, é justamente isso que não vê – ou demora demais a ver – a coreógrafa Andrea Bardawil, responsável por Graça/Evidência - Um de Percurso, produção desenvolvida como parte da última edição do projeto Rumos Dança, do Itaú Cultural, e um dos trabalhos mais comentados do ano nos palcos locais.

Na ânsia por querer experimentar o diálogo entre códigos e ideias da dança contemporânea com a dança popular, Andrea Bardawil se apressa e se equivoca no entendimento que demonstra em cena ter das tradições populares. Ela cai na tentação recorrente de procurar distinguir algo que é autêntico, natural, de algo que é aprendido, incorporado. Andrea vê uma naturalidade na dança “popular” de Graça Martins que definitivamente não existe. Graça dança xote, coco e baião, sabe cantigas de roda e outras brincadeiras populares, não porque nasceu numa cidade do interior. Ela domina esses códigos porque se esforçou para isso, tanto quanto ou mais se esforçou para dançar e inventar o seu flamenco.

Absolutamente documental, bem ao estilo do trabalho do coreógrafo francês Jérôme Bel, nome recorrente em boa parte dos principais festivais de dança do País, Graça/Evidência - Um de Percurso explora a história pessoal de Graça Martins, mas não consegue dar conta da complexidade de sua personagem-central. Representando o universo da chamada dança contemporânea, Andrea Bardawil exige de Graça uma série de experiências que, em cena, se tornam arrogantes e pretensiosas. Num trecho, Graça repete um fragmento de uma dança popular e diz que demorou muito tempo para entender que aquilo era uma partitura de movimento. Noutro momento, é cobrada pela coreógrafa a conquistar autonomia criativa.

Entender, codificar e decodificar sua arte, seu movimento, está longe de ser uma preocupação pertinente para uma artista como Graça Martins. O melhor de tudo é que ela, Graça, sabe bem disso. “Eu já completei 25 anos duas vezes, estou com 55, e sei bem o que quero. Foi muito importante me aproximar do pensamento contemporâneo, vejo o corpo hoje com outros limites, mas não quero a dança do conceito. Ela não me diz nada. A dança contemporânea tem a pretensão de saber de tudo e isso coloca a gente no limiar da amargura. Não quero isso para mim, não quero essa prisão”, resumiu assim essa mais recente experiência de montagem.

Longe de ser um espetáculo fraco do ponto de vista estético, Graça/Evidência - Um de Percurso é frágil naquilo que lhe fundamenta. Aplaudi, ao final, com a sensação de que vi mais Andrea Bardawil em cena, que propriamente Graça Martins. Não que isso seja ruim, mas faltou o equilíbrio que imaginei ter fomentado o processo criativo. Felizmente, a montagem se despede do público com uma Graça bem mais à vontade com ela mesma. De castanholas às mãos, de cara pintada e sapateando, com o vigor e o carisma que lhe são tão característicos. Intensa, Graça se despede na corda-bamba, como uma boa equilibrista, mas absolutamente consciente dos seus limites e do que precisa fazer para dominar a iminência da queda.

Magela Lima
magela@opovo.com.br

Fonte: O Povo