quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Literatura Cearense - Antenas da raça

Abelardo Montenegro, Moreira Campos e Sânzio de Azevedo serão reeditados pela Secretaria de Cultura

image Sânzio de Azevedo: inéditos em edições lançadas pela Secult FOTO: MARÍLIA CAMELO

Os autores e suas estantes. Estão sempre lá nas fotos de divulgação, perpetuando um clichê impregnado de simbolismos. A princípio, aquelas mesmas prateleiras foram nutridas pelos livros de referência, a biblioteca particular, mas, para os escritores de longa data e dedicação, o acervo que emoldura a fotografia logo passou a ser composto por seus próprios títulos, assim no plural, coroando o triunfo do ofício nato.

Cearenses como Sânzio de Azevedo, que protagoniza a tradicional foto na estante, serão alvos de homenagem e registro neste ano, através de iniciativas da coordenação editorial da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Assim, livros inéditos e relançamentos deverão complementar o setor "Literatura Cearense" de muitas estantes das bibliotecas públicas e das universidades em todo o Estado. Para 2012, uma seleção de gigantes intelectuais, "antenas da raça", como chamava os poetas o escritor norte-americano Ezra Pound.

Homenagem

O primeiro dos livros comemora o centenário de um dos autores que mais publicou e investigou a cultura do Ceará: Abelardo Montenegro. Jornalista, sociólogo e economista, Abelardo dedicou a vida a registrar em livros, entre outros, os típicos personagens sertanejos: o beato, o penitente, o vaqueiro e, em seu derradeiro livro publicado em vida, os profetas da chuva. Pesquisador voraz, Abelardo faleceu em abril de 2010, mas deixou pronto material suficiente para, pelo menos, uma dezena de inéditos.

Entre os 41 títulos de sua bibliografia, produziu um importante ensaio acerca da literatura cearense, conceituando as particularidades do romance desenvolvido em terras alencarinas e destacando principais autores. O clássico "O Romance Cearense" foi a obra escolhida para receber nova edição da Secult.

Segundo o coordenador editorial da pasta, o escritor Raymundo Netto, a proposta de relançar a obra surgiu ainda em 2010, por iniciativa de Gildácio Sá, prefaciador de boa parte dos livros do amigo. "Gildácio é uma das pessoas que mais tem promovido a obra de Abelardo depois do seu falecimento. Conversamos e juntos resolvemos relançar ´O Romance Cearense´ na Coleção Nossa Cultura, na série Memórias", explica Raymundo Netto.

Lançada em meados dos anos 50, a obra foi bastante elogiada pela crítica, sobretudo por conta da pesquisa minuciosa, que disseca os estilos de romance desenvolvidos no Estado (indianista, de seca, psicológico, de costumes, sertanista, proletário...), e pelo registro dos principais romancistas cearenses, partindo do século XIX até o ano da publicação do ensaio, passando por José de Alencar, Franklin Távora, Manuel de Oliveira Paiva, Adolfo Caminha, Rodolfo Teófilo, Antônio Sales, dentre outros.

De acordo com Raymundo Netto, a intenção da Secult é, inclusive, posteriormente, convidar pesquisadores para lançar uma continuidade à pesquisa de Abelardo, a partir dos anos 50. "Seria muito interessante poder montar um material com estudiosos que façam o registro dos outros romancistas cearenses surgidos depois", complementa.

Fortaleza

Outro nome que recebe homenagens neste ano é Otacílio de Azevedo, o pintor e poeta cearense. Natural de Redenção, o escritor, ainda que reconhecido sobretudo no campo das artes plásticas, marcou a literatura de e sobre Fortaleza ao produzir um registro memorialista ainda hoje considerado referência para quem estuda a história da cidade.

"Fortaleza Descalça", lançado em duas edições, mas ambas de baixa tiragem, recebe da Secult uma revisão, com atualização e mais imagens de uma Fortaleza pertencente ao fim do século XX. Esta, aliás, é uma das surpresas da edição: a faceta de retratista do escritor foi explorada no livro, que deve trazer algumas de suas obras.

A previsão do relançamento está marcada para abril: uma homenagem ao aniversário de Fortaleza, que no dia 13 do mês citado comemora 286 anos. "Esta é a primeira vez que está sendo feita uma tiragem maior desse livro, que hoje só deve ser encontrado em raros sebos. Nele, Otacílio de Azevedo comenta sobre pontos principais de uma Fortaleza que ele conheceu e contemporâneos, como Leonardo Mota e Quintino Cunha", descreve Raymundo.

Pesquisa

Os relançamentos, no entanto, só tiveram sucesso por meio de importantes parcerias. E um nome se destaca entre elas: Rafael Sânzio de Azevedo. O pesquisador, poeta e ficcionista foi um dedicado parceiro de Raymundo Netto nas leituras, pesquisas e revisões das obras raras selecionadas. Uma outra em que sua participação foi essencial é não menos cobiçada: "Moreira Campos: obra completa". O compêndio que pretende reunir todo o trabalho de um dos maiores contistas cearenses não poupa esforços.

"Serão três volumes, também parte da Coleção Nossa Cultura, que deverá conter, inclusive, ´A Gota Delirante´, o último livro de Moreira Campos que ele não conseguiu publicar. Ele tentou, levou a São Paulo, mas nunca conseguiu. O livro ficou parado, mas falamos com o Sânzio e com Neuma Cavalcante, que é curadora da obra do Moreira, e conseguimos fazer. A previsão é que saia ainda este ano", revela Raymundo Netto. E, com justiça, também outros dois livros inéditos devem compor a lista de lançamentos de autores cearenses: "Rodolfo Teófilo e a saga de Jesuíno Brilhante", de Sânzio de Azevedo, contemplado com o edital Prêmio Literário Para Autor Cearense, lançado em 2010; e "Os Acangapebas", o primeiro livro de contos de Raymundo Netto, que sai pelo II Edital de Artes da Secultfor, na categoria Criação Literária.

Também em parceria com Raymundo, o ensaio de Sânzio de Azevedo é uma imersão na obra "Os Brilhantes", de Rodolpho Teófilo, centrado na configuração do cangaceiro Jesuíno Brilhante. No romance naturalista, Rodolpho atua como um narrador onisciente, dissecando o comportamento e o caráter dos indivíduos.

No inédito de Sânzio, o cangaceiro gentil é mais uma vez observado. Uma das bandeiras mais fortes do autor é desmitificar a ideia de que o romance se passa no Ceará ou de que Jesuíno teria estado em nossas terras. Sânzio explora questões do cangaço e esmiúça o personagem Brilhante com a intimidade de um quase "parentesco", como define Raymundo. O lançamento está previsto para março.

Já "Os Acangapebas", do próprio Raymundo Netto, é a gestação de um livro que já existia e repercutia muito antes de saltar para o papel. "Há mais de cinco anos que mexo nesse livro e comento sobre ele, então as pessoas me perguntavam quando ia sair. Não me considero essencialmente contista, então estava procurando uma linha que achasse realmente interessante de ser lançada", explica o autor.
Pelo jeito, a vertente procurada foi encontrada e está descrita já no título. Acangapebas, em Tupi-Guarani, significa "os cabeças chatas", uma referência ao afamado apelido dos cearenses. "O livro é composto por histórias de personagens que poderiam ser cearenses, ele fala da nossa tribo", detalha Raymundo.
As obras lançadas pela Secult, incluindo o inédito de Sânzio, deverão ser encontradas em todas as bibliotecas públicas do Estado. Através da parceria acertada com as Edições UFC, acredita-se que uma parte da tiragem das obras completas de Moreira Campos poderá ser adquirida.

SAIBA MAIS

"O Romance cearense", ensaio escrito por Abelardo Montenegro, será relançado ainda neste primeiro semestre. Nele, o autor trata dos tipos de romances produzidos no Estado e dos romancistas cearenses.

"fortaleza Descalça", de Otacílio de Azevedo, está previsto para abril e deve comemorar o aniversário de Fortaleza e os 120 anos do autor, registrou na rara obra a cidade em fins do Século XX.

"Moreira Campos: obras completas", composta por três volumes, tem lançamento previsto ainda para o primeiro semestre do ano. O conjunto de trabalhos do contista cearense deverá incluir o livro inédito "A Gota Delirante".
"Rodolpho teófilo e a saga de Jesuíno Brilhante", de Sânzio de Azevedo, analisa o romance "Os Brilhantes", de Teófilo. A obra tem lançamento previsto para fevereiro ou março.

"Os Acangapebas" é o primeiro livro de contos de Raymundo Netto, vencedor do II Edital de Artes da Secultfor. Previsão de lançamento também entre março e abril.

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Acaraú beneficiado com política para o semiárido nordestino

imageFoto: Divulgação

O Ceará dispõe de novo pleito para negociar com o governo federal: a inclusão de mais 31 municípios na faixa beneficiada com uma série de atrativos oferecidos pela política para o semiárido nordestino. A alteração, se aprovada, poderá ser feita por decreto da presidente da República.

O Estado encontra-se com 85% de seu território encravado na faixa de aridez regional, nela englobando 150 municípios, distribuídos por 148 mil km². Essa classificação foi promovida pelo Ministério da Integração Nacional, em 2005, com base na legislação vigente. Antes das mudanças, 93% das áreas geográficas cearenses se enquadravam como típicas da semiaridez.

Como surgiram novos fundamentos técnicos para enquadrar as regiões afetadas por questões climáticas, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos e o Banco do Nordeste promoveram os estudos objetivando propor ao governo federal um novo enquadramento. A delimitação pretendida objetiva corrigir distorções e injustiças.

As regiões semiáridas do Nordeste brasileiro são contempladas com programas de investimentos governamentais, de crédito agrícola com taxas subsidiadas, da concessão de bônus por adimplência e por renegociações da dívida agrícola. Os incentivos fiscais concedidos às indústrias instaladas no semiárido são mais elevados, estimulando a sua opção por essas áreas críticas e mais investimentos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste.

Há, pelo menos, três parâmetros essenciais, fixados pelo Ministério da Integração Nacional para a caracterização de uma cidade inserida no semiárido: a precipitação pluviométrica anual inferior a 800 milímetros; o município ter uma probabilidade de seca maior do que 60%; e a evapotranspiração na cidade ser pelo menos duas vezes maior do que o índice pluviométrico.

O novo estudo da Funceme e do BNB adiciona outros critérios classificatórios, como vegetação, solo, relevo e hidrologia de cada localidade. Esses acréscimos poderão excluir três municípios atualmente figurando na ampla faixa de aridez. São eles: Mulungu, Pacoti e Guaramiranga, situados no Maciço de Baturité.

Eles não se enquadrariam nos requisitos geográficos da classificação, em face de suas condições privilegiadas na região serrana. Ainda assim, a Secretaria de Desenvolvimento Agrário admite a hipótese da adoção de outras soluções para compensar possíveis perdas.
Ampliada a faixa da semiaridez no Estado, os municípios beneficiados sairiam de 150 para 181, neles incluídos Fortaleza; comunidades praieiras como Acaraú, Aquiraz, Barroquinha, Beberibe, Camocim, Cascavel, Eusébio e Fortim; áreas de transição como Maracanaú, Bela Cruz, Granja, Guaiúba, Chaval, Marco; regiões sertanejas como Tururu, Moraújo, São Luiz do Curu; e Viçosa, na Ibiapaba.
A divisão geográfica do Ceará tem exemplos peculiares como Trairi, em torno do qual se localizam praias belíssimas, embora o município seja marcado por uma extensa faixa de aridez. O mesmo fenômeno do tempo se repete em Jijoca de Jericoacoara, município-berço de Jericoacoara, arrolada, internacionalmente, entre as cinco praias consideradas como as mais bonitas.

Ser marcado pela aridez não é vantagem. O essencial, nesse caso, é o esforço governamental para fazer de um problema crucial fator de mudança ambiental. O desenvolvimento sustentável é compatível com regiões marcadas pelas condições desfavoráveis da natureza. Isso é o que se busca com esse enquadramento.

Fonte: Diário do Nordeste