sábado, 12 de março de 2011

Poética da vida

A exposição "Sob o Peso dos Meus Amores" exibe mais de 300 obras, muitas inéditas, do artista visual Leonilson. A mostra abre na próxima quarta no Itaú Cultural de São Paulo

Uma poética traçada pelo desejo (quase uma necessidade), de captar a essência da vida. Costurada em meio a fragmentos íntimos de um homem e de um artista movido a pulsão irreprimível de criar. Em Leonilson a arte se transforma em puro sentimento, luminoso, sincero e apaixonante. Sem máscaras e sem rodeios.

O artista compôs trabalhos autobiográficos, povoados por afetos, palavras, poesia, desenhos, pinturas, bordados e instalações. Elaborou uma espécie de arquivo de vida utilizando sua produção como suporte, além de outros mecanismos que também serviam a catalogação de seu cotidiano, a exemplo de: agendas, diários, cadernos e fitas gravadas.

Na década de 80, Leonilson fez parte da geração que revolucionou o meio artístico brasileiro com a retomada da pintura. Mas, é nos primeiros anos da década de 90, que ele se firma como um de nossos destaques no panorama cultural com uma obra contundente, debruçando-se sobre os dramas e as angústias do homem contemporâneo por meio de uma produção que tinha nos traços e tonalidades delicadas dos desenhos e fragilidade dos bordados sobre tecidos como o voile, uma nova temporalidade para sua obra.

Retrospectiva

Diante de um universo tão amplo, os curadores Bitu Cassundé e Ricardo Resende, que também coordena o Projeto Leonilson, desde 1996, vêm se dedicando há seis meses a curadoria da exposição "Sob o peso dos meus amores", que abre no próximo dia 16, no Itaú Cultural, na cidade de São Paulo.

Segundo Cassundé, a mostra, que recebe o nome de uma das obras do artista, conta com mais de 300 trabalhos, instalação, debates e a oficina de animação Click Play, para crianças, onde elas aprenderão a criar personagens em stop motion e produzir vídeos inspirados nas obras da exposição.

Paralelo a mostra haverá a apresentação dos espetáculos de dança "O tempo da paixão ou O desejo é um lago azul" (2004), da Companhia da Arte Andanças de Fortaleza, coordenada pela coreógrafa Andréa Bardawil; e "El Puerto" (2006) e "Dedicate" (2010), de Marcos Sobrinho, todos eles inspirados na produção de Leonilson.

A mostra também se expandirá para fora do espaço Itaú Cultural. A partir do dia 20 de março, será remontada a instalação "Sobre duas figuras" (1993), mais conhecida como "Capela do Morumbi", o local onde foi projetada pela primeira vez. Essa é uma obra póstuma que não chegou a ser vista pelo autor, que faleceu pouco antes.

"A exposição tem como eixo temático alguns aspectos estudados por mim na minha dissertação de mestrado. Assim, Ricardo e eu buscamos explorar como a palavra se localiza na obra de Leonilson, a forte ligação taxinômica em sua produção, e a ideia da obra como um grande arquivo, como a vida foi projetada e construída nela", explica o curador Bitu Cassundé.

Para Ana Lenice, irmã do artista e diretora do Projeto Leonilson, a exposição é resultado da parceria da instituição com o Itaú Cultural. "O Itaú estar digitalizando nosso material impresso. A parceria já faz um ano. A exposição traz muitas novidades, até mesmo para mim. Há muitas obras que só tinha visto por fotografias, como dois desenhos de Leonilson que vem do MoMA de Nova York. Há também obras dos acervos do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna de São Paulo e de colecionadores particulares. Vejo a exposição com muita emoção", diz.

A amiga e curadora Dodora Guimarães também anseia em ver a maior individual de Leonilson já realizada. "Fui mais que amiga de Leonilson, eu fui quem o representei aqui em Fortaleza. Nós começamos praticamente na mesma época. Ele era muito intenso em tudo aquilo que fazia. Leonilson parecia que tinha pressa de viver, tudo na vida dele acontecia rápido. Ele era dono de uma pintura livre, lúdica e alegre. Leó é um artista muito interessante, ele foi a luta, tinha vontade de mostrar seu talento", ressalta.

Outros destaques

"Sob o peso dos meus amores" traz ainda como destaque o autorretrato "Mirror", assemblagem de feltro bordado e com costura, realizado por Leonilson nos anos 1970, e a vinda pela primeira vez ao Brasil da coleção do também artista e grande amigo Albert Hien.

Pela sua dimensão e importância, esta coleção vinda de Munique ocupa todo o primeiro subsolo do espaço expositivo do instituto e apresenta 71 obras - quatro de autoria de Hien, 66 assinadas por Leonilson, e uma instalação nunca antes exibida no país: "How to Rebuild at Least One Eight Part of the World" feita a quatro mãos pelos dois artistas. A maioria das obras são inéditas.

Segundo Ricardo Resende, o diálogo que Leonilson e Hien estabelecem em seus trabalhos impressiona. "É como se fossem um espelhamento de obras. Eles se reviram um na produção do outro. A diferença é que em Hien impera o sentido da forma; em Leonilson o que pesa mais são as relações interpessoais, mas sobre as mesmas formas".

A distribuição das obras de Leonilson é estruturada a partir de mapotecas, módulos onde estarão expostos trabalhos do artista, em que o público poderá manipulá-los. Haverá trabalhos nas paredes e a projeção de oito das agendas do artista que foi recentemente digitalizada pelo Itaú Cultural. (ACS)

MAIS INFORMAÇÕES

Exposição " Sob o peso dos meus amores", com curadoria de Bitu Cassundé e Ricardo Resende. Em cartaz até 29 de maio no Itaú Cultural, em São Paulo. Entrada gratuita.

A arte de Leonilson no Espaço Cultural Unifor

Em 2009, o artista cearense teve obras expostas no Anexo do Espaço Cultural Unifor. A individual contou com cerca de 40 obras e 70 objetos colecionados por ele

Na exposição "Diário de Bordo: uma viagem com Leonilson", realizada em fevereiro de 2009,o Anexo do Espaço Cultural da Universidade de Fortaleza (Unifor) trouxe um pouco do universo lúdico e do espírito colecionador do artista visual.

A mostra levou ao público cearense cerca de 40 trabalhos e 70 objetos colecionados por ele, distribuídos entre brinquedos de natureza variada: navios, aviões, macaquinhos de madeira, mapas, jogos, entre outros. Dispondo ainda de recursos audiovisuais, como vídeo.

Segundo Ricardo Resende, que, também, assinou a curadoria desta exposição, a individual funcionou como ponto de partida para crianças e adolescentes, artistas em formação, educadores e a todos que se interessem por arte, construírem suas próprias reflexões sobre a produção contemporânea. Tudo numa proposta de interação lúdica-educativa com cores, desenhos e formas.

Além disso, possibilitou o conhecimento sobre as obras autobiográficas de Leonilson. "Leó desde pequeno viajava muito, ele era um indivíduo do mundo, um imigrante por excelência. Por isso, a exposição faz referência ao seu caráter de ser viajante. Os brinquedos presentes na mostra foram comprados por ele, nos diversos lugares por onde passou. Serviam, inclusive, de inspiração para alguns de seus trabalhos", explicou o curador na época.

ANA CECÍLIA SOARES
REPÓRTER

Cantinho da Dalinha Blog de Dalinha Catunda de Ipueiras-Ce

Sou Dalinha, sou da lida.
Sou cria do meu Sertão.
Devota de São Francisco
E de Padre Cícero Romão.

Sou rês da Macambira,
Difícil de ir ao chão.
Sou o brotar das caatingas,
Quando cai chuva no chão.

Sou cacimba de água doce,
Jorrando em pleno verão.
Sou o sol quente do agreste.
Sou o luar do sertão.

Minha árvore é mandacaru.
Meu peixe, curimatã.
Macaxeira e tapioca,
É meu café da manhã.

Sou uma bichinha da peste,
Meu ídolo é Lampião.
Sou filha das Ipueiras.
Sou de forró e baião.

Sou rapadura docinha,
Mas mole eu não sou não.
Sou abelha que faz mel,
Sem esquecer o ferrão.

Fonte: Cantinho da Dalinha

quinta-feira, 10 de março de 2011

Cego Aderaldo, o mais lírico violeiro e cantador do Brasil

FOTO: DIVULGAÇÃO

J. Lindemberg de Aquino
Cem anos já são passados do nascimento do mais famoso dos poetas cantadores e violeiros do Nordeste, o Cego Aderaldo. Cearense do Crato, teve por berço o cenário emoldurado de verdes e azuis da Serra do Araripe o cascatear de fontes e regatos cristalinos e a terra histórica, de mártires e de heróis.

Poeta e repentista, o verso saia-lhe natural, rude, rústico e espontâneo, seja a entoar louvores ou a ferrotear os adversários dos incansáveis desafios sertanejos, seja em epigramas vorazes contra os que lhe testavam a argúcia e a inteligência, seja na exaltação das belezas da terra, dos sentimentos diversos ou nos repentes gozados, humorísticos, galhofeiros e ferinos que faziam a delícia dos auditórios.


Na poesia de Aderaldo cintilam faiscações primorosas de uma inteligência inconfundível.

Tinham os seus versos configurações geniais, mostrando a lucidez de um espírito observador e analítico, como esses:

O filho do alfaiate — seu brinquedo é com retalho,
O filho do jogador gosta muito é do baralho,
E o filho do preguiçoso só dorme bem no borralho,
O filho do homem praiano, seu vício é comer areia,
O filho da costureira sua roupa é muito feia,
Porque é feita de taco
Que sobrou da roupa alheia
O filho do carteiro — brinca com caixão e saca,
O filho do feiticeiro só fala em urucubaca,
O filho do vaqueiro junta ossinhos, chama vaca...
O filho do ferreiro, seu brinquedo é uma safra,
O filho do pescador aprende a fazer tarrafa,
E o filho do cachaceiro nasce lambendo garrafa...

Falando sobre a terra natal de Aderaldo, o grande Jáder de Carvalho diz:
"Cego Aderaldo... de onde era filho? Ele mesmo, nas suas memórias aponta o Crato como o chão onde a parteira lhe apanhou o corpinho nutrido. Mas a terra mesmo da gente não é aquela onde nasce o corpo: é aquela onde nasce a alma. E a alma do cantador famoso veio à luz em Quixadá. Foi na cidade das pedras na cidade do chão duro e salgado, que veio ao mundo a alma do mais agressivo o mais lírico violeiro e cantador do Brasil.

A alma da gente, ó meu leitor — continua Jáder de Carvalho - não brota logo com o corpo, entre as dores do parto: brota na hora em que o menino principia a entender, a sentir o mundo, o céu, o canto dos pássaros, o mugido de uma vaca o relincho de um cavalo, o aboio de um vaqueiro — em qualquer dessas coisas pode estar a raiz da alma. Como pode estar também, no gemido de uma viola, num apito de fábrica, no silvo de um navio no dobrar de um sino, no barulho do mar.
A alma de Aderaldo nasceu — e disso tenho certeza, sob o sol de fogo de Quixadá, ao pé de uma mãe viúva, que, de tão pobre, teve de empregar a dois vinténs por dia o órfãozinho de cinco anos..."
Eduardo Campos, ao analisar o Cego Aderaldo afirma:
"Não se repetia, aí estava a grande vantagem sobre os outros.

Não era cantador das palavras difíceis, dos que se acodem nos dicionários ou nos livros sagrados. Os seus grandes livros de sabedoria estavam na natureza, no estranho mas belo mundo que ele, a rigor, aprendeu a ver através dos outros".

O Aderaldo sempre cantou sua cegueira em diferentes ocasiões.
Eis algo a esse respeito, de sua autoria:
Correu de mim a fortuna a luz dos olhos perdi;
Céus, estrelas, terra e mar
Fugiram, jamais os vi,
Flores jardins, campos e prados de vê-los jamais esqueci.
Deus quer que eu viva sem lua. Sem ver do mundo a beleza.
E permitiu que eu perdesse da vida a maior riqueza,
Já não tenha a quem recorra, nem a própria natureza!

Ou esse outro verso, final do seu soneto, dedicado à sua mãezinha, composto em Maceió em 12 de maio de 1949, Dia das Mães.

Este Dia das Mães, como outros dias,
Santos e puros cheios de afeição,
Abriga o bem de todas as Marias
Cantando rimas para um coração...
Mas minha mãe partiu...
Meus dezoito anos
Trouxeram-me a cegueira, foi-se a alma
Desde então eu a vejo entre meus planos
Mas somente com os olhos de minha alma!...

Grande poeta e cantador Aderaldo viveu mais de 70 anos a percorrer os sertões, em desafios e violas, a entoar versos e a recitar poemas imortais.

Aderaldo no Céu é o título de trabalho de Pantaleão Damasceno, jornalista cearense em homenagem ao poeta após a morte. Nele Damasceno afirma:
"Cego Aderaldo, por uma dessas coincidências da vida, nasceu no dia de São João e morreu no dia consagrado a São Pedro. Tratando-se do mês das tradicionais comemorações juninas, tudo indica que o saudoso violeiro, vai encontrar o Céu em festa e de portas abertas, podendo o Santo Chaveiro, eufórico, repetir as mesmas palavras que proferiu à chegada de Irene à porta do paraíso segundo o poeta Manuel Bandeira:
— Entre, Aderaldo, você não precisa pedir licença.

E o velho cego, agora leve como uma pluma, e agora enxergando tudo, observa com surpresa, aqui e ali, as belezas infinitas do firmamento. E numa espécie de desabafo, manda-nos dizer, em mensagem de fé e esperança, que 'os mortos vivem não os choreis'".

Depoimento de outro escritor, Otacílio Colares:
"O Cego Aderaldo era, a nosso ver, o último remanescente daquela grei imensa que nos deu valores como Inácio da Catingueira, Francisco Romano, Dantas Quezado e a negra Chica Barroso. Forte como um carvalho, franco e simples como um eterno menino grande, passou ele a existência a transmitir alegria, em versos que lhe saíam da alma como o arrojo dos rios em cheia, e soube morrer tranquilo e sereno como um justo, compenetrado de haver realizado a sua destinação, na terra que ele tanto amou e decantou. Tipo acabado de trovador da velha cepa, com a sua morte, podemos estar certos, encerrou-se um ciclo dos grandes cantadores aqueles que tinham como característica primordial a singeleza no viver e no interpretar a sua arte".

Extraordinário rapsodo dos sertões, Aderaldo eternizou-se pelo muito que produziu, e que está, infelizmente disperso em livros, jornais e revistas. Em 1962, foi lançado um livro com seus versos, com comentários de Raquel de Queiroz e Paulo Sarasate. Mas esse livro hoje raro, não contém um milésimo de sua fertilíssima produção poética, derramada em mais de 60 anos pelo Brasil inteiro. Sua vida cantou a dor, de ver a pobreza rondando-lhe a infância desventurada, o pai, surdo e paralítico, a mãe pobre e desassistida e a cegueira chegar-lhe aos 18 anos de idade. Mas a tudo resistiu, valendo-se da voz, inspiração, inteligência e lucidez, para com a viola, exaltar o sertão e construir o seu mundo.

Humorista fez da ironia a suprema virtude nos versos, e sentia-se que, com tato e olfato aguçado via melhor do que os que tem olhos. Ao ser apresentado à noiva de um cidadão, sentindo-a robusta e forte; versou:

Doutor, esta sua noiva
É uma linda cachopa,
a gente olhando seus seios
Assim por cima da roupa,
é ver dois cocos na praia
Dentro dum saco de estopa.
Se eu me casasse doutor
Minha mulher era feia,
Casar com mulher bonita
toma a freguesia alheia
Casar com mulher bonita
é plantar feijão de meia...

Trovador inesquecível dos sertões, Aderaldo Ferreira de Araújo, era este o seu nome, nasceu em Crato a 24 de junho de 1878 e faleceu em Fortaleza, praticamente indigente, a 29 de junho de 1967, sendo filho do casal Joaquim Rufino de Araújo, alfaiate, e Maria Olimpia de Araújo. A sua rua de nascimento foi a antiga Pedra Lavrada, das mais antigas do Crato, que tem o Riacho Granjeiro às costas e é hoje chamada Pedro II. Encantou os auditórios mais seletos de todo o  Brasil e percorreu todos os sertões, vilas, sítios e fazendas, cantando, encantando com sua verve, seu humor e sua imensa produção poética. O que produziu garantiu-lhe a imortalidade e dele disse, em versos, na sua despedida, Ladislau Vieira:

Já não vibra a viola do
Nordeste nas praças e nas casas das fazendas
e que nas lojas redobrava as vendas
tangida pelas mãos do antigo mestre.
A araponga de cantar silvestre
Na sua voz de metal pelas contendas tornou-se muda,
De mudez agreste
Na sua voz de metal pelas contendas.
Não mais se animam velho e criaturas
Nas noites de sermões enluaradas
Nos fogos de São João pelas calçadas...
Pois finou-se o Aderaldo, ao fim das danças
Ninguém jamais na terra o encontrará
e a "Parca a paca cara pagará...
(Aquino, J. Lindemberg de. "Cego Aderaldo, o mais lírico violeiro e cantador do Brasil". Jornal do Commercio. Recife, 25 de junho de 1977)

Escritor tem obra premiada

FOTO: SILVANIA CLAUDINO
Rogerlando Gomes Cavalcante, natural da região do Sertão dos Inhamuns, lança nova obra de poesias

Independência. Um dos compositores do hino deste Município, Rogerlando Gomes Cavalcante, é conhecido na região e em outras paragens não somente como compositor. Ele faz charge, cordel, desenhos, pinturas e ensaios, entre outras modalidades artísticas. Não é de admirar o lançamento de mais um livro, partindo de alguém com tanta criatividade e dinamicidade. A sua obra de estreia foi "Chão Inaugural", em 2009. Agora, por meio de edital da Secretaria da Cultura (Secult) de 2010, publica o livro "A Máquina do Mundo", obra vencedora do I Prêmio Literário Autor Cearense (Prêmio Caetano Ximenes Aragão), categoria poesia. O lançamento ocorreu no último dia 26, na Escola Jerônimo Alves de Araújo, neste Município, localizado na região do Sertão dos Inhamuns.

Rogerlando é chamado e conhecido como "Pequeno". Nascido em Independência, assinala, com jocosidade e humor negro, que, embora sobrevivente de agruras (e agouros), sua vinda ao mundo foi um prenúncio que se deu sob o signo de dois bons augúrios: o nome do lugar onde nasceu e, também, o ano de seu nascimento.

Se o lugar de nascimento do poeta traz o sentido de livre no próprio nome, Independência, o primeiro bom augúrio o liga, segundo ele, ao significado do que ele tanto preza, embora pouco tenha: o de liberdade.

Segundo
E, o segundo prenúncio, o ano de seu nascimento, 1972, o vincula, por uma magia secreta do destino, a uma ocorrência literária histórica: a publicação, em 1572, de "Os Lusíadas", o épico do português Luís Vaz de Camões. "O que não significa comparação, paralelismo, equivalência ou o que o valha - entre mim e aquele que representa o mar, a nave e o farol das letras em língua portuguesa", ressalva o poeta independenciano.

A sua primeira obra, "Chão Inaugural", trata da casualidade dos acontecimentos, como o autor mesmo diz, "dos que me fizeram perder a marcha, os que levam o Brasil a ser o império, apenas futuro, nunca presente e a vida a ser tão inacreditável", e foi possível graças ao I Edital de Incentivo às Artes Para Pessoas com Deficiência, que propiciou a sua estreia literária.

De início rejeitou a iniciativa, depois aderiu. "É de minha natureza sentir um travo amargo quando sei de qualquer iniciativa voltada estritamente para ´pessoas com deficiência´. E foi o caso quando soube do I Edital de Incentivo às Artes para Pessoas com Deficiência. Se não rejeitei de imediato, me senti incomodado. Depois, contudo, pensei que o que iriam julgar não era minha deficiência - coisa para a Medicina! Avaliariam minha obra - e sua eficiência literária", relata o autor, na crônica "Incredulidade".

Em "A Máquina do Mundo", o autor trata do tempo que determina o fim de tudo: sentimentos, filosofias, poesia fazem parte desta máquina que finda e ao mesmo tempo recomeça. Sensibilidade de poeta.

Irregular
"Minha Máquina do Mundo é de um mundo irregular, mais que máquina, engrenagens da máquina: a infinitude do tempo determinando a finitude de tudo. Minha máquina não é do entendimento, é do desaparecimento. É então, da suscetibilidade e sucessão, se não altera, a tudo o tempo muda. E muda avançando... Minha máquina é minha luta, por dar voz, dando vazão ao que resiste em silenciar - o ser", define Rogerlando, ao apresentar a obra.

A "Máquina do Mundo" é dividida em "Engedrar", "Navegações", "Fabulações", "Mosca Drosophila", "Cá Indo no Abismo", "Sextilha" e "Sendo".

MAIS INFORMAÇÕES

Rogerlando Gomes- Av. 7 de setembro, 721, Independência
Telefone: (88) 9969.2729 ou no blog: http://www.rogerlando.com

Silvania Claudino
Repórter

Fonte: Diário do Nordeste

O Brasil às avessas

Livro do jornalista paranaense Leandro Narloch se propõe a apresentar o retrato "politicamente incorreto" de nossa história do País. Mas serão as revelações do best-seller assim tão surpreendentes?

Há quem diga que impera entre os cursos superiores de disciplinas como Física, Química e História a máxima de que, ao ingressar neles, deve-se jogar fora os livros didáticos e esquecer tudo o que se aprendeu na escola. Pelo visto, Leandro Narloch apoia a causa.

O autor de "Guia politicamente incorreto da História do Brasil" frisa, desde a apresentação do livro, sua pretensiosa proposta: "jogar tomates na historiografia politicamente correta". Valendo-se desta intenção, o autor seleciona períodos, grupos e personagens típicos da história brasileira a fim de desmitificá-los. Na nova edição do livro, ampliada, lançada recentemente pela Leya, Narloch reúne índios, africanos, escritores e figuras como Santos Dummont e Aleijadinho num único propósito de botar abaixo as "verdades" já publicadas sobre eles.

Zumbi tinha escravos. A origem da feijoada é europeia. Aleijadinho é um personagem fictício. O carnaval de escolas de samba, típico do Rio de Janeiro, é uma influência do fascismo italiano. Essas são apenas algumas das afirmações de Narloch, pretensas verdades provenientes, como ele afirma, de "pesquisas históricas sérias, irritantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos".

A carreira jornalística do autor curitibano inclui, entre outros, os trabalhos de edição das revistas Aventuras na História e Superinteressante, além de reportagem para a Veja - todas da editora Abril. Para a produção do livro, Narloch foi buscar referências na historiografia produzida no Brasil nos últimos 20 anos. Segundo ele, formada por estudiosos que publicaram suas pesquisas sem as moldar aos seus projetos ideológicos pessoais. José Murilo de Carvalho, Elio Gaspari e Dioratioto parecem substituir, na bibliografia do "Guia", a presença de cânones da história como Caio Prado Junior e Sérgio Buarque.

Compreende-se que um grande número de pesquisas históricas criaram, ao longo dos anos, uma série de lendas na história do País. O fenômeno, no entanto, é bastante comum e está relacionado ao período e ao contexto em que os estudos foram produzidos. Para que mais histórias gloriosas de heróis e mártires do que no Velho Mundo? E esses tais épicos não fazem, de certo modo, parte da memória dos países europeus? O autor de "Guia politicamente incorreto da História do Brasil", num movimento contrário, procura explorar as nuances em torno da criação de alguns dos mitos nacionais, com militância tão acirrada quanto a dos pretensos historiadores de esquerda.

Os leitores precisam, contudo, compreender que o corajoso autor não inventou a roda. Excetuando alguns casos curiosos, desconhecidos de boa parte da população, a maioria das afirmações de Narloch ou são obviedades intrínsecas ao contexto em que se inserem ou já vêm sendo discutidas há muito tempo.

Controvérsias
Alguns exemplos. O autor afirma: quem mais matou índios no Brasil foram os índios. Lógico. O pequeno contingente português na época da colonização não seria capaz de massacrar a população nativa. Obviamente, contou-se com a participação de tribos aliadas, interessadas no combate aos grupos rivais. Outra verdade revelada: Santos Dumont não inventou o avião. Lógico? Talvez não. Há controvérsias, mas o fato é que as disputas pelo título de pai da aviação há muito giram em torno de Santos Dummont e dos irmãos Orville e Wilbur Wright (EUA), portanto a novidade de Narloch não é tão nova assim. À época em que se começaram os testes, vários inventores de diversos países estavam tentando criar a primeira aeronave mais pesada do que o ar capaz de voar com sucesso. Assim sendo, é ainda possível que outros nomes entrem na disputa pela autoria do invento.

A crítica maior cabe ao costume brasileiro de abandonar a busca pelo conhecimento em torno da história nacional logo após o término do Ensino Médio, já que não é preciso ser um especialista na disciplina para saber que a história "politicamente incorreta" sempre esteve presente nas entrelinhas dos estereótipos que se aprende na escola. A leitura do Guia, no entanto, vale a pena. Basta considerá-lo como um punhado de curiosidades a respeito do Brasil. Não mais.

História Guia politicamente incorreto da História do Brasil

Leandro Narloch
Leya
2011
367 páginas
R$ 39,90

MAYARA DE ARAÚJO
 REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

História parcial


Autor do best-seller "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", o jornalista Leandro Narloch fala, em entrevista por telefone ao Caderno 3, sobre a composição de seu polêmico livro

O fato de você ter sido editor de uma revista com um projeto editorial como o da Superinteressante teve alguma influência?
Teve bastante influência. Tive a ideia de produzir o livro quando trabalhava na revista "Aventuras na História". Lá, tive contato com esse universo histórico e, quando trabalhei para a Superinteressante, conheci essa nova História do Brasil, os estudos produzidos nos últimos 20 ou 30 anos. Percebi com essas pesquisas que tudo o que eu tinha aprendido na escola era muito diferente, não era tão verdade assim. Era uma história de bons contra maus, de mocinhos e bandidos... Assim surgiu a ideia. Fui percebendo que nem sempre as grandes potências eram assim tão más e nem sempre os países menores eram as vítimas.

Qual sua relação com as pesquisas em História? Você tem formação na área?
Não. Na verdade, meu livro é uma produção de jornalista, não de historiador. Foi feito a partir de um ofício de jornalista mesmo, de reunir fontes e histórias. Pesquisei em muitas dissertações, mas esse não é um livro imparcial ou científico.

Quanto tempo levou para escrever o livro e quais os principais pesquisadores consultados?
A ideia do livro surgiu em 2004, mas só comecei a fazer em 2006 e terminei em 2009. Ou seja, foram pelo menos uns cinco anos pensando nisso. Quanto aos pesquisadores, a partir dos anos 90, surgiu uma nova geração de historiadores. Antes, o historiador tinha uma ideia do mundo e tentava aplicar ao Brasil. Conceitos marxistas como luta de classes, por exemplo, eram aplicados à realidade brasileira. Nos anos 90 não, eles começaram a analisar os documentos e só a partir daí tiravam conclusões, e isso a despeito de suas posições ideológicas. Os estudos começaram a ser elaborados independente de suas ideologias. Foram esses estudos que eu utilizei. "Maldita guerra", do Francisco Doratioto, sobre a Guerra do Paraguai, foi um livro que eu usei bastante, além de João Fragoso, Manolo Florentino... Francisco Vidal Luna, por exemplo, tem centenas de milhares de dados sobre a escravidão.

Na orelha do livro diz-se que ele é uma pequena coletânea de pesquisas sérias. Como você as avaliou e o que as tornam pesquisas "sérias"?
Aqueles livros que a gente usou na escola e nos quais nos baseamos eram mais um manifesto marxista do que pesquisas sérias. Eles se faziam de sérios, mas não eram. Eram, na verdade, bem parciais. Esse meu livro é bem parcial também, sei disso. Mas se você pensar, o Caio Prado Junior tem uma visão muito marxista, ele que reforçou ideias como o latifundiário onipotente, a colônia agrícola exportadora e a grande potência que sugou nossas riquezas.

Falando sobre autores, quem representa a velha geração da historiografia nacional e quem está no campo dessa nova geração?
Acho que da geração antiga posso citar Florestan Fernandes, Caio Prado Junior, Celso Furtado, até Fernando Henrique dá pra entrar. Na nova, acho que o João Fragoso e outros que eu já citei como o Florentino e o Doratioto. O Elio Gaspari também.

O que pensa do resultado dos estudos acadêmicos em História? Acha que eles reforçam os estereótipos ou que se esforçam em desmitificá-los?
Tem as duas coisas convivendo juntas. Tem uma história sendo bem contada hoje em dia por alguns acadêmicos, mas por outro lado ainda tem muito professor que dá aula pra Ensino Médio que acha que deve preparar seus alunos para uma revolução comunista. Fico impressionado quando vejo livros que foram feitos ano passado, algo super recente, e tem coisas assim. Verdadeiras propagandas em prol do Che Guevara. Não quero que eles omitam partes da história, mas... Não sei, sou meio radical pelo outro lado, para mim o Capitalismo foi a melhor coisa que fizeram para os pobres.

Você julga que histórias como as que elencou deveriam ser incluídas nos livros didáticos?
Acho que sim. Sei que algumas delas já são meio batidas... quando escrevi sobre a Guerra do Paraguai, fiquei pensando se deveria mesmo falar disso, mas, por outro lado, acho que muita gente ainda acredita que a Inglaterra levou o Brasil à guerra, que ela comandou a guerra do Paraguai. Acho que debates como esse deixam a história mais rica, talvez meu livro devesse ser um material complementar ao estudo de história nas escolas, mas eu preferia que os adolescentes comprassem meu livro escondido, como quem compra cigarros, sabe?

Na apresentação do livro, você comenta que estudos mais interessantes e politicamente incorretos não chegam com facilidade ao público. A que atribui esse fenômeno?
Acho que as pessoas gostam de histórias novelescas, como Odete Roitman, sabe? A opressão exercida pelos ricos e uma humilhação aos pobres... Mas acho que está na hora de lembrar que a história não é uma novela. Eu até me incomodo um pouco quando as pessoas dizem que no livro eu destruo mitos, não é exatamente isso o que eu faço. Quero apenas mostrar como a história é mais complexa. Algumas pessoas ainda acreditam que só havia duas condições para os índios: obedecer ou morrer, mas não é assim. Eles tinham interesses e se aliavam aos portugueses... Meu livro vai contra o discurso de vitimologia. Tento mostrar que os personagens da história eram tão complexos quanto qualquer pessoa.

Você diz que as pessoas gostam de histórias novelescas, mas seu livro não é um tanto novelesco? Quer dizer, as questões que você aborda não são novidades, são até óbvias, se contextualizadas.
Talvez. Um exemplo, o Zumbi dos Palmares. Ele tinha escravos e, se pensarmos bem, isso era meio óbvio, já que ele existiu no seculo XVII e ainda faltava pelo menos um século para se pensar em abolição da escravatura. A questão é: como a gente não pensou nisso antes? Tem um comentário de um blogueiro na contracapa do meu livro que explica bem. Meu livro não é revisionista, a história oficial é que é a revisão. Estou pensando em coisas elementares, as pessoas é que tinham esquecido. Outras coisas, bem, talvez não sejam novidade para os historiadores, mas para boa parte da população, são sim.

Hoje você está em quinto lugar na lista de mais vendidos da revista Veja. A que atribui essa grande venda do livro?
Acho que primeiro as pessoas estavam esperando por isso. Elas estavam desconfiando desse esquema marxista que nos foi imposto. A história não precisa ser um manifesto de lamentações, aconteceu muita desgraça e miséria, eu sei, mas tem muita coisa curiosa. Depois do lançamento de "1808", do jornalista Laurentino Gomes, eu me inspirei. Meu livro é curioso, engraçado. Acho que é por isso.

MAYARA DE ARAÚJO
 REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

Airton Monte, o cronista que desperta emoção em contos e crônicas.


por Luciana Linhares dos Santos

Airton Monte, o cronista cearense. Com essa prerrogativa nos vimos a perguntar o porquê de escrever? E a resposta vem, como que por um momento revelado em seus textos com temas que recaem sobre o cotidiano e o universo psíquico. Para obter conhecimento; por Prazer; pela emoção. Escrever “dá conhecimento e um certo controle sobre o mundo, que todos buscamos” diz Airton. Por prazer, pois crê que escrever é um “dom natural”,  parece crer piamente naquilo que alguns chamam de “inspiração”, na visita das musas. Algo o levou a gostar das palavras. Talvez pela leitura que a mãe fazia dos poetas parnasianos que relata o cronista, “parecia música”.  O hábito do avô de ler-lhe histórias, como a que acontece pela primeira, quando leu o livro de Monteiro Lobato.

Desperta emoções escrever, quando comparando com as que tivera durante sua vida, três grandes sentimentos admiráveis que se igualam como sendo as maiores em toda a sua existência de escritor: a primeira quando saiu seu primeiro livro, a segunda  atribui à importância que sua mulher possuí e logo em seguida quando nasceu seu primeiro filho. Airton Monte nasceu em Fortaleza, 1949 tem 61 anos, nunca saiu de Fortaleza. Nasceu na Rua Dom Jerônimo, de parto normal, filho do primeiro amor, e como dizia sua mãe, do primeiro descuido. E foi criado no território da Gentilândia, do Benfica, do Jardim América. E que ainda freqüentemente circula na Gentilândia, nos bairros do Benfica. Todos os sábados vai ao Clube do Bode, que é a livraria do Sérgio Braga, um de seus amigos. E bebem no Florida Bar, que é o braço armado do Clube do Bode.

Airton é médico psiquiatra formado pela Universidade Federal do Ceará-UFC. Cronista do O POVO, redator de televisão, letrista, teatrólogo. A maioria de sua obra é constituída de contos e crônicas. Publicou “O Grande pânico” (1979), “Homem não chora” (1981), Alba Sangüínea (1983) e “Moça com flor na boca” (2005), adotado pelo vestibular da UFC. Airton Monte ocupa no Ceará, o posto de cronista maior. Senta-se, agora, em iluminada cadeira – a mesma, antes habitada, hierarquicamente, por João Brígido, Caio Cid, Milton Dias e Ciro Colares. Airton Monte escreve em forma de ziguezague; desse modo, um de seus procedimentos é o de eliminar verdades absolutas; e brinca com o leitor, ao conduzi-lo por caminhos falsos. Funciona mais ou menos assim: apresenta um argumento, enumera justificativas e finge completar o pensamento; mas apenas finge completá-lo, pois, logo em seguida, toma um outro rumo.

Algumas vezes, coloca algo bem pessoal em suas crônicas, mas nunca se arrepende, porque tudo é consciente. Airton não é daquele sujeito que escreve com raiva. O texto  mais polêmico foi o Tratado Geral da Maconha, que quase o levou  preso porque o Moroni (Bing Torgan)  acusou- lhe de incentivo e apologia ao uso e ao tráfico de drogas. Porém, alguns textos seus foram  muito marcantes publicados  na época em que sua mãe faleceu.  Airton acompanhou a agonia de sua mãe na UTI, envolveu-se muito, pois ela estava na UTI pela vigésima vez, e aquilo dava uma dor imensa. Dai escreveu na emoção, estava no consultório, quando soube que sua mãe acabará de falecer. Quem tinha dado a triste noticia foi Dona Sônia, mulher de Airton. Contudo atendeu todos os pacientes com a mesma calma que podia aparentar e foi para o velório. Ficou lá até meia noite, pediu para deixa-lo em casa,  e escreveu a crônica numa máquina de escrever, avisou para a empregada que de manhã o motoqueiro vinha pegar. Nem dormiu. Encheu a cara de uísque, foi para o funeral e ficou lá até sua mãe ser sepultada. Só não assistiu à missa. E voltou para escrever, escreveu umas três vezes. São esses textos mais pessoais, escritos por Airton Monte.

Dona Sônia, esposa de Airton Monte, diz que o marido nunca sabe cobrar pelos textos que lhe são encomendados. Até mesmo os laudos periciais da psiquiatria, ele a pergunta sempre por quanto que tem que cobrar.  Bárbara, filha de Airton Monte, é quem coordena a página dedicada ao pai no orkut, site de relacionamentos da internet. “Uma vez ela ficou furiosa porque perguntaram a ela se ele batia em mim”, conta dona Sônia. “Minha filha não fique assim, diga que eu bato nela, bato em você, bato no Pablo (filho de Airton), bato no cachorro, em todo mundo”, conta Airton às gargalhadas.

Até pouco tempo Airton tinha três ou quatro livros de poesia prontos, além de um romance, uma novela sobre futebol, uma peça de teatro e um livro de contos “Os bailarinos” todos arquivados. Mas que por ventura no dia cinco de setembro de 2010 sai no jornal Diário do Nordeste a publicação do novo conto do poeta e cronista, Airton Monte. Que retorna com os 34 contos que compõem o livro “os bailarinos”. Embora até o pouco tempo estivesse no fundo da gaveta, só esperando talvez o momento certo para sua publicação.
Airton Monte é um cronista consciente de seu papel. Sabe, exatamente, a dimensão de seu nome na cidade de Fortaleza. Tem consciência da repercussão do que expõe em seus textos. Escatológico, convive com a consciência da decomposição de tudo, do destino do perecível, por isso, de quando em vez, abraça a efemeridade. Finalmente, ressalta-se o discurso intertextual como uma das marcas de seu discurso literário, uma vez que é um leitor voraz e carrega dentro si, entrelaçados, fragmentos de tantas léguas de livros; bem como de canções, amante que é de jazz, de blues, da bossa-nova, do samba-canção, dos boleros etc. E que agora nos traz uma novidade com seu conto os bailarinos, inscrevendo se como uma das altas vozes da narrativa curta em nossa contemporaneidade. Airton Monte marido de Sônia, pai de Pablo e Bárbara, torcedor do Botafogo, é um cearense mulato.

Luciana, de Camocim, Aluna do 4° período do curso de letras- língua portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA

Fonte: Jornal Correio da Semana

Poeta faz versão em cordel da Declaração dos Direitos Humanos

Sara Saar
Do Diário do Grande ABC

Poeta popular de Diadema, Moreira de Acopiara prepara o lançamento do cordel ilustrado "Declaração Universal dos Direitos Humanos" (Ensinamento, R$ 19, 48 páginas), em edição bilíngue - português e espanhol. Todas as figuras têm autoria do brasiliense Rafael Correa.

O lançamento do título está previsto para 12 de maio, na Biblioteca Olíria de Campos Barros (Avenida Sete de Setembro, 468. Tel.: 4055-9208), em Diadema. Além de fazer a apresentação, o poeta deve ler o livro "para que todos se familiarizem com o ritmo do cordel", arte originalmente oral.

O projeto de converter a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) para a literatura de cordel partiu de iniciativa da Secretaria de Educação, de São Bernardo. Entre 2009 e 2010, às sexta-feiras, Moreira ensinava a arte para os alunos do programa EJA (Educação para Jovens e Adultos). "Eles se identificavam bastante. Muitos eram nordestinos ou descendentes", associa o poeta nascido em Acopiara, sertão do Ceará. "O cordel tem linguagem fácil de ser assimilada".

Ao perceber o interesse dos estudantes, a Secretaria solicitou em setembro que o poeta transformasse o documento universal em cordel com a finalidade de distribuir 10 mil exemplares do texto para os alunos do EJA.

Dez dias foram mais que suficientes para a produção ser finalizada: "Gosto de escrever sob pressão, por encomenda mesmo. Quando a data de entrega está próxima, o texto flui", explica Moreira, que trabalhou em sextilhas com sete síbalas poéticas.

Também bastou circular para a produção crescer, ou seja, a editora contatar Moreira, interessada na sua publicação. "Só assinei o contrato", afirma. E completa: "Não precisei mandar o texto. Eles já o tinham. Depois, só recebi a prova em PDF para ver as ilustrações. O texto é o mesmo".

Satisfeito com o trabalho desenvolvido com os estudantes do EJA, o poeta que escreveu os primeiros versos de cordel aos 12 anos agora espera a renovação do contrato.

Fonte: O Nordeste