Livro do jornalista paranaense Leandro Narloch se propõe a apresentar o retrato "politicamente incorreto" de nossa história do País. Mas serão as revelações do best-seller assim tão surpreendentes?
Há quem diga que impera entre os cursos superiores de disciplinas como Física, Química e História a máxima de que, ao ingressar neles, deve-se jogar fora os livros didáticos e esquecer tudo o que se aprendeu na escola. Pelo visto, Leandro Narloch apoia a causa.
O autor de "Guia politicamente incorreto da História do Brasil" frisa, desde a apresentação do livro, sua pretensiosa proposta: "jogar tomates na historiografia politicamente correta". Valendo-se desta intenção, o autor seleciona períodos, grupos e personagens típicos da história brasileira a fim de desmitificá-los. Na nova edição do livro, ampliada, lançada recentemente pela Leya, Narloch reúne índios, africanos, escritores e figuras como Santos Dummont e Aleijadinho num único propósito de botar abaixo as "verdades" já publicadas sobre eles.
Zumbi tinha escravos. A origem da feijoada é europeia. Aleijadinho é um personagem fictício. O carnaval de escolas de samba, típico do Rio de Janeiro, é uma influência do fascismo italiano. Essas são apenas algumas das afirmações de Narloch, pretensas verdades provenientes, como ele afirma, de "pesquisas históricas sérias, irritantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos".
A carreira jornalística do autor curitibano inclui, entre outros, os trabalhos de edição das revistas Aventuras na História e Superinteressante, além de reportagem para a Veja - todas da editora Abril. Para a produção do livro, Narloch foi buscar referências na historiografia produzida no Brasil nos últimos 20 anos. Segundo ele, formada por estudiosos que publicaram suas pesquisas sem as moldar aos seus projetos ideológicos pessoais. José Murilo de Carvalho, Elio Gaspari e Dioratioto parecem substituir, na bibliografia do "Guia", a presença de cânones da história como Caio Prado Junior e Sérgio Buarque.
Compreende-se que um grande número de pesquisas históricas criaram, ao longo dos anos, uma série de lendas na história do País. O fenômeno, no entanto, é bastante comum e está relacionado ao período e ao contexto em que os estudos foram produzidos. Para que mais histórias gloriosas de heróis e mártires do que no Velho Mundo? E esses tais épicos não fazem, de certo modo, parte da memória dos países europeus? O autor de "Guia politicamente incorreto da História do Brasil", num movimento contrário, procura explorar as nuances em torno da criação de alguns dos mitos nacionais, com militância tão acirrada quanto a dos pretensos historiadores de esquerda.
Os leitores precisam, contudo, compreender que o corajoso autor não inventou a roda. Excetuando alguns casos curiosos, desconhecidos de boa parte da população, a maioria das afirmações de Narloch ou são obviedades intrínsecas ao contexto em que se inserem ou já vêm sendo discutidas há muito tempo.
Controvérsias
Alguns exemplos. O autor afirma: quem mais matou índios no Brasil foram os índios. Lógico. O pequeno contingente português na época da colonização não seria capaz de massacrar a população nativa. Obviamente, contou-se com a participação de tribos aliadas, interessadas no combate aos grupos rivais. Outra verdade revelada: Santos Dumont não inventou o avião. Lógico? Talvez não. Há controvérsias, mas o fato é que as disputas pelo título de pai da aviação há muito giram em torno de Santos Dummont e dos irmãos Orville e Wilbur Wright (EUA), portanto a novidade de Narloch não é tão nova assim. À época em que se começaram os testes, vários inventores de diversos países estavam tentando criar a primeira aeronave mais pesada do que o ar capaz de voar com sucesso. Assim sendo, é ainda possível que outros nomes entrem na disputa pela autoria do invento.
A crítica maior cabe ao costume brasileiro de abandonar a busca pelo conhecimento em torno da história nacional logo após o término do Ensino Médio, já que não é preciso ser um especialista na disciplina para saber que a história "politicamente incorreta" sempre esteve presente nas entrelinhas dos estereótipos que se aprende na escola. A leitura do Guia, no entanto, vale a pena. Basta considerá-lo como um punhado de curiosidades a respeito do Brasil. Não mais.
História Guia politicamente incorreto da História do Brasil
Leandro Narloch
Leya
2011
367 páginas
R$ 39,90
MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
Há quem diga que impera entre os cursos superiores de disciplinas como Física, Química e História a máxima de que, ao ingressar neles, deve-se jogar fora os livros didáticos e esquecer tudo o que se aprendeu na escola. Pelo visto, Leandro Narloch apoia a causa.
O autor de "Guia politicamente incorreto da História do Brasil" frisa, desde a apresentação do livro, sua pretensiosa proposta: "jogar tomates na historiografia politicamente correta". Valendo-se desta intenção, o autor seleciona períodos, grupos e personagens típicos da história brasileira a fim de desmitificá-los. Na nova edição do livro, ampliada, lançada recentemente pela Leya, Narloch reúne índios, africanos, escritores e figuras como Santos Dummont e Aleijadinho num único propósito de botar abaixo as "verdades" já publicadas sobre eles.
Zumbi tinha escravos. A origem da feijoada é europeia. Aleijadinho é um personagem fictício. O carnaval de escolas de samba, típico do Rio de Janeiro, é uma influência do fascismo italiano. Essas são apenas algumas das afirmações de Narloch, pretensas verdades provenientes, como ele afirma, de "pesquisas históricas sérias, irritantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos".
A carreira jornalística do autor curitibano inclui, entre outros, os trabalhos de edição das revistas Aventuras na História e Superinteressante, além de reportagem para a Veja - todas da editora Abril. Para a produção do livro, Narloch foi buscar referências na historiografia produzida no Brasil nos últimos 20 anos. Segundo ele, formada por estudiosos que publicaram suas pesquisas sem as moldar aos seus projetos ideológicos pessoais. José Murilo de Carvalho, Elio Gaspari e Dioratioto parecem substituir, na bibliografia do "Guia", a presença de cânones da história como Caio Prado Junior e Sérgio Buarque.
Compreende-se que um grande número de pesquisas históricas criaram, ao longo dos anos, uma série de lendas na história do País. O fenômeno, no entanto, é bastante comum e está relacionado ao período e ao contexto em que os estudos foram produzidos. Para que mais histórias gloriosas de heróis e mártires do que no Velho Mundo? E esses tais épicos não fazem, de certo modo, parte da memória dos países europeus? O autor de "Guia politicamente incorreto da História do Brasil", num movimento contrário, procura explorar as nuances em torno da criação de alguns dos mitos nacionais, com militância tão acirrada quanto a dos pretensos historiadores de esquerda.
Os leitores precisam, contudo, compreender que o corajoso autor não inventou a roda. Excetuando alguns casos curiosos, desconhecidos de boa parte da população, a maioria das afirmações de Narloch ou são obviedades intrínsecas ao contexto em que se inserem ou já vêm sendo discutidas há muito tempo.
Controvérsias
Alguns exemplos. O autor afirma: quem mais matou índios no Brasil foram os índios. Lógico. O pequeno contingente português na época da colonização não seria capaz de massacrar a população nativa. Obviamente, contou-se com a participação de tribos aliadas, interessadas no combate aos grupos rivais. Outra verdade revelada: Santos Dumont não inventou o avião. Lógico? Talvez não. Há controvérsias, mas o fato é que as disputas pelo título de pai da aviação há muito giram em torno de Santos Dummont e dos irmãos Orville e Wilbur Wright (EUA), portanto a novidade de Narloch não é tão nova assim. À época em que se começaram os testes, vários inventores de diversos países estavam tentando criar a primeira aeronave mais pesada do que o ar capaz de voar com sucesso. Assim sendo, é ainda possível que outros nomes entrem na disputa pela autoria do invento.
A crítica maior cabe ao costume brasileiro de abandonar a busca pelo conhecimento em torno da história nacional logo após o término do Ensino Médio, já que não é preciso ser um especialista na disciplina para saber que a história "politicamente incorreta" sempre esteve presente nas entrelinhas dos estereótipos que se aprende na escola. A leitura do Guia, no entanto, vale a pena. Basta considerá-lo como um punhado de curiosidades a respeito do Brasil. Não mais.
História Guia politicamente incorreto da História do Brasil
Leandro Narloch
Leya
2011
367 páginas
R$ 39,90
MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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