por Luciana Linhares dos Santos
Airton Monte, o cronista cearense. Com essa prerrogativa nos vimos a perguntar o porquê de escrever? E a resposta vem, como que por um momento revelado em seus textos com temas que recaem sobre o cotidiano e o universo psíquico. Para obter conhecimento; por Prazer; pela emoção. Escrever “dá conhecimento e um certo controle sobre o mundo, que todos buscamos” diz Airton. Por prazer, pois crê que escrever é um “dom natural”, parece crer piamente naquilo que alguns chamam de “inspiração”, na visita das musas. Algo o levou a gostar das palavras. Talvez pela leitura que a mãe fazia dos poetas parnasianos que relata o cronista, “parecia música”. O hábito do avô de ler-lhe histórias, como a que acontece pela primeira, quando leu o livro de Monteiro Lobato.
Desperta emoções escrever, quando comparando com as que tivera durante sua vida, três grandes sentimentos admiráveis que se igualam como sendo as maiores em toda a sua existência de escritor: a primeira quando saiu seu primeiro livro, a segunda atribui à importância que sua mulher possuí e logo em seguida quando nasceu seu primeiro filho. Airton Monte nasceu em Fortaleza, 1949 tem 61 anos, nunca saiu de Fortaleza. Nasceu na Rua Dom Jerônimo, de parto normal, filho do primeiro amor, e como dizia sua mãe, do primeiro descuido. E foi criado no território da Gentilândia, do Benfica, do Jardim América. E que ainda freqüentemente circula na Gentilândia, nos bairros do Benfica. Todos os sábados vai ao Clube do Bode, que é a livraria do Sérgio Braga, um de seus amigos. E bebem no Florida Bar, que é o braço armado do Clube do Bode.
Airton é médico psiquiatra formado pela Universidade Federal do Ceará-UFC. Cronista do O POVO, redator de televisão, letrista, teatrólogo. A maioria de sua obra é constituída de contos e crônicas. Publicou “O Grande pânico” (1979), “Homem não chora” (1981), Alba Sangüínea (1983) e “Moça com flor na boca” (2005), adotado pelo vestibular da UFC. Airton Monte ocupa no Ceará, o posto de cronista maior. Senta-se, agora, em iluminada cadeira – a mesma, antes habitada, hierarquicamente, por João Brígido, Caio Cid, Milton Dias e Ciro Colares. Airton Monte escreve em forma de ziguezague; desse modo, um de seus procedimentos é o de eliminar verdades absolutas; e brinca com o leitor, ao conduzi-lo por caminhos falsos. Funciona mais ou menos assim: apresenta um argumento, enumera justificativas e finge completar o pensamento; mas apenas finge completá-lo, pois, logo em seguida, toma um outro rumo.
Algumas vezes, coloca algo bem pessoal em suas crônicas, mas nunca se arrepende, porque tudo é consciente. Airton não é daquele sujeito que escreve com raiva. O texto mais polêmico foi o Tratado Geral da Maconha, que quase o levou preso porque o Moroni (Bing Torgan) acusou- lhe de incentivo e apologia ao uso e ao tráfico de drogas. Porém, alguns textos seus foram muito marcantes publicados na época em que sua mãe faleceu. Airton acompanhou a agonia de sua mãe na UTI, envolveu-se muito, pois ela estava na UTI pela vigésima vez, e aquilo dava uma dor imensa. Dai escreveu na emoção, estava no consultório, quando soube que sua mãe acabará de falecer. Quem tinha dado a triste noticia foi Dona Sônia, mulher de Airton. Contudo atendeu todos os pacientes com a mesma calma que podia aparentar e foi para o velório. Ficou lá até meia noite, pediu para deixa-lo em casa, e escreveu a crônica numa máquina de escrever, avisou para a empregada que de manhã o motoqueiro vinha pegar. Nem dormiu. Encheu a cara de uísque, foi para o funeral e ficou lá até sua mãe ser sepultada. Só não assistiu à missa. E voltou para escrever, escreveu umas três vezes. São esses textos mais pessoais, escritos por Airton Monte.
Dona Sônia, esposa de Airton Monte, diz que o marido nunca sabe cobrar pelos textos que lhe são encomendados. Até mesmo os laudos periciais da psiquiatria, ele a pergunta sempre por quanto que tem que cobrar. Bárbara, filha de Airton Monte, é quem coordena a página dedicada ao pai no orkut, site de relacionamentos da internet. “Uma vez ela ficou furiosa porque perguntaram a ela se ele batia em mim”, conta dona Sônia. “Minha filha não fique assim, diga que eu bato nela, bato em você, bato no Pablo (filho de Airton), bato no cachorro, em todo mundo”, conta Airton às gargalhadas.
Até pouco tempo Airton tinha três ou quatro livros de poesia prontos, além de um romance, uma novela sobre futebol, uma peça de teatro e um livro de contos “Os bailarinos” todos arquivados. Mas que por ventura no dia cinco de setembro de 2010 sai no jornal Diário do Nordeste a publicação do novo conto do poeta e cronista, Airton Monte. Que retorna com os 34 contos que compõem o livro “os bailarinos”. Embora até o pouco tempo estivesse no fundo da gaveta, só esperando talvez o momento certo para sua publicação.
Airton Monte é um cronista consciente de seu papel. Sabe, exatamente, a dimensão de seu nome na cidade de Fortaleza. Tem consciência da repercussão do que expõe em seus textos. Escatológico, convive com a consciência da decomposição de tudo, do destino do perecível, por isso, de quando em vez, abraça a efemeridade. Finalmente, ressalta-se o discurso intertextual como uma das marcas de seu discurso literário, uma vez que é um leitor voraz e carrega dentro si, entrelaçados, fragmentos de tantas léguas de livros; bem como de canções, amante que é de jazz, de blues, da bossa-nova, do samba-canção, dos boleros etc. E que agora nos traz uma novidade com seu conto os bailarinos, inscrevendo se como uma das altas vozes da narrativa curta em nossa contemporaneidade. Airton Monte marido de Sônia, pai de Pablo e Bárbara, torcedor do Botafogo, é um cearense mulato.
Luciana, de Camocim, Aluna do 4° período do curso de letras- língua portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú- UVA
Fonte: Jornal Correio da Semana
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