Um grupo de 14 bailarinos de Tabuleiro do Norte viram a noite ensaiando para mostrar dança contemporânea
Tabuleiro do Norte. A expressão corporal tem dito mais da vida de certos jovens do que mesmo suas palavras. A Companhia de Dança Ciclos tem revelado o talento para a dança contemporânea neste Município e conquistado os palcos cearenses. Após recentes apresentações no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, o grupo segue com espetáculo em turnê pelo Estado. Com toda dificuldade para custear a produção, jovens bailarinos fazem de cada apresentação a criativa busca para entender formas e conteúdos humanos por meio da arte.
"Nós somos mais conhecidos em Fortaleza do que na nossa própria cidade", afirma Duaram Gomes, para lamentar como "santo de casa não obra milagre". Obra, mas não tem o devido reconhecimento. Duaram é idealizador e diretor da Cia. de Dança Ciclos. O que eles fazem? Apresentam "dança contemporânea". E a "Ciclos" tem conquistado o reconhecimento no Ceará, e se alimenta da vontade (e "necessidade", diz Duaram) de expressar, pela arte, os anseios próprios e coletivos.
A dança não é apenas uma sequência de movimentos dentro dos limites do corpo humano, assim como a poesia não é simplesmente uma sequência de palavras repetidas. Tal como o olhar, ou o verso poético, o movimento corporal é mais do que aquilo que o cérebro manda fazer. Reflete pensamentos, ideias, vontades, torna-se mensagem. "Dança contemporânea" é uma expressão que identifica um estilo ou, mais apropriadamente, um novo conceito. Não só um sincronismo de movimentos pré-concebidos aliados a uma trilha sonora em que a harmonia se assimila à ideia de um bailarino ser o reflexo do outro: movimento igual. Na dança contemporânea o corpo estabelece uma dramaturgia própria. É um teatro em que a maior voz é a que sai do pensamento que se forma com carne, músculos e esqueleto.
A violência urbana, essa coisa desenfreada estampada nos jornais, na TV, que as pessoas olham indignadas, mas muitas vezes são capazes de negar a própria violência de que é vítima ou algoz; a competição de egos e depois de currículos para competir por uma vaga de trabalho; e a reflexão desiludida do homem que se pergunta "onde vamos parar se assim continuarmos" é retrato de "Sob Pressão", espetáculo da Cia. Ciclos, em cartaz desde o ano passado.
Na Capital
O grupo se apresentou em abril deste ano no projeto Quinta com Dança, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza. Arrancou aplausos como o fez em duas edições da Bienal Internacional de Dança de Fortaleza (em 2003 e 2009, com o espetáculo Ciclos).
Para o coreógrafo Duaram Gomes é o reconhecimento do suor. Como só foto de jornal vem com legenda, quem aplaude até acredita que "é difícil fazer arte no Brasil". Mas no caso dos bailarinos e produtores da companhia de dança isso se traduz em uma série de desafios para existir: quando o dia termina é que eles começam. Depois do trabalho, ou da faculdade (ou dos dois), já perto de meia noite, eles se reúnem para ensaiar, e "varam" a madrugada. Enquanto uns praticam ensaio, outros cochilam. É um paradoxo que o espetáculo seja justamente "Sob Pressão".
A academia de ginástica de Duaram não dorme, e vira palco para os ensaios. Em Tabuleiro do Norte não existe auditório, muito menos teatro. O teatro mais próximo fica em Limoeiro do Norte. E o tabuleirense que quer ver os espetáculos da Companhia precisa assistir lá.
O grupo tem sete anos, e já desenvolveu quatro espetáculos, apresentados nos mais diferentes palcos: "Migrações" (em 2001), "Ciclos" (em 2002 e remontagem em 2005), Máscaras (2006) e "Sob Pressão", brevemente apresentada em 2009 na Bienal Internacional de Dança de Fortaleza e que desde 2010 é levada para os Municípios do Estado, como Limoeiro, Sobral, Nova Olinda, Juazeiro do Norte, Iço, Itapipoca e Fortaleza.
"Sob Pressão" tem duração de 45 minutos, e a proposta é que o espectador contemple a si ou ao próximo diante dos desafios cotidianos. A tensão dos dias é ali retratada.
São 10 bailarinos, entre homens e mulheres de 18 a 31 anos, coreografados por Duaram Gomes e com apoio de uma pequena equipe. "Juntando somos 14 pessoas, nessa atividade que te digo: não é fácil", resume Duaram.
DURAÇÃO
45
MINUTOS é o tempo total do espetáculo "Sob Pressão", que tem como proposta fazer com que o espectador contemple a si ou ao próximo diante dos desafios cotidianos
MAIS INFORMAÇÕES
Cia. de Dança Ciclos
Município de Tabuleiro do Norte
Contato: Duaram Gomes
Telefone: (88) 3424.1453
INICIATIVA
Esforço e dedicação para ensaios
Sem condições de viverem da dança, bailarinos revezam o tempo entre os trabalhos formais e a arte
Tabuleiro do Norte. Os editais de incentivo à cultura fazem base de sustentação dos espetáculos da Companhia de Dança Ciclos. Todos os anos os bailarinos fazem projetos e se inscrevem nos editais. Dizem que estão com sorte, por nos últimos anos terem a garantia de algum apoio, seja para a produção ou circulação dos espetáculos. Os custos mais básicos eles resolvem com a venda de camisas ou na base do "sorteia-se entre amigos". De talento reconhecido em bienais internacionais de dança e nos principais círculos artísticos do Ceará, a maior pressão da companhia é insistir pela própria sobrevivência.
"Temos tido sorte de sermos contemplados", acredita Duaram Gomes, diretor e coreógrafo da companhia. Tiveram apoio financeiro por meio de editais no Programa BNB de Cultura, do Banco do Nordeste, e Edital de Incentivo às Artes (em 2003, 2009 e 2010), da Secretaria da Cultura do Estado. A participação em festivais e na Bienal Internacional de Dança de Fortaleza também garante a divulgação dos trabalhos.
Apoio
No caso do edital do Governo do Estado, o apoio é para a circulação do espetáculo "Sob Pressão". Assim, eles têm chegado aos palcos no Cariri e na Zona Norte. Mas o maior problema nesses sete anos de trabalhos da companhia de dança é mesmo o transporte. É nesse ponto que Duaram Gomes reclama a falta de apoio público: "somos a única companhia de dança da cidade, o grupo artístico que tem levado o nome da cidade para fora, mas infelizmente é muito difícil, quando não é com apoio de edital a gente vende camisas, faz rifas, sorteios, e assim vai levando. Já fomos selecionados para participar num festival e não fomos porque a dificuldade é grande de transporte", conta.
Os espetáculos são concebidos no espaço da academia de ginástica de Duaram, que é professor de Educação Física. "A gente sabe que cada um precisa trabalhar naquilo que sustenta. Umas meninas são professoras nas escolas públicas. Outros trabalham em comércio ou estudam fora, e mesmo assim vêm ensaiar de madrugada", conta o coreógrafo, envolvido com dança há cerca de 15 anos. Sua base de formação foi obtida com a coreógrafa Silvia Moura, Centro de Experimentações do Movimento (CEM), de Fortaleza. "Participei do grupo, e ela veio muitas vezes ao nosso Município repassar conhecimento para uma turma de interessados".
Os ensaios da Companhia Ciclos são abertos, e quem quiser assistir, ou mesmo participar de uma aula, é só manifestar a vontade para Duaram.
Melquíades Júnior
Colaborador
Tabuleiro do Norte. A expressão corporal tem dito mais da vida de certos jovens do que mesmo suas palavras. A Companhia de Dança Ciclos tem revelado o talento para a dança contemporânea neste Município e conquistado os palcos cearenses. Após recentes apresentações no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, o grupo segue com espetáculo em turnê pelo Estado. Com toda dificuldade para custear a produção, jovens bailarinos fazem de cada apresentação a criativa busca para entender formas e conteúdos humanos por meio da arte.
Através da dança contemporânea, bailarinos discutem o estresse e a vida sob pressão da atualidade FOTOS: DIVULGAÇÃO |
A dança não é apenas uma sequência de movimentos dentro dos limites do corpo humano, assim como a poesia não é simplesmente uma sequência de palavras repetidas. Tal como o olhar, ou o verso poético, o movimento corporal é mais do que aquilo que o cérebro manda fazer. Reflete pensamentos, ideias, vontades, torna-se mensagem. "Dança contemporânea" é uma expressão que identifica um estilo ou, mais apropriadamente, um novo conceito. Não só um sincronismo de movimentos pré-concebidos aliados a uma trilha sonora em que a harmonia se assimila à ideia de um bailarino ser o reflexo do outro: movimento igual. Na dança contemporânea o corpo estabelece uma dramaturgia própria. É um teatro em que a maior voz é a que sai do pensamento que se forma com carne, músculos e esqueleto.
A violência urbana, essa coisa desenfreada estampada nos jornais, na TV, que as pessoas olham indignadas, mas muitas vezes são capazes de negar a própria violência de que é vítima ou algoz; a competição de egos e depois de currículos para competir por uma vaga de trabalho; e a reflexão desiludida do homem que se pergunta "onde vamos parar se assim continuarmos" é retrato de "Sob Pressão", espetáculo da Cia. Ciclos, em cartaz desde o ano passado.
Através da dança contemporânea, bailarinos discutem o estresse e a vida sob pressão da atualidade FOTO: DIVULGAÇÃO |
O grupo se apresentou em abril deste ano no projeto Quinta com Dança, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza. Arrancou aplausos como o fez em duas edições da Bienal Internacional de Dança de Fortaleza (em 2003 e 2009, com o espetáculo Ciclos).
Para o coreógrafo Duaram Gomes é o reconhecimento do suor. Como só foto de jornal vem com legenda, quem aplaude até acredita que "é difícil fazer arte no Brasil". Mas no caso dos bailarinos e produtores da companhia de dança isso se traduz em uma série de desafios para existir: quando o dia termina é que eles começam. Depois do trabalho, ou da faculdade (ou dos dois), já perto de meia noite, eles se reúnem para ensaiar, e "varam" a madrugada. Enquanto uns praticam ensaio, outros cochilam. É um paradoxo que o espetáculo seja justamente "Sob Pressão".
A academia de ginástica de Duaram não dorme, e vira palco para os ensaios. Em Tabuleiro do Norte não existe auditório, muito menos teatro. O teatro mais próximo fica em Limoeiro do Norte. E o tabuleirense que quer ver os espetáculos da Companhia precisa assistir lá.
O grupo tem sete anos, e já desenvolveu quatro espetáculos, apresentados nos mais diferentes palcos: "Migrações" (em 2001), "Ciclos" (em 2002 e remontagem em 2005), Máscaras (2006) e "Sob Pressão", brevemente apresentada em 2009 na Bienal Internacional de Dança de Fortaleza e que desde 2010 é levada para os Municípios do Estado, como Limoeiro, Sobral, Nova Olinda, Juazeiro do Norte, Iço, Itapipoca e Fortaleza.
"Sob Pressão" tem duração de 45 minutos, e a proposta é que o espectador contemple a si ou ao próximo diante dos desafios cotidianos. A tensão dos dias é ali retratada.
São 10 bailarinos, entre homens e mulheres de 18 a 31 anos, coreografados por Duaram Gomes e com apoio de uma pequena equipe. "Juntando somos 14 pessoas, nessa atividade que te digo: não é fácil", resume Duaram.
DURAÇÃO
45
MINUTOS é o tempo total do espetáculo "Sob Pressão", que tem como proposta fazer com que o espectador contemple a si ou ao próximo diante dos desafios cotidianos
MAIS INFORMAÇÕES
Cia. de Dança Ciclos
Município de Tabuleiro do Norte
Contato: Duaram Gomes
Telefone: (88) 3424.1453
INICIATIVA
Esforço e dedicação para ensaios
Sem condições de viverem da dança, bailarinos revezam o tempo entre os trabalhos formais e a arte
Tabuleiro do Norte. Os editais de incentivo à cultura fazem base de sustentação dos espetáculos da Companhia de Dança Ciclos. Todos os anos os bailarinos fazem projetos e se inscrevem nos editais. Dizem que estão com sorte, por nos últimos anos terem a garantia de algum apoio, seja para a produção ou circulação dos espetáculos. Os custos mais básicos eles resolvem com a venda de camisas ou na base do "sorteia-se entre amigos". De talento reconhecido em bienais internacionais de dança e nos principais círculos artísticos do Ceará, a maior pressão da companhia é insistir pela própria sobrevivência.
"Temos tido sorte de sermos contemplados", acredita Duaram Gomes, diretor e coreógrafo da companhia. Tiveram apoio financeiro por meio de editais no Programa BNB de Cultura, do Banco do Nordeste, e Edital de Incentivo às Artes (em 2003, 2009 e 2010), da Secretaria da Cultura do Estado. A participação em festivais e na Bienal Internacional de Dança de Fortaleza também garante a divulgação dos trabalhos.
Apoio
No caso do edital do Governo do Estado, o apoio é para a circulação do espetáculo "Sob Pressão". Assim, eles têm chegado aos palcos no Cariri e na Zona Norte. Mas o maior problema nesses sete anos de trabalhos da companhia de dança é mesmo o transporte. É nesse ponto que Duaram Gomes reclama a falta de apoio público: "somos a única companhia de dança da cidade, o grupo artístico que tem levado o nome da cidade para fora, mas infelizmente é muito difícil, quando não é com apoio de edital a gente vende camisas, faz rifas, sorteios, e assim vai levando. Já fomos selecionados para participar num festival e não fomos porque a dificuldade é grande de transporte", conta.
Os espetáculos são concebidos no espaço da academia de ginástica de Duaram, que é professor de Educação Física. "A gente sabe que cada um precisa trabalhar naquilo que sustenta. Umas meninas são professoras nas escolas públicas. Outros trabalham em comércio ou estudam fora, e mesmo assim vêm ensaiar de madrugada", conta o coreógrafo, envolvido com dança há cerca de 15 anos. Sua base de formação foi obtida com a coreógrafa Silvia Moura, Centro de Experimentações do Movimento (CEM), de Fortaleza. "Participei do grupo, e ela veio muitas vezes ao nosso Município repassar conhecimento para uma turma de interessados".
Os ensaios da Companhia Ciclos são abertos, e quem quiser assistir, ou mesmo participar de uma aula, é só manifestar a vontade para Duaram.
Melquíades Júnior
Colaborador
Fonte: Diário do Nordeste
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