segunda-feira, 9 de maio de 2011

A crítica e a dança

O pesquisador e crítico de dança Joubert Arrais conduz, de amanhã até sexta-feira, o curso "Coreografias nordestinas - Obras e contextos", no CCBNB

Estimular o olhar crítico e estético para obras coreográficas, produzidas no contexto do Nordeste brasileiro, é o intuito do curso "Coreografias nordestinas", que será ministrado pelo pesquisador e crítico de dança cearense Joubert Arrais, de amanhã até sexta-feira no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), de Fortaleza.

Uma fotomontagem produzida por Joubert Arrais. Tratam-se de imagens de alguns dos espetáculos realizados com a participação do pesquisador cearense e crítico de dança
FOTOS:PAULO A MOREIRA/ DIMENTI/ BRENO CÉSAR (FRAME DE VÍDEO)
Durante quatro dias, o pesquisador irá compartilhar com o grupo de participantes a sua pesquisa intitulada "Coreografias nordestinas - Algumas escritas estéticas e críticas sobre a contemporaneidade de uma produção artística de dança no Nordeste", desenvolvida entre 2008 e 2009, com o apoio da Fundação Nacional das Artes (Funarte), do Ministério da Cultura (Minc). Na época, Arrais foi o representante do Nordeste, contemplado com a bolsa-pesquisa.

"Essa é a primeira conversa que estou tendo com o público sobre a experiência que tive com o projeto da Funarte. Isso vai me possibilitar a organizar o material que tenho e que, futuramente, será transformado em livro. É uma forma de pensar a obra coreográfica e seu rico processo. Quero estimular as pessoas a desenvolverem suas próprias hipóteses", explica Joubert Arrais.

Metodologia
Segundo Arrais, o curso contará com dois momentos específicos, a apreciação de obras e o estudo crítico. No primeiro deles, serão utilizados recursos como projeção de registros em vídeo de alguns trabalhos.

No segundo, acontecerá um estudo crítico com breve diálogo sobre os trabalhos em questão, afim de perceber as primeiras impressões dos participantes, enfatizando aquilo que foi visto. Na sequência, haverá uma troca de ideias sobre o processo de produção das obras e as possibilidades criativas que delas emergem.

Ao final de cada dia de curso, todos os participantes serão convidados a fazer leitura pública ou comentário escrito, com textos seus e de outros críticos/jornalistas sobre as obras em apreciação, que foram publicados na mídia imprensa e na internet.

O crítico diz que a dança contemporânea evidencia o poder de conhecimento do corpo
Dança Contemporânea
Para o pesquisador, a dança contemporânea não é um mero estilo artístico, ela é algo que vai mais além. Complexa em seu sentido, uma vez que produz conhecimento. "A dança contemporânea evidencia o poder de produção de conhecimento pelo corpo. Ela é um acontecimento corporal. Possui um comprometimento epistemológico", diz.

O crítico acredita que cada produção de dança contemporânea tem uma singularidade pelo que discute como questão e pelo modo como se relaciona com o tempo presente.

"Uma obra artística é, pois, um fato. Uma vez produzida, tornada pública, é algo irrevogável, cuja factualidade demarca um tempo. Nesse movimento, a dança como coreografia está conectada a uma história não apenas de nomes próprios, nem de mera sequência de passos, tampouco trajetória linear e fixa. Trata-se de uma história dinâmica de confrontos e continuidades", analisa o crítico.

Curso
São essas as questões que serão apresentadas e discutidas ao longo do curso "Coreografias nordestinas - obras e contextos". O curso está alicerçado numa investigação sobre dança contemporânea na região do Nordeste brasileiro, e atualmente em caráter independente, inscrevendo-se como produção crítica em dança. "Para tanto, estrutura-se em torno da mesma questão: qual a contemporaneidade de uma dança contemporânea num contexto tido comumente como regional?", indaga-se o pesquisador.

Durante a realização do curso no centro cultural, quatro obras coreográficas serão analisadas: "Os tempos", da Companhia de Arte Andanças (Fortaleza, 2008); "Corpo-massa: pele e ossos", da Companhia Etc. (Recife, 2007); "O poste, a mulher e o bambu", do Grupo Dimenti (Salvador, 2006); e "Bull dancing - urro de omi boi", do Núcleo Dirceu (Teresina, em 2006).

Os quatro trabalhos são configurações de dança onde há cumplicidade dos processos de criação com as possibilidades de existência artística, por meio de políticas de apoio e outros modos de organização cênica e artística. São sintomáticos. "Os tempos" fala dos afetos que emergem das possibilidades de encontro e do estar juntos. "Corpo-massa: pele e ossos" questiona o estatuto estético do corpo humano, numa busca por outros modos de se organizar politicamente.

"O poste, a mulher e o bambu" faz do riso irônico a estratégia cênica para desestabilizar identidades midiáticas. "Bull dancing - urro de omi boi" discute a violência e o estrangeiro a partir da Dança do Boi.


FIQUE POR DENTRO
Trajetória
Joubert Arrais é artista pesquisador e crítico de dança. Mestre em Dança pelo Programa de Pós-graduação em Dança, da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e bacharel em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com formação artística pelo Centro em Movimento (CEM) em Lisboa, Portugal. Foi bolsista de Produção Crítica em Dança 2008/2009 (Funarte/MinC). Em 2008, participou do II Workshop para Jovens Críticos da Transdisciplinary European Arts Magazines - Team Network & Alkantara Festival/Portugal. Atualmente coordena o comitê temático Produção de Discurso Crítico sobre Dança, da Associação Nacional de Pesquisadores em Dança - Anda (Gestão 2011/2012).


MAIS INFORMAÇÕES

Curso "Coreografias nordestinas - obras e contextos", com o pesquisador e crítico de dança Joubert Arrais. No Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza, de amanhã até sexta-feira, das 14 horas às 17 horas. Gratuito. Rua Floriano Peixoto, 941, Centro. Contato: (85) 3464.3108.

Nenhum comentário: