quarta-feira, 11 de maio de 2011

Por onde anda o ensino de Literatura Cearense no Ceará?

Pare. Pense. Reflita: você, cearense, já teve alguma disciplina no colegial que abordasse respectivamente sobre a Literatura Cearense? Os autores de nossa região? Quantos escritores cearenses você conhece?

É triste afirmar, mas o ensino de literatura cearense em nossas escolas ainda é bem restrito, ou basicamente nulo, pois a maioria das instituições escolares no Ceará, preocupadas em seguir à risca seus currículos, acabam não valorizando as obras dos autores cearenses, assim sendo, é praticamente impossível constatar disciplinas específicas que abordem a nossa literatura. Além do mais, as escolas tendem a seguir o programa dos livros didáticos e estes não tratam de autores e nem da literatura cearense, portanto as escolas acabam também não trabalhando. No máximo, os livros didáticos vêm a estudar as escolas literárias ressaltando apenas alguns escritores salientes no plano mundial e/ou nacional.

É perfeitamente observável que mesmo nas aulas de literatura, não são trabalhadas obras de escritores cearenses e, raramente, quando são, percebe-se que é abordada numa visão geral da literatura no contexto brasileiro (no plano nacional – escolas literárias brasileiras) e, assim, apenas alguns autores cearenses se destacam, um exemplo deles é José de Alencar, um dos expoentes do romantismo brasileiro, que é trabalhado nas nossas escolas cearenses sobre o panorama geral da literatura brasileira e não regional.

Entre estes escritores cearenses citados no plano nacional temos, Domingos Olímpio, José de Alencar, Raquel de Queiroz e alguns outros, que, como dito, quando são trabalhados nas escolas o são sob a concepção de escritores nacionais e não regionais. Vale frisar que os escritores mais conhecidos são aqueles que se mudaram para o Rio de Janeiro ou outro estado cuja literatura tinha efervescência e por lá publicaram suas obras.

Displicentemente quando a literatura cearense é estudada nas nossas escolas em seu caráter regional, seu “estudo” se dá a partir de projetos e feiras onde a metodologia utilizada é de pesquisa autônoma, ou seja, na maioria das vezes, os alunos são encarregados de buscar informação aleatoriamente sem o monitoramento do professor para tirar dúvidas ou promover debates. Em outras palavras, quando a literatura cearense é trabalhada nas escolas é sempre descontextualizada do cenário nacional e levada apenas como literatura regional.

Portanto, restam-nos inúmeros questionamentos do tipo: por que valorizamos todo tipo de literatura menos aquelas que são produzidas por autores de nossa terra? Por que os escritores cearenses são mais valorizados por leitores de outros estados ou países do que por seus conterrâneos? Por que o descaso das escolas em trabalhar escritores regionais?

Para estes questionamentos temos inúmeros pressupostos, no entanto, sempre temos que levar em conta a questão cultural, a cultura globalizada, ou melhor: algo chamado mais-valia, que dita que devemos importar coisas, pois o que é importado é sempre melhor do que as coisas nacionais. Assim, a mídia e os meios de comunicações globais não focalizam muito a esfera nacional diga lá a regional! Sempre nos deparamos com músicas estrangeiras, filmes estrangeiros, produtos estrangeiros e uma vasta prateleira de livros de escritores, também, estrangeiros nas livrarias. Talvez essa valorização às coisas importadas venha de nosso berço cultural, quando os primeiros índios que tiveram contato com os colonizadores, através do escambo. Desde o princípio houve uma certa valorização pelo que vem de fora. E hoje, diante de toda a globalização há a idéia de que devemos importar cultura, roupas, enfim, praticamente tudo e exportar nossos alimentos e riquezas naturais. Mas este é um outro ponto, que não se faz pertinente para ser abordado, pelo menos por enquanto.
Não obstante, estes são questionamentos de suma importância, pois nos fazem refletir sobre nossa postura perante nossa própria cultura. A valorização cultural deve partir das pessoas que compartilham a mesma cultura, para que ela seja valorizada por terceiros. Mas como mudar o panorama contemporâneo sobre a literatura cearense? Pois como percebemos a mesma é desvalorizada pelos próprios cearenses e, de certa forma, nossa literatura vem arraigada de preconceitos, ou seja, conceitos pré-estabelecidos por pessoas que não lêem obras cearenses, ou que a partir de uma experiência ruim de leitura, generalizam todas as obras cearenses.

Esta concepção, este preconceito, esta desvalorização precisam mudar. Mas como mudar algo quando o lugar por excelência criado para debates desse teor também negligencia a importância da literatura cearense, que é o que ocorre nas faculdades presentes no Ceará, onde em muitas delas a disciplina de Literatura Cearense não passa de uma disciplina opcional? Quiçá o ‘x’ da questão esteja basicamente aí, pois se os professores nas academias não estudam literatura cearense, por conseguinte não são preparados para ensiná-la nas escolas. No entanto, esta questão ainda precisa ser vastamente debatida.

Portanto, compete a nós, cearenses, nos posicionarmos favoráveis a nossa literatura, pois em nosso estado existem muitos escritores bons que não são reconhecidos. O primeiro passo para fazer com que nossa literatura desponte é lê-la. Assim sendo, quantos livros de escritores cearenses você leu no ano passado? E nesse ano?

Que possamos, a partir de agora, parar para pensar por onde anda o ensino de literatura cearense nas nossas escolas do Ceará, já que a literatura cearense segue seu curso: anda, anda, anda, mas dificilmente pára em alguma escola para ser ensinada.

Camila Márcia Vasconcelos Ferreira-Aluna da cidade de Bela Cruz, cursa o 6º período do Curso de Letras – Habilitação em Língua Portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Sobral

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