domingo, 13 de março de 2011

Um cearense de Parapuí

Bartolomeu saiu com 22 anos de Parapuí para cortar cabelo na capital. Depois de 43 anos de barbearia, pensa em se aposentar


Bartolomeu Alencar Amarante, 66, não sabe de onde veio a vocação para o manuseio da navalha e da tesoura. “Na minha família, ninguém tem essa profissão”, informa. O que se sabe é que a intimidade com os instrumentos de profissão começou desde novo, quando ensaiou os primeiros cortes nos cocurutos dos meninos de Parapuí, distrito de Santana do Acaraú (228 km de Fortaleza). “Fazia as crianças de cobaia”, ri. O corte geral era o “príncipe de galo”, estilo ainda hoje dos militares, mais conhecido na região como “crista de galo”. A profissionalização viria em 1968, já em Fortaleza, atraído pela curiosidade sobre a metrópole.


Depois de meia década a serviço de salões alheios, Bartolomeu inaugurou em 1974 seu próprio estabelecimento: um salão simpático, que divisa o tempo calmo do corte de cabelo, da barba bem feita, com a zoada do trânsito na rua Padre Valdevino, quase esquina com avenida Dom Manuel. O Salão Parapuiense chama a atenção de quem passa por ali, demarcando uma época que resiste em permanecer. Clientes chegam daqui e dali, alguns na terceira geração sob os cuidados de Bartolomeu.


Ao lado de Francisco Araújo, “O Bigode”, Bartolomeu viu o ramo das barbearias minguar com o tempo, sofrendo com a concorrência dos novos salões de beleza e a ampliação da demanda por serviços outrora insuspeitos para um barbeiro. “Antes os salões de cabeleireiro faziam mais o corte moderno, aqueles cabelos mais sofisticados, cobrindo a orelha e tal. Mas depois começaram a fazer esses cabelinhos simples também, que era do barbeiro. Ai começou a aumentar a concorrência”, considera.

A navalha, a tesoura e o pente já não são o suficiente para alguns clientes. Agora, não raro, chega algum atrás de outros caprichos. “Tem muito homem que é vaidoso mesmo, é exigente como um todo”, afirma. “Antes não era assim não. Agora que tão procurando esses serviços: lavagem, massagem, alisamento permanente, essas coisas”. Já prevendo a aposentadoria, Bartolomeu diz não ter pretensões de incluir esses tratamentos nos serviços do Parapuiense. Caso apareça alguém nessa intenção, ele limita-se a indicar outro salão ali próximo.
No Parapuiense, faz-se barba e cabelo. O cliente chega, passa a receita do corte que tem em vista e a tesoura rápida de Bartolomeu entra em ação, guiada por um pente preto que dá a medida do corte. No final, um espelho para o portador do novo visual conferir o resultado, dar o aval ou sugerir algum ajuste. “Esse daqui reclamou que eu tinha deixado alto esse lado”, fala Bartolomeu, exemplificando.

Há quatro anos sem voltar a sua terra-natal, Bartolomeu fala da longa estadia em Fortaleza. Mais de 40 anos fora de Parapuí, a pequena cidade que homenageou no nome de seu salão. “Como somos cearenses, Parapuiense, né?”, conclui. Pai de uma filha de 26 anos, Bartolomeu ainda pretende voltar à cidade, sem navalha, nem tesoura, apenas para descansar da jornada: “Lá eu fico só descansando da viagem. A jornada tá longa, desde 68. Tem trabalhado um bocado, não tem?”

Fonte: O Povo

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