terça-feira, 15 de março de 2011

Homenagem ao mestre

Aderbal Freire Filho, Ernesto Escudeiro, Marcus Miranda, Maria Luiza e Íris Breno, em "Deu Freud Contra" (1965)
Um dos mais expressivos e premiados diretores teatrais do Brasil, o cearense Aderbal Freire Filho vem a Fortaleza, para um bate-papo e um seminário

Para encerrar as festividades dos 45 anos de história do Grupo Teatro Novo, será realizado hoje, às 19 horas, no Foyer do Theatro José de Alencar, um bate-papo com um de seus fundadores, Aderbal Freire Filho. O dramaturgo cearense, radicado no Rio de Janeiro desde 1970, é um dos mais importantes e premiados diretores do País.

De acordo com o ator Sidney Malveira, que atualmente dirige o grupo, a vinda de Aderbal a Fortaleza consiste na última atividade das comemorações que integram o projeto "GTN 45 Encena", contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz de 2009 e o VI Edital de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE).

A partir deste projeto foi possível partilhar, com os artistas e o público em geral, uma história construída de geração em geração por meio de atividades artísticas, que vem sendo desenvolvidas desde outubro do ano passado, como: a oficina de teatro "Aprimorando a percepção do ator", que foi ministrada pela atriz Leuda Bandeira, no Teatro Marcus Miranda, do Centro Cultural Bom Jardim; o lançamento do site http://grupoteatronovo.com.br e a aula-espetáculo "Francisco e Marcus - Nós dois na berlinda", de Ricardo Guilherme, homenagem a Marcus Miranda, realizado no auditório do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC).

Memória cultural
"É mais do que justo finalizar as comemorações de 45 anos do Teatro Novo com a presença de Aderbal Freire Filho. O bate-papo de hoje será dividido em dois blocos temáticos. No primeiro, ele vai discorrer sobre as origens do grupo e a história do teatro cearense. Em seguida falará sobre suas experiências cênicas e o teatro contemporâneo", detalha o diretor Sidney Malveira.

Após o bate-papo, o público poderá fazer perguntas ao diretor cearense, que amanhã, também, ministrará o seminário "Arte como Acontecimento" no Teatro do Sesc-Senac Iracema, às 18 horas.

"Promover todas essas ações culturais é preservar a nossa memória, é um investimento em nosso patrimônio imaterial. Estar à frente desse grupo é incrível, inacreditável! E quando lembro que acidentalmente me tornei diretor estreante do espetáculo ´Dorotéia vai a guerra´, dirigindo o ator veterano Marcus Miranda, pude perceber que a minha vida não poderia ser mais a mesma depois daquele instante", diz Malveira.

Teatro Novo
Fundado em Fortaleza, em 1965, pelos atores Marcus Miranda (Praxedinho), Maria Luiza e Aderbal Freire Filho, o Teatro Novo surgiu da necessidade de criar um grupo e implantar uma nova maneira de fazer cênico, diferente do que se podia encontrar em companhias locais e estilos de teatro em Fortaleza, naquela época.

Seu principal idealizador foi Marcus Miranda, um dos atores mais conhecidos do Estado. Ele dedicou integralmente a sua vida às artes cênicas, explorando o seu lado de autor, ator, cenógrafo e diretor, conduzindo o grupo Teatro Novo com muita competência.

Entre as grandes produções realizadas estão os espetáculos "Dona Xepa" (1966), "Uma Janela para o Sol" (1965), "Dois Perdidos Numa Noite Suja (1968), "Soninha Toda Pura" (1969), que formam o quadro de mais de 25 produções encenadas pelo grupo.

Fase atual
Com mais de 40 décadas de atuação, o Teatro Novo passou por diversas fases, ambas marcadas pelo experimentalismo cênico. Na sua atual direção, a companhia montou o espetáculo "Dorotéia Vai à Guerra" (2001), em comemoração aos 50 anos de carreira do ator Marcus Miranda; "Um Minuto de Silêncio" (2002), trazendo de volta aos palcos a "Dama do Teatro Cearense" Antonieta Noronha; "As Bestas" (2003), com as atrizes Leuda Bandeira e Mazé Figueiredo; e "Zona Contaminada" (2004), do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu.

Em 2005,dedicam-se a produção do espetáculo "Tempo de Espera", de Aldo Leite. No ano seguinte, produziu "Anônimos", texto e direção de Sidney Malveira, resultado de pesquisa realizada no Lar de Idosos Torres de Melo, e, ainda, "Eu Ando, Tu Andas... Eles observam", de Dryca Lima, utilizando-se do teatro, da dança e do vídeo para a construção do espetáculo.

No início deste ano, o grupo realiza a Mostra GTN 45 Encena, onde é lançado oficialmente o Catálogo do Grupo e inicia estreia e temporada do espetáculo "Na Contramão do Tempo", que ficou em cartaz durante todo o mês de fevereiro.

"O Teatro Novo vem contribuindo com o cenário cultural cearense na consolidação do fazer teatral, na construção da história de uma cidade, de um povo, de uma cultura, de uma arte. História de realizações pautadas na responsabilidade sócio-cultural, que gerou um quadro de mais de cem integrantes entre atores, técnicos, designers, maquiadores, contra-regras, camareiras e produtores, durante esses anos de construção cênica que se renovam sempre", finaliza Malveira.

Fique por dentro
Teatro poético

Nascido em Fortaleza, em 1941, Aderbal Freire Filho distingue-se entre os demais diretores brasileiros por unir a busca constante por novas formas de teatralidade a uma encenação que prioriza o ator como agente principal da linguagem e da comunicação das ideias do texto. Além de ser um dos responsáveis pela criação do Grupo Teatro Novo, o diretor cearense tem uma trajetória artística bastante produtiva.

Na década de 80, realiza experiências com teatro de rua, em grandes montagens de dramas sacros e também com adaptações para Machado de Assis (1839 - 1908) e Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987). No início da década de 90, dedica-se a personagens históricos, realizando: "Lampião", de sua própria autoria; "O tiro que mudou a história", dele e de Carlos Eduardo Novaes (1991); "Tiradentes, Inconfidência no Rio", dos mesmos autores (1992).

Esse último lhe vale uma encenação ímpar no teatro brasileiro. Por sua longa carreira, pela gama variada de linguagens e projetos cênicos, e pela ênfase à função questionadora do processo de criação teatral, o dramaturgo recebeu o Troféu Sereia de Ouro de 2003.

MAIS INFORMAÇÕES
Bate-papo com Aderbal Freire Filho. Hoje, às 19 horas, no Foyer do Theatro José de Alencar. Amanhã, haverá o seminário "Arte como Acontecimento", às 18 horas, no Sesc-Senac Iracema. Em ambas as ações a entrada é gratuita. Contatos: (85) 3230 3455 ou 3452-9000

ANA CECÍLIA SOARES 
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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