quarta-feira, 16 de março de 2011

O cearense que virou homem de teatro


Por Eduardo Galdino
Especial para o Jornal O ESTADO

Ele sempre acha que não vai ganhar e que não tem mais idade para conquistar prêmios. Disse certo, acha! Mas é um dos diretores de teatro mais premiados do Brasil. Aderbal Freire Filho, que recentemente foi um dos favoritos na categoria Melhor Diretor do 4º Prêmio Contigo! de Teatro, pela peça “Moby Dick”, está em Fortaleza, onde participou de um bate-papo ontem à noite, no Foyer do Theatro José de Alencar. Trata-se de um evento do Programa Cultura do SESC-Ceará em parceria com o Grupo Teatro Novo que completa 45 anos de existência.

Cearense, radicado no Rio de Janeiro, Aderbal está casado com a atriz Marieta Severo, que ao lado da também atriz Andréa Beltrão, é dona do Teatro Poeira, onde aconteceu a cerimônia de entrega do 4º Prêmio Contigo! Próximo de completar 70 anos de idade, dia 8 de maio que o diga, o diretor disse que se encontra no “limbo”, entre “aqueles que já ganharam muitos prêmios e aqueles que já estão velhos e não ganham nunca”. Impressão, apenas!

Aderbal formou-se em direito na capital cearense, onde, a partir de 1954, começou a participar de grupos amadores e semi-profissionais de teatro. Sua caminhada nas artes cênicas é densa! Freire-Filho, como muitos costumam chamar, carrega o mérito de ter sido um dos fundadores do Teatro Novo, em 1965, ao lado dos renomados atores Marcus Miranda (Praxedinho) e Maria Luiza; como também, do Grêmio Dramático Brasileiro, em 1973; e do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo, em 1989.

“Felizmente, troquei-o curso de direito pelo teatro para não me tornar advogado e homem frustradíssimo”, afirmou Aderbal. A escolha do curso se deu, provavelmente, por influência do pai, advogado e professor universitário. Freire-Filho só assumiu a carreira de diretor por obra do acaso, pois sua missão era o texto.
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1970, onde fez sua estréia como ator em “Diário de Um Louco”, de Nikolai Gogol, encenado dentro de um ônibus que percorria as ruas da cidade. A trajetória de Aderbal no teatro teve início no ano de 1972, quando dirigiu “Cordão Umbilical”. Freire Filho assina mais de 80 montagens.

Aos 69 anos, o fortalezense Aderbal ocupa a galeria de grandes nomes do Teatro Brasileiro. Ele assina, entre outros, “Apareceu a Margarida”; “A Morte de Danton”; “A Mulher Carioca aos 22 Anos e Tiradentes”. Freire-Filho destaca-se entre os diretores brasileiros, por aliar a busca constante por novas formas de teatralismo a uma encenação que prioriza o ator como agente principal da linguagem e, da comunicação das idéias do texto. 
Como ele mesmo diz, “não existe bom teatro sem texto e ator”.

A vida de Aderbal vai além da capital carioca. Fora do Rio de Janeiro, ele faz montagens com grupos, dá cursos e dirige alunos de escolas de teatro. O ensino é uma atividade paralela que Aderbal tem entre suas atividades. Ele leciona na Casa das Artes de Laranjeiras, na Escola de Teatro Martins Pena e na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena um curso de pós-graduação lato sensu, na Escola de Comunicação.
O portfólio do diretor cearoca, que tem a mistura de cearense com carioca, conta com peças variadas, como “Réveillon”, de Flávio Márcio; “O tiro que mudou a história”, do próprio Aderbal e de Carlos Eduardo Novaes; e “Moço em estado de sítio”, de Oduvaldo Vianna Filho. O trabalho de Freire-Filho inclui, ainda, projetos em países da América Latina e em capitais brasileiras.

Aderbal é um teatrólogo que privilegia dramaturgos nacionais e latino-americanos. O cearense arretado como se diz no popular, trilha ao longo de sua carreira, uma gama diversificada de linguagens e projetos cênicos. Freire-Filho dedica ao texto um minucioso estudo que, realizado em conjunto com os atores no processo da encenação, serve de impulso à criação da linguagem de cada espetáculo.

“Meu compromisso é com o teatro em todas as suas possibilidades”, diz Aderbal, acrescentando que busca o teatro que afirma a própria existência e vitalidade. Ele corre do “teatro de diretor”, em voga no Brasil nas últimas décadas. Freire-Filho é o diretor teatral que prefere a busca incessante pela valorização do texto, que, em sua opinião, tem no ator o principal canal de expressão. O diretor, que as artes cênicas cearenses têm muito orgulho, acredita que o teatro, forma de expressão artística que a gente poderia considerar ultrapassada, continua em ação.

Aderbal, que atualmente dirige a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, conhecida SBAT, fecha sua agenda na capital cearense, com a palestra “Arte como Acontecimento” que ministrará dentro de seminário, hoje, a partir das 18 horas, no SESC-Senac Iracema (Rua Boris 90 “C” – Praia de Iracema). A programação é gratuita

Fonte: O Estado

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