sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

As lembranças do Ceará

Dona Rosa Ribeiro representa todas as rendeiras do Ceará no Centro de Turismo.
FOTOS: MIGUEL PORTELA
A construção secular, que abriga o mais fino artesanato cearense, ganhará vida nova com a inauguração do sonhado restaurante

Na ala central do espaço histórico, o vaivém dos visitantes não tira sua concentração. Mãos firmes e olhos atentos à almofada à sua frente, ela mexe os bilros pra lá e pra cá. Belas peças em renda vão surgindo. A rendeira Rosa Ribeiro, 73 anos, recebe os cumprimentos pelo trabalho realizado, agradece pelo reconhecimento à sua arte e põe mãos à obra.

Como o artista tem que ir aonde o povo está, dona Rosa é presença constante no Centro de Turismo. O lugar é a melhor passarela para a mostra da arte do povo cearense em suas diversas versões. E ela, como rendeira - um dos personagens símbolos do Ceará - não poderia ficar de fora desse desfile de belezas, expressas em artesanato, moda, souvenirs, culinária e muito mais.


Abrigando o comércio da diversidade cultural do Ceará desde 1973, o prédio de linhas neoclássicas datado de 1866 e localizado no Centro de Fortaleza, tornou-se parada obrigatória para quem quer apreciar a variedade de criações dos cearenses. Da cadeia pública que funcionou ali no passado ficaram apenas recordações.

A construção impressiona pela imponência. Primeiro, o visitante aprecia a arquitetura colonial e os imensos portões de ferro trabalhado. Ao cruzar as muralhas, encontra um ambiente tranquilo, arborizado e seguro, ideal para compras. As antigas celas da grandiosa edificação viraram lojas e boxes para os artesãos. Os espaços que serviram para reclusão hoje realçam arte pura.

O Centro de Turismo dispõe de 104 lojas distribuídas em três alas (Norte, Central e Sul) unidas por calçadões e mais a Galeria João Moreira. Quem passeia por lá garante: é a opção mais agradável para se adquirir o rico artesanato cearense. A qualidade e o perfeito acabamento das peças e produtos são diferenciais, se não bastasse a história enraizada no espaço de largos corredores.

Ao percorrer o espaço histórico, o turista encontra trabalhos em labirinto e renda, bordados, peças para cama, mesa e banho, moda praia, redes, artesanato de todos os tamanhos e formas, peças em couro, palha, metal e madeira, doces, bebidas, produtos do caju, quadros, garrafas de areia colorida e uma centena de lembranças do Ceará. Há peças a partir de R$ 1,00. Mas, no bate-papo com os comerciantes é possível obter algum desconto se o cliente desejar grandes quantidades.

Cada peça tem como principal procedência o interior do Ceará. Vêm das praias, do sertão, das serras. Por isso se diz que o Centro de Turismo reúne peças e artigos de todo o Ceará, pois os fornecedores são de todas as regiões, cada uma com sua tipologia. Não dá para arriscar a quantidade real de produtos comercializados ali. O melhor, então, é conferir toda a variedade. Nesse quesito, um dos destaques no Centro de Turismo é o comerciante Raimundo Quixadá, com sua oferta de castanhas de caju de qualidade inigualável.

Quixadá é referência quando o assunto é castanha. Há mais de 30 anos, ele mantém uma loja no Centro de Turismo. E afirma: "Tão certa quanto as rendas entre os desejos do turista em Fortaleza, a castanha ganhou sabores inusitados, como caramelo, cappuccino e gergelim, ervas finas defumadas". Então, foi-se o tempo em que comprava-se a iguaria decidindo apenas se "com ou sem sal".

Ainda no passeio pela Centro de Turismo, o visitante tem a oportunidade de apreciar o Museu de Arte e Cultura Popular, no andar superior da Ala Central. São 1,5 mil peças, com destaque para uma jangada, um tear e um carro de boi originais. O acervo inclui, ainda, uma estátua do Padre Cícero, toalhas bordadas por escravas, artigos religiosos, bonecos, peças em cerâmica, latão, ferro, barro, couro, palha e flandre, armas antigas, instrumentos musicais criados por cearenses, ex-votos, máscaras, figuras de barro extraídas do imaginário popular e esculturas em madeira.

Fim da espera
A infraestrutura para usufruto dos visitantes inclui, também, banheiros, lanchonete, quiosque, caixa eletrônico, estacionamento para 42 veículos e playground. Placas indicam a direção de todos os cenários no Centro de Turismo, que, próximo de completar 38 anos de funcionamento, se prepara para receber seu novo restaurante, após 16 anos de espera.

O Restaurante América do Sol entrará em funcionamento até o final de março próximo, oferecendo café da manhã, self-service de comida regional no horário de almoço e petiscos nos fins de tarde e à noite. O empreendimento operará nos mesmos horários de funcionamento do Centro de Turismo, com espaço para 200 pessoas.

As empresárias Raquel Rodrigues e Cíntia Carvalho estão entusiasmadas com a operação do "América do Sol" no Centro de Turismo e prometem agregar ao atendimento diferenciado em ambiente agradável, ao lado de árvores centenárias, na área central de Fortaleza, música de qualidade e uma série de eventos voltados para movimentar o espaço, que, inclusive, oferece condições de acessibilidade e banheiros adaptados para pessoas portadoras de necessidades especiais.

MAIS INFORMAÇÕES
O Centro de Turismo funciona de segunda a sexta, das 8 às 18 horas; aos sábados, das 8 às 16 horas; e aos domingos, das 8 às 12 horas. Endereço: Rua Senador Pompeu, 350, Centro de Fortaleza. Telefone: 3101.5507

AREIAS COLORIDAS

Espaço guarda um acervo rico e precioso

As falésias inspiram os artesãos do litoral cearense para seus trabalhos inusitados com areias coloridas. Em pequenos recipientes de vidro, eles mostram as paisagens do Ceará e outras belezas para o mundo inteiro. Cenários, figuras religiosas, pessoas ilustres ou desconhecidas, símbolos, personagens, coqueiros, casas, animais brotam na areia depois de arrumada com a ponta de um arame.

As areias coloridas estão em quase todos os locais de comercialização do artesanato cearense. Mas, um acervo precioso está guardado no Centro de Turismo, mais precisamente na loja do comerciante Raimundo Quixadá. São garrafas de areias coloridas confeccionadas pelo artesão Edgar Andrade de Freitas, talentoso aracatiense que ganhou o mundo com sua arte.

O tesouro em areia colorida inclui garrafas com figuras de São Jorge, Jesus Cristo, cenas de caçadas, cavalos, paisagens tipicamente cearenses ou de cidades brasileiras, a exemplo da capital do País, Brasília. Os trabalhos de Edgar Freitas impressionam pela beleza, colorido e expressividade. Traços finíssimos e grossos se harmonizam. Todas as peças são assinadas e datadas pelo artesão, por sinal, o primeiro a adotar o procedimento numa forma de preservar a autoria.

Apreciador da arte de Edgar Freitas, Raimundo Quixadá quer deixar o trabalho do artesão mais à vista dos visitantes do Centro de Turismo. Para tanto, articula a criação de uma exposição permanente do acervo numa parceria com as secretarias do Turismo e da Cultura do Estado. Quixadá acredita que o espaço nobre valorizaria ainda mais a arte em areias coloridas. Em paralelo, o Centro ganharia mais uma atração para fidelizar visitantes.

Edgar Freitas faz arte com as areias coloridas deste pequeno. Hoje, com mais de 50 anos, se orgulha de ter seu trabalho reconhecido mundo afora, com peças exclusivas preservadas no Memorial da América Latina, em São Paulo-SP; em Brasília-DF, no Vaticano (Papa João Paulo II) e em Paris. Na capital francesa, a peça de sua autoria, um avião Concord em areia colorida, foi produzida a pedido da esposa do ex-presidente francês Valéry Giscard d´Estaing.

Reconhecimento especial
O artesão aracatiense também já mostrou sua arte, pessoalmente, em Portugal, China e Japão. Ele é um dos consagrados artesãos brasileiros que têm seu trabalho destacado na obra "Em Nome do Autor - Artistas Artesãos do Brasil", de autoria de Beth Lima e Valfrido Lima.

Uma página do livro é dedicada a Edgar Freitas. A publicação, patrocinada pelo Ministério da Cultura, visa, mais que mostrar o que existe de arte pelo País afora, aproximar os leitores de todos os artesãos, que vivem nas mais simples casas, nas cidades mais distantes, esculpindo, modelando e dando forma a um imaginário que, indiscutivelmente, faz parte do nosso patrimônio cultural.

Fonte: Diário do Nordeste

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