quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Cine São Luiz - O suplício da espera


Anunciada em agosto do ano passado, a aquisição do tradicional Cine São Luiz pelo Governo do Estado ainda espera a assinatura do governador Cid Gomes. Enquanto o impasse não é resolvido,  o único sobrevivente dos cinemas de
rua da Capital está há quase um ano sem programação e sofre com a falta de uma manutenção adequada

Efeitos do abandono
Enquanto o Governo do Estado não concretiza a compra do Cine São Luiz, o prédio tombado desde 1991 está fechado e exposto à deteriorização

Há pouco mais de uma semana, o prédio histórico do Cine São Luiz, localizado ali na Rua Major Facundo, na Praça do Ferreira, no Centro da Cidade, tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual desde 1991, sofreu um revés preocupante. Vítimas dos transtornos causados pelas fortes chuvas, registrados na Capital, especialmente no Centro, as ricas paredes de mármore Carrara do saguão principal foram banhadas por uma enxurrada.

Aparentemente, apesar de o incidente ter ocorrido no mesmo ambiente onde estão os lustres de cristais importados da Itália, elegantíssimos por sinal, que adornam a sala de espera do cinema fundado em 1958, nada foi danificado. Mas o susto foi grande. Seu Haroldo Silva, responsável pela zeladoria do tradicional cinema, conta o que aconteceu naquela fatídica manhã.

"O problema foi essa calha aí", diz apontando para o painel em branco onde deveriam estar os letreiros de um filme em cartaz. "Encheu de folha, entupiu, acumulou água e desceu tudo por cima da bilheteria. Tiramos água aqui de dentro das nove da manhã às quatro da tarde, de balde!", narra, com inocência, zelo e vontade que tudo volte ao normal em breve.

Fechado há quase um ano, desde quando o Sesc rescindiu o contrato de gerência feito em 2005, com o objetivo, dentre outros, de liberar o patrimônio histórico para a negociação de compra e venda, entre o Governo do Estado do Ceará e Grupo Severiano Ribeiro, o Cine São Luiz está no meio de um imbróglio burocrático.

"Ano passado, na gestão do secretário da Cultura, Auto Filho, o contrato foi definido, rascunhado e chegamos até trocar documentação com Fortaleza. Mas houve a mudança de secretários e isso voltou mais ou menos à estaca zero. Estive aí há uns 20 dias, conversei com Professor Pinheiro (nomeado e afastado como secretário de Cultura), e com o secretário da Casa Civil, Arialdo Pinho. Ele (Arialdo) ficou de me ligar semana passada, para definir a assinatura do contrato. Estou aguardando isso", ressalta Luiz Henrique Severiano Ribeiro Baez, Superintendente de Patrimônio do Grupo Severiano Ribeiro, cuja sede fica no Rio de Janeiro.

De fato. Desde agosto de 2010, quando legítimos descendentes do cearense Luiz Severiano Ribeiro estiveram aqui, apresentando suas propostas financeira, o Diário do Nordeste acompanha, de perto, o desenrolar desse caso.

Na época, a cifra apresentada pelos proprietários variava em torno dos R$ 6 milhões. Em contrapartida, a avaliação apresentada pelo então secretário de Cultura, e baseada na orientação de peritos do Estado, passava pouca coisa dos R$ 2 milhões. Ao final da reunião, realizada em 11 de agosto do ano passado, com cessão de ambas as partes, o valor da venda do prédio do Cine São Luiz ficou acertada em R$ 3 milhões.

Tudo parado

E foi só. Hoje, apesar da dedicação e cuidados de seu Haroldo, o prédio tombado, pelo simples fato de estar fechado, não consegue ficar livre da iminente deterioração causada pelo tempo.

Saindo da brancura limpíssima que ficou o mármore do "salão de estar" do cinema, mais ressaltada pelo recente "banho" com água de chuva, e entrando na sala de exibição, chega a dar uma tristeza. Não somente pelas vassouras e baldes improvisados na vedação das pesadas portas do primeiro andar. Mas, também, pela escuridão plena e absoluta, quebrada apenas pelo improviso do flash do fotógrafo, pela espessa camada de poeira que se espalha como manta pelas históricas e danificadas poltronas vermelhas do São Luiz.

"A negociação chegou a R$ 6 milhões, nós propusemos o valor intermediário de R$ 3 milhões, e o governo do Estado afirma que só pode pagar R$ 2,13 milhões. Quero ressaltar que esses ajustes não foram, nem serão empecilhos para fecharmos o negócio. A família não vai discutir valor porque compreende que o Cine São Luiz pertence ao povo do Ceará. Mas, precisamos, sim, com urgência, transferir o cinema para o Governo do Estado, porque está fechado há muito tempo e a tendência é ficar exposto à deterioração", diz Luiz Henrique Severiano Ribeiro Baez.

O Diário do Nordeste procurou o Governo do Estado para esclarecer os detalhes em aberto para conclusão da compra do Cinema. Em virtude da vacância no cargo de secretário de Cultura do Estado, para o qual o Professor Francisco Pinheiro, ex-vice-governador e eleito deputado estadual no último pleito, foi nomeado e imediatamente afastado do cargo, a questão está na Casa Civil.

A recente transferência das instalações da Secretaria para o reformado Palácio da Abolição, ali, na avenida Barão de Studart, que permanece desde janeiro sem comunicação de telefones fixos e/ou internet, também não está facilitando a busca de informações.

Procurado pela reportagem para esclarecer em que patamar está a negociação, Arialdo Pinho confirmou o valor de R$ 2,13 milhões acertado com os proprietários. O secretário disse que a negociação continua e que, no prazo máximo de 60 dias, tudo estará resolvido.

Tomara! O Centro e a cidade agradecem.

Fique por dentro
Impasse


A indefinição quanto ao futuro do Cine São Luiz tem pelo menos seis anos. Em 2005, o fechamento do local chegou a ser anunciado. O motivo era a queda de público. Na época, foi acertada uma parceria com o Serviço Social do Comércio (Sesc), que passou a ser o responsável pela programação do espaço.

Até um projeto, assinado pelo arquiteto Fausto Nilo, foi elaborado, mas nunca colocado em prática pois o Sesc alegava que não tinha permissão para intervir na estrutura do prédio, apenas lidar com o custeio. A ideia original era de um centro cultural com bar, sala de ensaios, auditório e um memorial. Em abril de 2010, começaram as negociações para compra do prédio pelo Governo do Estado. Em agosto, o ex-titular da Secult, Auto Filho, anunciou que a compra era dada como certa.

NATERCIA ROCHA
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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