domingo, 20 de fevereiro de 2011

Narrar é a arte de encantar

Foto: Wilson Gomes
Duas narradoras dizem como descobriram a contação de histórias, como escolhê-las e prepará-las
Fortaleza. O que fazer para ser um bom contador de histórias? Tem preparação para quem quer vivenciar esta arte? Há uma forma para isto? Para Walter Benjamin, em seu artigo "O narrador", "o narrador é um homem que sabe dar conselhos". Benjamin justifica o seu "dar conselhos", dizendo em seguida que "o conselho tecido na substância viva da existência tem um nome: sabedoria". A narrativa sempre esteve presente no seio familiar, repassando a sabedoria entre os seus. "A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores", afirmou.

Hoje, um grande movimento tenta resgatar estes personagens e a própria prática, como uma alternativa ao mundo midiático em que vivemos. Mesmo naquela super livraria, informatizada e com um acervo tecnológico gigante, há espaço para os momentos de contação de histórias, sempre recorrendo aos livros ou mesmo às histórias do lugar. As escolas têm adotado a prática, e mães e pais, também, incorporaram a narração no cotidiano dos filhos.

Esta partilha de experiências acaba influenciando o futuro dos pequenos, como aconteceu com a educadora, Iracema Sampaio, de Sobral, e a assistente social, Tâmara Bezerra, de Fortaleza. As duas são narradoras, mas foi mesmo ouvindo as narrativas de pais e professores que elas se descobriram, também, como boas contadoras. "Minha mãe tinha uma preferência pelas fábulas e pela literatura de cordel. Já meu pai tinha de memória muitos contos maravilhosos que havia ouvido de seu pai e de outras pessoas quando criança", contou Iracema. "Acredito que minha primeira experiência foi como ouvinte, foi ao ouvi-las que fui arrebatada de encantamento pelas histórias. Tenho muita gratidão pela minha professora do primário, Dona Zenilda. Ela lia para os alunos, lembro com clareza da sua voz, das histórias e de como me identifiquei", afirmou Tâmara.

Para seguir os passos dos narradores que as influenciaram, as duas tiveram, primeiro, que ler muitos livros. Que não foi nenhum esforço para elas. Além disso, participaram de eventos, cursos e capacitações. "Mas imagino que quem acordou a narradora foram minhas crianças, cada história que eu lia ou contava, cada olho que brilhava a cada pedido dos alunos, eu ia construindo essa trajetória", confessou Tâmara Bezerra.

Na hora de preparar uma contação, elas revelam o que levam em consideração. Para Iracema Sampaio, "a qualidade literária da história é um fator importante e deve ser levada em conta na escolha da história". Já Tâmara Bezerra costuma dizer que as histórias a escolhe. "Quando ouço um conto ou me deparo com uma boa história em um livro, ele vai tomando conta de mim".

A qualidade da contação vai depender do repertório do narrador, independente dos elementos sonoros e plásticos utilizados. Para Tâmara, "uma boa narradora transmite com dedicação e honestidade as emoções trazidas por cada conto, quanto mais a história tiver encantando a narradora, melhor ela conseguirá narrar". (EL)

Encantamento
"Quanto mais a história tiver encantando a narradora, melhor ela conseguirá narrar"

Tâmara Bezerra
Contadora de história


Fonte: Diário do Nordeste 

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