FOTO: JARBAS OLIVEIRA |
Em 20 anos de funcionamento, o Curso Princípios Básicos de Teatro, oferecido pelo Theatro José de Alencar, fez história no Ceará. Espetáculos, formação de plateia e de profissionais renomados fazem parte dessa trajetória
São muitos os causos, espetáculos e talentos que integram a história centenária do Theatro José de Alencar. Parte importante dessa trajetória, no entanto, aconteceu fora do palco principal, mais especificamente no Centro de Artes Cênicas do Ceará (Cena), conhecido como anexo do TJA. É lá que, há 20 anos, acontecem as aulas do Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT), ação formativa mais próspera e perene do Theatro.
O curso foi fundado e é atualmente coordenado pelos professores, atores e diretores João Andrade Joca e Paulo Ess - este último temporariamente afastado, para doutoramento na Espanha em Teoria e Prática do Teatro. Ao longo dessas duas décadas de funcionamento, nomes importantes do teatro cearense já passaram pelo CPBT, a exemplo do ator Gero Camilo ("Bicho de Sete Cabeças", "Narradores de Javé", "Carandiru", "Abril despedaçado") - que, embora já afastado da cena local, permanece como referência de trabalho competente oriunda do Estado. Em um movimento de retroalimentação, dois dos atuais professores do curso também foram alunos: os atores Silvero Pereira e Juliana Veras.
Além de formar talentos, a importância do CPBT passa também pela formação de público enriquecimento da produção local, por meio dos espetáculos montados ao fim de cada ano. Para comemorar o aniversário, e incentivar reflexões sobre a trajetória e a relevância do CPBT, o Caderno3 revisita a história do curso, por meio de depoimentos de professores, alunos e gestores do TJA, até chegar à mais recente turma do projeto, que deve estrear nova peça neste segundo semestre.
A história do CPBT surge na esteira de uma série de ações formativas promovidas pelo Theatro e profissionais ligados a ele. "O TJA foi escola, por exemplo, quando Lourenço Filho fez conferência sobre a chamada Escola Nova; quando a Sociedade de Cultura Artística realizava também atividades de formação de público; quando Teresa Bittencourt e Hugo Bianchi, para citar dois exemplos da dança, sediaram suas atividades de formação em dança no TJA", recorda Izabel Gurgel, que dirige a casa com Silêda Franklin.
O Curso, por sua vez, origina-se entre 1987 e 1989, com o TJA então sob direção do bonequeiro Augusto Oliveira. "À época, os servidores e professores da Secretaria de Educação foram transferidos para a Secretaria da Cultura, com o objetivo de iniciarem um programa de formação ainda como minicurso, ou seja, oficinas de teatro no Theatro José de Alencar. Após o restauro do TJA, finalizado em 1991, e com o Cena implantado (idealizado por Violeta Arraes, nessa época responsável pela Secult), essas oficinas ministradas por mim e pelo Paulo foram re-qualificadas em seus currículos e carga horária", recorda Joca.
A ocasião também é lembrada pela atual diretora do TJA, Izabel Gurgel. "No período pós-restauro - o TJA foi reinaugurado a 26 de janeiro de 1991 -, sobretudo com a construção do Cena, a vocação do TJA como escola ganha concretude com uma estrutura física destinada para este fim: salas de dança, canto, música e teatro, espaços que podem acolher mais e melhor os mestres e aprendizes da cidade, do Estado, e nossas conexões com outros mundos d´além Ceará", rememora Gurgel.
"O CPBT é a atividade de formação mais regular do TJA. Ele oxigena a vida do Theatro. É a partir dele, sobretudo, que desde 2007 batizamos as atividades de formação no TJA de Escola Livre de Artes Cênicas", observa a diretora.
A intenção do CPBT era garantir ao jovem estudante um espaço para iniciar sua formação em teatro e, ao mesmo tempo, incentivá-lo a dar continuidade aos seus estudos, ingressando no Curso de Arte Dramática - CAD, única referência de formação na área existente à época. O CAD fazia parte do programa de extensão universitária da Universidade Federal do Ceará.
"Atualmente, o CPBT está sistematizado, tem carga horária de 200 horas de aula e é ministrado no período de um ano. Na década de 90, tivemos experiências com turmas noturnas devido à demanda do público interessado. Desde 2008, atendemos nos três turnos, com turmas regulares (manhã, tarde e noite)", complementa Joca.
"Sob o guarda-chuva da Escola Livre, além do CPBT abrigamos oficinas, cursos, aulas abertas, seminários, trocas, intercâmbios com mestres e aprendizes de linguagens distintas, de formações diversas e, como desejamos cada vez mais, de vários lugares do mundo", completa Gurgel.
Ao longo de seus 20 anos, o CPBT recebeu mais de 6 mil alunos, com 642 concludentes e 38 espetáculos montados. Estima-se que essas peças tenham sido assistidas por mais de vinte mil espectadores. "Temos, entre não-concludentes e concludentes, ex-alunos em atividade artística (atuação, direção, produção, figurinista, maquiadores, iluminadores etc) em Fortaleza, no interior do Ceará e em outros lugares do Brasil", comemora João Andrade Joca.
Alguns nomes dessa lista são Sâmia Bittencourt (a palhaça Nada, bailarina do Andanças, professora também na área de circo); Tomaz de Aquino (diretor do grupo Teatro Mimo); Murilo Ramos; Aspásia Mariano, Daniel Pizzamiglio, Felipe Araújo, Henrique Castro (que depois foram para o Curso Técnico em Dança da Secult no Dragão do Mar); Rogério Mesquita, Yuri Yamamoto (Grupo Bagaceira de Teatro); Otacílio Alacran, hoje no Tuca/São Paulo; Graco Alves (premiado no Rumos Itaú Dança com o solo "Maguinopirol"), entre outros.
"Como dizemos no TJA, o CPBT - lembrando a música ´Livro´, do Caetano - lança mundos (gente) no mundo. Há tempos se manifesta um desejo de expandir o CPBT para o interior do Ceará e, inicialmente no TJA, criar novos princípios básicos: de dança, circo, música...", planeja Gurgel.
Metodologia, situação atual e planos para o CPBT
Com duração de um ano e 300 vagas, o CPBT tem como público-alvo jovens de escolas públicas. As inscrições para 2011 estão abertas
Hoje o CPBT dispõe, ao todo, de 300 vagas (100 por turma, para maiores de 15 anos). As inscrições para a turma 2011 da tarde iniciaram-se no dia primeiro deste mês. As aulas devem começar em cinco de abril. Já as inscrições para as turmas da manhã e da noite iniciam-se no próximo dia 2 de agosto, com aulas a partir de 13 de setembro.
"Mas há possibilidades de ampliar as vagas. Para a Turma Tarde 2010, por exemplo, o professor Joca recebeu 50 novos alunos além dos 100 inicialmente previstos. Agora, a Turma Tarde 2011 abriu mais 30 vagas".
Esses números costumam diminuir ao longo do ano letivo, à medida que prosseguem as avaliações de seleção e as eventuais desistências. Vale ressaltar que a maioria dos alunos do curso é oriunda de escolas públicas - um público-alvo que não teria condições de pagar aulas em escolas particulares.
Segundo Joca, o curso é dividido em quatro módulos, na seguinte ordem: "Arte e Cidadania", quando os alunos são estimulados, através de jogos dramáticos e teatrais, a exporem suas ideias e sentimentos em relação à arte, cultura e vida em coletividade; "Introdução à Arte de Representar", com leituras dramáticas, preparação corporal e vocal, composição de personagem e criação de esquete; "Introdução à História do Teatro", teórico; e "Pesquisa e Montagem de Espetáculo".
"Os alunos passam por avaliações teóricas e práticas, sendo convidados a permanecer no CPBT os que demonstram maturidade para apreender o conteúdo", explica Joca.
Apesar da situação de indefinição em que se encontra hoje a Secult, a previsão é de calendário normal para o CPBT. "É compromisso do TJA não só manter como ampliar as possibilidades de vida do CPBT. As turmas Manhã e Noite, por exemplo, estão em aula com os professores Juliana Veras e Silvero Pereira, respectivamente", esclarece Gurgel. Veras dirige ainda o espetáculo "Um Gole Divino", da turma Manhã 2010. Pereira, por sua vez, dirige "Mixórdia", montagem de conclusão da turma Noite 2010. De 24 a 27 de março é a vez de "Olhe para os lados", montagem da turma Tarde 2010, sob direção de Joca.
MAIS INFORMAÇÕES
Espetáculo "Um gole divino". Aos sábados e domingos de fevereiro, na sala de teatro do Cena (anexo TJA), às 19 horas. Ingresso: R$ 6 (12 anos). Espetáculo "Mixórdia". Às quartas de fevereiro, no Teatro do Dragão do Mar, às 20 horas. Ingresso: R$ 2 (14 anos). Espetáculo "Olhe para os lados". De 24 a 27 de março, na sala de teatro do Cena, às 15h30 e 18 horas. Ingresso (R$ 2). Inscrições para turmas do CPBT 2011: No Cena, com Tito ou Ana Marlene. Contato: (85) 3101.2567
ADRIANA MARTINS
REPÓRTER
São muitos os causos, espetáculos e talentos que integram a história centenária do Theatro José de Alencar. Parte importante dessa trajetória, no entanto, aconteceu fora do palco principal, mais especificamente no Centro de Artes Cênicas do Ceará (Cena), conhecido como anexo do TJA. É lá que, há 20 anos, acontecem as aulas do Curso Princípios Básicos de Teatro (CPBT), ação formativa mais próspera e perene do Theatro.
O curso foi fundado e é atualmente coordenado pelos professores, atores e diretores João Andrade Joca e Paulo Ess - este último temporariamente afastado, para doutoramento na Espanha em Teoria e Prática do Teatro. Ao longo dessas duas décadas de funcionamento, nomes importantes do teatro cearense já passaram pelo CPBT, a exemplo do ator Gero Camilo ("Bicho de Sete Cabeças", "Narradores de Javé", "Carandiru", "Abril despedaçado") - que, embora já afastado da cena local, permanece como referência de trabalho competente oriunda do Estado. Em um movimento de retroalimentação, dois dos atuais professores do curso também foram alunos: os atores Silvero Pereira e Juliana Veras.
Além de formar talentos, a importância do CPBT passa também pela formação de público enriquecimento da produção local, por meio dos espetáculos montados ao fim de cada ano. Para comemorar o aniversário, e incentivar reflexões sobre a trajetória e a relevância do CPBT, o Caderno3 revisita a história do curso, por meio de depoimentos de professores, alunos e gestores do TJA, até chegar à mais recente turma do projeto, que deve estrear nova peça neste segundo semestre.
A história do CPBT surge na esteira de uma série de ações formativas promovidas pelo Theatro e profissionais ligados a ele. "O TJA foi escola, por exemplo, quando Lourenço Filho fez conferência sobre a chamada Escola Nova; quando a Sociedade de Cultura Artística realizava também atividades de formação de público; quando Teresa Bittencourt e Hugo Bianchi, para citar dois exemplos da dança, sediaram suas atividades de formação em dança no TJA", recorda Izabel Gurgel, que dirige a casa com Silêda Franklin.
O Curso, por sua vez, origina-se entre 1987 e 1989, com o TJA então sob direção do bonequeiro Augusto Oliveira. "À época, os servidores e professores da Secretaria de Educação foram transferidos para a Secretaria da Cultura, com o objetivo de iniciarem um programa de formação ainda como minicurso, ou seja, oficinas de teatro no Theatro José de Alencar. Após o restauro do TJA, finalizado em 1991, e com o Cena implantado (idealizado por Violeta Arraes, nessa época responsável pela Secult), essas oficinas ministradas por mim e pelo Paulo foram re-qualificadas em seus currículos e carga horária", recorda Joca.
A ocasião também é lembrada pela atual diretora do TJA, Izabel Gurgel. "No período pós-restauro - o TJA foi reinaugurado a 26 de janeiro de 1991 -, sobretudo com a construção do Cena, a vocação do TJA como escola ganha concretude com uma estrutura física destinada para este fim: salas de dança, canto, música e teatro, espaços que podem acolher mais e melhor os mestres e aprendizes da cidade, do Estado, e nossas conexões com outros mundos d´além Ceará", rememora Gurgel.
"O CPBT é a atividade de formação mais regular do TJA. Ele oxigena a vida do Theatro. É a partir dele, sobretudo, que desde 2007 batizamos as atividades de formação no TJA de Escola Livre de Artes Cênicas", observa a diretora.
A intenção do CPBT era garantir ao jovem estudante um espaço para iniciar sua formação em teatro e, ao mesmo tempo, incentivá-lo a dar continuidade aos seus estudos, ingressando no Curso de Arte Dramática - CAD, única referência de formação na área existente à época. O CAD fazia parte do programa de extensão universitária da Universidade Federal do Ceará.
"Atualmente, o CPBT está sistematizado, tem carga horária de 200 horas de aula e é ministrado no período de um ano. Na década de 90, tivemos experiências com turmas noturnas devido à demanda do público interessado. Desde 2008, atendemos nos três turnos, com turmas regulares (manhã, tarde e noite)", complementa Joca.
"Sob o guarda-chuva da Escola Livre, além do CPBT abrigamos oficinas, cursos, aulas abertas, seminários, trocas, intercâmbios com mestres e aprendizes de linguagens distintas, de formações diversas e, como desejamos cada vez mais, de vários lugares do mundo", completa Gurgel.
Ao longo de seus 20 anos, o CPBT recebeu mais de 6 mil alunos, com 642 concludentes e 38 espetáculos montados. Estima-se que essas peças tenham sido assistidas por mais de vinte mil espectadores. "Temos, entre não-concludentes e concludentes, ex-alunos em atividade artística (atuação, direção, produção, figurinista, maquiadores, iluminadores etc) em Fortaleza, no interior do Ceará e em outros lugares do Brasil", comemora João Andrade Joca.
Alguns nomes dessa lista são Sâmia Bittencourt (a palhaça Nada, bailarina do Andanças, professora também na área de circo); Tomaz de Aquino (diretor do grupo Teatro Mimo); Murilo Ramos; Aspásia Mariano, Daniel Pizzamiglio, Felipe Araújo, Henrique Castro (que depois foram para o Curso Técnico em Dança da Secult no Dragão do Mar); Rogério Mesquita, Yuri Yamamoto (Grupo Bagaceira de Teatro); Otacílio Alacran, hoje no Tuca/São Paulo; Graco Alves (premiado no Rumos Itaú Dança com o solo "Maguinopirol"), entre outros.
"Como dizemos no TJA, o CPBT - lembrando a música ´Livro´, do Caetano - lança mundos (gente) no mundo. Há tempos se manifesta um desejo de expandir o CPBT para o interior do Ceará e, inicialmente no TJA, criar novos princípios básicos: de dança, circo, música...", planeja Gurgel.
Metodologia, situação atual e planos para o CPBT
Com duração de um ano e 300 vagas, o CPBT tem como público-alvo jovens de escolas públicas. As inscrições para 2011 estão abertas
Hoje o CPBT dispõe, ao todo, de 300 vagas (100 por turma, para maiores de 15 anos). As inscrições para a turma 2011 da tarde iniciaram-se no dia primeiro deste mês. As aulas devem começar em cinco de abril. Já as inscrições para as turmas da manhã e da noite iniciam-se no próximo dia 2 de agosto, com aulas a partir de 13 de setembro.
"Mas há possibilidades de ampliar as vagas. Para a Turma Tarde 2010, por exemplo, o professor Joca recebeu 50 novos alunos além dos 100 inicialmente previstos. Agora, a Turma Tarde 2011 abriu mais 30 vagas".
Esses números costumam diminuir ao longo do ano letivo, à medida que prosseguem as avaliações de seleção e as eventuais desistências. Vale ressaltar que a maioria dos alunos do curso é oriunda de escolas públicas - um público-alvo que não teria condições de pagar aulas em escolas particulares.
Segundo Joca, o curso é dividido em quatro módulos, na seguinte ordem: "Arte e Cidadania", quando os alunos são estimulados, através de jogos dramáticos e teatrais, a exporem suas ideias e sentimentos em relação à arte, cultura e vida em coletividade; "Introdução à Arte de Representar", com leituras dramáticas, preparação corporal e vocal, composição de personagem e criação de esquete; "Introdução à História do Teatro", teórico; e "Pesquisa e Montagem de Espetáculo".
"Os alunos passam por avaliações teóricas e práticas, sendo convidados a permanecer no CPBT os que demonstram maturidade para apreender o conteúdo", explica Joca.
Apesar da situação de indefinição em que se encontra hoje a Secult, a previsão é de calendário normal para o CPBT. "É compromisso do TJA não só manter como ampliar as possibilidades de vida do CPBT. As turmas Manhã e Noite, por exemplo, estão em aula com os professores Juliana Veras e Silvero Pereira, respectivamente", esclarece Gurgel. Veras dirige ainda o espetáculo "Um Gole Divino", da turma Manhã 2010. Pereira, por sua vez, dirige "Mixórdia", montagem de conclusão da turma Noite 2010. De 24 a 27 de março é a vez de "Olhe para os lados", montagem da turma Tarde 2010, sob direção de Joca.
MAIS INFORMAÇÕES
Espetáculo "Um gole divino". Aos sábados e domingos de fevereiro, na sala de teatro do Cena (anexo TJA), às 19 horas. Ingresso: R$ 6 (12 anos). Espetáculo "Mixórdia". Às quartas de fevereiro, no Teatro do Dragão do Mar, às 20 horas. Ingresso: R$ 2 (14 anos). Espetáculo "Olhe para os lados". De 24 a 27 de março, na sala de teatro do Cena, às 15h30 e 18 horas. Ingresso (R$ 2). Inscrições para turmas do CPBT 2011: No Cena, com Tito ou Ana Marlene. Contato: (85) 3101.2567
ADRIANA MARTINS
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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