quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O mapa da nossa dança

Para além dos limites da Capital, a produção em dança contemporânea no Interior cresce a passos firmes. Conheça alguns nomes que fazem essa dança acontecer. Este fim de semana, três grupos passam por Fortaleza


Longe da Capital, o circuito da dança estabelece outros eixos. Os grupos buscam se fortalecer, criar estratégias de sobrevivência e conquistar o respeito do público, dos espaços e das políticas culturais. Flávio Sampaio e Gerson Moreno são figuras expoentes, com mais de 20 anos de atuação constante no Interior. Enquanto isso, novas gerações surgem e, com elas, a produção segue pulsante. Neste fim de semana, será possível acompanhar parte desta cena na Capital. A Alysson Amâncio e a Dakini Companhia de Dança apresentam-se no Teatro do Sesc Senac Iracema e a tradicional Cia. Balé Baião aporta no Theatro José de Alencar.

Alysson Amâncio é natural de Juazeiro do Norte, mas durante 10 anos dividiu residência entre Fortaleza e Rio de Janeiro, onde integrou a Esther Weitzman Cia. de Dança. Há seis, fundou na cidade natal a companhia que leva seu nome, premiada pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) em 2008. Embora tenha precisado migrar, Alysson percebe no Cariri um cenário diferente. “Temos o Centro Cultural, o Sesc, o Teatro Marquise Branca, o Teatro Salviano Arraes, que permitem a circulação de grupos locais e de eventos como a Bienal de Dança no Cariri e a Mostra Sesc de Cultura. Estamos vivendo um momento extremamente promissor na dança contemporânea caririense”.

Amanhã, o grupo apresenta Burra, não é nada disso que você está pensando, o quinto trabalho do repertório. “Mesmo estando no Interior, não estamos procurando copiar nenhum trabalho ou seguir modelos, estamos buscando cotidianamente achar a nossa linguagem”. O próximo espetáculo já vem sendo preparado. Acompanhado pela coreógrafa carioca Ana Vitória e com estreia prevista para abril deste ano, o trabalho é resultado do Prêmio Klauss Vianna/Prêmio Festival de Artes Cênicas e Prêmio Bolsa Residência.
A coreógrafa Elizângela Alencar, 35, tem história semelhante. Conheceu a dança do ventre em Juazeiro, também sua cidade de nascimento, mas precisou partir para São Paulo em busca de capacitação. Hoje, ela pesquisa a dança oriental aliada à eutonia, prática corporal que visa a ampliação da percepção e a consciência corporal. Diretora da Dakini Companhia de Dança, criada há cinco anos, ela acredita que o cenário da dança venha crescendo na região.
“Hoje estamos com um movimento forte, que vem se fortalecendo há quatro anos. Temos um público muito bom, cursos de capacitação e pessoas interessadas em trabalho profissional. Queremos mostrar que dança é uma profissão, com remuneração, capacitação”, defende. Em cartaz na Capital, a Dakini apresenta o espetáculo Amarras, onde investiga modificações da história feminina e suas “amarras que precisam ser desatadas”. Além de Elizângela, atuam no espetáculo as intérpretes-criadoras Ianny Queiroz e Jayane Diniz, integrantes da companhia desde sua formação. Na região do Cariri, outros grupos também se destacam por sua atuação. É o caso da Cia de Dança Carolina Rocha, A2 Cia de Dança e da Cia. de Dança Daniel Telles.
O coreógrafo, diretor e bailarino Gerson Moreno (ex-Colégio de Dança) dirige há 17 anos a Companhia Balé Baião, com sede em Itapipoca, no Vale do Curu. Articulado às companhias Arreios (Trairi) e Paracuru Cia. de Dança (dirigida por Flávio Sampaio), Gerson considera que a produção na região vem sendo reconhecida. “De alguma forma, o que fazemos consegue se destacar, caso contrário não nos apresentaríamos na programação oficial da Bienal de Dança do Ceará, por exemplo”, argumenta o coreógrafo de 36 anos, natural de Itapipoca.

O elenco da companhia segue fortalecido, com bailarinos fixos há mais de 10 anos. “Hoje podemos dizer que temos bailarinos que vivem da dança”, orgulha-se. Resultado de um forte investimento em capacitação, como considera o coreógrafo. O grupo, já trocou experiências com a companhia finlandesa As2wrists, a carioca Lia Rodrigues, Marcelo Evelyn (Núcleo Dirceu – PI) e a educadora paulista Izabel Marques (Instituto Caleidos). Para manter os trabalhos, Gerson afirma que é “impossível viver sem editais”. O grupo foi premiado com quatro, o que garante a montagem e a circulação de seus espetáculos.

Também atuam na região, Cacheado Braga (Itapipoca, egresso do Balé Baião), a recente Companhia Flex (Trairi, construíram sede com recursos próprios e trabalham com crianças da comunidade técnicas de dança contemporânea, clássica, break, dance, técnicas circenses e artes marciais), Arreios (Trairi), Grupo de Dança de Paraipaba, Balanciart (Itarema, em parceria com a Secretaria de Cultura), Grupo Afro da Comunidade Quilombola de Conceição do Caetanos (Tururu). Na região Jaguaribana, a Cia. de Dança Ciclos (Tabuleiro do Norte) foi criada a partir de um projeto de dança desenvolvido pela Escola de Ensino Médio Francisco Moreira Filho, em 2002, quando montou, sob a direção do coreógrafo Duaram Gomes, o espetáculo Migração.

SERVIÇO

AMARRAS - DAKINI CIA DE DANÇA
Quando: Amanhã (25)
Horários: 20h
Local: Sesc Senac Iracema (Rua Boris, 90 C)
Ingresso: Entrada franca
Outras info.: 3452 1242 / palcocariridanca.blogspot.com

BURRA - ALYSSON AMÂNCIO CIA.
Quando: sábado (26)
Hora: 20h
Local: Sesc Senac Iracema (rua Boris, 90 C)
Ingresso: Entrada franca
Outras info.: 3452 1242

CIRCUITO ITAPIPOCA
Quando: Sábado (26) e domingo (27)
Hora: 18h (no domingo, às 17h)
Local: palco principal (sábado) e teatro Morro do Ouro (domingo), no Theatro José de Alencar
Ingresso: Entrada franca
Outras info.: 3101 2583

Elisa Parente
elisa@opovo.com.br

Fonte: O Povo 

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