Prestes a estrear espetáculo em São Paulo, sobre um período da vida do pintor holandês Vincent van Gogh, o ator e dramaturgo Gero Camilo conversou por telefone com o Caderno 3 a respeito do novo trabalho e a carreira multifacetada
Experienciar a arte em toda a sua amplitude,sem rótulos ou com-partimentações. É essa a orientação que guia a carreira do ator, dramaturgo, cantor e escritor cearense Gero Camilo, 40 anos, mais conhecido por seus papéis na TV e no cinema brasileiros.
Do currículo do artista, fazem parte, por exemplo, participações nos filmes "Cidade de Deus", "Narradores de Javé", "Bicho de sete cabeças", "Abril despedaçado", "Madame Satã" e "Carandiru", além de produções televisivas como "Amor em quatro atos", "Som e fúria" e "Hoje é dia de Maria".
Menos familiar ao grande público é o trabalho de Camilo nos palcos - como ator, diretor e escritor. Nesse caso, a mais recente amostra de sua competência é o espetáculo "A Casa Amarela", sobre o pintor holandês Vincent van Gogh e o período em que este viveu na cidade de Arles (França).
O monólogo, escrito e encenado por Gero, sob direção de Márcia Abujamra, estreia dia 8 de abril em São Paulo, no teatro Eva Herz (Livraria Cultura). Natural de Fortaleza, Camilo ainda não tem data prevista para trazer "A casa amarela" a Fortaleza.
Impacto
O primeiro contato do artista com a história de van Gogh foi por meio do livro "Cartas a Theo", devorado ainda na adolescência. A obra traz correspondências do pintor a seu irmão e confidente, Theo. "Tocou-me muito o conteúdo literário e poético das cartas. As palavras vieram mais facilmente, chegaram a mim antes da pintura dele - refiro-me aos quadros de verdade, não a reproduções. Foi por meio do livro que me aproximei do pensamento dele", ressalta Gero Camilo.
Para o ator, o período vivido por van Gogh em Arles é um dos mais férteis de sua trajetória artística, por isso a decisão de basear o monólogo nesse recorte. "É quando o pensamento dele mais me atrai, quando ele conceitua muito bem os desejos em relação à sua arte e à arte que se fazia naquele momento. É um desejo coletivo, de construir uma comunidade artística, com o sonho de fazer uma base em Arles por onde vários colegas pudesse passar e, acima de tudo, sustentar-se", esclarece Gero, referindo-se às difíceis condições sociais experimentadas pelos artistas à época.
"Para além do potencial trágico de van Gogh, estou atrás do poeta iluminado, do artista preocupado com a humanidade em vez de voltado ao próprio umbigo ou à sua doença. Essa é a força do traço, da pintura, da poética dele, e é o que mais me atrai, porque comungo com muitos desses pensamentos. Meu objetivo com ´A casa amarela´ é fazer uma ponte entre o que vivemos hoje e as experiências dele, uma espécie de elo de pensamento", exlica Camilo.
O processo de criação do texto da peça ocorreu em Amsterdã, onde Gero Camilo passou um mês. "Aluguei um apartamento e fiquei 30 dias escrevendo. Também peguei coisas que já tinha escrito. Visitei museus, fui ver obras de van Gogh, passei pela cidade onde ele nasceu, Zundert", recorda o artista.
Ramificações
Além de "A casa amarela", Camilo já tem outros projetos engatados para o segundo semestre, entre eles o espetáculo "Lá fora vai estar chovendo sempre", sobre uma família que teve a casa deslocada após uma tempestade e, desde então, fica à deriva. Apresentada pela primeira vez em 2009, a peça será dirigida pelo próprio Gero. Entre os nomes confirmados para o elenco está sua colega e xará, Camila Pitanga.
O artista também deve aparecer em breve na tela grande, em dois longa-metragens previstos para estrear neste ano: "Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios", de Beto Brant, e "Assalto ao Banco Central", de Marcos Paulo. Decididamente um ano agitado para o ator.
O trabalho como dramaturgo sempre esteve presente na trajetória do cearense, cuja montagem mais famosa é "Aldeotas", sobre o reencontro de dois grandes amigos em uma pequena cidade. O artista também tem trabalhos reconhecidos na música (o primeiro CD do artista, "Canções de Invento", foi lançado em 2008) e na literatura - em 2002 ele lançou o livro "A macaúba da terra", com contos e peças, a exemplo de "Café com torradas" e "Quem dará o veredicto?". A obra será reeditada neste ano pela editora Dulcina.
"A poesia sempre esteve presente, sempre me acompanhou. A partir daí se desenvolvem outros braços artísticos. O poema não é só a escrita no papel. No meu caso, faz parte do ato cênico, e aproxima a pessoa da obra", ressalta Gero.
"Não sou uma parte ou uma resenha profissional, vejo a arte mais como um todo", complementa. O ator afirma não ter dificuldades em manejar tantos projetos ao mesmo tempo. "Fica complicado por não ter patrocínio para desenvolver os trabalhos. Com dinheiro seria bem mais fácil", brinca.
Outra proposta fundamental no trabalho de Gero Camilo é resgatar o ator como elemento central da construção criativa do teatro. "Não só no sentido mecânico, de responder às orientações, mas no sentido de se sentir tão responsável intelectual e esteticamente pela criação quanto o diretor", sublinha.
"Muitos atores dessas grandes produções de teatro trabalham como operários e ficam à mercê, na dependência de um patrão. Não os critico, mas deixo claro que, dentro do meu processo de criação, o ator é fundamental no pensamento, na construção do espetáculo e não apenas na sua funcionalidade", destaca.
ADRIANA MARTINS
REPÓRTER
Experienciar a arte em toda a sua amplitude,sem rótulos ou com-partimentações. É essa a orientação que guia a carreira do ator, dramaturgo, cantor e escritor cearense Gero Camilo, 40 anos, mais conhecido por seus papéis na TV e no cinema brasileiros.
Do currículo do artista, fazem parte, por exemplo, participações nos filmes "Cidade de Deus", "Narradores de Javé", "Bicho de sete cabeças", "Abril despedaçado", "Madame Satã" e "Carandiru", além de produções televisivas como "Amor em quatro atos", "Som e fúria" e "Hoje é dia de Maria".
Menos familiar ao grande público é o trabalho de Camilo nos palcos - como ator, diretor e escritor. Nesse caso, a mais recente amostra de sua competência é o espetáculo "A Casa Amarela", sobre o pintor holandês Vincent van Gogh e o período em que este viveu na cidade de Arles (França).
O monólogo, escrito e encenado por Gero, sob direção de Márcia Abujamra, estreia dia 8 de abril em São Paulo, no teatro Eva Herz (Livraria Cultura). Natural de Fortaleza, Camilo ainda não tem data prevista para trazer "A casa amarela" a Fortaleza.
Impacto
O primeiro contato do artista com a história de van Gogh foi por meio do livro "Cartas a Theo", devorado ainda na adolescência. A obra traz correspondências do pintor a seu irmão e confidente, Theo. "Tocou-me muito o conteúdo literário e poético das cartas. As palavras vieram mais facilmente, chegaram a mim antes da pintura dele - refiro-me aos quadros de verdade, não a reproduções. Foi por meio do livro que me aproximei do pensamento dele", ressalta Gero Camilo.
Para o ator, o período vivido por van Gogh em Arles é um dos mais férteis de sua trajetória artística, por isso a decisão de basear o monólogo nesse recorte. "É quando o pensamento dele mais me atrai, quando ele conceitua muito bem os desejos em relação à sua arte e à arte que se fazia naquele momento. É um desejo coletivo, de construir uma comunidade artística, com o sonho de fazer uma base em Arles por onde vários colegas pudesse passar e, acima de tudo, sustentar-se", esclarece Gero, referindo-se às difíceis condições sociais experimentadas pelos artistas à época.
"Para além do potencial trágico de van Gogh, estou atrás do poeta iluminado, do artista preocupado com a humanidade em vez de voltado ao próprio umbigo ou à sua doença. Essa é a força do traço, da pintura, da poética dele, e é o que mais me atrai, porque comungo com muitos desses pensamentos. Meu objetivo com ´A casa amarela´ é fazer uma ponte entre o que vivemos hoje e as experiências dele, uma espécie de elo de pensamento", exlica Camilo.
O processo de criação do texto da peça ocorreu em Amsterdã, onde Gero Camilo passou um mês. "Aluguei um apartamento e fiquei 30 dias escrevendo. Também peguei coisas que já tinha escrito. Visitei museus, fui ver obras de van Gogh, passei pela cidade onde ele nasceu, Zundert", recorda o artista.
Ramificações
Além de "A casa amarela", Camilo já tem outros projetos engatados para o segundo semestre, entre eles o espetáculo "Lá fora vai estar chovendo sempre", sobre uma família que teve a casa deslocada após uma tempestade e, desde então, fica à deriva. Apresentada pela primeira vez em 2009, a peça será dirigida pelo próprio Gero. Entre os nomes confirmados para o elenco está sua colega e xará, Camila Pitanga.
O artista também deve aparecer em breve na tela grande, em dois longa-metragens previstos para estrear neste ano: "Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios", de Beto Brant, e "Assalto ao Banco Central", de Marcos Paulo. Decididamente um ano agitado para o ator.
O trabalho como dramaturgo sempre esteve presente na trajetória do cearense, cuja montagem mais famosa é "Aldeotas", sobre o reencontro de dois grandes amigos em uma pequena cidade. O artista também tem trabalhos reconhecidos na música (o primeiro CD do artista, "Canções de Invento", foi lançado em 2008) e na literatura - em 2002 ele lançou o livro "A macaúba da terra", com contos e peças, a exemplo de "Café com torradas" e "Quem dará o veredicto?". A obra será reeditada neste ano pela editora Dulcina.
"A poesia sempre esteve presente, sempre me acompanhou. A partir daí se desenvolvem outros braços artísticos. O poema não é só a escrita no papel. No meu caso, faz parte do ato cênico, e aproxima a pessoa da obra", ressalta Gero.
"Não sou uma parte ou uma resenha profissional, vejo a arte mais como um todo", complementa. O ator afirma não ter dificuldades em manejar tantos projetos ao mesmo tempo. "Fica complicado por não ter patrocínio para desenvolver os trabalhos. Com dinheiro seria bem mais fácil", brinca.
Outra proposta fundamental no trabalho de Gero Camilo é resgatar o ator como elemento central da construção criativa do teatro. "Não só no sentido mecânico, de responder às orientações, mas no sentido de se sentir tão responsável intelectual e esteticamente pela criação quanto o diretor", sublinha.
"Muitos atores dessas grandes produções de teatro trabalham como operários e ficam à mercê, na dependência de um patrão. Não os critico, mas deixo claro que, dentro do meu processo de criação, o ator é fundamental no pensamento, na construção do espetáculo e não apenas na sua funcionalidade", destaca.
ADRIANA MARTINS
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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