segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Aila Sampaio - Tradição e modernidade nos contos de Lygia Fagundes Teles

FOTO: DIVULGAÇÃO
Os fantásticos mistérios de Lygia, da professora Aila Sampaio, é o resultado de uma pesquisa que gerou sua dissertação de mestrado, na UFC, intitulada "Tradição e modernidade nos contos de Lygia Fagundes Teles", aprovada com nota máxima pela Banca Examinadora

O título da dissertação norteia perfeitamente o espírito da proposta do curso que ministramos naquele mestrado, na época. Ou seja, a leitura das teorias tradicionais e modernas que atendessem e se adequassem à leitura e compreensão das narrativas contemporâneas, pois, até então, Todorov era o teórico de cabeceira daqueles que se aventuravam nas análises desses tipos de textos, por ter sido o primeiro a sistematizar teoricamente o gênero. Apesar dos procedimentos metodológicos que a ensaísta fez na transformação da dissertação em livro, sua atitude crítica pressupõe uma análise objetiva do gênero e das formas como se realizam as narrativas fantásticas.

A análise textual

É uma tendência de análise textual diversa, para tanto se vale, para melhor tecer os seus argumentos, de autores também diversos, desde as primeiras manifestações na literatura, como Lovecraft, Hofmann, Callois, até mesmo Louis Vax, autores de textos fantásticos e críticos que compreendiam o fantástico como simples impressão ou paráfrase, ou como manifestação do sobrenatural, do insólito, algo impossível de acontecer no mundo real, o que seria o escândalo da razão.

Tais compreensões não saiam do campo da impressão, do medo, do horror, do diabólico, do negativo, análises alimentadas por aspectos subjetivos que, trazidos para a análise do mundo das ficções modernas, não resistiriam a uma crítica mais exigente.

Dos caminhos

Sabiamente a ensaísta se vale dessas teorias para superá-las, e, consciente de que só a subjetividade não lhe bastaria, faz um percurso árduo na trilha das teorias objetivas, mesmo quando na primeira parte do livro pairem, sim, indícios de alternância entre o subjetivo e o objetivo. É que os limites do fantástico com os gêneros vizinhos são tão tênues que confundem até mesmo os mais atentos. Em "Os motivos da narrativa" a autora cita Louis Vax para justificar o uso de temas tradicionais nos contos de Lygia, como o "duplo", "A viagem ao passado", "A ressurreição" e "Possessão", dentre outros. Diz a autora: "como assegura Vax(...) o motivo importa menos do que a maneira como é utilizado".

Vejamos que, onde parece residir uma questão de impropriedade, em que a citação de um autor pretensamente subjetivo descaracterizasse a importância do capítulo, a análise coerente surpreende com argumentos bem fundamentados, demonstrando, para seu leitor, ter o domínio das teorias e conhecimento das obras que são o objeto de seus estudos.

* Da Academia Cearense de Letras

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