domingo, 27 de fevereiro de 2011

História privilegiada


A partir de 1º de março, o Espaço Cultural Unifor oferece um presente aos amantes da arte e da história. A exposição "Brasiliana Itaú" proporciona o acesso a um dos acervos mais completos sobre a história do País

Seguindo a linha de grandes mostras que ocupam o Espaço Cultural Unifor, a exposição "Brasiliana Itaú"faz justiça ao seu nome. Uma "brasiliana" consiste, em suma, numa coleção documental e/ou visual de obras e peças que ajudam a contar a história do País, registrando seus momentos mais destacados. A mostra contempla 500 anos da história, da memória e da cultura do povo brasileiro.

São quadros, mapas, brasões, pinturas, ilustrações, livros, esculturas, documentos e objetos. E a enumeração de todos esses elementos ainda não é suficiente para descrever a riqueza do acervo, que fica aberto à visitação pública no Espaço Cultural Unifor até o início do mês de maio.

A exposição "Brasiliana Itaú" foi uma das mais comentadas no ano de 2010, quando passou por capitais do Sudeste. Ocupou pelos espaços nobres da Pinacoteca de São Paulo, do Palácio das Artes em Belo Horizonte e do Museu Nacional das Artes, no Rio de Janeiro. Depois da exposição em Fortaleza, ela passará por apenas outras duas capitais do País, até ser fixada em São Paulo.

Segundo o curador da exposição, o bibliófilo Pedro Corrêa do Lago, apenas fotografias e pinturas não-documentais ficaram de fora do acervo. "A maioria são papéis importantes. Documentos com assinaturas de presidentes e imperadores, papeis de compras de escravos, mapas antigos, primeiras edições de livros brasileiros. Além disso, se destacam ilustrações e aquarelas", detalha.

História

A abrangente coleção, composta por cerca de cinco mil peças, começou de forma despretensiosa. Em 1971, o banco Itaú adquiriu um óleo sobre tela de autoria do holandês Frans Post (1612 - 1680), o primeiro pintor da paisagem brasileira. Post adotou o Brasil como um tema recorrente em suas composições depois de viver sete anos no País, entre 1637 e 1644. A obra pertencera à coleção do paulista Octales Marcondes Ferreira, formada nas décadas de 50 e 60, e anteriormente havia integrado o acervo particular do galerista holandês Frederik Muller, de Amsterdã. O próprio Olavo Setubal, proprietário do Itaú, propôs a aquisição da peça, aprovada pela empresa, que ainda não vislumbrava a possibilidade de tornar-se detentora de um acervo histórico.

Foi, no entanto, na década de 90 que o político, industrial e banqueiro Setubal decidiu dedicar seus esforços à aquisição de obras relacionadas a uma sua paixão: a história do Brasil. Através do banco, começou a adquirir livros, álbuns e conjuntos documentais que constituíram a chamada "Coleção Banco Itaú de Iconografia Brasileira".

Mas não era o bastante. Nos últimos dez anos, já afastado de parte de suas obrigações como empresário e político, Olavo Setubal iniciou sucessivas aquisições de conjuntos documentais e coleções inteiras. Para tanto, o executivo contou com o apoio de dois importantes nomes: Pedro Corrêa do Lago, colecionador, editor e ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional, e Ruy Souza e Silva, seu ex-genro, empresário, colecionador e também homem das artes.

Em cinco anos, o acervo havia se ampliado tanto que já valia a pena mudar de nome. "Foi quando comentamos com Dr. Olavo que a coleção tinha uma abrangência notável, de poucas lacunas. Ele respondeu: ´Se existem lacunas, vamos preenchê-las!´. A partir daí, a montagem do acervo se tornou mais sistemática, em prol de catalogar algo que possuísse, de fato, uma ordem, uma lógica", explicou Corrêa do Lago.

Foi desse modo que o colecionador reuniu aproximadamente 5 mil obras antes de falecer, em 2008. Setubal ainda conseguiu ver publicado o volumoso livro de 708 páginas, pela editora Capivara, que registra a coleção integralmente e escrever a apresentação do volume.

"Exposições como essas impõem várias dificuldades: de transporte, de montagem, de acondicionamento e até de soluções estéticas, o modo como as obras devem ser expostas. Mas o que posso ressaltar é que, para além delas, tive muitos privilégios: de ajudar na aquisição das obras, na edição do livro e agora de coordenar essas exposições itinerantes. Tudo isso é muito gratificante", pontua.

Diante de tão rico acervo, o que se pode dizer é que não apenas para a curadoria a exposição fora um privilégio. Também os que visitarem a mostra no Espaço Cultural Unifor poderão dizer que tiveram uma visão privilegiada da cultura e da história do Brasil.

MAIS INFORMAÇÕES

Exposição "Brasiliana Itaú". No Espaço Cultural Unifor (Av. Washington Soares, 1321). De 2 de março a 1 de maio. De terça a sexta das 10h às 20h e sábados e domingos das 10h às 18h. Grátis. Contato: (85) 3477.3319 e www.unifor.br

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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