domingo, 27 de fevereiro de 2011

Juazeiro-Milagre provoca reconhecimento da vila de Joaseiro


Juazeiro ainda era uma pequena vila quando, a partir de uma comunhão, dada por Padre Cícero, passou a ser reconhecido
Juazeiro do Norte. Com uma população de quase 250 mil habitantes, a cidade de Juazeiro do Norte comemora o seu centenário, no dia 22 de julho deste ano, como o mais importante centro comercial do interior do Estado do Ceará. O antigo Sítio Tabuleiro Grande, distrito da então aristocrata cidade do Crato, transformou-se no maior centro de romarias do Nordeste, com um fluxo de 2 milhões de visitantes por ano. O "estopim sagrado", que deu origem às romarias, foi um suposto "milagre", quando a hóstia consagrada dada pelo Padre Cícero transformou-se em sangue na boca da beata Maria de Araújo. 122 anos depois deste acontecimento, a cidade não depende mais do "milagre". Porém, a maioria da população precisa da fé no Padre Cícero para manter as suas convicções religiosas, políticas e sociais. A cidade é objeto de estudos em diferentes fóruns.

Comunhão inusitada

Juazeiro do Norte, 1º de março de 1889. O vilarejo com menos de 10 mil habitantes se prepara para mais um dia de oração e trabalho. O capelão da pequena igreja da vila de Joaseiro, Cícero Romão Batista, dá início à primeira missa do dia, depois de uma noite de vigília em desagravo ao Coração de Jesus. No pé do altar, um grupo de beatas, entre as quais Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo, conhecida, mais tarde, como Maria de Araújo. Seria mais um dia normal na vida do povoado, se não fosse esse fato inusitado. Na comunhão, a hóstia consagrada que, para os católicos, é "o corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo", se transformou em sangue na boca da beata Maria de Araújo.

Sangue de Jesus

O fato repetiu-se dezenas de vezes. Os católicos do vilarejo interpretaram o fenômeno como um novo derramamento do sangue de Jesus, sendo, portanto, um milagre, mais tarde aceito também pelo Padre Cícero e outros sacerdotes da redondeza. Assim, o povoado, antes insignificante, passou a ser alvo de grande visitação popular. Quando ainda era uma vila pertencente ao Crato, de acordo com a alegoria feita pela artista plástica Assunção Gonçalves, Juazeiro não passava de um aglomerado de casas de taipa e algumas de tijolos convergindo para uma capela dedicada à Nossa Senhora das Dores. O vilarejo nasceu na sombra de três frondosos juazeiros em frente a uma pequena capela, à margem da antiga estrada que ligava os Municípios de Crato e Missão Velha. Era o entreposto de viajantes que se dirigiam ao Cariri. A notícia do milagre se espalhou em todo o Nordeste. Começaram as romarias. A primeira delas ocorreu no dia 7 de julho, sob o comando do reitor do Seminário São José do Crato, monsenhor Francisco Monteiro, que organizou procissão de cerca de três mil pessoas que saíram de Crato para Juazeiro, a fim de observar a transformação da hóstia em sangue. O ato litúrgico terminou com uma homilia do monsenhor Monteiro exaltando o "milagre".

Padre Cícero, cauteloso, solicitou a formação de uma comissão de profissionais de saúde integrada por Marcos Rodrigues Madeira (médico formado no Rio de Janeiro), Ildefonso Correia Lima (médico e professor da Faculdade do Rio de Janeiro), Ignacio Arruda, de Fortaleza, Joaquim Secundo Chaves (farmacêutico), e, ainda, diversos padres da região.

Fique por dentro

Edições especiais

Até o aniversário do centenário do Município de Juazeiro do Norte, que será comemorado em 22 de julho deste ano, o Caderno Regional vai publicar edições mensais especiais. O objetivo é contemplar os momentos históricos que tranformaram a cidade num dos maiores centros de romarias do País. Nesta primeira edição, as reportagens abordam o "milagre", envolvendo o Padre Cícero e a beata Maria de Araújo, e seus desdobramentos. A despeito do fato ter sido verdadeiro ou não e do questionamento da Igreja Católica, é inegável que o fenômeno desencadeou o desenvolvimento de Juazeiro como centro de romaria e comércio. É um dos principais acontecimento da história da "terra do Padim". Muitas dúvidas e discussões giram em torno deste tema que, por muitos anos, foi repreendido pela Igreja Católica. Entretanto, com o crescente número de romeiros, que transforma o Padre Cícero em santo popular, a própria Igreja inicia processo para reabilitação do sacerdote da vila de Joaseiro.

Antônio Vicelmo
Repórter

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