quarta-feira, 6 de abril de 2011

O passado revivido

Uma parceria entre Museu do Ceará e a família do historiador Ismael Pordeus (1912 - 1964) promove hoje o lançamento de livro que reúne textos do intelectual cearense a respeito de Antônio Conselheiro e de Quixeramobim


Na década de 50, os escritos do historiador Ismael Pordeus, natural de Quixeramobim, ganhavam as páginas dos jornais. Assim como muitos de sua época, era por meio dos periódicos que o intelectual publicava suas descobertas em arquivos, fazia críticas e promovia debates que, posteriormente, também se tornaram históricos, como as compartilhados com Raimundo Girão.

Por legado, o pesquisador deixou a valorização dos documentos de arquivos, o cuidado e o rigor das pesquisas em "alfarrábios e cartapácios", como frisa a socióloga Ana Maria Roland. A fim de preservar artigos publicados no extinto jornal O Nordeste, e divulgar um outro, ainda inédito, o Museu do Ceará e a família de Pordeus lançam hoje o coletânea "Escritos sobre Antônio Conselheiro e a Matriz de Quixeramobim".

Obra
O livro é o 65º volume da Coleção Outras Histórias, publicada pelo Museu do Ceará. Possui prefácio de Ana Maria Roland e apresentação de Cristina Rodrigues Holanda, atual diretora da instituição.

Versando sobre os temas que mais instigaram as pesquisas do historiador, a obra contém três séries documentais: "A verdadeira idade de Antônio Conselheiro", obra inédita, de data indefinida, em que Pordeus comprova o engano na estipulação da idade do beato, por meio de documentos cartoriais de Quixeramobim; "Antônio Conselheiro não é matricida" (1949), que também refutava teorias a respeito da vida de do líder de Canudos por meio de arquivos dos cartórios da região; e "Antônio Dias Ferreira e a matriz de Quixeramobim" (1955), que parte de uma documentação pesquisada em função do bicentenário da paróquia.

"A ideia foi dar publicidade aos documentos que temos em nossa reserva técnica e que não temos em exposição", ressalta a diretora do Museu, Cristina Holanda. Para a produção deste livro, lançado por meio do edital Prêmio Literário para Autores Cearenses, da Secretaria de Cultura do Ceará, o Museu digitou a compilação de artigos recebida da família do historiador, já organizada em ordem cronológica. Foram cerca de quatro meses de produção, entre digitação dos documentos e edição da obra.

Para Cristina Holanda, a oportunidade de ainda possuir em artigos de jornal o pensamento de estudiosos como Ismael Pordeus é de suma importância para a pesquisa local. "O jornal é uma fonte importantíssima para a pesquisa histórica. Por meio dele, muitos temas podem ser suscitados, desde aqueles que já consideramos históricos, até os do cotidiano, que acabam se tornando possíveis objetos de pesquisa", observa Cristina.

O acervo do historiador foi doado à instituição pela família ainda na gestão de Régis Lopes, professor do curso de História da UFC. Segundo ele, Pordeus se destacou em seu tempo por não reproduzir estudos de terceiros, mas buscar nos documentos históricos a comprovação de suas hipóteses.

"Ele foi um pesquisador que valorizou o papel dos arquivos. Ele mostra isso muito bem no seu livro ´À margem de dona Guidinha do Poço´, no qual comprova que o romance de Manuel Oliveira Paiva fora baseado em num fato que realmente existiu, o caso de Marica Lessa, no século XIX", comenta.

Para Lópes, a valorização da produção local e das documentações são também o objetivo das publicações que compõem a Coleção Outras Histórias. "Continuar publicando esses documentos é até uma forma de motivar novas pesquisas. A produção intelectual do Ceará é muito grande e muitas vezes as pessoas não valorizam isso", defende. Em sua opinião, os periódicos produzidos pelo Instituto Histórico do Ceará, do qual Pordeus foi diretor, são os melhores do País, excetuando a revista do Instituto Nacional, que responde por todos os outros.

Autor
Ismael de Andrade Pordeus nasceu em Quixeramobim, em 1912. Tornou-se colaborador do jornal "O Nordeste", em meados dos anos 40, no qual publicou artigos de cunho histórico e abordou questões relativas a Antônio Conselheiro.

Foi Secretário Municipal de Educação de Fortaleza, na gestão Cordeiro Neto, entre 1959 e 1962. Tornou-se membro e, posteriormente, diretor do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, pelo qual se voltou a uma busca incessante por documentos em arquivos públicos do Brasil e do exterior.

Participou ativamente da polêmica sobre a fundação de Fortaleza, na qual contrapunham a teorias partidária de Martins Soares Moreno e de Matias Beck. Pordeus uniu-se aos apoiadores de Soares Moreno, digladiando-se com outro importante intelectual, Raimundo Girão Barroso, partidário de Matias Beck.

Sobre tal querela, registrada em diversos artigos de jornal, o professor João Hernani Furtado, da Universidade Federal do Ceará, escreveu o livro "Soares Moreno e Matias Beck. Inventário de uma polêmica nos escritos de Ismael Pordeus", publicado também pela Coleção Outras Histórias, em 2002.

História Cearense

Escritos sobre Antônio Conselheiro e a Matriz de Quixeramobim Ismael Pordeus
Museu do Ceará/ Expressão , 2011, 191 páginas, R$ 10
O lançamento acontece hoje, às 17h30, no Museu do Ceará (R. São Paulo, 51).
Contatos: (85) 3101.2610

MAYARA DE ARAÚJO

 REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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