Símbolo abolicionista cearense, Chico de Matilde é filho ilustre de Aracati e pouco reconhecido em sua terra
Aracati, Visitar a história é se dizer movido de orgulho ou decepção, mas sempre curiosidade. E pelas bandas da internacional Canoa Quebrada, mais conhecida que o próprio nome do Município, há quem se faça curioso, orgulhoso e pouco rogado ao pequeno legado dado na lembrança ao filho mais ilustre do litoral cearense. Nasceu lá Francisco José do Nascimento, o "Dragão do Mar", o mulato líder dos jangadeiros que disse "neste porto não embarcam mais escravos". Dito e feito. Iluminou-se ali o símbolo de luta abolicionista e de redenção que marcou a história do Ceará, que tanto se orgulha de ter sido a primeira província a abolir a escravidão negra. Em Aracati se comemorou os 172 anos de seu nascimento.
Dragão do Mar é um nome pomposo que poucos sabem que a certidão é Francisco José do Nascimento, ou "Chico" - filho de Matilde com seu Manoel, ambos vivedores no Fortim, vizinho a Aracati e onde o rio Jaguaribe deságua no mar. Virou "Chico de Matilde", que perdeu o pai foi cedo, e a humilde mãe entregou-o para ser menino de favores na casa do Juiz de Direito de Aracati. Não durou muito a pegá-lo de volta e levá-lo para Fortaleza. "Na Capital, ganhou o caminho comum aos negros e iletrados: o porto", diz Tácito Forte, vereador de Aracati que debruçou-se em pesquisas sobre o conterrâneo e discursou emocionado na comemoração dos 172 anos do abolicionista, resumindo a história para os povos do mar de Canoa Quebrada, como quem alerta para um passado do qual todo canoense deve se orgulhar.
Mas só se orgulha quem conhece. E enquanto a Rua Dragão do Mar, principal de Canoa Quebrada, ficar mais lembrada por "Broadway", em alusão à rua mais famosa de Nova York, nos Estados Unidos, que não tem nada a ver com a história, o "Dragão" será peça secundária. No final dessa rua, que algum estrangeiro quis colonizar em significado (e conseguiu!), passa pouco percebida (e à noite está sem iluminação) uma homenagem a Chico de Matilde: um semi-busto (só tem a cabeça), numa reprodução de jangada para lembrar que ali nasceu, em 15 de abril de 1839.
Dragão do Mar saiu de Aracati tinha apenas 8 anos, mas o psicanalista Sigmund Freud (1835-1930) entendedor do que a infância representa para o ser humano, cobriria de razão em, hoje, os cidadãos de Aracati se mobilizarem orgulhosos para relembrar o conterrâneo, libertário que, "menino véi" (como se diz de "moleque"), andou e fez "mandados" para os homens de posse ali pela "Rua Grande", a Rua Coronel Alexanzito, patrimônio histórico e onde se situa o Museu Jaguaribano.
Francisco José do Nascimento era mulato, não era escravo, mas conhecia a penúria dos negros nos porões, mas também nas ruas, na vida. Prodigioso, era afoito tanto para mergulhar no mar quanto ser partícipe, como único não-branco, em associações de elite no Ceará. Mas o mais nobre era a causa na Associação Cearense Libertadora. Em 27 de janeiro de 1881, aos 42 anos de idade, deflagrou uma greve com os jangadeiros que trabalhavam no Porto do Ceará e faziam o desembarque dos escravos dos navios negreiros. "Neste porto não embarcam mais escravos".
O rebuliço também contou com José Napoleão, o "príncipe da liberdade", negro liberto depois de comprar o seu indulto. A revolta ganhou repercussão, ainda teve a pressão da polícia que queria porque queria desembarcar os negros. Dragão do Mar e os outros seguravam a chama da libertação, que explodia por outros cantos do Brasil. O fato é que, em 25 de março de 1884, o Estado do Ceará ordenava a lei que abolia a escravatura, quatro anos antes da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel, libertando os negros no Brasil.
E o cearense de Canoa Quebrada era ovacionado na chegada ao Rio de Janeiro. Ia no vapor Espírito Santo, o mesmo que ele e os jangadeiros impediram de desembarcar no Ceará. Tirou do porão sua bagagem: a jangada "Liberdade". Jogou-se ao mar e "jangadeou" até pisar no solo do Rio de Janeiro, onde recebeu, do povo, o título de Dragão do Mar.
MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura
Município de Aracati (CE)
Rua Santos Dumont, 1146
Telefone: (88) 3421.2554
ARTE E CULTURA
Mostra versa sobre o jangadeiro
Aracati. Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, foi homenageado no mês de abril em sua cidade natal. Iniciativa da Câmara Municipal, com apoio da Associação dos Empreendedores de Canoa Quebrada (ASDECQ) foram lembrados seus 172 anos de nascimento e homenageados antigos jangadeiros vivos desta cidade. Conselho Comunitário e Associação Cultural Canoa Criança realizaram a I Mostra Dragão do Mar de Arte e Cultura de Canoa Quebrada.
"Não queremos que Aracati seja lembrada apenas por suas praias turísticas, mas também por sua história, e essa valorização poder atrair mais pessoas", afirma Tácito Forte, vereador de Aracati que, curioso para entender a história do conterrâneo, queimou pestanas lendo os historiadores Raimundo Girão, Roberto Átila Vieira, Patrícia Xavier, Luciana Cavalcante e, especialmente, Edmar Morel, autor do livro "Dragão do Mar: o jangadeiro da revolução".
Acervo pequeno
Nas bibliotecas do Município de Aracati não se espera encontrar muito sobre Francisco José do Nascimento. Nas estantes de livros de História nas bibliotecas do interior, o próprio Ceará ainda está em segundo plano. Mas os historiadores acima citados devem povoar mais as prateleiras de Canoa Quebrada. Os vereadores querem incentivar o turismo histórico. Mas o reconhecimento também passa pelo incentivo à leitura.
A Câmara Municipal de Aracati e a Associação dos Empreendedores de Canoa Quebrada (ASDECQ) realizaram, no último dia 15 de abril, solenidade de lembrança e homenagem pelos 172 anos de nascimento de Francisco José do Nascimento, o Chico de Matilde, Dragão do Mar.
Foi realizada a I Mostra Dragão do Mar de Arte e Cultura de Canoa Quebrada. Durante uma semana foram realizadas atividades artísticas e culturais no espaço de lazer da comunidade. O evento foi uma iniciativa da Associação Cultural Canoa Criança e do Conselho Comunitário de Canoa Quebrada.
Na programação, apresentações artísticas de circo, cortejo cultural pela rua principal de Canoa (Broadway), oficinas de dança, de teatro, de música, roda de capoeira, exposição de fotos antigas e de quadros de artistas locais, projeção de filmes e vídeos produzidos pelos jovens da comunidade, oficinas de dança, teatro (mímicas), técnicas circenses, noite de autógrafo de escritores locais.
Assim como o Canoa Criança, outro grupo, o Recicriança, atua com atividades artísticas e educacionais para as crianças e os adolescentes da comunidade da praia. Todos os anos é realizado o Festival Latino Americano de Curta Metragem de Canoa Quebrada, o Curta Canoa, que também apoiou a mostra cultural realizada em abril.
Mais informações
Conselho Comunitário de Canoa Quebrada
Município de Aracati (CE)
Telefone: (88) 9607.5589
Melquíades Júnior
Colaborador
Escultura em bronze homenageia o jangadeiro no Centro Cultural que leva seu nome: Dragão do Mar VIVIANE PINHEIRO |
Dragão do Mar é um nome pomposo que poucos sabem que a certidão é Francisco José do Nascimento, ou "Chico" - filho de Matilde com seu Manoel, ambos vivedores no Fortim, vizinho a Aracati e onde o rio Jaguaribe deságua no mar. Virou "Chico de Matilde", que perdeu o pai foi cedo, e a humilde mãe entregou-o para ser menino de favores na casa do Juiz de Direito de Aracati. Não durou muito a pegá-lo de volta e levá-lo para Fortaleza. "Na Capital, ganhou o caminho comum aos negros e iletrados: o porto", diz Tácito Forte, vereador de Aracati que debruçou-se em pesquisas sobre o conterrâneo e discursou emocionado na comemoração dos 172 anos do abolicionista, resumindo a história para os povos do mar de Canoa Quebrada, como quem alerta para um passado do qual todo canoense deve se orgulhar.
Mas só se orgulha quem conhece. E enquanto a Rua Dragão do Mar, principal de Canoa Quebrada, ficar mais lembrada por "Broadway", em alusão à rua mais famosa de Nova York, nos Estados Unidos, que não tem nada a ver com a história, o "Dragão" será peça secundária. No final dessa rua, que algum estrangeiro quis colonizar em significado (e conseguiu!), passa pouco percebida (e à noite está sem iluminação) uma homenagem a Chico de Matilde: um semi-busto (só tem a cabeça), numa reprodução de jangada para lembrar que ali nasceu, em 15 de abril de 1839.
Praça de Aracati no ano de 1933, um ano após o nascimento do Dragão do Mar. Saiu de sua terra natal com oito anos. Hoje é relembrado pelos seus feitos históricos REPRODUÇÃO MUSEU JAGUARIBANO |
Francisco José do Nascimento era mulato, não era escravo, mas conhecia a penúria dos negros nos porões, mas também nas ruas, na vida. Prodigioso, era afoito tanto para mergulhar no mar quanto ser partícipe, como único não-branco, em associações de elite no Ceará. Mas o mais nobre era a causa na Associação Cearense Libertadora. Em 27 de janeiro de 1881, aos 42 anos de idade, deflagrou uma greve com os jangadeiros que trabalhavam no Porto do Ceará e faziam o desembarque dos escravos dos navios negreiros. "Neste porto não embarcam mais escravos".
O rebuliço também contou com José Napoleão, o "príncipe da liberdade", negro liberto depois de comprar o seu indulto. A revolta ganhou repercussão, ainda teve a pressão da polícia que queria porque queria desembarcar os negros. Dragão do Mar e os outros seguravam a chama da libertação, que explodia por outros cantos do Brasil. O fato é que, em 25 de março de 1884, o Estado do Ceará ordenava a lei que abolia a escravatura, quatro anos antes da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel, libertando os negros no Brasil.
E o cearense de Canoa Quebrada era ovacionado na chegada ao Rio de Janeiro. Ia no vapor Espírito Santo, o mesmo que ele e os jangadeiros impediram de desembarcar no Ceará. Tirou do porão sua bagagem: a jangada "Liberdade". Jogou-se ao mar e "jangadeou" até pisar no solo do Rio de Janeiro, onde recebeu, do povo, o título de Dragão do Mar.
MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura
Município de Aracati (CE)
Rua Santos Dumont, 1146
Telefone: (88) 3421.2554
ARTE E CULTURA
Mostra versa sobre o jangadeiro
Aracati. Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, foi homenageado no mês de abril em sua cidade natal. Iniciativa da Câmara Municipal, com apoio da Associação dos Empreendedores de Canoa Quebrada (ASDECQ) foram lembrados seus 172 anos de nascimento e homenageados antigos jangadeiros vivos desta cidade. Conselho Comunitário e Associação Cultural Canoa Criança realizaram a I Mostra Dragão do Mar de Arte e Cultura de Canoa Quebrada.
"Não queremos que Aracati seja lembrada apenas por suas praias turísticas, mas também por sua história, e essa valorização poder atrair mais pessoas", afirma Tácito Forte, vereador de Aracati que, curioso para entender a história do conterrâneo, queimou pestanas lendo os historiadores Raimundo Girão, Roberto Átila Vieira, Patrícia Xavier, Luciana Cavalcante e, especialmente, Edmar Morel, autor do livro "Dragão do Mar: o jangadeiro da revolução".
Acervo pequeno
Nas bibliotecas do Município de Aracati não se espera encontrar muito sobre Francisco José do Nascimento. Nas estantes de livros de História nas bibliotecas do interior, o próprio Ceará ainda está em segundo plano. Mas os historiadores acima citados devem povoar mais as prateleiras de Canoa Quebrada. Os vereadores querem incentivar o turismo histórico. Mas o reconhecimento também passa pelo incentivo à leitura.
A Câmara Municipal de Aracati e a Associação dos Empreendedores de Canoa Quebrada (ASDECQ) realizaram, no último dia 15 de abril, solenidade de lembrança e homenagem pelos 172 anos de nascimento de Francisco José do Nascimento, o Chico de Matilde, Dragão do Mar.
Foi realizada a I Mostra Dragão do Mar de Arte e Cultura de Canoa Quebrada. Durante uma semana foram realizadas atividades artísticas e culturais no espaço de lazer da comunidade. O evento foi uma iniciativa da Associação Cultural Canoa Criança e do Conselho Comunitário de Canoa Quebrada.
Na programação, apresentações artísticas de circo, cortejo cultural pela rua principal de Canoa (Broadway), oficinas de dança, de teatro, de música, roda de capoeira, exposição de fotos antigas e de quadros de artistas locais, projeção de filmes e vídeos produzidos pelos jovens da comunidade, oficinas de dança, teatro (mímicas), técnicas circenses, noite de autógrafo de escritores locais.
Assim como o Canoa Criança, outro grupo, o Recicriança, atua com atividades artísticas e educacionais para as crianças e os adolescentes da comunidade da praia. Todos os anos é realizado o Festival Latino Americano de Curta Metragem de Canoa Quebrada, o Curta Canoa, que também apoiou a mostra cultural realizada em abril.
Mais informações
Conselho Comunitário de Canoa Quebrada
Município de Aracati (CE)
Telefone: (88) 9607.5589
Melquíades Júnior
Colaborador
Fonte: Diário do Nordeste
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