Mulheres de Cascavel aprendem a dar toque sofisticado em peças de cerâmica, aumentando a autoestima e renda
Fortaleza No povoado de Moita Redonda, no Município de Cascavel, a cerca de 57km desta Capital, o fazer artístico está intrínseco à história do lugar. Famílias inteiras se reúnem para moldar a argila. O resultado: lindos itens de decoração e de uso doméstico. Jarros, quartinhas, potes, tigelas, mealheiros, animais, figuras lúdicas, flores e, entre outros, muita criatividade. A arte ceramista, forte herança da cultura indígena no Ceará, que vem sendo retransmitida por geração, ganha, agora, uma repaginada, com o projeto Mulheres do Barro: Novas Expressões, de autoria da artista visual Sabyne Cavalcanti, reconhecido pelo Prêmio Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura, da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
"O nosso objetivo é levar um novo design para a produção de barro, sem perder o grafismo ancestral do lugar", revela Sabyne. "É trabalhar com as artesãs seu potencial criativo levando para elas informações sobre as artes plásticas, desde a pré-história até a contemporaneidade", complementou. A proposta nasceu a partir da vivência da artista com a comunidade. Há 5 anos ela vive em Moita Redonda e acompanha a produção local. "Vi que ao longo dos anos as características vêm se transformando. Elas gostam de produtos mais coloridos e fazem poucas opções de modelos. Vi a necessidade de melhorar esta produção". Sem perder ou desconsiderar a produção destas mulheres, o projeto vai incentivar novas impressões no barro, resgatando o grafismo local, como as folhas de cajueiro e de mangueira, além de retomar o uso das colorações extraídas do próprio barro.
No total, 20 mulheres de várias idades se reúnem semanalmente para trocar saberes. Além da experiência de Sabyne Cavalcanti, com estamparia em tecido, gravuras, xilografia e artes visuais, o grupo recebe a visita da ceramista Terry Kay e da artista visual Marina de Botas. Na residência artística, conta Sabyne, "é um momento de troca de saberes e conhecimentos de pessoas com diferentes formações".
Nos encontros semanais as participantes vivenciam práticas e teorias, tudo para diversificar a produção artesanal. Assistem, ainda, vídeos de artes para se inspirar a produção. As ceramistas estão aprendendo a utilizar rendas como aplicação e carimbo para incrementar as peças em barro. A renda de bilro, por exemplo, agrega a cultura regional com um tom refinado em cada peça. A ação, além de promover a cultura e produção artística cearenses, movimenta a cadeia produtiva local.
E por falar em geração de renda, este é também um dos objetivos deste trabalho, conforme conta a idealizadora. "Essas mulheres trabalham em casa, muitas vezes com os filhos, os maridos. Geralmente, vendem para atravessador ou encaminham para a Ceart. Não têm vendas constante. E isso dificulta a vida delas", conta. A comunidade fica a 3km da sede do Município, com acesso pela CE-040. Como as casas ficam distantes da rodovia, os turistas e transeuntes passam despercebidos deste celeiro ceramista.
Para Liduína Maciel dos Santos, hoje com 56 anos e há 30 produzindo cerâmica, o projeto será a oportunidade de divulgar o trabalho das artesãs e o local onde mora. "Estou gostando desse curso, pelo motivo que muitas coisas que eu sei fazer e as pessoas não sabem que eu faço, agora vão saber", conta.
Ela reconhece que as novas técnicas aprendidas podem potencializar as suas vendas. "Eu aprendi a aplicar a renda na peça, a trabalhar com o rolo que ajuda a deixar a argila mais macia. Eu espero que depois que as pessoas conhecerem nosso trabalho, façam pedidos e melhore mais as vendas", diz Liduína.
A expectativa da artesã é a criação de um site para vendas dos produtos. "Estamos fazendo um registro audiovisual deste trabalho e estamos criando um site com o trabalho de cada família", conta Sabyne.
PROTAGONISTAReconhecimento
O casamento com José Camilo dos Santos levou Liduína Maciel dos Santos a morar na Moita Redonda, em Cascavel, há 30 anos. Lá aprendeu a arte ceramista com a sogra. Ela diz que desenvolveu seu próprio estilo e suas peças. Quando tem encomenda, a família Santos entra na produção. Ela espera, após o curso, reconhecimento, divulgação e muitas vendas.
MAIS INFORMAÇÕES
Ponto de Cultura Lampião da Arte da Cultura - Rua Estrada do Bananal, S/N - Cascavel (CE)
Telefone: (85) 8831.5441
CONTINUIDADEProjeto realiza visita domiciliar e acompanhamento frequente
Desde janeiro, o Projeto Mulheres do Barro reúne as 20 ceramistas da comunidade de Moita Redonda. E este vem sendo o trabalho de formiguinha desenvolvido por Sabyne Cavalcanti. Ela diz que a assiduidade não tem sido a esperada. As participantes, muitas vezes, dividem o fazer artesanal com os domésticos e o cuidado com os filhos, dificultando a presença durante os encontros.
Visitas domiciliares foram a saída encontrada para suprir a ausência das artesãs. "Vou de casa em casa acompanhar a produção de cada uma. Sugiro modelos, formas. Acabamos interferindo até no modo de vida destas famílias, dando dicas de preservação ambiental, por exemplo", conta Sabyne.
Além da visita, o projeto promove passeios e eventos culturais, e está preparando as ceramistas para darem aulas do seu ofício. "Elas estão precisando de um novo elo com a sociedade. Vender produtos de qualidade. Elas estão aptas para darem aulas a grupos de estudantes. E esse povo está precisando também ganhar dinheiro".
Resultados
Enquanto os frutos do trabalho ainda não amadureceram, Sabyne Cavalcante comemora os resultados já alcançados. "Elas já estão praticando a renda, percebendo o valor de trazer a renda do bilro para aplicar na cerâmica. Estão vivenciando o fazer artístico", comemora, complementando sobre o resultado positivo para autoestima: "elas estão vivenciando a arte e por meio desta vivência elas olham para si e param de olhar só para a família", explica.
O Projeto Mulheres do Barro: Novas Expressões faz parte da premiação Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura, da Fundação Nacional de Artes (Funarte), oferecendo a artistas a oportunidade de desenvolverem um trabalho integrado a ações de Pontos de Cultura. Na cidade de Cascavel, o projeto integra as ações do Ponto de Cultura Lampião da Arte e da Cultura.
O Ponto de Cultura recebeu outra ação semelhante, com o Projeto Interações Artísticas Uirapuru, do luthier Tércio Araripe, resultando na Orquestra de Barro Uirapuru.
Também como resultado da ação, as artistas visuais Sabyne Cavalcanti e Marina de Botas produzirão outras obras de arte para comunidades.
EMANUELLE LOBO
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
Nas aulas práticas, as ceramistas aprendem novas técnicas de amaciar a argila e aplicar adereços e carimbos FOTOS: DIVULGAÇÃO |
"O nosso objetivo é levar um novo design para a produção de barro, sem perder o grafismo ancestral do lugar", revela Sabyne. "É trabalhar com as artesãs seu potencial criativo levando para elas informações sobre as artes plásticas, desde a pré-história até a contemporaneidade", complementou. A proposta nasceu a partir da vivência da artista com a comunidade. Há 5 anos ela vive em Moita Redonda e acompanha a produção local. "Vi que ao longo dos anos as características vêm se transformando. Elas gostam de produtos mais coloridos e fazem poucas opções de modelos. Vi a necessidade de melhorar esta produção". Sem perder ou desconsiderar a produção destas mulheres, o projeto vai incentivar novas impressões no barro, resgatando o grafismo local, como as folhas de cajueiro e de mangueira, além de retomar o uso das colorações extraídas do próprio barro.
Renda de bilro serve de carimbo. Embeleza e dá um toque sofisticado às peças de barro. Sabyne é quem passa a técnica |
Nos encontros semanais as participantes vivenciam práticas e teorias, tudo para diversificar a produção artesanal. Assistem, ainda, vídeos de artes para se inspirar a produção. As ceramistas estão aprendendo a utilizar rendas como aplicação e carimbo para incrementar as peças em barro. A renda de bilro, por exemplo, agrega a cultura regional com um tom refinado em cada peça. A ação, além de promover a cultura e produção artística cearenses, movimenta a cadeia produtiva local.
Os ateliês, em Moita Redonda, são no quintal de casa. As artesãs dividem os afazeres domésticos com a molda da argila |
Para Liduína Maciel dos Santos, hoje com 56 anos e há 30 produzindo cerâmica, o projeto será a oportunidade de divulgar o trabalho das artesãs e o local onde mora. "Estou gostando desse curso, pelo motivo que muitas coisas que eu sei fazer e as pessoas não sabem que eu faço, agora vão saber", conta.
Ela reconhece que as novas técnicas aprendidas podem potencializar as suas vendas. "Eu aprendi a aplicar a renda na peça, a trabalhar com o rolo que ajuda a deixar a argila mais macia. Eu espero que depois que as pessoas conhecerem nosso trabalho, façam pedidos e melhore mais as vendas", diz Liduína.
A expectativa da artesã é a criação de um site para vendas dos produtos. "Estamos fazendo um registro audiovisual deste trabalho e estamos criando um site com o trabalho de cada família", conta Sabyne.
PROTAGONISTAReconhecimento
O casamento com José Camilo dos Santos levou Liduína Maciel dos Santos a morar na Moita Redonda, em Cascavel, há 30 anos. Lá aprendeu a arte ceramista com a sogra. Ela diz que desenvolveu seu próprio estilo e suas peças. Quando tem encomenda, a família Santos entra na produção. Ela espera, após o curso, reconhecimento, divulgação e muitas vendas.
MAIS INFORMAÇÕES
Ponto de Cultura Lampião da Arte da Cultura - Rua Estrada do Bananal, S/N - Cascavel (CE)
Telefone: (85) 8831.5441
CONTINUIDADEProjeto realiza visita domiciliar e acompanhamento frequente
Desde janeiro, o Projeto Mulheres do Barro reúne as 20 ceramistas da comunidade de Moita Redonda. E este vem sendo o trabalho de formiguinha desenvolvido por Sabyne Cavalcanti. Ela diz que a assiduidade não tem sido a esperada. As participantes, muitas vezes, dividem o fazer artesanal com os domésticos e o cuidado com os filhos, dificultando a presença durante os encontros.
Visitas domiciliares foram a saída encontrada para suprir a ausência das artesãs. "Vou de casa em casa acompanhar a produção de cada uma. Sugiro modelos, formas. Acabamos interferindo até no modo de vida destas famílias, dando dicas de preservação ambiental, por exemplo", conta Sabyne.
Além da visita, o projeto promove passeios e eventos culturais, e está preparando as ceramistas para darem aulas do seu ofício. "Elas estão precisando de um novo elo com a sociedade. Vender produtos de qualidade. Elas estão aptas para darem aulas a grupos de estudantes. E esse povo está precisando também ganhar dinheiro".
Resultados
Enquanto os frutos do trabalho ainda não amadureceram, Sabyne Cavalcante comemora os resultados já alcançados. "Elas já estão praticando a renda, percebendo o valor de trazer a renda do bilro para aplicar na cerâmica. Estão vivenciando o fazer artístico", comemora, complementando sobre o resultado positivo para autoestima: "elas estão vivenciando a arte e por meio desta vivência elas olham para si e param de olhar só para a família", explica.
O Projeto Mulheres do Barro: Novas Expressões faz parte da premiação Interações Estéticas - Residências Artísticas em Pontos de Cultura, da Fundação Nacional de Artes (Funarte), oferecendo a artistas a oportunidade de desenvolverem um trabalho integrado a ações de Pontos de Cultura. Na cidade de Cascavel, o projeto integra as ações do Ponto de Cultura Lampião da Arte e da Cultura.
O Ponto de Cultura recebeu outra ação semelhante, com o Projeto Interações Artísticas Uirapuru, do luthier Tércio Araripe, resultando na Orquestra de Barro Uirapuru.
Também como resultado da ação, as artistas visuais Sabyne Cavalcanti e Marina de Botas produzirão outras obras de arte para comunidades.
EMANUELLE LOBO
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
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