sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Vatá é coisa nossa

Para o desenvolvimento das novas montagens, Valéria Pinheiro brincou com todas as referências conquistadas ao longo dos últimos 10 anos (FOTO DIVULGAÇÃO)

Coletivo de cenas e sons comandado por Valéria Pinheiro completa 10 anos de atuação nos nossos palcos. A festa tem programação ampla e conta com a estreia de quatro novas montagens

Valéria Pinheiro nasceu em Juazeiro do Norte, correndo atrás de reisados, e carrega o sertão no DNA. Aos cinco anos, foi com a família para Manaus e de lá passeou pelo mundo. Morou no Rio de Janeiro e Nova York, viajou pela Europa, África e Ásia. Formou-se engenheira civil e com o diploma na mão foi ser artista no Rio de Janeiro. Em 2000, ancorou em Fortaleza e no ano seguinte transformou a Cia. Vatá, que iniciara ainda no Rio, numa companhia de brincantes genuinamente cearense, como ela define. Neste ano, o grupo completa uma década contada a partir de sua gênese em terra natal e Valéria comemora bodas de prata como coreógrafa. Para celebrar, depois de três anos de gestação, quatro espetáculos inéditos serão montados entre setembro e outubro.

Mo ky bu ‘sta? (Como você está?) é o mais experimental de todos, resultado de uma temporada na África que instigou o grupo a pensar sobre instabilidade. São Bento Pequeno reúne os dançarinos-brincantes da companhia e o núcleo de capoeira do Teatro das Marias, a sede da Cia Vatá que virou Ponto de Cultura do Governo Federal. Cartas do Asilo parte da biografia de Camille Claudel, a famosa amante de Rodin internada num manicômio mesmo sã. E, por fim, Anos Loucos, uma experiência diferente para o grupo: um musical sobre os anos 1920. As comemorações incluem ainda um documentário longa-metragem que “edita poeticamente” todos os registros audiovisuais de Valéria e da Cia. Vatá nos últimos 20 anos e um CD com músicas das trilhas sonoras da companhia, sempre originais.

As andanças de Valéria foram fundamentais para o que ela mais gosta de fazer: pesquisar. Encontrar novas leituras e conexões entre a cultura popular cearense, o resto do mundo e a contemporaneidade e mostrar o resultado no palco, usando o corpo, a música e a cenografia. “Sempre fomos uma companhia de pesquisa das manifestações tradicionais achando pontes para o contemporâneo. Depois desse tempo fora, quando cheguei, entendi que as tradições caririenses, os reisados, as bandas cabaçais, me conectavam com o mundo. Consigo achar conexões com o que vejo no Japão, na Índia, na África”, diz Valéria.

A primeira montagem, Brasil de Todos os Ritmos, foi resultado de um mergulho na poesia de Patativa do Assaré e Anselmo Vieira, o cordelista que falava de êxodo e seca com bom humor. No palco, Valéria fundiu o xaxado e o baião ao sapateado clássico. Já de saída, a Cia. Vatá mostrou a que veio. Valéria aprendeu os primeiros passos de sapateado com o xaxado marcado do pai e dominou a técnica com as aulas de tap dance nos Estados Unidos. Os primeiros espetáculos da Cia. Vatá tinham até o sapato de sola metálica. “O sapateado ainda é um elemento forte, mas hoje não assume mais o sapato que amplifica sons. Ele inquieta em outros lugares, no corpo, na música”, explica Valéria.

Depois da estreia, a companhia trabalhou em cima da trilogia Bagaceira: A Dança dos Mestres, A dança dos Orixás e A dança dos Ancestrais. Com os três, viajou pelo Brasil e pelo mundo, ganhou prêmios e se consolidou como um grupo fundamental para o cenário da dança cearense. “Valéria criou um teatro, um projeto e trabalha com o que é da gente, com o regional, mas recria isso numa linguagem original. Veja o sapateado que ela trouxe, é uma coisa bem ‘disseram que voltei americanizada’, mas ela torna isso tão nosso! É uma motivação para que outros trabalhos sejam construídos”, elogia David Linhares, organizador da Bienal de Dança Internacional do Ceará, que vê em Valéria uma “mãe parideira de outras companhias”.

Quem

ENTENDA A NOTÍCIA

Depois de anos fora do Ceará, fortalecendo uma bagagem expressiva na dança, sobretudo com o sapateado, Valéria Pinheiro voltou ao ninho há 10 anos. Aqui, fundou a Cia. Vatá, se reinventou como artista e criou uma nova cena

SERVIÇO

MO KY BU ‘STA
Quando: estreia neste sábado, às 20 horas, no Sesc Iracema (Rua Boris, 90c - Praia de Iracema). Fica em cartaz nos dias 4, 10 e 11 de setembro, no mesmo horário e local. Ingressos: R$10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Outras info.: 3525 2215.

SÃO BENTO PEQUENO
Quando: estreia neste domingo, no Teatro das Marias (Rua Senador Almino, 233 - Praia de Iracema). Fica em cartaz todos os domingos de setembro, às 20 horas. Ingressos: R$10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Outras info.: 3219 4939.

CARTAS DO ASILO e ANOS LOUCOS
Quando: estreia programada para outubro.

Mariana Toniatti
marianatoniatti@opovo.com.br

Fonte: O Povo

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