sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Museu do Ceará sofre problemas estruturais

Apesar da fachada pintada recentemente, o prédio tem infiltrações e apresenta portas e janelas quebradas

Ao lado das gargalheiras e algemas usadas por escravos, são vistas grandes infiltrações na parede da sala "Escravidão e Abolicionismo"; na "Artes da Escrita", a situação é a mesma
FOTO: ALEX COSTA

Visto de fora, o Museu do Ceará parece estar em ótimo estado de conservação, especialmente por causa de uma pintura na fachada, que recebeu recentemente. Porém, se analisado com olhares mais atentos, mesmo por fora, pode-se detectar uma série de problemas, como janelas e portas quebradas, com pintura deixando a desejar. Visto de dentro, são muitos os sinais da falta de manutenção. O principal deles são as infiltrações, que estão por toda parte.

Nem mesmo o espaço de visitação, no primeiro andar, escapou. Na sala "Escravidão e Abolicionismo", ao lado de gargalheiras e algemas usadas para castigar escravos, enormes infiltrações podem ser vistas. Na sala "Artes da Escrita", a situação é a mesma. Mas é na administração onde o problema está mais crítico. Lá, o reboco da parece está fofo e uma parte já começou a soltar.

Entre os visitantes, boa parte dos problemas estruturais passam despercebidos. A recepcionista Érica Cavalcante, 25 anos, que estava, ontem, visitando pela primeira vez o Museu do Ceará, afirma que achou o local interessante. No entanto, voltou para casa frustrada, porque não constava nada sobre o assunto que ela pesquisava para um trabalho da faculdade: a seca de 1887 e o sanitarista Rodolfo Teófilo.

Já a estudante de Serviço Social Edilaine Sousa, 25 anos, achou o museu "um pouco limitado". "A história do Ceará é muito rica e eles só mostram o que consideram mais importante. Tem muitas fotos de pessoas, mas pouco sobre os acontecimentos", critica. A estudante diz que a estrutura do museu é ótima, mas acha que ele poderia ser melhor explorado.

Para a professora Taciana Façanha, 36 anos, que estava com uma turma de 29 alunos, o museu atende o seu objetivo, que é visualizar na prática o que conteúdo que está sendo passado aos alunos: o patrimônio histórico-cultural de Fortaleza. Ela elogia a forma como foram separadas as temáticas, sempre com uma relação com o assunto anterior, e afirma que os monitores são muito bons.

Mensalmente, o Museu do Ceará recebe 3 mil visitas, grande parte agendada por escolas. Devido ao número reduzido de visitantes no fim de semana e por questões de segurança, ele não funciona aos domingos.

Sede de evento
Enquanto isso, o Ceará se preparada para receber a 5ª Primavera dos Museus, que acontece de 19 a 25 de setembro, com participação de 589 instituições, que promoverão 1.779 atividades em 310 cidades do País, entre elas Fortaleza. "Mulheres, Museus e Memórias" é o tema desta edição do evento. O historiador do Museu do Ceará, João Paulo Vieira, destaca que viu na temática uma oportunidade de falar de um sujeito importante na história, que é a mulher.

O edifício do Museu do Ceará foi inaugurado em 4 de julho de 1871, quando funcionava a Assembleia Provincial Legislativa. Já sediou o Tribunal de Contas do Ceará, a Faculdade de Direito, o Tribunal Regional Eleitoral, a Biblioteca Pública e o Instituto do Ceará.

Quinta Primavera
Casa José de Alencar
De 19/09 a 20/12 - Exposição de fotos, jornais e outros documentos
Informações: 3276-2379

Museu da UFC
De 21/09 a 07/10 - Seleção de obras das artistas que compõe o Museu da UFC
Informações: 3366-7481

Museu do Ceará
Dia 22/09 - Mostra de pintura "Somos todas do mundo", da artista Lídia Rodrigues. Informações: 3101-2609

Miss - Ceará
Dia 21/09 - Exibição de documentários sobre a inserção feminina no universo predominantemente masculino Informações: 3101-1202

Memorial da cultura cearense
Dia 24/09 - Encontro com a artista plástica Nice Firmeza, que falará de memórias de seus 90 anos
Informações: 3488-8611

MAIS INFORMAÇÕES
A programação completa da 5ª Primavera dos Museus pode ser conferida no site

INCENTIVO
Faltam investimento e interesse da população
Artes visuais, artes plásticas, história, muita história, um universo que anda um pouco escondidos na nossa Capital, tanto pela falta de investimentos, quanto pela falta de divulgação e interesse da população nos museus. Segundo dados da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), atualmente, cerca de oito museus estão ativos na Capital.

Entretanto, apesar de existir a estrutura física a maioria dos prédios está em péssimo funcionamento. Segundo o historiador e professor da Universidade Federal de Ceará (UFC), Regis Lopes, o que falta são políticas públicas de incentivo.

"O poder de atração dos museus está ligado ao investimento e direcionamento. Acho que o problema não é falta de verba e sim de interesse", ressalta Lopes. Para o professor, a principal saída seria a criação de programas educativos com as escolas. Dessa maneira, segundo ele, a criança aprenderia desde cedo a importância do museu e se tornaria uma adulto frequentador desses lugares.

Para Maíra Ortins, coordenadora de artes visuais da Secultfor, há muitos museus funcionando na Capital e em excelente condições, contudo o que falta são espaços culturais, ou seja, lugares onde é possível uma divulgação de múltiplos trabalhos, desde artes visuais, artes plásticas, passando pelo teatro até formações e palestras. "Os museus são lugares extremamente importantes, mas se não existirem os centros culturais não teremos o que expor lá. Precisamos de interesse", diz.

SEM VERBA

Memorial das Secas fechado há 7 anos

O Palacete Carvalho Motta, prédio antigo, robusto e com ares franceses, situado na esquina das ruas Pedro Pereira com General Sampaio, nem parece que um dia abrigou o tradicional Museu das Secas, memorial fundado em 1983 pelo Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) que exibia peças antigas recontando à trajetória deste evento climático. O local está fechado há sete anos.

Por falta de recursos financeiros, o projeto de reforma e reabertura do local está parado, o acervo abandonado, longe do público e do olhar curioso de pesquisadores. Uma grande lacuna que se abre na memória.

Acervo
Na lista de relíquias presentes havia objetos iconográficos e maquinários, telefones à manivela, lunetas e um arsenal de obras raras; uma biblioteca, relatórios, documentos e diversos registros de construções de açudes, a exemplo do Açude do Cedro, tais preciosidades ricas para qualquer colecionador.

Entretanto, o que resta agora são pichações nas paredes recém pintadas, janelas quebradas, grades enferrujadas e falta de perspectiva de futuro. A vendedora ambulante, Rosenilda Alves, 43 - que usa as sacadas do prédio como banca de roupas - se encanta com a beleza da arquitetura, mas lamenta a decadência e fim do antigo museu.

"Tinham uma eterna promessa de reforma que nunca saiu do papel. Passaram só uma tinta na parede e pronto. É só enrolação mesmo. Podia virar um importante ponto turístico da nossa cidade", diz. Segundo ela, até hoje curiosos perguntam sobre o memorial, outros até pensam que o palacete é uma igreja ou um simples casebre qualquer.

A arquiteta do Dnocs, Raquel Pontes, conta que há um projeto de transformar o antigo Museu das Secas em um Centro de Referência Virtual. Entretanto, o anseio esbarraria, segundo ela, na ausência de verba e falta de vontade política. "Fizemos um longo e criterioso restauro, mas não temos prazo de quando o local voltará a funcionar. Quem sabe em 2012", comenta.

LUANA LIMA, IVNA GIRÃO E KARLA CAMILA 
REPÓRTERES/ESPECIAL PARA CIDADE

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