Painel, em Aquiraz, conta a história de São José. E em Crateús, imagem de Senhor do Bonfim veio da Bahia
Aquiraz/Crateús. A história do Ceará tem um capítulo generoso e de destaque sobre a cidade de Aquiraz. Foi lá, afinal, onde tudo começou, pelo menos oficialmente. A primeira capital do Estado, a primeira casa do governo foi erguida por lá. Hoje, o Município abriga um sítio histórico relevante que conta, por meio do patrimônio material e imaterial, esta parte da história cearense. Na área religiosa, a arte sacra tem destaque na cidade, com um museu dedicado especialmente ao tema. No entanto, as raridades não estão presentes somente neste espaço. A Igreja Matriz de São José de Ribamar, por exemplo, abriga preciosidades da arte sacra, com contribuição dos jesuítas que lá residiam.
Aquiraz/Crateús. A história do Ceará tem um capítulo generoso e de destaque sobre a cidade de Aquiraz. Foi lá, afinal, onde tudo começou, pelo menos oficialmente. A primeira capital do Estado, a primeira casa do governo foi erguida por lá. Hoje, o Município abriga um sítio histórico relevante que conta, por meio do patrimônio material e imaterial, esta parte da história cearense. Na área religiosa, a arte sacra tem destaque na cidade, com um museu dedicado especialmente ao tema. No entanto, as raridades não estão presentes somente neste espaço. A Igreja Matriz de São José de Ribamar, por exemplo, abriga preciosidades da arte sacra, com contribuição dos jesuítas que lá residiam.
Altar da Igreja Matriz de São José de Ribamar. Imagem ao centro faz reverência ao santo padroeiro
RODRIGO CARVALHO
RODRIGO CARVALHO
A imagem do santo padroeiro é uma delas. Talhada em madeira, data do século XVIII. Segundo conta a lenda local, a imagem foi encontrada em alto-mar por pescadores, na Praia da Prainha. Eles tentaram transportar o santo, mas era muito pesado. "Os mais antigos contam que teve um onda muito forte e os pescadores gritaram ´arriba, mar!´. E assim o santo recebeu o nome, que também deu nome à vila", conta Rosalba Maria Santos, ex-funcionária do Museu de Arte Sacra de Aquiraz. A princípio, os pescadores queriam levar a estátua para outro povoado, mas, devido ao peso, não conseguiam transportá-la. Então, quando surgiu a ideia de deixá-la na cidade, a imagem ficou leve. A paróquia foi criada em 1713 e já iniciou os preparativos para comemorar seus 300 anos. Conforme afirma o pároco, padre Antônio Robério Martins de Queiroz, uma das preocupações durante este tempo é quanto à preservação da igreja. Tombada pelo Estado do Ceará como patrimônio histórico, "a igreja recebe manutenção apenas da comunidade. Cada padre que chega faz alguma coisa. Já foi feita tanta pintura que perdeu a originalidade", afirma o religioso. Em relação à imagem de São José do Ribamar, a situação é a mesma. "O restauro nem sempre foi feito por profissionais, e aí vem perdendo a característica original", diz. Outra raridade que pede urgência em Aquiraz são os painéis pintados no forro da capela-mor. "Conforme contam, é possível que os painéis tenham sido pintados por índios catequizados", conta padre Antônio Robério. Mas, de acordo com o livro da jornalista Lúcia Helena Galvão, "Painéis de Aquiraz. Joias da Arte Popular do Ceará Colonial", as pinturas devem ter sido realizadas pelos jesuítas ou pessoas que entendiam de iconografia. Além dos painéis, a Igreja Matriz de Aquiraz guarda uma cruz que marca o início do século XX. Ela foi colocada em uma das paredes do templo.
A manutenção desta peça preocupa o pároco e a comunidade. Atualmente, a única ação de proteção realizada nos painéis foi a colocação de uma manta de silicone para evitar infiltração, mas em breve, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), deverá iniciar projeto de restauração.
Em Crateús
Visualize escravos carregando uma rede com uma imagem por uma distância de quase dois mil quilômetros. Essa ação inusitada faz parte da história deste Município. E a dita imagem, do Senhor do Bonfim, padroeiro da Paróquia que tem o seu nome e titular da Catedral, é a imagem original que veio da Bahia em 1792. É a mesma que se encontra até hoje no altar da Catedral. "Fontes não escritas falam que a imagem do Senhor do Bonfim veio em costas de escravos, dentro de uma rede, de Salvador (BA) a Crateús, sob os cuidados de Luiza Coelho da Rocha Passos. A imagem foi esculpida em cedro, por artista europeu", relata o livreto Guia Paroquial, editado em 2009.
Originalidade
Outra história interessante com relação a imagem do padroeiro é contada pelo historiador Geraldo Oliveira, o padre Geraldinho. Segundo ele, a imagem foi restaurada ao longo dos anos e perdeu algumas de suas características originais em função da exposição para veneração pública permitida por um dos párocos, que ele não recorda exatamente qual deles. "Descia a imagem para veneração dos fiéis e estes, movidos pela fé, tocavam e a beijavam e alguns mais empolgados começaram a raspar a imagem, que tinha pequenos detalhes em ouro e diziam que faziam chá e ficavam curados de doenças", relata o historiador. Ele acrescenta que "quando D. José Tupinambá, bispo à época, soube, mandou suspender de imediato".
O livro "História da Paróquia de Crateús", do monsenhor José Maria Moreira do Bonfim, conta que a primeira capela, hoje Catedral, foi construída em 1769, de taipa. Em 1770, sua estrutura foi substituída por alvenaria. Somente em 1792 recebeu a imagem, cuja devoção no País foi iniciada na Bahia, em 1745.
Emanuelle Lobo/Silvania Claudino
Repórteres
ARTE CUSQUENHA
Estilo encanta visitantes e fiéis
Painel da Igreja Matriz de Limoeiro do Norte e imagem de Jesus Cristo, em Sobral, inebriam os visitantes e fiéis
Limoeiro do Norte/Sobral Mais do que a serviço da celebração, a arte sacra que ornamenta a catedral de Limoeiro do Norte foi a expressão de um dos maiores artistas plásticos do Ceará e considerado entre os melhores pintores em estilo cusquenho do País. Quem vai à Igreja Matriz orar para Deus e olha para cima vê Nossa Senhora Imaculada Conceição em pé em uma nuvem com cinco anjos em volta. É um dos óleos sobre tela mais conhecidos do artista plástico Márcio Mendonça (1948-1998). A tela tem quase dez metros de comprimento e foi concluída em 1981.
A manutenção desta peça preocupa o pároco e a comunidade. Atualmente, a única ação de proteção realizada nos painéis foi a colocação de uma manta de silicone para evitar infiltração, mas em breve, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), deverá iniciar projeto de restauração.
Em Crateús
Visualize escravos carregando uma rede com uma imagem por uma distância de quase dois mil quilômetros. Essa ação inusitada faz parte da história deste Município. E a dita imagem, do Senhor do Bonfim, padroeiro da Paróquia que tem o seu nome e titular da Catedral, é a imagem original que veio da Bahia em 1792. É a mesma que se encontra até hoje no altar da Catedral. "Fontes não escritas falam que a imagem do Senhor do Bonfim veio em costas de escravos, dentro de uma rede, de Salvador (BA) a Crateús, sob os cuidados de Luiza Coelho da Rocha Passos. A imagem foi esculpida em cedro, por artista europeu", relata o livreto Guia Paroquial, editado em 2009.
Originalidade
Outra história interessante com relação a imagem do padroeiro é contada pelo historiador Geraldo Oliveira, o padre Geraldinho. Segundo ele, a imagem foi restaurada ao longo dos anos e perdeu algumas de suas características originais em função da exposição para veneração pública permitida por um dos párocos, que ele não recorda exatamente qual deles. "Descia a imagem para veneração dos fiéis e estes, movidos pela fé, tocavam e a beijavam e alguns mais empolgados começaram a raspar a imagem, que tinha pequenos detalhes em ouro e diziam que faziam chá e ficavam curados de doenças", relata o historiador. Ele acrescenta que "quando D. José Tupinambá, bispo à época, soube, mandou suspender de imediato".
O livro "História da Paróquia de Crateús", do monsenhor José Maria Moreira do Bonfim, conta que a primeira capela, hoje Catedral, foi construída em 1769, de taipa. Em 1770, sua estrutura foi substituída por alvenaria. Somente em 1792 recebeu a imagem, cuja devoção no País foi iniciada na Bahia, em 1745.
Emanuelle Lobo/Silvania Claudino
Repórteres
ARTE CUSQUENHA
Estilo encanta visitantes e fiéis
Painel da Igreja Matriz de Limoeiro do Norte e imagem de Jesus Cristo, em Sobral, inebriam os visitantes e fiéis
Limoeiro do Norte/Sobral Mais do que a serviço da celebração, a arte sacra que ornamenta a catedral de Limoeiro do Norte foi a expressão de um dos maiores artistas plásticos do Ceará e considerado entre os melhores pintores em estilo cusquenho do País. Quem vai à Igreja Matriz orar para Deus e olha para cima vê Nossa Senhora Imaculada Conceição em pé em uma nuvem com cinco anjos em volta. É um dos óleos sobre tela mais conhecidos do artista plástico Márcio Mendonça (1948-1998). A tela tem quase dez metros de comprimento e foi concluída em 1981.
Nossa Senhora Imaculada Conceição e Anjos é uma das pinturas mais conhecidas de Márcio Mendonça
MELQUÍADES JÚNIOR
MELQUÍADES JÚNIOR
A pintura cusquenha está muito associada à arte eclesiástica. Desde que os espanhóis derrotaram o império Inca e colonizaram a América do Sul, e por meio da celebração do catolicismo criaram telas cheias de arabescos, dourados, tons de terra e imagens de santos gigantes, que fazem de seus devotos pontos minúsculos na terra. Além das pinturas, o artista plástico deixou suas mãos em detalhes da arquitetura da igreja, e na estátua de dom Aureliano Matos, esculpida há três décadas e que hoje ornamenta o coração urbano da cidade. A arte sacra em Limoeiro, pelas pinturas de Márcio Mendonça, pode ser encontrada na Igreja Matriz e, logo ao lado, no Salão Nobre do Núcleo de Informação Tecnológica.
E uma obra de arte sacra bastante significativa no Vale do Jaguaribe é o altar-mor da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em Russas. Foi trabalhada em cedro, tem traços da arte barroca rococó do século 18. O altar foi instalado em reforma da igreja matriz em 1783. A estrutura arquitetônica que guarda o altar-mor é o único pavimento da igreja que não foi alterado pelas reformas - antes havia cinco altares, resta apenas o altar principal.
Na zona norte
Uma imagem que chama atenção na Catedral de Sobral é da Procissão de Passos de Jesus Cristo. Segundo a pesquisadora Giovana Mont´Alverne Girão, as imagens dessa procissão são de notável beleza e foram adquiridas por padre João Ribeiro, cura e vigário da Vila de Sobral, no final do século XVIII. Há registros históricos da celebração da primeira Semana Santa em Sobral, na Capela da Fazenda Caiçara, em 14 de abril de 1759.
A procissão consta da imagem do Senhor dos Passos, acompanhada pelos encapuzados, sendo iluminada apenas por tochas e saindo da Matriz em direção à Igreja do Rosário. O momento maior da procissão é o encontro da Imagem de Nossa Senhora da Soledade com a do Senhor dos Passos. Desde 1908, que se celebra o encontro nesse local.
Melquíades Jr./Lauriberto Braga
Repórteres
Mais informações
Paróquia São José de Ribamar, Aquiraz, (85) 3361.1122
Paróquia do Senhor do Bonfim, Crateús: (88) 3691.2207
Fonte: Diário do Nordeste
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