Ex-reitor da UFC e ex-secretário da Educação do Ceará, Paulo Elpídio lança duas publicações em que discute o ensino superior e resgata histórias das universidades do Ceará
Políticas públicas equivocadas, falta de autonomia, estruturas acadêmicas engessadas, grades curriculares ultrapassadas, etc. Os pontos de entrave das universidades brasileiras, apontados pelo cientista político Paulo Elpídio Bezerra de Menezes, são muitos. O ensino superior nacional e a realidade cearense são temas de dois livros de sua autoria que serão lançados, hoje, às 18 horas, no Iate Clube de Fortaleza.
Paulo Elpídio foi professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Ceará (UFC) por 28 anos, sendo também reitor da instituição, de 1979 a 1983, Secretário Nacional da Educação Superior (1985) e posteriormente da Educação Básica (1991) do Ministério da Educação (MEC), Secretário da Educação do Ceará (1987), além de professor-visitante da Universität Köln, na Alemanha (1983 e 1990,) e, mais recentemente, reitor do Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio de Janeiro (1998).
Em "A Universidade Possível" e "O Ceará e suas universidades", editados pela Oficina da Palavra, ele reúne artigos revisados sobre temas ligados ao ensino superior e faz um resgate histórico da criação das cinco universidades cearenses.
"Poderíamos ter feito melhor do que fizemos", avalia o autor, sobre os anos em que acompanhou e atuou no desenvolvimento do ensino superior no País. A implantação das universidades pelas vias estatais para ele é premissa de muitas frustrações.
Se de um lado a vinculação com o Estado democratiza o ensino, ela é também responsável pelo travamento da estrutura funcional da universidade. "Eu acho que a universidade no Brasil é Estatal em excesso", explica. Entre os prejuízos, enumera políticas que julga equivocadas, como as tentativas de democratizar o acesso à universidade.
"A universidade tem compromisso com a qualidade. Não se pode baixar o critério de acesso por um ´bem social´, para democratizar esse acesso", diz. Para ele, o governo tenta remediar a má qualidade da rede pública de Ensino Básico e Fundamental reduzindo o nível de exigência do Ensino Superior. Como resultado dessa política, ele atesta em "A Universidade Possível" o surgimento da figura do "analfabeto funcional" do Ensino Superior.
Outra decorrência da submissão estatal é o engessamento dos currículos, fato piorado pela aversão ao mercado de muitos educadores. "Há na universidade quem se envergonha ou reage com virulência (à palavra mercado), porque a universidade deveria ter outros parâmetros", ilustra, argumentando que não se pode pensar em universidade de currículo estático, quando o mercado se desenvolve muito rápido. "Um jovem entra na universidade para se capacitar para o trabalho. Se a universidade não consegue garantir essa inserção no mercado, ela está atrapalhando a vida de muita gente", diz.
Sobre suas passagens pelo MEC e a possibilidade de interferir na formulação de políticas públicas, Paulo Elpídio é ainda mais taxativo: "O MEC não presta para pensar o ensino. É um instrumento burocrático. Falo do MEC como estrutura".
Homenagem
Os dois livros são dedicados ao fundador da UFC, Antônio Martins Filho, conhecido como "o reitor dos reitores". Em um capítulo à parte sobre a história das universidades cearenses, o autor expõe as dificuldades enfrentadas no período militar.
Em meio a tantas memórias e uma reflexão incessante sobre a realidade acadêmica, Paulo Elpídio se mostra um pouco desacreditado do futuro próximo da universidade pública brasileira. "Até agora não temos projeto de educação bem definido. Temos ainda algumas ideias boas que os governos se empenham em estragar", conclui.
MAIS INFORMAÇÕES
Lançamento dos livros "A Universidade Possível" e "O Ceará e suas Universidades". Às 18 horas, no Iate Clube (Av. Abolição, 4813, Mucuripe). Contato: (85) 3263.1744
Paulo Elpídio escreve sobre temas ligados ao ensino superior: o MEC não presta para pensar o ensino FOTO: KIKO SILVA |
Paulo Elpídio foi professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do Ceará (UFC) por 28 anos, sendo também reitor da instituição, de 1979 a 1983, Secretário Nacional da Educação Superior (1985) e posteriormente da Educação Básica (1991) do Ministério da Educação (MEC), Secretário da Educação do Ceará (1987), além de professor-visitante da Universität Köln, na Alemanha (1983 e 1990,) e, mais recentemente, reitor do Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio de Janeiro (1998).
Em "A Universidade Possível" e "O Ceará e suas universidades", editados pela Oficina da Palavra, ele reúne artigos revisados sobre temas ligados ao ensino superior e faz um resgate histórico da criação das cinco universidades cearenses.
"Poderíamos ter feito melhor do que fizemos", avalia o autor, sobre os anos em que acompanhou e atuou no desenvolvimento do ensino superior no País. A implantação das universidades pelas vias estatais para ele é premissa de muitas frustrações.
Se de um lado a vinculação com o Estado democratiza o ensino, ela é também responsável pelo travamento da estrutura funcional da universidade. "Eu acho que a universidade no Brasil é Estatal em excesso", explica. Entre os prejuízos, enumera políticas que julga equivocadas, como as tentativas de democratizar o acesso à universidade.
"A universidade tem compromisso com a qualidade. Não se pode baixar o critério de acesso por um ´bem social´, para democratizar esse acesso", diz. Para ele, o governo tenta remediar a má qualidade da rede pública de Ensino Básico e Fundamental reduzindo o nível de exigência do Ensino Superior. Como resultado dessa política, ele atesta em "A Universidade Possível" o surgimento da figura do "analfabeto funcional" do Ensino Superior.
Outra decorrência da submissão estatal é o engessamento dos currículos, fato piorado pela aversão ao mercado de muitos educadores. "Há na universidade quem se envergonha ou reage com virulência (à palavra mercado), porque a universidade deveria ter outros parâmetros", ilustra, argumentando que não se pode pensar em universidade de currículo estático, quando o mercado se desenvolve muito rápido. "Um jovem entra na universidade para se capacitar para o trabalho. Se a universidade não consegue garantir essa inserção no mercado, ela está atrapalhando a vida de muita gente", diz.
Sobre suas passagens pelo MEC e a possibilidade de interferir na formulação de políticas públicas, Paulo Elpídio é ainda mais taxativo: "O MEC não presta para pensar o ensino. É um instrumento burocrático. Falo do MEC como estrutura".
Homenagem
Os dois livros são dedicados ao fundador da UFC, Antônio Martins Filho, conhecido como "o reitor dos reitores". Em um capítulo à parte sobre a história das universidades cearenses, o autor expõe as dificuldades enfrentadas no período militar.
Em meio a tantas memórias e uma reflexão incessante sobre a realidade acadêmica, Paulo Elpídio se mostra um pouco desacreditado do futuro próximo da universidade pública brasileira. "Até agora não temos projeto de educação bem definido. Temos ainda algumas ideias boas que os governos se empenham em estragar", conclui.
MAIS INFORMAÇÕES
Lançamento dos livros "A Universidade Possível" e "O Ceará e suas Universidades". Às 18 horas, no Iate Clube (Av. Abolição, 4813, Mucuripe). Contato: (85) 3263.1744
Fonte: Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário