sexta-feira, 27 de maio de 2011

Literatura-Lázaro alencarino

Conto pouco conhecido de José de Alencar, "A Alma do Lázaro" ganha edição comentada, lançada hoje no Museu do Ceará. Texto da juventude do escritor, a narrativa trata do estigma da lepra


José de Alencar: texto da juventude tematiza o drama da lepra
Passado quase meio século da descoberta da cura para hanseníase, a doença ainda assombra o imaginário popular, alimentado por séculos de estigma religioso e de convívio com enfermos, deformados, sem opção de tratamento eficaz e sujeitos a práticas de banimento e confinamento em leprosários. O conto "A Alma do Lázaro", do escritor cearense José de Alencar (1829 - 1877), narra as desventuras de um enfermo banido do convívio social no Brasil colônia registradas em um diário lido anos depois por um jovem escritor em busca de histórias.

Texto da juventude de seu autor, foi publicado originalmente na coletânea "Alfarrábios: crônica dos tempos coloniais" (1873). O conto ganha reedição em livro, lançado às 18 horas, no Museu do Ceará. O projeto de reedição foi contemplado pelo I Edital Prêmio Literário para Autor Cearense, da Secretaria da Cultura do Ceará.

Organizadora da nova edição, a historiadora Zilda Maria Menezes Lima é estudiosa do universo da hanseníase em Fortaleza, nas primeiras décadas do século XX, e não do escritor José de Alencar, como se poderia imaginar. "O interesse (pelo livro) surgiu porque defendi tese sobre a lepra. Eu o utilizei como fonte histórica", explica Zilda, que encontrou a obra por acaso, em sites da internet.

Ela defendeu seu estudo em 2007, no doutorado História Social da UFRJ, publicando posteriormente em livro pela Coleção Outras Histórias do Museu do Ceará, com o título "Uma enfermidade a flor da pele: a lepra em Fortaleza". Ainda sobre o livro de José de Alencar, Zilda destaca a abordagem do escritor sobre a doença já como algo que por si justifica a importância da obra. "José de Alencar era realmente um escritor à frente de seu tempo. A lepra só aparece como problema de saúde publica em 1920", diz a historiadora, surpresa pela forma que o escritor aborda o tema em uma época em que o mesmo era pouco discutido.

A reedição mantem o texto integral de José de Alencar, com pequenas correções de erros de ortográficos da primeira edição e acréscimo de apresentação feita pela historiadora.

Lázaro
Escrito por Alencar em sua juventude - estudiosos datam a obra de 1848, quando o escritor contava apenas 19 anos e apresentava os primeiros sintomas da tuberculose que o matou - o livro não tem ainda sua sofisticação estilística, mas destaca-se pela abordagem, bastante original para a época.

Alencar explora o preconceito em torno da doença, enfatizando a face cruel da enfermidade e relatando o drama social e físico dos doentes. O livro é dividido em duas partes: o início, escrito em primeira pessoa, narra a história de um estudante da Academia de Olinda que vaga durante a noite pelas cercanias da cidade em busca de inspiração para escrever. Nas ruínas do Convento de Carmo ele conhece um velho pescador que lhe conta a história um leproso que vivia em uma casa abandonada, próximo dalí.

Enquanto narra o cotidiano sofrido e isolado do enfermo, o pescador revela ao estudante a existência de um diário escrito por ele. A segunda parte do livro resume-se à leitura do diário, que narra três meses na vida do personagem.

FÁBIO MARQUES
ESPECIAL PARA O CADERNO 3

MAIS INFORMAÇÕES
Lançamento de "A alma do Lázaro", de José de Alencar. Às 18 horas, no Museu do Ceará (Rua São Paulo, 51 - Centro). Contato: (85) 3101.2610

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