domingo, 9 de outubro de 2011

Crateús - Centenário com sanfoneiros

Ampla programação cultural marcará as festividades dos 100 anos de fundação do Município de Crateús

Igreja Matriz do Município, datada da década de 30, concentra festejos religiosos. Ainda como capela, deu origem à cidade que hoje é polo na região dos Inhamuns
REPRODUÇÃO

Crateús. Faltando apenas 38 dias para o seu centenário, data oficial no dia 15 de novembro, este Município vive momentos de expectativa e grande movimentação. Hoje, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo lança a programação oficial do Centenário, cujo carro chefe é o evento "Sanfona, Música do Mundo - I Encontro Nacional da Sanfona dos Sertões de Crateús". A partir das 18h, no Teatro Rosa Moraes, acontece o lançamento oficial dos Festejos do Centenário de Crateús.

A tradicional "Ave Maria Sertaneja" será executada pelo sanfoneiro Cafuné do Mucambo. O prefeito, Carlos Felipe, e o secretário de Cultura, Francisco Aldo, falarão sobre as festividades do centenário, marcadas pela realização do I Encontro Nacional da Sanfona, "Sanfona, Música do Mundo", e do II Festival Aéreo, com a apresentação da esquadrilha da fumaça. Na ocasião, também será apresentada toda a programação prevista para o mês de novembro, na continuação das festividades.

"Além de comemorar o Centenário de Crateús, o Encontro Nacional da Sanfona pretende firmar o Município na agenda cultural do Estado e do País, resgatando a atividade musical desse belo instrumento, que é a sanfona", pontua o secretário adjunto municipal de Cultura, Avelar Macedo.

Contagem regressiva
Às 18h30, a programação cultural completa e toda a estrutura de apoio do evento, que pretende atrair participantes de Fortaleza, do Piauí e de toda a região dos Inhamuns, serão apresentadas pelo promotor cultural Fernando Elpídio, idealizador do Encontro Nacional da Sanfona. E, marcando a contagem regressiva para o grande evento, os sanfoneiros crateuenses Edilson Vieira e Bento Raimundo apresentarão músicas compostas especialmente para as festividades do Centenário. Fechando as atividades do dia, acontece a 7ª edição do Projeto Arte na Praça, o maior mix cultural da região, promovido pela Prefeitura de Crateús, que vem contando com grande presença de público e enriquecendo o calendário cultural da região dos sertões de Crateús e Inhamuns.

O evento "Sanfona, Música do Mundo" será um grande encontro de músicos, ouvintes e admiradores de um dos mais belos, populares e complexos instrumentos musicais. De 12 a 15 de novembro, este Município cearense de marcantes referenciais históricos abrirá espaço para grandes nomes da música do Ceará e do Brasil, valorizando a tradição, a cultura e a arte e estimulando o turismo regional. Contará com apresentações musicais, oficinas e palestras, sempre visando à promoção de novos talentos.

Astros
Além disso, consagrados instrumentistas locais, estaduais e nacionais realizarão shows no evento, que marca a comemoração do Centenário do Município. Estão previstos, segundo a Secretaria, as presenças de Elba Ramalho, Ítalo e Renno, Renato Borghetti, Waldonys, As Bastianas, Orquestra Sanfônica do Ceará e Kbra da Peste.

Dentro das atrações locais se destacam os sanfoneiros Bento Raimundo e Edílson Vieira, crateuenses apaixonados pela sanfona desde a juventude. Músicos conhecidos na região e em outros Estados do País farão apresentações e funcionarão como uma espécie de "anfitriões" das atrações nacionais. Esperam que o Encontro marque a história cultural da cidade e dos artistas. "É um momento ímpar para a cidade, região e para nós, artistas, que há tantos anos estamos na luta para viver da música e conservar este instrumento maravilhoso, que é a sanfona", afirma Edilson Vieira.

Para ele, que se prepara para gravar o segundo CD no início de 2012, o Encontro será favorável para os artistas. "É uma oportunidade de mostrarmos o nosso trabalho para o País, será como uma vitrine", diz o sanfoneiro que tem mais de 50 músicas e já fez turnê em grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Roraima. Orgulha-se de nunca ter saído da sua terra natal, sustentar a família com as suas apresentações e shows. Um de seus maiores sucessos é a música "Crateús é meu lugar".

Bento Raimundo afirma que o evento resgata uma vocação do Município. "Crateús é um celeiro de sanfoneiros, tínhamos grandes festivais aqui há algumas décadas e ao longo do tempo não ocorreram mais, então esse Encontro resgatará e dará oportunidade aos artistas", analisa. Ele, inclusive, será o professor da Escola de Formação de Sanfoneiros, que começará a funcionar ainda neste mês com o objetivo de descobrir e formar jovens sanfoneiros.

Escolas públicas
A programação comemorativa inicia no dia primeiro de novembro, por meio de apresentações artísticas e culturais com a participação de estudantes da rede municipal e jovens assistidos pelos projetos sociais, mobilizados pela "Caravana do Selo Unicef".

Daí em diante serão realizadas inúmeras atividades festivas e culturais, até o dia 15 de novembro, data oficial do Centenário, quando a cidade acordará em festa, para atrair grande parte da população.

Elevação
1911 Foi o ano de elevação da vila à cidade de Crateús, no dia 14 de agosto, por meio do decreto, fato ocorrido no dia 14 de agosto e oficializado em 15 de novembro do mesmo ano

MAIS INFORMAÇÕES
Secretaria de Cultura e Turismo
de Crateús/Prefeitura Municipal - (88) 3691.0249
Nova Letra - (85) 9987.7599

HISTÓRIA
Cidade cresceu no entorno da Igreja
Escritores de Crateús são autores de livros históricos com as principais datas comemorativas
Crateús. "Como em qualquer cidade, aqui não é diferente. Para se dizer alguma coisa sobre Crateús de ontem, temos a obrigação de mencionar e reverenciar a Igreja Matriz, que faz parte diretamente da história desta terra. Templo que por milhões de vezes acolheu seus fiéis paroquianos desde os idos pré-históricos da cidade, quando já em 1769 existia como capela. Depois, em 1832, transformada em Matriz da Paróquia Senhor do Bonfim e Catedral desde 1964", destaca o escritor Flávio Machado e Silva, no livro "Crateús, Lembranças que aquecem o coração".

A história registra que o fato inusitado que marca o surgimento deste Município ocorreu em 1792, quando a imagem de Senhor do Bonfim foi trazida por escravos. "Fontes não escritas falam que a imagem do Senhor do Bonfim veio em costas de escravos, dentro de uma rede, de Salvador (BA) a Crateús, sob os cuidados de Luiza Coelho da Rocha Passos. A imagem foi esculpida em cedro, por artista europeu", relata o livreto Guia Paroquial, de 2009.

Antes, porém, desse episódio singular que marca a chegada da imagem de Senhor do Bonfim, cuja devoção já havia iniciado na Bahia em 1745, a Fazenda Piranhas já era realidade.

De acordo com o livro História de Crateús, de Maria Ivane Sales, Aurineide Martins e Sônia Maria Sales, foi em torno da pequena capela, hoje Catedral, construída em taipa às margens do Rio Poti, na Fazenda Piranhas, em 1769, que nasceu o povoado, que depois se chamaria Crateús.

Anteriormente, ainda na Fazenda Piranhas, registros históricos contam a chegada do precursor Domingos Jorge Velho, iniciando o povoamento. "A tribo dos índios karetiús aqui vivia, até que chega Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista que procurava lugares onde moravam os índios para fundar e povoar com pessoas que andavam com ele", conta o livro História de Crateús. A obra relata ainda que "passados muitos anos, em 1721, quando os índios já não viviam mais aqui, as terras foram arrematadas por Dom Ávila Pereira".

A Fazenda Piranhas cresceu e, posteriormente, em 6 de julho de 1832, tornou-se a Vila Príncipe Imperial. A Vila chegou a pertencer ao Piauí e no ano de 1880, este foi anexado ao território do Ceará, como resultado da solução encontrada para o litígio territorial entre os dois Estados. O Ceará reconheceu a jurisdição do Piauí sobre o Município de Amarração (atual Luís Correia) e em troca o Piauí ofereceu dois importantes Municípios piauenses: Independência e Príncipe Imperial.

"Pela lei nº 3.020 de 22/10/1880, as terras que hoje formam o nosso Município e que, até aquela data pertenciam ao Piauí, passaram a fazer parte do Ceará, trocadas que foram pelas terras onde se situa o antigo Porto de Amarração", registra páginas do livro "História de Crateús".

Por meio do decreto, a vila foi elevada a cidade, fato ocorrido em 14 de agosto de 1911 e oficializado em 15 de novembro do mesmo ano. Nessa época, foi escolhido o nome Crateús. De origem indígena, na linguagem dos tupis é assim definido: cará, que quer dizer batata e teú, lagarto. Na linguagem dos índios tapuios, kraté quer dizer lugar seco ou lugar muito seco.

Com a elevação a cidade e a proximidade com o Estado do Piauí, o desenvolvimento foi chegando. O grande marco dessa época foi o estabelecimento de um novo tipo de transporte, o ferroviário.

Chegada do trem
Além da vocação agropecuária, que desde os primórdios do Município é decisiva na propulsão da economia, a chegada do trem é destacada como fator definidor de progresso, movimentação financeira e gerador de negócios com pessoas de outros centros. Crateús atraiu olhares do Estado.

"Graças à exportação de gado, boa produção e a ligação ferroviária que nos alcançou em 1912, nossa terra tornou-se alvo de admiração e do interesse das pessoas de diversas localidades do nosso Estado, notadamente dos Municípios de Sobral, Ipu, Independência e Tamboril, e de Estados vizinhos", conta o historiador Norberto Ferreira Filho, em destaque no livro "Coletânea".

Silvania Claudino
Repórter

Fonte: Diário do Nordeste

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