Inspiração e técnica são elementos essenciais para um bom cordel criar. Entre métricas e versos, uma bela história vamos contar. Dois jovens cordelistas viajam nesse mundo de poesia para a sua própria rima cantar
Os assuntos são os mais variados. Fatos da política, sertão, cotidiano ou romances podem virar tema de cordel. Pesquisadores apontam que a origem desta literatura, que ficou tão popular no Nordeste, seja alemã. No Brasil, os primeiros folhetos apareceram em 1893.
A popularização do cordel foi possível, apesar dos altos índices de analfabetismo, porque os poetas entoavam seus versos nas praças. As rimas melodiosas podem despertar os mais diversos sentimentos dos leitores. Reflexão, emoção, alegria, tristeza e até sonhos são revelados a cada novo verso. É neste sentido que trabalha a estudante de Pedagogia Julie Ane Oliveira, 18 anos. Filha de cordelista (Rouxinol do Rinaré), ela sempre esteve envolvida com cordéis. "Diria que desde que ´me entendo por gente´. No meu lar, a leitura sempre foi presente, assim como o arroz e o feijão (risos)", diz ela, que teve o primeiro contato com a literatura de cordel através da leitura dos trabalhos do pai, bem como também de clássicos de autoria de Leandro Gomes de Barros.
Entre eles, "O cavalo que defecava dinheiro", "O cachorro dos mortos" e "A peleja de riachão com o diabo". "Como toda criança me encantei pela sonoridade das rimas, pelas histórias de príncipes, princesas, causos engraçados. Me via como personagem das histórias lidas. Algumas até tentava decorar. Até que um dia, descobri que podia criar minhas próprias histórias também", comenta Julie.
A estudante destaca que a leitura de autores contemporâneos, como Arievaldo Viana, Marco Haurélio e Klevisson Viana, também fez parte de sua formação enquanto escritora.
Atualmente, o encanto de Julie vai além das histórias e pelas rimas. "Meu maior fascínio é pela capacidade versátil que o cordel assume na sociedade atual, não apenas como instrumento de entretenimento, mas como uma eficiente ferramenta na educação, sendo utilizado em sala de aula como recurso paradidático", comenta ela, que fará o trabalho de conclusão da faculdade sobre essa temática.
Primeiros passos
Aos 10 anos, Julie já começava a criar seus primeiros versos. Um ano depois, ela já teve a oportunidade de publicar o primeiro texto em cordel: "A esperteza de João, o rapaz pobre que casou com uma princesa", publicado pela Tupynanquim Editora (2003). Hoje, a cordelista tem quatro publicações e pretende aumentar este número em breve.
"Tenho alguns trabalhos engavetados, mas nesse momento estou com um trabalho novo sendo ilustrado por Rafael Limaverde. O livro será direcionado para educação infantil, especialmente aos anos iniciais. A obra é intitulada ´Brincando com a matemática´ e será publicada pela Conhecimento Editora. O lançamento está previsto para maio na Livraria Cultura de Fortaleza", adianta ela, que desde quando começou a escrever, sentiu maior interesse pela literatura infantil.
"Minhas abordagens no geral são adaptações de contos clássicos, aventuras, romances de bravura (com príncipes e princesas). Só tenho um tema de drama. Chama-se ´Uma tragédia em família ou o pai que matou o filho´, que inclusive não foi tão bem aceito pelo público quanto o primeiro. Imagino que pelo impacto da temática talvez", destaca ela, que vê no cordel a possibilidade de dar uma cara nova para esses contos clássicos. "Mas procuro não me limitar, já fiz trabalhos por encomenda e trabalhei com variados temas. A minha real preferência são histórias que encantem o imaginário das crianças, assim como encantaram o meu", diz.
Inspiração nos clássicos
Este é o mesmo caminho seguido pelo estudante Josué Lima, 13 anos. Há dois anos, ele fez uma oficina de cordel e já começou a escrever os primeiros versos. Depois de fazer um trabalho escolar sobre drogas, o jovem cordelista aproveitou o tema e lançou seu primeiro trabalho: "Os malefícios das drogas na visão de uma criança". Na sequência, lançou "O príncipe sortudo e a sapinha encantada" e "O Mandarim e a borboleta", em parceria com o pai Evaristo Geraldo.
Tímido, Josué gosta mesmo é de se expressar através dos textos. Segundo ele, seu processo criativo é natural e espontâneo. "Leio muito e depois vou criando as histórias aos poucos. Às vezes consulto o dicionário também", comenta o adolescente que está no oitavo ano e que ainda não pensou sobre qual carreira vai seguir. Uma coisa certa é que ele pretende mesmo continuar escrevendo.
Julie conta que também não tem uma rotina definida de criação. "A inspiração é que comanda. Algumas vezes no caso de encomendas, ou convite para participar de uma coleção, sento e rabisco meus primeiros versos. Mas, no geral, não tem hora nem lugar. O importante é ter sempre papel e caneta à mão", declara.
Desafios
Publicar os cordéis ainda é uma dificuldade encontrada pelos cordelistas. Atualmente, eles contam com algumas editoras especializadas, mas o público nem sempre valoriza a produção.
Além disso, a questão técnica (métrica, por exemplo) ainda é um desafio diário para Josué, que se aperfeiçoa por meio da leitura de outros cordéis. Já para Julie, não há problema nenhum. Meu hábito de leitura e escrita vem desde a infância. No entanto, algumas pessoas têm o dom, porém precisam aperfeiçoar a técnica. Pois, o cordel assim como o soneto, a crônica, o conto, tem suas peculiaridades na estrutura. Por isso, hoje trabalhamos muito com oficinas de cordel, visando dar um suporte a essas pessoas", diz a cordelista.
Você pode criar o seu cordel na internet
Para entrar no clima da novela das seis "Cordel Encantado", o site TV Verdes Mares lançou um hotsite especial (http://hotsite.verdesmares.com.br/cordelencantado/) em homenagem à trama escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid, dirigida de núcleo de Ricardo Waddington. Segundo Ívila Bessa, editora de conteúdos digitais do Sistema Verdes Mares, a iniciativa pretende promover a interação com os telespectadores por meio da internet.
Para participar, basta entrar no hotsite, enviar uma imagem e acrescentar os nomes do casal e gerar o cordel. A foto ganha uma moldura de xilogravura e a página pode ser compartilhada no Facebook e Twitter, além gerar um PDF e enviar por email.
A novela
A literatura popular de cordel é a grande fonte de inspiração da novela das seis. A trama combina lendas heroicas do sertão nordestino com o encantamento da realeza europeia no romance do casal central formado por Açucena (Bianca Bin), cabocla criada por lavradores que é a princesa de um reino europeu; e Jesuíno (Cauã Reymond), filho legítimo do cangaceiro mais famoso da região.
SINOPSE
Produção local
Uma lenda diz que aparece durante as noites uma bela moça despida que ao amanhecer transformava-se em pedra.
Conta a história de um jovem humilde, chamado João, que resolve entrar numa competição em um certo reinado.
Um Mandarim chinês que não gosta de crianças tenta obrigar uma borboleta a se vingar dos pequenos.
Rei busca um substituto e decide fazer provas com os seus filhos. Um deles conta com uma ajudante especial.
Izakeline Ribeiro
Repórter
Os assuntos são os mais variados. Fatos da política, sertão, cotidiano ou romances podem virar tema de cordel. Pesquisadores apontam que a origem desta literatura, que ficou tão popular no Nordeste, seja alemã. No Brasil, os primeiros folhetos apareceram em 1893.
A popularização do cordel foi possível, apesar dos altos índices de analfabetismo, porque os poetas entoavam seus versos nas praças. As rimas melodiosas podem despertar os mais diversos sentimentos dos leitores. Reflexão, emoção, alegria, tristeza e até sonhos são revelados a cada novo verso. É neste sentido que trabalha a estudante de Pedagogia Julie Ane Oliveira, 18 anos. Filha de cordelista (Rouxinol do Rinaré), ela sempre esteve envolvida com cordéis. "Diria que desde que ´me entendo por gente´. No meu lar, a leitura sempre foi presente, assim como o arroz e o feijão (risos)", diz ela, que teve o primeiro contato com a literatura de cordel através da leitura dos trabalhos do pai, bem como também de clássicos de autoria de Leandro Gomes de Barros.
Entre eles, "O cavalo que defecava dinheiro", "O cachorro dos mortos" e "A peleja de riachão com o diabo". "Como toda criança me encantei pela sonoridade das rimas, pelas histórias de príncipes, princesas, causos engraçados. Me via como personagem das histórias lidas. Algumas até tentava decorar. Até que um dia, descobri que podia criar minhas próprias histórias também", comenta Julie.
A estudante destaca que a leitura de autores contemporâneos, como Arievaldo Viana, Marco Haurélio e Klevisson Viana, também fez parte de sua formação enquanto escritora.
Atualmente, o encanto de Julie vai além das histórias e pelas rimas. "Meu maior fascínio é pela capacidade versátil que o cordel assume na sociedade atual, não apenas como instrumento de entretenimento, mas como uma eficiente ferramenta na educação, sendo utilizado em sala de aula como recurso paradidático", comenta ela, que fará o trabalho de conclusão da faculdade sobre essa temática.
Primeiros passos
Aos 10 anos, Julie já começava a criar seus primeiros versos. Um ano depois, ela já teve a oportunidade de publicar o primeiro texto em cordel: "A esperteza de João, o rapaz pobre que casou com uma princesa", publicado pela Tupynanquim Editora (2003). Hoje, a cordelista tem quatro publicações e pretende aumentar este número em breve.
Julié já publicou quatro cordéis e se prepara para lançar um novo trabalho FOTO: KID JÚNIOR |
"Minhas abordagens no geral são adaptações de contos clássicos, aventuras, romances de bravura (com príncipes e princesas). Só tenho um tema de drama. Chama-se ´Uma tragédia em família ou o pai que matou o filho´, que inclusive não foi tão bem aceito pelo público quanto o primeiro. Imagino que pelo impacto da temática talvez", destaca ela, que vê no cordel a possibilidade de dar uma cara nova para esses contos clássicos. "Mas procuro não me limitar, já fiz trabalhos por encomenda e trabalhei com variados temas. A minha real preferência são histórias que encantem o imaginário das crianças, assim como encantaram o meu", diz.
Inspiração nos clássicos
Este é o mesmo caminho seguido pelo estudante Josué Lima, 13 anos. Há dois anos, ele fez uma oficina de cordel e já começou a escrever os primeiros versos. Depois de fazer um trabalho escolar sobre drogas, o jovem cordelista aproveitou o tema e lançou seu primeiro trabalho: "Os malefícios das drogas na visão de uma criança". Na sequência, lançou "O príncipe sortudo e a sapinha encantada" e "O Mandarim e a borboleta", em parceria com o pai Evaristo Geraldo.
Josué cria cordéis baseados em contos clássicos da literatura infantil FOTO: GEORGIA SANTIAGO |
Julie conta que também não tem uma rotina definida de criação. "A inspiração é que comanda. Algumas vezes no caso de encomendas, ou convite para participar de uma coleção, sento e rabisco meus primeiros versos. Mas, no geral, não tem hora nem lugar. O importante é ter sempre papel e caneta à mão", declara.
Desafios
Publicar os cordéis ainda é uma dificuldade encontrada pelos cordelistas. Atualmente, eles contam com algumas editoras especializadas, mas o público nem sempre valoriza a produção.
Além disso, a questão técnica (métrica, por exemplo) ainda é um desafio diário para Josué, que se aperfeiçoa por meio da leitura de outros cordéis. Já para Julie, não há problema nenhum. Meu hábito de leitura e escrita vem desde a infância. No entanto, algumas pessoas têm o dom, porém precisam aperfeiçoar a técnica. Pois, o cordel assim como o soneto, a crônica, o conto, tem suas peculiaridades na estrutura. Por isso, hoje trabalhamos muito com oficinas de cordel, visando dar um suporte a essas pessoas", diz a cordelista.
Você pode criar o seu cordel na internet
Para entrar no clima da novela das seis "Cordel Encantado", o site TV Verdes Mares lançou um hotsite especial (http://hotsite.verdesmares.com.br/cordelencantado/) em homenagem à trama escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid, dirigida de núcleo de Ricardo Waddington. Segundo Ívila Bessa, editora de conteúdos digitais do Sistema Verdes Mares, a iniciativa pretende promover a interação com os telespectadores por meio da internet.
Para participar, basta entrar no hotsite, enviar uma imagem e acrescentar os nomes do casal e gerar o cordel. A foto ganha uma moldura de xilogravura e a página pode ser compartilhada no Facebook e Twitter, além gerar um PDF e enviar por email.
A novela
A literatura popular de cordel é a grande fonte de inspiração da novela das seis. A trama combina lendas heroicas do sertão nordestino com o encantamento da realeza europeia no romance do casal central formado por Açucena (Bianca Bin), cabocla criada por lavradores que é a princesa de um reino europeu; e Jesuíno (Cauã Reymond), filho legítimo do cangaceiro mais famoso da região.
SINOPSE
Produção local
Uma lenda diz que aparece durante as noites uma bela moça despida que ao amanhecer transformava-se em pedra.
Conta a história de um jovem humilde, chamado João, que resolve entrar numa competição em um certo reinado.
Um Mandarim chinês que não gosta de crianças tenta obrigar uma borboleta a se vingar dos pequenos.
Rei busca um substituto e decide fazer provas com os seus filhos. Um deles conta com uma ajudante especial.
Izakeline Ribeiro
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
Um comentário:
Muitas coisas vão se perdendo, com o tempo, entanto, o Cordel se mantém sempre ativo, em pauta. Isso é muito alentador.Parece que é mesmo herditário e vai se perpetuando >>>>>>>
Totó Rios, desejo-lhe Boa Páscoa!
Forte abraço
Lúcia
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