Livro reúne cartas inéditas do jurista Clóvis Bevilaqua para sua mulher, a escritora Amélia Carolina. A obra mostra outro lado da personalidade do intelectual cearense
Muito se fala do talento de jurista do cearense Clóvis Bevilaqua (1859 - 1944). O autor do projeto do Código Civil brasileiro, escrito em 1899 e promulgado apenas em 1916, foi um intelectual dedicado, cuja obra não se deixou erodir facilmente pelo tempo.
Contudo, a maioria desconhece a personalidade romântica do jurista, o amor que devotou a sua esposa, a escritora Amélia Carolina de Freitas Bevilaqua. Clóvis a tinha como musa inspiradora, seu mundo, sua base e seu tudo. À ela escreveu diversas cartas. Numa delas fez uma confissão marcada pelo lirismo: "eu não tenho outro prazer senão escrever-lhe e ler cartas suas!".
É desse amor que transborda das linhas das velhas missivas, resistente a voracidade do tempo, que o professor e presidente da Academia Sobralense de Estudos e Letras (Asel), José Luís Lira, se dedicou para a produção do livro "De Clóvis para Amélia", que será lançado hoje às 18h30, na sede da Academia Cearense de Letras (ACL).
A obra traz nove cartas inéditas do jurista cearense para sua esposa, algumas delas contém mais de 16 páginas. Há também três depoimentos, dentre os quais se destaca a emocionante homenagem feita pela filha Vellêda, após a morte do pai.
Processo
Segundo a pesquisa que deu origem ao livro começou acidentalmente, quando um amigo realizava um documentário sobre Bevilaqua e descobriu suas cartas de amor para a esposa. "Sempre fui um admirador da obra dele, desde a época da faculdade Direito. Quando meu amigo contou sobre as cartas, não pensei duas vezes: sabia que tinha diante de mim um material inédito e revelador sobre Clóvis".
Após o contato inicial com a neta do jurista, Maria Teresa, o professor viajou ao Rio de Janeiro e lá teve contato com a responsável pelo acervo, Maria Cecília, outra neta de Bevilaqua. "No dia 8 de setembro deste ano, encontrei-me com elas. Vi e fotografei todo o material. Lembro que não dormi naquela noite, fiquei acordado lendo as correspondências. Embora tenha me surpreendido em saber da existência das cartas, não foi surpresa a vívida declaração de amor, pois quando quis levar sua mulher para a Academia Brasileira de Letras, e esta vetou sua candidatura, por ser mulher, Clóvis se afastou da instituição. Amélia era a vida dele", ressalta.
As cartas foram escritas entre maio de 1882 e agosto de 1891. A grafia dos textos estão repletas de costumes e expressões da época. Lira conta que, apesar de ter sido feita a atualização para o português atual, algumas palavras necessitam de consulta para um entendimento completo. As palavras que caíram em desuso apresentam em notas indicações sinonímicas no livro; as que estão em outros idiomas foram traduzidas.
"Na maioria das cartas aqui transcritas, Clóvis e Amélia ainda não eram casados. Era uma forma de namorar (por carta), visto que Clóvis era estudante em Recife e ela morava em São Luís, no Maranhão. Em outras, já eram casados, e compunham uma espécie de álbum em comemoração ao aniversário dela", explica o organizador.
O professor comenta que foi Amélia que guardou estas cartas e que talvez ela tenha destruído as que escreveu. "Espero que eu esteja errado quanto ao destino das cartas de Amélia e que um dia outro pesquisador encontre-as e faça uma publicação. No mundo da pesquisa, tudo é possível", diz.
Em algumas correspondências, Lira tece pequenos comentários para melhor compreensão do leitor, junto a apresentação de breves biografias do jurista e sua esposa. O livro, moldado numa bela edição, onde cada detalhe faz referência à ideia de carta, é decorado por ilustrações produzidas pelo próprio Bevilaqua, revelando-nos outros traços de seu talento.
"Os desenhos realmente foram uma surpresa. São ricos em detalhes e possuem uma pureza visual, assim como era o amor dos dois. Dona Vitória, a única filha viva do casal, me contou que eles se conheceram na praia de Milagres, em Olinda. Amélia estava quase se afogando e Clóvis a salvou. Desse encontro, os dois se apaixonaram perdidamente, casaram em seguida, tiveram cinco filhas e foram felizes até o fim".
Uma história de amor que nos serve de exemplo em tempos onde as relações são efêmeras e, muitas vezes, virtuais. "Juro por quanto há nobre e grande, por tudo que eu amo e venero, pela honra, pela virtude, pelas crenças que se aninham em minha fronte, pela fé que me afervora a alma, por minha dignidade de homem, por tudo que possa acordar em mim um sentimento elevado, puro que te adoro, que te idolatro, que és o meu mundo e a minha glória", escreveu Clóvis Bevilaqua à sua amada esposa.
Livro
"De Clóvis para Amélia"José Luís Lira (org.)
229 páginas
R$ 45 (R$ 40, no lançamento)
2011
Independente
Lançamento às 18h30, na Academia Cearense de Letras
(R. do Rosário, 1 - Centro)
ANA CECÍLIA SOARES
Muito se fala do talento de jurista do cearense Clóvis Bevilaqua (1859 - 1944). O autor do projeto do Código Civil brasileiro, escrito em 1899 e promulgado apenas em 1916, foi um intelectual dedicado, cuja obra não se deixou erodir facilmente pelo tempo.
Contudo, a maioria desconhece a personalidade romântica do jurista, o amor que devotou a sua esposa, a escritora Amélia Carolina de Freitas Bevilaqua. Clóvis a tinha como musa inspiradora, seu mundo, sua base e seu tudo. À ela escreveu diversas cartas. Numa delas fez uma confissão marcada pelo lirismo: "eu não tenho outro prazer senão escrever-lhe e ler cartas suas!".
É desse amor que transborda das linhas das velhas missivas, resistente a voracidade do tempo, que o professor e presidente da Academia Sobralense de Estudos e Letras (Asel), José Luís Lira, se dedicou para a produção do livro "De Clóvis para Amélia", que será lançado hoje às 18h30, na sede da Academia Cearense de Letras (ACL).
A obra traz nove cartas inéditas do jurista cearense para sua esposa, algumas delas contém mais de 16 páginas. Há também três depoimentos, dentre os quais se destaca a emocionante homenagem feita pela filha Vellêda, após a morte do pai.
Processo
Segundo a pesquisa que deu origem ao livro começou acidentalmente, quando um amigo realizava um documentário sobre Bevilaqua e descobriu suas cartas de amor para a esposa. "Sempre fui um admirador da obra dele, desde a época da faculdade Direito. Quando meu amigo contou sobre as cartas, não pensei duas vezes: sabia que tinha diante de mim um material inédito e revelador sobre Clóvis".
Após o contato inicial com a neta do jurista, Maria Teresa, o professor viajou ao Rio de Janeiro e lá teve contato com a responsável pelo acervo, Maria Cecília, outra neta de Bevilaqua. "No dia 8 de setembro deste ano, encontrei-me com elas. Vi e fotografei todo o material. Lembro que não dormi naquela noite, fiquei acordado lendo as correspondências. Embora tenha me surpreendido em saber da existência das cartas, não foi surpresa a vívida declaração de amor, pois quando quis levar sua mulher para a Academia Brasileira de Letras, e esta vetou sua candidatura, por ser mulher, Clóvis se afastou da instituição. Amélia era a vida dele", ressalta.
As cartas foram escritas entre maio de 1882 e agosto de 1891. A grafia dos textos estão repletas de costumes e expressões da época. Lira conta que, apesar de ter sido feita a atualização para o português atual, algumas palavras necessitam de consulta para um entendimento completo. As palavras que caíram em desuso apresentam em notas indicações sinonímicas no livro; as que estão em outros idiomas foram traduzidas.
"Na maioria das cartas aqui transcritas, Clóvis e Amélia ainda não eram casados. Era uma forma de namorar (por carta), visto que Clóvis era estudante em Recife e ela morava em São Luís, no Maranhão. Em outras, já eram casados, e compunham uma espécie de álbum em comemoração ao aniversário dela", explica o organizador.
O professor comenta que foi Amélia que guardou estas cartas e que talvez ela tenha destruído as que escreveu. "Espero que eu esteja errado quanto ao destino das cartas de Amélia e que um dia outro pesquisador encontre-as e faça uma publicação. No mundo da pesquisa, tudo é possível", diz.
Em algumas correspondências, Lira tece pequenos comentários para melhor compreensão do leitor, junto a apresentação de breves biografias do jurista e sua esposa. O livro, moldado numa bela edição, onde cada detalhe faz referência à ideia de carta, é decorado por ilustrações produzidas pelo próprio Bevilaqua, revelando-nos outros traços de seu talento.
"Os desenhos realmente foram uma surpresa. São ricos em detalhes e possuem uma pureza visual, assim como era o amor dos dois. Dona Vitória, a única filha viva do casal, me contou que eles se conheceram na praia de Milagres, em Olinda. Amélia estava quase se afogando e Clóvis a salvou. Desse encontro, os dois se apaixonaram perdidamente, casaram em seguida, tiveram cinco filhas e foram felizes até o fim".
Uma história de amor que nos serve de exemplo em tempos onde as relações são efêmeras e, muitas vezes, virtuais. "Juro por quanto há nobre e grande, por tudo que eu amo e venero, pela honra, pela virtude, pelas crenças que se aninham em minha fronte, pela fé que me afervora a alma, por minha dignidade de homem, por tudo que possa acordar em mim um sentimento elevado, puro que te adoro, que te idolatro, que és o meu mundo e a minha glória", escreveu Clóvis Bevilaqua à sua amada esposa.
Livro
"De Clóvis para Amélia"José Luís Lira (org.)
229 páginas
R$ 45 (R$ 40, no lançamento)
2011
Independente
Lançamento às 18h30, na Academia Cearense de Letras
(R. do Rosário, 1 - Centro)
ANA CECÍLIA SOARES
Fonte: Diário do Nordeste
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