domingo, 23 de outubro de 2011

Fábula cearense

Uma nova geração tem a chance de conhecer um dos mais queridos e odiados vilões da literatura infantil cearense. Detestinha 2013 o bicho que detesta ler, de Demitri Túlio, volta a assombrar o mundo das fadas amanhã na literatura e no teatro também

Nascida como peça de teatro, a história do curioso Detestinha ganha nova versão cênica com o colorido e a graça do Circo Tupiniquim (EDIMAR SOARES )

E se toda criança seguisse o que a vovozinha sempre dizia e resolvessem “devorar os livros”. Pois num é que das fábulas cearenses que sai um “bichinho fuleiro” que dedica sua vida a devorar livros. Literalmente. Depois de mais uma década preso dentro do arco-da-velha, Detestinha, do jornalista e escritor Demitri Túlio, uma das obras mais marcantes do imaginário infantil cearense está de volta.

Detestinha – o bicho que detesta ler volta a Fortaleza em seus dois formatos: enquanto a segunda edição sai impressa em papel, o circo Tupiniquim reencena um de seus maiores sucessos. As duas versões podem ser conferidas amanhã, às 17 horas, na sede do circo Tupiniquim.

Para Demitri Túlio, Detestinha adora história e adora os livros – só não gosta de ler. “É muito importante que a criança tenha uma iniciação na leitura com alguém que ame ler, ame contar histórias e faça todas as pautas, entonações”, defende. Quem sabe se a Carochinha fosse a vovozinha do bicho-traça, ele seria um ávido leitor, em vez de um glutão literário.

A história toda surgiu em 1989, quando o pretenso estudante de teatro Demitri Túlio resolveu escrever uma linha ou outra para crianças. Assim, nasceu o vilão, mas além da prisão no arco-da-velha, ele vivia preso na gaveta do escritor. Sete anos após a escrita, Demitri tomou coragem e passou o texto para Haroldo Serra e sua Comédia Cearense – responsáveis pela primeira montagem. Em 1998, foi a vez do Circo Tupiniquim se aventurar na batalha contra o “comedor de livros”, numa encenação completamente diferente e recheada da cearensidade encontrada tanto no livro, quanto nos atores e manipuladores de bonecos da trupe. Para quem não acompanha todo o linguajar cearense, o livro conta com um glossário ao fim, explicando termos como “caritó” e “bico-de-papagaio”.

O livro se apresenta como um próprio roteiro teatral, dividindo as cenas, os diálogos e ambientando todas as mudanças. Afinal, na adolescência e sem dinheiro, Demitri e um grupo de amigos tinha por hábito se esconder nos jardins de Burle Marx antes do início de uma peça e, com os portões do Theatro José de Alencar já fechados, corria rumo as escadas para se deleitar com o espetáculo na torrinha. A mistura de teatro com fábula deu vida à Detestinha e à seus colegas de cena, palhaço Peteleco, Chapeuzinho Vermelho e Branca de Neve – que vivem sob a ameaça do apetite desperto do bicho-traça.

“Detestinha conhece todas as estórias e as subverte. Lê para destruir – mas antes tem que ler”, aponta Demitri, explicando o porquê de sua criação fazer parte daquele rol de vilões que, ao mesmo tempo, assustam e fascinam as crianças. Nessa segunda edição, o “comedor de livro” assume o traço e as cores de Saulo Tiago – uma das primeiras crianças a ter se fascinado com Detestinha. É que, bem antes de ser integrante do Coletivo Monstra, Saulo é filho de Demitri e, na infância, convivia com a criação do pai. E as atualizações não param aí, crescendo concomitantes às homenagens ao mundo das fábulas. O palhaço Peteleco conta história no Twitter e, em breve, Detestinha pode perseguir uma nova dieta. “Eu acho que ele ia adorar comer os e-books”, fala Demitri, entre risos.
 
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ENTENDA A NOTÍCIA
Jornalista e escritor, Demitri Túlio é, antes de tudo, um apaixonado pelo teatro. Cearense na fala e na escrita, o repórter especial do O POVO tem em seu currículo diversos prêmios Esso e obras como O circo das coisas incríveis e Das antigas: Crônicas escolhidas, que reúne seus textos semanais para este Vida & Arte.

André Bloc
andrebloc@opovo.com.br

Fonte: O Povo

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