Estudantes, todos os dias, percorrem o rio de barco para chegar até a escola FOTOS: CID BARBOSA |
Milhares de famílias em todo o curso do Rio Acaraú utilizam-se de suas águas no sustento da vida e para o lazer
Rio Acaraú. Um rio tem sempre múltiplos usos: pesca, para beber, oferecer alimento, navegar, desenvolver e entre muitas outras, para se divertir. A família Sousa sempre teve uma ligação forte com o Rio Acaraú, que trouxe prosperidade. Eles vivem bem próximo às nascentes, na Serra das Matas.
Esta família é uma daquelas que nasce e cresce no mesmo local. No quintal de casa plantam cebola, coentro, beterraba, cenoura e criam algumas cabeças de gado. Para eles, "é o melhor interior que tem. Não seca nunca. Quando chove fica tudo bem ´verdim´, a água escorrendo pela terra. Muda tudo", festeja o pai, Ademir Maciel de Sousa.
Para João Rodrigues do Nascimento, 56 anos, que todos os dias vai ao Açude Araras, em Varjota, pescar, as águas que abastecem o reservatório é tudo para sua família. Ele é pescador e desde os 15 anos trabalha no local, e da sua cultura criou os oito filhos. "Esse açude aqui é tudo na minha vida, porque tiro o pão de cada dia. No dia que eu não venho aqui, eu não fico satisfeito", disse.
No mesmo local, um grupo de estudantes olha curioso para seu João. Eles aguardam para seguir viagem pelas águas do Araras até a Ilha do Ezaú. Conta a lenda que Ezaú era um pescador que frequentava o local para pescar e um dia encontrou o pedaço de terra. Durante as chuvas e cheias fica ilhado dos Municípios de Hidrolândia e Varjota.
Lá fez morada e deu seu nome ao lugarejo. Todos os dias, o grupo de estudantes percorre o açude numa viagem que dura em torno de 45 minutos cada trecho, tempo suficiente para os amigos colocarem o assunto em dia. Os mais velhos são responsáveis por pilotar o barco. Já os mais novos olham atentos para aprender o ofício, outros seguem no teto observando o percurso, e os mais tímidos vão revendo o material da escola. O percurso é feito uma vez ao dia.
Em Cariré, o Rio Acaraú passa no Distrito Tapuio, separando-o da comunidade de Flores. No distrito, tem água encanada e energia. A população utiliza o leito para lavar roupa e como lazer, na maioria das vezes. A paraibana Francinete Luiz da Silva, 44 anos, mora no Tapuio há 21 anos. Vai ao rio duas ou três vezes por semana lavar roupa. Ela diz que "se não fosse esse rio a gente passava sede, não lavava roupa".
Nas margens, marcas de degradação: sacolas plásticas, queimada e bolsões de areia. Do lado de Flores, faltam água encanada e esgotamento sanitário. Energia tem, mas só dentro das casas. Além de pescar, lavar roupa e se divertir no Acaraú, a população também cozinha e bebe das águas que passam a poucos metros de casa.
Francisco Glayson da Silva, 15 anos, utiliza um método repassado pelos pais para pegar água do rio: faz um buraco raso na margem e retira a água que emerge. Ele diz que "a água sai mais limpa. Ela fica coada pela areia". É a partir deste trecho do rio que o lazer torna-se mais presente. Enquanto várias mulheres se desdobram para lavar roupas, crianças e adolescentes arriscam-se em saltos e jovens jogam vôlei bem no leito do rio.
Na passagem molhada entre Cariré e Groaíras, os balneários oferecem lazer e diversão aos banhistas durante os fins de semana. A Cabana do João é uma delas. O proprietário, João Batista do Nascimento Melo, montou uma estrutura para receber os clientes dentro do rio.
Ele garante que a barraca é provisória, permanece durante o período sem chuvas, e que é feita com materiais da própria natureza. E, ainda, que estimula os clientes a recolherem o lixo. "A gente pede para colocarem lixo nos cestos, recolhe, mas precisa de uma ajuda do poder público".
Em Sobral, o espelho d´água e a urbanização da margem esquerda do Rio Acaraú tornou a área ideal para prática de esporte e lazer. É um dos principais pontos de diversão dos sobralenses, que vão ao local manhã, tarde e noite. O lugar ganhou uma iluminação especial para embelezar ainda mais a entrada da cidade. Mas é um trecho que sofre abusos com a poluição.
Para o secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Acaraú, João Batista do Espírito Santo, a obra ficou bela, mas com alguns prejuízos para os Municípios vizinhos. "É uma enorme fossa a céu aberto, porque não tem como conter os esgotos que caem dentro. Nós sofremos as consequências, porque tudo o que é depositado naquele espelho passa por aqui".
Beleza
Quando o Rio Acaraú chega ao seu destino final, na cidade que recebeu seu nome, a imagem é ainda mais bela. Um trajeto de cerca de sete quilômetros, do porto do Acaraú ao encontro com o mar, mostra a riqueza oferecida por este guerreiro. O trajeto no estuário é todo ladeado pelo mangue e acompanhado pelas garças - brancas e azuis, além da tradicional galinha d´água. Em alguns pontos as canoas paradas na beirada indicam a presença de homens na cata aos caranguejos.
Para alguns empresários, o local poderia ser melhor visitado e explorado pelo turismo. "Seria mais importante para o turismo se fosse mais explorado, com passeios. Tentamos fazer, mas falta iniciativa privada e do Governo. Tem que ter um certo investimento", afirmou o dono de pousada, João Ivo Ferreira Gomes Filho.
O piloto da embarcação São Francisco, também pescador, Raimundo Nonato Ferreira, confirma que "esse rio sempre teve muito fartura. Se a pessoa se dispôs a sair, vai achar o que comer. Aqui no rio está tudo na vida da gente". (E.L)
Protagonista
Raízes
A família de Ademir Maciel de Sousa e Francisca Nascimento de Sousa é daquelas que nasceram e se criaram no mesmo local. Às margens do Rio Acaraú, ainda hoje plantam o sustento da família: coentro, beterraba, cenoura e outros. Tudo que se planta, dá, garante os moradores, mesmo quando não chove. A terra arenosa do local garante o alimento da família e ainda sobra para comercializar nas feiras. A relação com a terra e o rio, nesta família, é repassada de geração em geração.
Fonte: Diário do Nordeste
Rio Acaraú. Um rio tem sempre múltiplos usos: pesca, para beber, oferecer alimento, navegar, desenvolver e entre muitas outras, para se divertir. A família Sousa sempre teve uma ligação forte com o Rio Acaraú, que trouxe prosperidade. Eles vivem bem próximo às nascentes, na Serra das Matas.
Esta família é uma daquelas que nasce e cresce no mesmo local. No quintal de casa plantam cebola, coentro, beterraba, cenoura e criam algumas cabeças de gado. Para eles, "é o melhor interior que tem. Não seca nunca. Quando chove fica tudo bem ´verdim´, a água escorrendo pela terra. Muda tudo", festeja o pai, Ademir Maciel de Sousa.
Para João Rodrigues do Nascimento, 56 anos, que todos os dias vai ao Açude Araras, em Varjota, pescar, as águas que abastecem o reservatório é tudo para sua família. Ele é pescador e desde os 15 anos trabalha no local, e da sua cultura criou os oito filhos. "Esse açude aqui é tudo na minha vida, porque tiro o pão de cada dia. No dia que eu não venho aqui, eu não fico satisfeito", disse.
No mesmo local, um grupo de estudantes olha curioso para seu João. Eles aguardam para seguir viagem pelas águas do Araras até a Ilha do Ezaú. Conta a lenda que Ezaú era um pescador que frequentava o local para pescar e um dia encontrou o pedaço de terra. Durante as chuvas e cheias fica ilhado dos Municípios de Hidrolândia e Varjota.
Lá fez morada e deu seu nome ao lugarejo. Todos os dias, o grupo de estudantes percorre o açude numa viagem que dura em torno de 45 minutos cada trecho, tempo suficiente para os amigos colocarem o assunto em dia. Os mais velhos são responsáveis por pilotar o barco. Já os mais novos olham atentos para aprender o ofício, outros seguem no teto observando o percurso, e os mais tímidos vão revendo o material da escola. O percurso é feito uma vez ao dia.
Em Cariré, o Rio Acaraú passa no Distrito Tapuio, separando-o da comunidade de Flores. No distrito, tem água encanada e energia. A população utiliza o leito para lavar roupa e como lazer, na maioria das vezes. A paraibana Francinete Luiz da Silva, 44 anos, mora no Tapuio há 21 anos. Vai ao rio duas ou três vezes por semana lavar roupa. Ela diz que "se não fosse esse rio a gente passava sede, não lavava roupa".
Nas margens, marcas de degradação: sacolas plásticas, queimada e bolsões de areia. Do lado de Flores, faltam água encanada e esgotamento sanitário. Energia tem, mas só dentro das casas. Além de pescar, lavar roupa e se divertir no Acaraú, a população também cozinha e bebe das águas que passam a poucos metros de casa.
Francisco Glayson da Silva, 15 anos, utiliza um método repassado pelos pais para pegar água do rio: faz um buraco raso na margem e retira a água que emerge. Ele diz que "a água sai mais limpa. Ela fica coada pela areia". É a partir deste trecho do rio que o lazer torna-se mais presente. Enquanto várias mulheres se desdobram para lavar roupas, crianças e adolescentes arriscam-se em saltos e jovens jogam vôlei bem no leito do rio.
Na passagem molhada entre Cariré e Groaíras, os balneários oferecem lazer e diversão aos banhistas durante os fins de semana. A Cabana do João é uma delas. O proprietário, João Batista do Nascimento Melo, montou uma estrutura para receber os clientes dentro do rio.
Ele garante que a barraca é provisória, permanece durante o período sem chuvas, e que é feita com materiais da própria natureza. E, ainda, que estimula os clientes a recolherem o lixo. "A gente pede para colocarem lixo nos cestos, recolhe, mas precisa de uma ajuda do poder público".
Em Sobral, o espelho d´água e a urbanização da margem esquerda do Rio Acaraú tornou a área ideal para prática de esporte e lazer. É um dos principais pontos de diversão dos sobralenses, que vão ao local manhã, tarde e noite. O lugar ganhou uma iluminação especial para embelezar ainda mais a entrada da cidade. Mas é um trecho que sofre abusos com a poluição.
Para o secretário do Comitê da Bacia Hidrográfica do Acaraú, João Batista do Espírito Santo, a obra ficou bela, mas com alguns prejuízos para os Municípios vizinhos. "É uma enorme fossa a céu aberto, porque não tem como conter os esgotos que caem dentro. Nós sofremos as consequências, porque tudo o que é depositado naquele espelho passa por aqui".
Beleza
Quando o Rio Acaraú chega ao seu destino final, na cidade que recebeu seu nome, a imagem é ainda mais bela. Um trajeto de cerca de sete quilômetros, do porto do Acaraú ao encontro com o mar, mostra a riqueza oferecida por este guerreiro. O trajeto no estuário é todo ladeado pelo mangue e acompanhado pelas garças - brancas e azuis, além da tradicional galinha d´água. Em alguns pontos as canoas paradas na beirada indicam a presença de homens na cata aos caranguejos.
Para alguns empresários, o local poderia ser melhor visitado e explorado pelo turismo. "Seria mais importante para o turismo se fosse mais explorado, com passeios. Tentamos fazer, mas falta iniciativa privada e do Governo. Tem que ter um certo investimento", afirmou o dono de pousada, João Ivo Ferreira Gomes Filho.
O piloto da embarcação São Francisco, também pescador, Raimundo Nonato Ferreira, confirma que "esse rio sempre teve muito fartura. Se a pessoa se dispôs a sair, vai achar o que comer. Aqui no rio está tudo na vida da gente". (E.L)
Protagonista
Raízes
A família de Ademir Maciel de Sousa e Francisca Nascimento de Sousa é daquelas que nasceram e se criaram no mesmo local. Às margens do Rio Acaraú, ainda hoje plantam o sustento da família: coentro, beterraba, cenoura e outros. Tudo que se planta, dá, garante os moradores, mesmo quando não chove. A terra arenosa do local garante o alimento da família e ainda sobra para comercializar nas feiras. A relação com a terra e o rio, nesta família, é repassada de geração em geração.
Fonte: Diário do Nordeste
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