segunda-feira, 20 de junho de 2011

Literatura-Munição em abundância

Fora de catálogo há três décadas, o livro "Parabélum", de Gilmar de Carvalho, ganha agora sua segunda edição. Obra incontornável na história de nossa prosa de invenção, o romance será lançado, amanhã, no Armazém da Cultura

O escritor e pesquisador Gilmar de Carvalho. No alto, a rara primeira edição de "Parabélum"

Há três infortúnios que assombram os escritores. O primeiro é, claro, o de não ser lido, de ter apenas o silêncio por crítico e interlocutor; o segundo, um desdobramento irônico do primeiro, é de escrever livros antes que hajam leitores para eles; e, por fim, uma alternativa cínica ao silêncio - o discurso vazio, quando o livro é mais comentado que lido.

Os três se abateram sobre "Parabélum", romance escrito por Gilmar de Carvalho em meados dos anos 1970 e publicado em 1977. De lá para cá, esta primeira edição sumiu das livrarias e mesmo dos sebos, enquanto ascendia à condição de obra quase lendária, citada sempre que algum crítico ou comentarista desejava evocar os momentos altos da prosa de invenção no Ceará. Uma das consequências disto é que o livro tenha ficado três longas décadas condenado a esta primeira edição, impressa e distribuída às custas do autor.

Segunda edição
O livro chega agora a sua segunda edição, tão aguardada quanto necessária, via Armazém da Cultura. A nova edição, revista pelo próprio Gilmar de Carvalho, elimina os erros tipográficos da primeira e acrescenta uma única - e significativa - linha ao livro, a derradeira, eliminada no original, por receio do impressor quanto a possíveis problemas com a censura da Ditadura Militar.


"Parabélum" retorna com um bonito acabamento gráfico. Vem acrescido de um ensaio introdutório, assinado pelo escritor João Silverio Trevisan ("Devassos no Paraíso", "Rei do Cheiro"), bem titulado como "O Herói e seus espelhos: ´Parabélum´ e o romance pós-moderno brasileiro"; e um texto, na orelha, da também escritora Ana Miranda, que decreta na primeira linha: "´Parabélum´ é um clássico".

O livro é importante ainda para reencontrar um outro Gilmar de Carvalho, formalmente distinto do incansável pesquisador das artes e tradições do Ceará. E é assim, em tom de celebração e revisão, que o livro será relançado, amanhã, às 19h30, na sede do Armazém da Cultura. Na ocasião, o autor falará sobre a obra, numa discussão com jornalistas e com o pesquisador Saulo Lemos, autor de "Expectativas Heroicas: mito, história e leitura em ´Parabélum´, de Gilmar de Carvalho".

Prosa de invenção
"Parabélum" traz explícitas as marcas da época em que foi escrito. O romance é registro de um tempo em que a literatura era sacudida por lampejos formais. A invenção, que nunca esteve restrita ao enredo, era tão mais radical no estilo. A língua se torcia, para falar de um cenário político, social, econômico e cultural cada vez mais difícil de compreender. Tratava-se de um radicalismo da criação verbal que teve momento mais agressivo nos modernismos, nas mais diversas literaturas.

Tanto que a classificação de romance não pode ser adotada sem certo conformismo. Narrador, história e personagens são inconstantes, mas não inconsistentes. A linguagem, carregada de símbolos, de substituições, aproximações e referências, é predominantemente intertextual. Parece caber ao "Parabélum" de Gilmar de Carvalho um adjetivo dado ao radical "Finnegans Wake", obra final do irlandês James Joyce (1882 - 1941): noturno.

A linguagem parece ser a do sonho. No entanto, Gilmar está mais próximo do mineiro Guimarães Rosa, que achava a prosa joyecana demasiado "cerebral". E este, em definitivo, não é um trabalho que caiba ao único romance da obra de ficção de Gilmar de Carvalho.

A arquitetura é complexa: o evangelho é uma base, mas o tom profético é confrontado com o materialismo da cultura de massas, das referências à infeliz situação política do País à época, do vocabulário e do registro de hábitos das camadas subalternas do Nordeste brasileiro. Os capítulos são breves e, a medida que se sucedem, o personagem se metamorfoseia - num encadear de tipos rebeldes. Nasce como Cristo, a revolta pura; transmutasse em Lampião, a insurreição sem consciência política; e chega ao Che Guevara, ainda não convertido em estampa de camiseta, que confere ordem ao incômodo que o acompanha a cada passo.

Romance forte, violento até, "Parabélum" traz a marca da escrita acadêmica e jornalística de Gilmar de Carvalho. Uma escrita bem urdida, que, com delicadeza, dá ordem a elementos demasiado livres, caso da tradição popular, que não se deixa engolir. Canibaliza, como ensina o modernista Oswald de Andrade (1890 - 1954), para nutrir-se de seus inimigos.

DELLANO RIOS
EDITOR

Entrevista
Saulo Lemos*

"De certa forma, ´Parabélum´ se afirmou: em sua marginalidade"

"Parabélum" tornou-se um livro meio mítico na história da literatura cearense. Contudo, à época do lançamento, não foi um sucesso. Trata-se de uma obra incompreendida?
Quando a gente observa as tradições culturais da época, o romance brasileiro dos anos 70, a cultura contemporânea, etc, a primeira impressão é que foi um caso de incompreensão, uma injustiça contra o "Parabélum". Mas tento associar a esta perspectiva, que não é incorreta, uma outra: é mais ou menos normal que um livro como este, num lugar como o Ceará, não possa fazer sucesso. A começar pela questão da leitura, porque ainda há muitos analfabetos e, mesmo para quem sabe ler, trata-se de um livro que exige uma formação muito específica do leitor. Além disso, a sociedade cearense é, predominantemente, conservadora. Os grupo predominantes, que querem saber de literatura, estão mais interessados em sonetos, em uma literatura realista de gosto passadista. Não acredito que o Gilmar esperasse por isso (a boa acolhida do livro) na época. Essa pouca aceitação do ´Parabélum´ não se deve apenas a sua busca pela experimentação de vanguarda. Na verdade, da perspectiva da própria vanguarda, ele é problemático. O romance tem esse tipo de texto complexo, muito voltado em si mesmo, que atira referências para todo lado, tem esta descontinuidade entre mundo exterior e o livro... Além disto, a experimentação formal não tão comum no Ceará. O Grupo Clã, por exemplo, era vanguarda para cá, mas não podia ser assim considerado em âmbito nacional. "Parabélum" exigia uma estratégia de afirmação cultural para se afirmar. E, de certa forma, se afirmou: em sua marginalidade.

Que posição esta obra ocupa entre os demais escritos literários de Gilmar de Carvalho?
No "Parabélum" e no "Restos de Munição" (muito próximo daquele, já que traz textos que fariam parte do romance), você se vê diante de uma linguagem que ora te acolhe, ora te sufoca. Você tem isso no restante da obra literária. Quanto a essa busca específica, que se reveste numa preocupação política, de demarcar um espaço do eu que coletiviza, as obras posteriores caminham num rumo um pouco diferente. Enquanto "Parabélum" é um tipo de síntese da literatura brasileira dos anos 1970, "Pequenas Histórias de Crueldade" e "Buick Frenesi", como ele diz, é um livro mais de "escracho", de desconstrução da literatura que ele fazia. E é assim porque vêm em outro contexto, com algumas outras referências. Não digo que seja um momento pessimista. Prefiro vê-lo como o Caio Fernando Abreu, uma obra que tem um pulsão de morte, mas também uma pulsão de vida.

Não sei se você conhece bem a obra não-literária do Gilmar de Carvalho. É possível encontrar traços do escritor, do literato, neste trabalho jornalístico, semiológico de hoje?
A gente pode mencionar de cara a infiltração dos elementos da cultura popular. O ´Parabélum´ é quase um romance de formação, ou de "desformação" (na falta de uma palavra melhor), de seu protagonista. Em determinado momento, ele é Lampião, que vai se confrontar com o Padre Cícero. Há uma busca direta da tradição, que, como sabemos, é uma busca forte na carreira acadêmica do Gilmar de Carvalho.

*Professor de Literatura da Universidade Estadual do Ceará
(Uece), em Iguatu. Autor do livro "Expectativas Heroicas"

Romance

Parabélum 

Gilmar de Carvalho

ARMAZÉM DA CULTURA
2011
261 PÁGINAS
R$ 55

LANÇAMENTO amanhã, às 19h30, no Armazém da Cultura (Rua Jorge da Rocha, 154, Aldeota). Contato: (85) 3224.9780

Lançamento do livro O Cordel e o Professor, do mestre Lucas Evangelista

A Academia de Letras de Crateús e o Ponto de Cultura Quintal com Arte, do Sindicato dos Professores Municipais de Crateús, têm o prazer de convidá-lo para o lançamento do livro O Cordel e o Professor, do Mestre da Cultura Cearense Lucas Evangelista, ganhador do Prêmio Literário para Autor Cearense da Secult-Ce. Na ocasião, haverá também um desafio de viola entre Bento Raimundo e Chico Chagas.

Uma oportunidade única de ver este mestre do cordelismo, e aproveitar para ver o lançamento do livro, Lucas Evangelista mostrará um talento sem professor, que a vida lhe deu, e transmitir com muita humildade o dom do cordel, que esta na vida de cada um de nos nordestinos.

Lucas Evangelista nasceu aos 6 de maio de 1937, em Crateús, Ceará.

Aos 18 anos abandonou todas outras atividades para viver somente da Literatura de Cordel.
Tem muitos trabalhos entre canções, folhetos e romances, todos de grande aceitação popular.

Gravou 5 discos (LP) de poemas populares e vários CDs e Fitas.

Além de poeta é cantor, violonista e compositor (com várias letras gravadas por bandas de forró). Ainda faz um trabalho itinerante, em seu próprio carro, indo as feiras interioranas cantar e vender cordéis.

 Fonte: Crateus News

domingo, 19 de junho de 2011

Literatura-Zé do Jati lança versos sobre o seu testamento

Cachorro, esposa, Madonna, Kadafi, FHC, nordestinos, entre outros, foram lembrados no testamento

Anchieta Dantas, criador de Zé do Jati, personagem conhecido em todo o Estado por cantar os problemas do Ceará e dos nordestinos, lança o testamento de seu maior personagem
DIVULGAÇÃO
Fortaleza. Bastante conhecido dos cearenses, o personagem Zé do Jati, do cordelista José Anchieta Dantas Araújo, lança mais uma de suas divertidas (e satíricas) publicações: "O testamento de Zé do Jati". Entre não ter nada para deixar de herança, o autor preferiu versar sobre a realidade vivida. "Na minha concepção é um pouco de deboche, de protesto e de solidariedade com os palestinos, japoneses, nordestinos. É um contexto universal", ressalta Anchieta.

Ele não esqueceu de ninguém. Para seu cachorro Totó, um balaio de osso. Para o Piauí, frio e permanente inverno. E o rei Roberto Carlos, um azul e bonito terno. Tem também os jogadores Zico e Maradona, com mais de mil gols. E nem mesmo a cantora Madonna ficou de fora dessa. "A Madonna é conhecida por se apresentar com pouca roupa, então, eu coloquei minha versão dela comprar saias largas e longas, duas meias e um konga", afirma.

O autor retrata, ainda, os conflitos na Faixa de Gaza e também na Líbia, tudo de uma forma bem humorada como gostar de frisar quando fala de seu estilo. Para o povo nordestino, o cordelista lembra da importância da chuva, da lavoura e das novenas. Até os americanos foram lembrados e o seu grande legado foi a reconstrução das torres gêmeas.

Parafraseando Vinícius de Moraes, o autor explica porque escreveu sobre o tema: "quem sabe a morte, angústia de quem vive. Foi a partir daí que eu comecei a pensar nesse testamento. Este é o testamento de uma pessoa altamente alegre, de bem com a vida. Isso é otimismo. Ao longo do tempo, se Deus me permitir, vou ampliar com problemas atuais", complementa Dantas.

O cordelista iniciou a publicar seus versos em 1999. Hoje, ele comemora os mais de 70 cordéis escritos e distribuídos por todo o Nordeste. "Tem família que me procura para fazer um cordel sobre sua história, por exemplo. Eu trabalho, almoço, janto e transpiro a literatura de cordel", conta.

Fama

O personagem Zé do Jati ficou famoso pela sua participação no programa "Nas garras da patrulha", exibido da TV Diário. Bastava o som da viola apontar na telinha, o telespectador sabia que lá vinha Zé do Jati cantar os problemas do nordestino. Agora, o personagem traz seus novos causos em cordel.

Novos projetos para Anchieta Dantas e o seu Zé não param. "As pessoas me convidam para gravar os cordéis. O do testamento, por exemplo, pode ser gravado em rap, vaquejada e boiada", disse Dantas, emendando na cantoria. Mensalmente, percorre cerca de 2.500Km entre Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia. Ele mesmo se desdobra para produzir e distribuir os cordéis. Se orgulha do seu trabalho estar espalhado em todo o Brasil. "Hoje, onde você chegar tem cordel de Zé do Jati", conta.

Quanto aos temas para novos cordéis, diz buscar no seu dia a dia o conteúdo para os versos. "Os assuntos são do nosso Estado. Quando eu fiz o da mulher, me inspirei na parábola que meu pai contava. Acrescentei criatividade e humor e dei uma melhorada no texto. Quando começo a tomar gosto por uma coisa, paro, reflito e escrevo".

MAIS INFORMAÇÕES
Anchieta DantasCriador do personagem Zé do Jati
(88) 8814.3383
(85) 3253.4586

Emanuelle Lobo
Repórter

Festival Jericoacoara - Encontros étnicos e visuais

2ª edição do Festival Jericoacoara - Cinema Digital começa com debate e exibição de filmes acerca da diversidade brasileira e da importância da imagem diante dessa cultura plural

Comunidade indígena Tremembé é tema de documentário homenageado

O cinema como espaço de encontros, de congregação. Assim se pode resumir a noite de início do II Festival Jericoacoara - Cinema Digital e o que se promete para os próximos dias. Durante a abertura, ocorrida no último dia 15, foi exibido o curta-metragem do brasiliense Philipi Bezerra, "Espelho Nativo", premiado no Doc.TV. O documentário de 52 minutos é um registro de cinco anos de vivências e quatro meses de filmagens na comunidade dos índios Tremembé, no Ceará.

Nativo
Philipi veio ao Ceará muito novo e aqui empreendeu diversas viagens, conhecendo sertão e litoral. "Desde o princípio notei como a cultura cearense era repleta de elementos indígenas, até mesmo os traços físicos. Isso me chamou a atenção e comecei a pesquisar sobre as comunidades indígenas cearenses", explicou o cineasta. Philipi esteve com Pitaguaris, Jenipapo-Kanindés, mas foi com o Tremembés que se identificou mais profundamente. "Nos dois primeiros anos de pesquisa, visitei os lugares e fotografei bastante. No terceiro e no quarto ano li muito, reuni uma boa bibliografia para então, no quinto e último desenvolver um texto, quase monográfico. De ensaio antropológico. No fim consegui formulá-lo para que fosse audiovisual, um roteiro mesmo", detalha Philipi. Foi esse o texto inscrito no Doc. TV, da TV Cultura. Segundo ele, a vantagem da conquista do apoio é mesclada a algumas desvantagens, como prazos e especificações, que, de certa forma, emolduram o trabalho.

Um dos méritos da produção de Philipi é que, apesar das limitações, pode-se dizer que o filme foi desenvolvido de forma participativa, com as opiniões e sugestões dos próprios nativos. "Com o tempo, a câmera deixou de ser uma preocupação só minha, um instrumento só meu, para ser uma ferramenta de construção de algo coletivo. Eles foram me dizendo: ´Vamos ali filmar a senhora de 102 anos, a mais velha da comunidade´ ou ´Hoje nós vamos capinar as terras originais da tribo, filma lá...´. Eles indicaram muitas imagens", comenta.

Como era de se esperar, a natureza teve papel crucial na produção e as chuvas torrenciais do inverno de 2009 também interferiram no produto final. Para ele, a quantidade de material recolhido e, sobretudo, a complexidade desse universo rendem, certamente, um longa e essa é a sua proposta. "Filmamos nos meses de janeiro e fevereiro, período meio atípico para eles; queremos agora fazer umas imagens em outubro, tempo do caju, em que a pesca para um pouco e eles se voltam mais para celebrar a terra", acrescenta o diretor.

Festival
Philipi, que tem uma ilha de edição pertinho de Jeri, ficou feliz com a iniciativa de um festival litorâneo. "Esse lugar tem um grande potencial turístico, natural, mas cultural nem tanto. É de uma sagacidade interessante fazer um evento, assim, aberto, democrático. Lembra um pouco o festival de Tiradentes", avalia.

O diretor elogiou ainda a exibição na cerimônia de abertura, que, de fato, deu uma mostra do clima fraterno dos próximos dias.

Após a exibição de "Espelho Nativo", já acompanhado por moradores, que se aproximaram curiosos da tenda do Circo Jeri, os tremembés convidados presentearam a todos com a dança do Torem. E, ali mesmo, durante a execução, crianças nativas tocavam os índios, pulavam, entravam na roda, enquanto adultos também se identificavam com a tradição. "Haviam também comunidades de Tremembés aqui em Jeri, então os nativos ficaram muito emocionados em ver e perceber que se tratava de seu passado, de uma tradição da terra", apontou o produtor cultural e cineasta Francis Vale, coordenador do evento.

Segundo ele, trazer o novo cinema brasileiro é um agradável desafio para Jeri. "O que temos aqui é um paraíso ecológico, um lugar bonito e isolado, em que grande parte das pessoas nunca viu cinema realmente. Apenas o que se vê pela televisão que, na verdade, é muito mais internacional do que nacional", analisa Francis, que destaca a importância de, por exemplo, se poder exibir o filme "Raízes do Brasil - Uma Cinebiografia de Sérgio Buarque de Holanda", de Nelson Pereira dos Santos. "Você pode perceber que há aí uma harmonia entre os vídeos selecionados. Nelson discute as ancestralidades, a cultura, a etnia, religiosidade e relação com a natureza, e Philipi também. Muitas outras produções também seguem essa linha", arremata o coordenador.

O II Festival Jericoacoara - Cinema Digital segue até o dia 21 de junho, exibindo um total de 50 filmes, de até 15 minutos de duração, produzidos com tecnologia digital, e selecionados em meio a 218 obras inscritas. Tais produções compõem a Mostras Informativa, cujo objetivo é gerar debates posteriores, e a Competitiva, em que os filmes concorrem a troféus e um prêmio de R$ 5 mil reais.

Programação
19/06
9h - Oficina "Praticando o Cinema Digital", no Conselho Comunitário de Jeri
10h - Debate filme "Loucos de Futebol", na Pousada Serrote
18h - Mostra Informativa de Cinema Ambiental, no Circo Jeri. Filme: "Chapada do Araripe... Como será?", de Jefferson de Albuquerque Junior (CE - 30´)
19h - Mostra Competitiva - Circo Jeri Filmes: "Vitrines", de Carlos Segundo (MG . Fic.14´56")
"Ilusão de Ótica", de Ricardo Pinto e Vlamir Cruz (RN. Exp. 2´30")
"Patthelley, um caminho", de Cândido Alberto (MS. Doc. 12´)
"O lado negro da lua", de Yargo Gurjão (CE. Exp. 6´15")
"No Oco da Serra Negra", de Tel. Colorido (PE. Doc. 15´)
"O Mendigo", de Mário Bonin (RJ. Fic. 14´57")
"Pra sempre Colorado", de Adelton Pereira e outros (SP. Doc. 4´)
"Peixe Pequeno", de Vincent Carelli (PE. Fic. 3´33")
"O Filho de Eru", de Marcelo Goes (BA. Doc. 15´)
"Poeira e Luz", de Rogério Correa (SP. Doc. 2´14")
21h - Exibição Especial - Circo Jeri

"Entre o Sagrado e o Profano", de Caio Quinderé e "Devoção", de Sergio Sanz

20/06
9h - Oficina "Praticando o Cinema Digital", no Conselho Comunitário de Jeri
10h - Debate sobre o filme "Devoção", na Pousada Serrote
18h - Mostra Informativa de Cinema Ambiental - Circo Jeri
19h - Mostra Competitiva - Circo Jeri 21h - Exibição Especial - Circo Jeri
"Passageiro Pau de Arara", de Bruno Monteiro (CE. Fic. 10´)

MAIS INFORMAÇÕES
II Festival Jericoacoara Cinema Digital
- mostra competitiva e exibição de filmes, até 21 de junho (www.jeridigital.com.br)

MAYARA DE ARAÚJO
 REPÓRTER

A revolução será musicada

Professor do Curso de Música da Uece, Heriberto Porto avalia o atual cenário da formação de jovens músicos no Ceará

Entre as melhorias, o professor cita o surgimento de grupos profissionais, como a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho (MARCUS CAMPOS)

Como professor do Curso de Música da Universidade Estadual do Ceará, hoje convivo com uma nova geração de entusiasmados instrumentistas do Ceará. Estes jovens provêm de diversas cidades do Estado, de classes sociais variadas, fazendo do ambiente de estudo a verdadeira universidade. Todos anseiam a uma profissionalização na música e se preparam para ser os futuros professores na ansiada nova sociedade onde o ensino da música será bem mais universalizado. A nova Lei nº 11.769, que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica, sancionada em 18 de agosto de 2008 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, têm aumentado o interesse pelas graduações em música, mesmo que a lei não defina ainda o perfil do profissional que irá lecionar nos ensinos fundamental e médio, nem determine em quantos anos o ensino de música será ministrado – caberá aos conselhos educacionais, estaduais e municipais, regulamentarem-na.

Hoje os estudantes de música no estado do Ceará chegam aos cursos superiores com uma formação básica muitas vezes deficiente, boa parte autodidata. O que se vê é muito talento e vontade de fazer boa música. Isso tem um lado bom: o aluno não chega com vícios éticos e musicais. Chegam ávidos de conhecimento e com a certeza de que todos querem ser músicos. Já é muito para o perfil dos docentes de um curso universitário.

A formação da maioria desses jovens se faz por meio de projetos sócio-educativos, cursos em escolas particulares, nos importantes festivais “de férias” como o Festival Eleazar de Carvalho e o Festival de Música na Ibiapaba, em Viçosa do Ceará. Poucos podem ter uma formação básica formalizada, continuada e consistente por falta de escolas públicas de ensino musical. As exceções são o curso técnico do Instituto Federal do Ceará (IFCE), antigo Cefet, e a Escola de Música de Sobral. Os organismos como o Centro Dragão do Mar e o Cuca Che Guevara fazem seu papel de oferecer cursos, mas não são ainda a escola tão sonhada por todos os profissionais do ensino da música.

O Ceará necessita há muito tempo de maiores investimentos na educação musical. A própria Uece tem um déficit de pelo menos 15 professores para o curso de Música, pois várias áreas como a didática, a pesquisa, a composição e os instrumentos específicos estão “descobertas”, faltando professores. Não temos professores em cordas, temos somente três bacharelados em instrumento: piano, flauta e saxofone, além do bacharelado em composição e da licenciatura em música.

Somos carentes em Mestres no violino, violoncelo, clarineta, trompete, trombone, flauta doce, dentre os mais procurados, pois a demanda pelos bacharelados já é muito grande e o nível dos jovens músicos nestas áreas já justifica a criação de novos cursos. Se para alguns são instrumentos anacrônicos, do tempo antigo, quem toca sabe do valor universal e tem todo o direito de uma boa formação específica na área. A categoria espera com ansiedade o prometido concurso público na Uece.

Se o nosso estado quer se desenvolver realmente (é o que aparenta com os recentes investimentos em infra-estrutura, em criação de empregos e implantação de novas indústrias), ele deve continuar investindo na formação em artes e em especial na música.

Já tivemos grandes melhorias nos últimos anos com a criação de novos cursos pela Universidade Federal do Ceará, com o surgimento de grupos profissionais, como a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho, o belo projeto de música de Pindoretama, com os mencionados festivais, sem esquecer as veteranas instituições que são a Orquestra do Sesi e a Banda do Piamarta. Lamentamos o desaparecimento da Escola do Ancuri, da Escola Eleazar de Carvalho de Iguatu e do Festival de Música de Câmara do Vale do Salgado (em Iguatu e Icó). Isso prova que “projetos” podem deixar de ter suas subvenções, de repente não conseguem mais captar recursos ou ganhar editais. Uma escola pública de música, como as que existem em muitos estados como no Pará, no Rio Grande do Norte ou na Paraíba, seria a oportunidade de estudo acessível, de inserção social para centenas de jovens, além de ser a base de uma possível Orquestra Sinfônica Estadual. Recentemente pude conhecer inúmeras escolas profissionalizantes que felizmente surgiram no interior do estado e na capital. Estes equipamentos poderiam também servir como sede de cursos de música. Alunos não faltariam.

A cada nova gestão que se inicia, ficamos na expectativa de uma grande revolução pelas artes e pela cultura ou de gestores que enxerguem que a revolução pacífica e verdadeiramente socialista já começou nas mentes e corações dos nossos músicos e artistas. Só lhes falta mais suporte para um grande salto humanista e profissionalizante.

A arte transforma rapidamente as realidades de nossos jovens carentes, está provado, todos sabemos. Cada real investido em cultura são cem economizados em segurança.

Heriberto Porto, flautista, membro do Syntagma e da Marimbanda, professor-mestre da Uece.

Heriberto Porto ESPECIAL PARA O POVO

Fonte: O Povo