2ª edição do Festival Jericoacoara - Cinema Digital começa com debate e exibição de filmes acerca da diversidade brasileira e da importância da imagem diante dessa cultura plural
O cinema como espaço de encontros, de congregação. Assim se pode resumir a noite de início do II Festival Jericoacoara - Cinema Digital e o que se promete para os próximos dias. Durante a abertura, ocorrida no último dia 15, foi exibido o curta-metragem do brasiliense Philipi Bezerra, "Espelho Nativo", premiado no Doc.TV. O documentário de 52 minutos é um registro de cinco anos de vivências e quatro meses de filmagens na comunidade dos índios Tremembé, no Ceará.
Nativo
Philipi veio ao Ceará muito novo e aqui empreendeu diversas viagens, conhecendo sertão e litoral. "Desde o princípio notei como a cultura cearense era repleta de elementos indígenas, até mesmo os traços físicos. Isso me chamou a atenção e comecei a pesquisar sobre as comunidades indígenas cearenses", explicou o cineasta. Philipi esteve com Pitaguaris, Jenipapo-Kanindés, mas foi com o Tremembés que se identificou mais profundamente. "Nos dois primeiros anos de pesquisa, visitei os lugares e fotografei bastante. No terceiro e no quarto ano li muito, reuni uma boa bibliografia para então, no quinto e último desenvolver um texto, quase monográfico. De ensaio antropológico. No fim consegui formulá-lo para que fosse audiovisual, um roteiro mesmo", detalha Philipi. Foi esse o texto inscrito no Doc. TV, da TV Cultura. Segundo ele, a vantagem da conquista do apoio é mesclada a algumas desvantagens, como prazos e especificações, que, de certa forma, emolduram o trabalho.
Um dos méritos da produção de Philipi é que, apesar das limitações, pode-se dizer que o filme foi desenvolvido de forma participativa, com as opiniões e sugestões dos próprios nativos. "Com o tempo, a câmera deixou de ser uma preocupação só minha, um instrumento só meu, para ser uma ferramenta de construção de algo coletivo. Eles foram me dizendo: ´Vamos ali filmar a senhora de 102 anos, a mais velha da comunidade´ ou ´Hoje nós vamos capinar as terras originais da tribo, filma lá...´. Eles indicaram muitas imagens", comenta.
Como era de se esperar, a natureza teve papel crucial na produção e as chuvas torrenciais do inverno de 2009 também interferiram no produto final. Para ele, a quantidade de material recolhido e, sobretudo, a complexidade desse universo rendem, certamente, um longa e essa é a sua proposta. "Filmamos nos meses de janeiro e fevereiro, período meio atípico para eles; queremos agora fazer umas imagens em outubro, tempo do caju, em que a pesca para um pouco e eles se voltam mais para celebrar a terra", acrescenta o diretor.
Festival
Philipi, que tem uma ilha de edição pertinho de Jeri, ficou feliz com a iniciativa de um festival litorâneo. "Esse lugar tem um grande potencial turístico, natural, mas cultural nem tanto. É de uma sagacidade interessante fazer um evento, assim, aberto, democrático. Lembra um pouco o festival de Tiradentes", avalia.
O diretor elogiou ainda a exibição na cerimônia de abertura, que, de fato, deu uma mostra do clima fraterno dos próximos dias.
Após a exibição de "Espelho Nativo", já acompanhado por moradores, que se aproximaram curiosos da tenda do Circo Jeri, os tremembés convidados presentearam a todos com a dança do Torem. E, ali mesmo, durante a execução, crianças nativas tocavam os índios, pulavam, entravam na roda, enquanto adultos também se identificavam com a tradição. "Haviam também comunidades de Tremembés aqui em Jeri, então os nativos ficaram muito emocionados em ver e perceber que se tratava de seu passado, de uma tradição da terra", apontou o produtor cultural e cineasta Francis Vale, coordenador do evento.
Segundo ele, trazer o novo cinema brasileiro é um agradável desafio para Jeri. "O que temos aqui é um paraíso ecológico, um lugar bonito e isolado, em que grande parte das pessoas nunca viu cinema realmente. Apenas o que se vê pela televisão que, na verdade, é muito mais internacional do que nacional", analisa Francis, que destaca a importância de, por exemplo, se poder exibir o filme "Raízes do Brasil - Uma Cinebiografia de Sérgio Buarque de Holanda", de Nelson Pereira dos Santos. "Você pode perceber que há aí uma harmonia entre os vídeos selecionados. Nelson discute as ancestralidades, a cultura, a etnia, religiosidade e relação com a natureza, e Philipi também. Muitas outras produções também seguem essa linha", arremata o coordenador.
O II Festival Jericoacoara - Cinema Digital segue até o dia 21 de junho, exibindo um total de 50 filmes, de até 15 minutos de duração, produzidos com tecnologia digital, e selecionados em meio a 218 obras inscritas. Tais produções compõem a Mostras Informativa, cujo objetivo é gerar debates posteriores, e a Competitiva, em que os filmes concorrem a troféus e um prêmio de R$ 5 mil reais.
Programação
19/06
9h - Oficina "Praticando o Cinema Digital", no Conselho Comunitário de Jeri
10h - Debate filme "Loucos de Futebol", na Pousada Serrote
18h - Mostra Informativa de Cinema Ambiental, no Circo Jeri. Filme: "Chapada do Araripe... Como será?", de Jefferson de Albuquerque Junior (CE - 30´)
19h - Mostra Competitiva - Circo Jeri Filmes: "Vitrines", de Carlos Segundo (MG . Fic.14´56")
"Ilusão de Ótica", de Ricardo Pinto e Vlamir Cruz (RN. Exp. 2´30")
"Patthelley, um caminho", de Cândido Alberto (MS. Doc. 12´)
"O lado negro da lua", de Yargo Gurjão (CE. Exp. 6´15")
"No Oco da Serra Negra", de Tel. Colorido (PE. Doc. 15´)
"O Mendigo", de Mário Bonin (RJ. Fic. 14´57")
"Pra sempre Colorado", de Adelton Pereira e outros (SP. Doc. 4´)
"Peixe Pequeno", de Vincent Carelli (PE. Fic. 3´33")
"O Filho de Eru", de Marcelo Goes (BA. Doc. 15´)
"Poeira e Luz", de Rogério Correa (SP. Doc. 2´14")
21h - Exibição Especial - Circo Jeri
"Entre o Sagrado e o Profano", de Caio Quinderé e "Devoção", de Sergio Sanz
20/06
9h - Oficina "Praticando o Cinema Digital", no Conselho Comunitário de Jeri
10h - Debate sobre o filme "Devoção", na Pousada Serrote
18h - Mostra Informativa de Cinema Ambiental - Circo Jeri
19h - Mostra Competitiva - Circo Jeri 21h - Exibição Especial - Circo Jeri
"Passageiro Pau de Arara", de Bruno Monteiro (CE. Fic. 10´)
MAIS INFORMAÇÕES
II Festival Jericoacoara Cinema Digital - mostra competitiva e exibição de filmes, até 21 de junho (www.jeridigital.com.br)
MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER
Comunidade indígena Tremembé é tema de documentário homenageado
O cinema como espaço de encontros, de congregação. Assim se pode resumir a noite de início do II Festival Jericoacoara - Cinema Digital e o que se promete para os próximos dias. Durante a abertura, ocorrida no último dia 15, foi exibido o curta-metragem do brasiliense Philipi Bezerra, "Espelho Nativo", premiado no Doc.TV. O documentário de 52 minutos é um registro de cinco anos de vivências e quatro meses de filmagens na comunidade dos índios Tremembé, no Ceará.
Nativo
Philipi veio ao Ceará muito novo e aqui empreendeu diversas viagens, conhecendo sertão e litoral. "Desde o princípio notei como a cultura cearense era repleta de elementos indígenas, até mesmo os traços físicos. Isso me chamou a atenção e comecei a pesquisar sobre as comunidades indígenas cearenses", explicou o cineasta. Philipi esteve com Pitaguaris, Jenipapo-Kanindés, mas foi com o Tremembés que se identificou mais profundamente. "Nos dois primeiros anos de pesquisa, visitei os lugares e fotografei bastante. No terceiro e no quarto ano li muito, reuni uma boa bibliografia para então, no quinto e último desenvolver um texto, quase monográfico. De ensaio antropológico. No fim consegui formulá-lo para que fosse audiovisual, um roteiro mesmo", detalha Philipi. Foi esse o texto inscrito no Doc. TV, da TV Cultura. Segundo ele, a vantagem da conquista do apoio é mesclada a algumas desvantagens, como prazos e especificações, que, de certa forma, emolduram o trabalho.
Um dos méritos da produção de Philipi é que, apesar das limitações, pode-se dizer que o filme foi desenvolvido de forma participativa, com as opiniões e sugestões dos próprios nativos. "Com o tempo, a câmera deixou de ser uma preocupação só minha, um instrumento só meu, para ser uma ferramenta de construção de algo coletivo. Eles foram me dizendo: ´Vamos ali filmar a senhora de 102 anos, a mais velha da comunidade´ ou ´Hoje nós vamos capinar as terras originais da tribo, filma lá...´. Eles indicaram muitas imagens", comenta.
Como era de se esperar, a natureza teve papel crucial na produção e as chuvas torrenciais do inverno de 2009 também interferiram no produto final. Para ele, a quantidade de material recolhido e, sobretudo, a complexidade desse universo rendem, certamente, um longa e essa é a sua proposta. "Filmamos nos meses de janeiro e fevereiro, período meio atípico para eles; queremos agora fazer umas imagens em outubro, tempo do caju, em que a pesca para um pouco e eles se voltam mais para celebrar a terra", acrescenta o diretor.
Festival
Philipi, que tem uma ilha de edição pertinho de Jeri, ficou feliz com a iniciativa de um festival litorâneo. "Esse lugar tem um grande potencial turístico, natural, mas cultural nem tanto. É de uma sagacidade interessante fazer um evento, assim, aberto, democrático. Lembra um pouco o festival de Tiradentes", avalia.
O diretor elogiou ainda a exibição na cerimônia de abertura, que, de fato, deu uma mostra do clima fraterno dos próximos dias.
Após a exibição de "Espelho Nativo", já acompanhado por moradores, que se aproximaram curiosos da tenda do Circo Jeri, os tremembés convidados presentearam a todos com a dança do Torem. E, ali mesmo, durante a execução, crianças nativas tocavam os índios, pulavam, entravam na roda, enquanto adultos também se identificavam com a tradição. "Haviam também comunidades de Tremembés aqui em Jeri, então os nativos ficaram muito emocionados em ver e perceber que se tratava de seu passado, de uma tradição da terra", apontou o produtor cultural e cineasta Francis Vale, coordenador do evento.
Segundo ele, trazer o novo cinema brasileiro é um agradável desafio para Jeri. "O que temos aqui é um paraíso ecológico, um lugar bonito e isolado, em que grande parte das pessoas nunca viu cinema realmente. Apenas o que se vê pela televisão que, na verdade, é muito mais internacional do que nacional", analisa Francis, que destaca a importância de, por exemplo, se poder exibir o filme "Raízes do Brasil - Uma Cinebiografia de Sérgio Buarque de Holanda", de Nelson Pereira dos Santos. "Você pode perceber que há aí uma harmonia entre os vídeos selecionados. Nelson discute as ancestralidades, a cultura, a etnia, religiosidade e relação com a natureza, e Philipi também. Muitas outras produções também seguem essa linha", arremata o coordenador.
O II Festival Jericoacoara - Cinema Digital segue até o dia 21 de junho, exibindo um total de 50 filmes, de até 15 minutos de duração, produzidos com tecnologia digital, e selecionados em meio a 218 obras inscritas. Tais produções compõem a Mostras Informativa, cujo objetivo é gerar debates posteriores, e a Competitiva, em que os filmes concorrem a troféus e um prêmio de R$ 5 mil reais.
Programação
19/06
9h - Oficina "Praticando o Cinema Digital", no Conselho Comunitário de Jeri
10h - Debate filme "Loucos de Futebol", na Pousada Serrote
18h - Mostra Informativa de Cinema Ambiental, no Circo Jeri. Filme: "Chapada do Araripe... Como será?", de Jefferson de Albuquerque Junior (CE - 30´)
19h - Mostra Competitiva - Circo Jeri Filmes: "Vitrines", de Carlos Segundo (MG . Fic.14´56")
"Ilusão de Ótica", de Ricardo Pinto e Vlamir Cruz (RN. Exp. 2´30")
"Patthelley, um caminho", de Cândido Alberto (MS. Doc. 12´)
"O lado negro da lua", de Yargo Gurjão (CE. Exp. 6´15")
"No Oco da Serra Negra", de Tel. Colorido (PE. Doc. 15´)
"O Mendigo", de Mário Bonin (RJ. Fic. 14´57")
"Pra sempre Colorado", de Adelton Pereira e outros (SP. Doc. 4´)
"Peixe Pequeno", de Vincent Carelli (PE. Fic. 3´33")
"O Filho de Eru", de Marcelo Goes (BA. Doc. 15´)
"Poeira e Luz", de Rogério Correa (SP. Doc. 2´14")
21h - Exibição Especial - Circo Jeri
"Entre o Sagrado e o Profano", de Caio Quinderé e "Devoção", de Sergio Sanz
20/06
9h - Oficina "Praticando o Cinema Digital", no Conselho Comunitário de Jeri
10h - Debate sobre o filme "Devoção", na Pousada Serrote
18h - Mostra Informativa de Cinema Ambiental - Circo Jeri
19h - Mostra Competitiva - Circo Jeri 21h - Exibição Especial - Circo Jeri
"Passageiro Pau de Arara", de Bruno Monteiro (CE. Fic. 10´)
MAIS INFORMAÇÕES
II Festival Jericoacoara Cinema Digital - mostra competitiva e exibição de filmes, até 21 de junho (www.jeridigital.com.br)
MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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