quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Mons. Sabino Feijão-Confiança na autoridade da batina

 Mons. Sabino Feijão Foto: Divulgação

Ele era muito alegre, ativo, divertido e brincalhão. Sempre de batina preta, gozava da admiração da comunidade e mantinha uma imensa autoridade. Andar apressado, por onde andasse as pessoas, fossem crianças, jovens ou adultos, homens ou mulheres, manifestavam receio com sua aproximação, pois ele não dispensava uma brincadeira\: ora, uma “mãozada” nas costas; aqui um cocorote na cabeça ou a caçoleta na orelha; ali o beliscão na barriga. Este até levava-nos ao grito de “ai...ai....ai.... Mas, na faltaram os que, surpresos, até revidaram com um tabefe na cara dele....Mais de uma história, ouvi eu contarem... E não se zangava quando de inesperada reação. Talvez até se saísse, às gargalhadas, como a sussurrar: “Bem feito...bem feito!...”.

Esta, ouvi de seu Raimundo Higino, um idoso de Aranaú, com muito riso, contar várias vezes aos que iam passando por aquela comunidade onde ele era o dedicado encarregado da Capela. “Um dia, narrava ele, estando eu na Casa Paroquial de Acaraú, em visita ao padre Sabino, este, de repente, grita forte para uma dupla de soldados que ia passando em frente à casa:” Ei, soldados, prendam este homem e leve para a cadeia!”. De pronto, um policial falou: “Teje preso!”. E eu respondi no mesmo tom: “Num Tejo!”. O soldado, já se zangando disse uma segunda e uma terceira vez, a ordem de prisão. E eu...respondia do mesmo jeito: “Num têjo!”. Padre Sabino, insultando e já parecendo zangado, falou: “Prendam este homem, soldados moles!”. Os soldados me agarraram com força para algemar”. Foi quando o padre Sabino, ás gargalhadas, interveio forte: “Soltem o homem!...Vocês estão prendendo é o homem mais importante de Aranaú!...”. Ai, eles me soltaram, e um deles falou meio zangado: “Eu logo via que aí tinha uma coisa... que a gente não estava entendendo...”. E entenderam: era mais uma brincadeira do padre Sabino.
Ele era assim: brincalhão. Parecia jeito de criança peralta. Certa vez, presenciei aflição da risonha e “gorducha” dona Tereza Pará, doméstica da Casa Paroquial. Trabalhando ali, com seu irmão Domingos Pará, os dois muito respeitavam padre Sabino e lhe eram muito gratos, pelos benefícios que ele lhes dava. Naquele dia, após o almoço, ainda na mesa, padre se levanta e, mais que de repente e de surpresa, padre Sabino se levanta e coloca, pelas costas, pescoço abaixo dentro do vestido da Tereza, uma mão cheia de pedras de gelo... Foi um sufoco da pobre doméstica...

Confiado na amizade e no respeito que lhe tinham as famílias, ele não pedia licença para “carregar” de uma loja fosse o que fosse: uma peça de tecidos, pacotes de bolachas, ou de bombons, ou, de uma residência rural, um saco de farinha... ou, numa casa da cidade, aquele queijo exposto lá na prateleira do quarto ao lado da cozinha...

Intempestivo, quantas vezes, nas noites das novenas, nas festas de padroeiros das Capelas, ou mesmo, na Matriz, ele descia aos locais das diversões e das vendas, para derrubar com um “chute” as bancas de caipira (jogo de azar), ou mesmo as mesas cheias de mercadorias, quando expostas em locais ou horários não permitidos. Atitudes parecidas, quando da teimosia dos operadores de carrosséis e canoinhas. Se não havia policiais na área, ele fazia as vezes deles, substituindo-os até no apartar de brigas, inclusive, brigas de rua envolvendo embriagados de faca em punho. Confiava na autoridade da batina. Uma imprudência, todos diziam. Mas, era o jeito dele! O que fazer?!

Pe. Valderi da Rocha


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