A DIMENSÃO de Luiz Gonzaga fará de seu centenário uma festa de todo País. No Ceará, as comemorações começam a ser ensaiadas
Nos anos 80, o público lotou o Ginásio Paulo Sarasate para ver Luiz Gonzaga. Na segunda sanfona está Sirano (BANCO DE DADOS )
Primeiro pela proximidade entre Exu e o Cariri, depois pelo serviço militar prestado durante a juventude no 23º Batalhão de Caçadores de Fortaleza e, por último, pela prolífica parceria com o compositor cearense Humberto Teixeira, o Ceará nunca foi estranho ao pernambucano Luiz Gonzaga. A recíproca é verdadeira, ou quase isso. Às portas de 2012, não há ainda uma programação definida das homenagens no estado. Por outro lado, a realização do primeiro Dia Municipal do Forró em Fortaleza na próxima terça-feira (13), dia do aniversário de 99 anos de Gonzagão, deve inspirar ações para o ano.
“Será o primeiro grande momento das comemorações”, avisa Walter Medeiros, 49 anos, presidente da Associação Cearense do Forró (ACF) e proprietário da casa de shows Kukukaya. A data foi aprovada por unanimidade no último mês de março em votação na Câmara Municipal e será comemorada depois de amanhã no Polo de Lazer Luiz Gonzaga, no Conjunto Ceará, com a participação de mais de 20 forrozeiros. Cada um cantará duas músicas, uma de sua autoria e outra do repertório de Gonzagão. Entre os nomes estão Messias Holanda, Neo Pi Neo, Os Januários, Adelson Viana e Cacimba de Aluá. Além disso, ainda participarão a Orquestra Sanfonas do Ceará e o Balé Folclórico Arte Popular. A festa acontece a partir das 18 horas, com entrada franca.
Já para 2012, o presidente da ACF afirma que, apesar de não se ter nada definido, os titulares das secretarias da Cultura do Estado e do Município já sinalizaram positivamente para a realização de outros eventos. Uma das ideias é realizar um grande festival de forró itinerante no estado, culminando na capital ou no Cariri cearense.
O estado, que se transformou nas últimas décadas no maior exportador de forró eletrônico do País – fato que faz muitos dos cearenses admiradores de Luiz Gonzaga abrirem parênteses sempre que falam de forró –, não deixou de lado suas raízes, o que significa dizer, não abandonou o “forró de verdade”, o “forró tradicional”, aquele de pé-de-serra. Walter comprova isto com números.
Há doze anos, quando ele abriu o Kukukaya, casa de shows dedicada aos ritmos nordestinos, apenas o restaurante Maria Bonita também abrigava programação semelhante. Hoje, segundo levantamento recente, são pelo menos 20 locais. Outro dado. Na criação da Associação Cearense do Forró, dois anos atrás, nada menos do que 45 grupos de forró assinaram a ata de fundação. “O mercado está aquecido e a tendência é que ele cresça cada vez mais e Luiz Gonzaga sempre vai ser o nosso grande mestre”, fala Walter.
Forró inoxidável
Os dados tranquilizariam mestre Luiz. Na década de 1980, quando soube por Dominguinhos que um menino cearense de 15 anos tocava sanfona como gente grande, tratou de ir ao encontro do dito cujo. Acabou por apadrinhá-lo. “Naquela época não existia esse modismo de forró que depois veio a tomar conta do Brasil, aliás uma coisa que não tem nada a ver com o forró. Não tinha essa história, então os meninos mais jovens não queriam saber de sanfona e muito menos de forró. Se fossem querer enveredar pela música, iam tocar bateria, guitarra... O pop-rock brasileiro estava despontando. O seu Luiz estava preocupado com a extinção do instrumento”, relembra Waldonys, que do primeiro encontro com Luiz Gonzaga até sua morte, poucos anos depois, em 1989, se apresentou diversas vezes com ele.
Waldonys acalenta para o próximo ano uma homenagem ao padrinho, que deve se juntar aos seus 40 anos e aos 60 da Esquadrilha da Fumaça, outra de suas paixões. O projeto inclui um DVD no qual dividirá o palco com alguns músicos que compartilham com ele a admiração por Luiz, a exemplo do pernambucano Dominguinhos, seu constante parceiro até hoje.
Diretor do Museu da Imagem e do Som, o pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, também pretende contribuir com as movimentações do centenário. Este ano, já realizou um ciclo de palestra sobre os diversos aspectos da obra gonzagueana, que não se reduz apenas ao forró, se estendendo pelos gêneros carnavalescos e o choro. “O que eu quer fazer próximo ano é o mesmo trabalho, só que mais abalizado”, adianta Nirez. (Pedro Rocha)
Fonte: O Povo
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