sexta-feira, 17 de junho de 2011

Sérvulo, com esmero

A Pinacoteca do Estado de São Paulo presta uma merecida homenagem ao artista plástico cearense Sérvulo Esmeraldo, lançando amanhã uma mostra e um livro retrospectivos



Sérvulo Esmeraldo: retrospectiva que abre amanhã em São Paulo ajuda a visualizar a trajetória inventiva do artista cearense
FOTO: KIKO SILVA

Em meio a gravuras, desenhos, pinturas e uma infinidade de formas geométricas abstratas, datadas das últimas seis décadas, a Pinacoteca do Estado de São Paulo inaugura amanhã uma mostra retrospectiva do cearense Sérvulo Esmeraldo. São 117 obras que ajudam a desvendar a trajetória do artista cratense e dão uma pequena mostra d a dimensão e da importância de um trabalho inquieto, inovador e resistente ao tempo.

Aos 82 anos, Sérvulo Esmeraldo é um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros vivos, tendo convivido com Aldemir Martins e Antônio Bandeira, nos anos 40, com Oswald Goeldi Sérgio Milliet, Bruno Giorgi e Lívio Abramo, na São Paulo dos anos 50 e 60, e integrado a Escola de Paris, na França, onde deu um salto rumo ao abstracionismo que tornou-se uma das marcas de sua obra.

"Sem duvida, é um dos artistas mais importantes da arte moderna e contemporânea brasileira, mas depois que voltou ao País, ele acabou ficando restrito ao Ceará", avalia o curador da mostra, Ricardo Resende, que encara a exposição como uma oportunidade de evidenciá-lo em âmbito nacional. "É uma obra muito atual. A arte cinética (que ele desenvolve a partir da década de 70) é uma prova de sua contemporaneidade. Há muitos artistas trabalhando com ela, hoje. Isso mostra a atualidade e a necessidade de revisão, que espero que se faça e se coloque Sérvulo em seu devido lugar", defende.

A exposição usa como base obras do acervo do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, do acervo pessoal do artista e da própria Pinacoteca de São Paulo. As negociações para a realização da mostra começaram em 2006, conta Ricardo Resende. O acervo reunido traz obras desde a juventude de Sérvulo, com desenhos, pinturas e xilogravuras do início de sua produção, até trabalhos tornados célebres (caso da série "Excitáveis", produzida na década de 70 e tida como um dos principais momentos na obra de Sérvulo) e esculturas cinéticas feitas entre 1980 e 2000.

"Uma das obras de destaque é um desenho de 1950, que é uma vista marinha, com velas de jangada, onde de alguma maneira já aponta para abstração que vai virar marca de suas obras. As velas são triangulares", destaca. Resende cita ainda obras como "O Escriba", de 1962, feito com uma caixa de madeira, motor, imã e varetas de metal. "Esse motor faz com que o imã e as varetas de metal criem desenhos na caixinha. São os primórdios dos excitáveis", explica o curador da mostra.

O interesse pela obra do artista, de acordo com Ricardo Resende, já começa a ser percebido desde que foi anunciada essa retrospectiva. "As pessoas têm comentado bastante, tem aparecido pessoas que colecionam, que tem obras de Sérvulo. Coisa que, com certeza, vai ajudar a localizar a produção dele no País para uma possível catalogação. E que mostra como é conhecido e respeitado", diz.

Abertura
A mostra será inaugurada neste sábado, acompanhada de lançamento de um livro organizado pela crítica de arte Aracy Amaral e contará com a presença do artista. "Eu não vi ainda. Vai ser uma surpresa muito grande, mas tenho certeza que é uma coisa muito bem feita", diz Sérvulo, que não interferiu na montagem da exposição. "O convite partiu da Pinacoteca. Todo o trabalho foi orquestrado por eles. Foram dois anos de trabalho, tudo feito de maneira muito respeitável", elogia Dodora Guimarães, crítica de arte e esposa do artista.

Esta é a segunda mostra retrospectiva da obra de Sérvulo. Para o artista é, também, a mais importante delas, em parte por se realizar em São Paulo, onde morou por mais de 20 anos, antes de seguir para seus anos na França. "Eu trabalhava em São Paulo. Fiz exposições. Minha última exposição foi no Museu de Arte Moderna. Isso é um reconhecimento muito importante. Tanto pela minha idade (82) como por ser em outra cidade que não Fortaleza, e que é a capital cultural do País".

Para o artista, não é possível destacar nenhuma entre as 117 obras expostas. Para ele, são igualmente "frutos" de sua criatividade. "Tem uma série grande. Posso dizer que tem uma coleção extremamente bem selecionada, mas não tem uma mais importante que outra", diz.

Livro
A livro-catálogo que será lançado pela Pinacoteca de São Paulo é, desde já, uma obra de referência sobre o trabalho do artista cearense. Ele reúne 13 textos produzidos por críticos d-e arte a respeito da criação de Sérvulo Esmeraldo. Ricardo Resende, curador da mostra retrospectiva, contribui com uma reflexão a respeito das dinâmicas de luz e sombra nas criações geométricas do artista; a organizadora do volume, Aracy Amaral, contribui com dois textos e Dodora Guimarães com um, o belo "Uma libélula no horizonte".

FRASES
"Em sua obra, percebe-se uma coerência entre a primeira tábua cortada de umburana e a monumentalidade da arte que interfere em espaços públicos" Gilmar de Carvalho, Pesquisador e escritor
"A exposição é prova que seu trabalho con- tinua com toda potência de realização" Estrigas, Artista e crítico de arte
"A importância da exposição se estende à promoção das artes visuais do Ceará" Carlos Macêdo, Artista e coordenador de Artes visuais da Secult



Marcelo Mattos

ENTREVISTA 
Marcelo Mattos*

"Sérvulo é um dos mais destacados artistas de sua geração"

Como surgiu o interesse da Pinacoteca pela obra de Sérvulo Esmeraldo?
Sérvulo Esmeraldo é um dos mais destacados artistas brasileiros de sua geração. Faz alguns anos que vimos pensando e preparando essa mostra que ora se concretiza, e que se insere em nosso programa de mostras temporárias, voltadas para a apresentação da obra de artistas brasileiros de consistente produção, as quais, até o momento, receberam pouco ou insuficiente atenção crítica e divulgação.

Como foi esta preparação?
A mostra é resultado de um longo processo de organização que deve muito à professora Aracy Amaral, grande estudiosa e divulgadora da obra do artista, ao curador Ricardo Resende, que durante sua estada em Fortaleza como diretor do museu do Centro Dragão do Mar também se envolveu com a obra de Sérvulo, organizando mostras e adquirindo obras para o acervo daquela instituição, e - principalmente - ao apoio e envolvimento do próprio Sérvulo e de Dodora.

Qual a importância de uma mostra como esta, assim como do livro que está sendo lançado?
Trata-se da primeira mostra de caráter retrospectivo de Sérvulo que se realiza em São Paulo, e o livro será a primeiro publicação dessa natureza sobre sua obra. São iniciativas com as quais esperamos poder contribuir para uma melhor divulgação e conhecimento dessa produção.

*Diretor da Pinacoteca de São Paulo

FÁBIO MARQUES
ESPECIAL PARA O CADERNO 3

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