domingo, 16 de outubro de 2011

Ana Miranda é homenageada no Festival UFC de Cultura

A escritora Ana Miranda abre os debates literários do IV Festival de Cultura da UFC, na próxima segunda-feira, às 16 horas, no auditório da Reitora da UFC e recebe homenagem

Foto: Rafael Cavalcante
Ana Miranda arrumava a casa, ontem pela manhã, quando atendeu ao telefone. “Estou aqui cuidando da casa, a caseira não está”. O motivo da conversa era a homenagem que ela receberá segunda-feira, no IV Festival UFC de Cultura. “A homenagem é uma forma de reconhecimento e também é um estímulo para o escritor que faz um trabalho tão solitário. Aqui, as pessoas têm esse sentimento de demonstrar afeto. Acho muito bonito, é muito bom. Mas, a grande homenagem é a leitura do livro. Como diz Borges, um livro é apenas uma folha de papel e tinta. O livro só existe pelo que ele faz dentro da mente das pessoas”, afirma a escritora serena, do outro lado da linha.

Desde que trocou o Rio de Janeiro pela beira da praia do Ceará – a escritora mora há cinco anos na Prainha – Ana Miranda reencontrou-se com o Estado onde nasceu. E trocou de mar. Quando criança, viveu na Praia de Iracema e as memórias dessa infância praieira e de uma Fortaleza mais tranquila, vira e mexe aparecem nas crônicas.

Segunda-feira (17), ela participa de uma entrevista para falar sobre literatura. Pergunto a ela como é responder praticamente às mesmas questões levantadas por jornalistas. Ela dá uma risada: “Não tem problema, não. Eu dou as mesmas respostas”, brinca. Durante alguns anos, Ana Miranda ministrou, em São Paulo, oficinas para escritores e escreveu sobre literatura para a revista Caros Amigos. Chegou até mesmo a pensar em escrever um livro sobre a “carpintaria do escritor”, mas desistiu. “Essa não é a responsabilidade do escritor. Literatura é uma arte que não tem professor. O autor se faz à medida que vai construindo o romance. Eu aprendi lendo romances. O livro é que seduz, que enfeitiça”, sugere. Durante a entrevista com escritores e jornalista, depois de amanhã, Ana vai falar sobre sua trajetória como escritora.

Ana Miranda, jovem, começou poeta e ilustradora. Fez-se romancista, mas nunca abandonou a poesia. No fim dos anos 80, lançou Boca do Inferno (1989), um romance histórico que tem como personagem principal o baiano Gregório de Matos Guerra, o poeta maldito nacional, do século XVII. A escritora conta que ficou quase 10 anos escrevendo o livro. Quando saiu, tornou-se um marco na literatura nacional. Um naco da história do Brasil colonial encontrou nos elementos ficcionais da criação artística de Ana Miranda uma composição que transforma história em linguagem literária. Aliás, o intenso trabalho de recuperação de formas da fala e escrita que pareciam perdidas no tempo é a matéria prima da produção literária da escritora.

Ao romance Boca do Inferno, seguiram-se A última Quimera (1995) e Desmundo (1996) formando uma trilogia de romances que têm como pano de fundo histórico uma nação às voltas com sua formação literária e social. O poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) é o motivo deste romance que carrega junto com a história, a lírica do poeta. Oribela é a personagem de Desmundo. A menina órfã portuguesa chega ao Brasil em 1555, junto com outras moças que eram enviadas pela rainha de Portugal como mulheres dos cristãos que se aventuravam em povoar a nova colônia. Para contar a história de Oribela, Desmundo recria o português medieval, mergulha na desconhecida história das mulheres que habitavam o berço do que iria se chamar Brasil e faz nascer a heroína com a força da palavra literária.

Em Amrik é Amina quem enxerga o País, no século XIX, na aventura da imigração libanesa no Brasil. Dias e Dias, o mais lírico dos romances da escritora, Ana retorna aos poetas. Desta vez Gonçalves Dias é recriado pela saudade de Feliciana, narradora apaixonada do romance. O último romance de Ana é Yuxin. Neste, a escritora inventa o mundo de Yuxin, a índia narradora da história, e a língua com a qual Yuxin dá voz a esse mundo literário que se dá no início do século XX, nas matas do Acre. Trata-se de um romance que é conduzido pelos mistérios que envolvem a personagem, o lugar, o povo e as lembranças que se traduzem pelos sentimentos de amor e de perda. No fim das contas, o livro trata da intimidade de toda alma humana, que traduzindo, significa yuxin.

SERVIÇO
Debate Literário com Ana Miranda

O que: a escritora cearense participa de entrevista e é homenageada do IV Festival UFC de Cultura.
Quando: 17 de outubro (segunda-feira), às 16 horas.
Onde: Auditório Castelo Branco - Reitoria da UFC (Avenida da Universidade, 2953 - Benfica).
Aberto ao público.

Regina Ribeiro
reginaribeiro@opovo.com.br

Fonte: O Povo

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